PRÓLOGO 2

Nelly

As aulas se passam rápido, fazendo com que o horário de ir embora chegue rápido e espero que todo mundo deixe a sala para que eu possa fazer o mesmo, ando em passos apressados pelo corredor, pedindo em minha mente que Tião já esteja lá fora me esperando.

Os dias se passaram rápido e estávamos adentrando o segundo mês de aula, tenho me mantido camuflada todo esse tempo, tentando passar despercebida entre o aglomerado de alunos da escola Carmen Lúcia. Embora, Alice insista uma proximidade constantemente e eu sinta que suas intenções são verdadeiras, me mantenho afastada, não acredito que alguém como ela queira ser minha amiga de fato.

Quer dizer, olha para mim?

Gorda e Feia.

Ninguém realmente gostaria de ser visto comigo.

Apresso meus passos, apertando a alça da mochila quando passo pelo grupinho de Edu, felizmente em alguns momentos como agora eles ignoram a minha presença.

Em alguns momentos.

Minha felicidade dura pouco, três passos de distância e Carlota finalmente nota minha presença, chamando pelo meu nome em uma voz fingida.

Ânsia se apodera de mim e não paro, praticamente correndo pelo corredor ainda tumultuado.

Hey, garota... — Ela volta a me chamar.

Um

Dois

Três...

Apenas mais alguns passos e estarei segura em sua sala de aula.

Apenas mais alguns passos, Nelly. Só alguns passos.

Vozes continuam a me chamar, ainda existem alunos andando de um lado para outro, no entanto, consigo sentir a presença de Carlota bem atrás de mim, se tornando cada vez mais próxima e difícil de ignorar.

Uma mão agarra meu ombro e me vira com brutalidade, fazendo com que um lado do meu casaco desça pelo meu ombro e minhas costas batam no armário. Minha respiração está irregular quando foco nos olhos afiados da garota.

Você não me ouviu chamar? — Sua voz parece irritada, mas ainda controlada.

Mordo a parte interna do meu lábio inferior, não conseguindo desviar dos olhos cinzentos.

Desculpe... — Sussurro, incerta do que responder.

Ela empina mais o nariz e olha ao nosso redor como se estivesse checando algo, me olhando de volta quando termina sua inspeção, sorrindo para um piada interna. Sinto minha boca ressecar e tento forçar o cuspe pela minha bíli, ouvindo meus batimentos cardíacos aumentarem a cada segundo que ela continua a me olhar em silêncio.

O segundo sinal toca e os alunos começam a se dissipar, esvaziando o corredor e começo a me desesperar.

Temos que ir. — Falo, retomando o caminho para aula de História quando a garota me segura pelo braço, ainda em silêncio.

Meu corpo congela e começo a temer por minha segurança.

Carlota é como uma abelha rainha, atraindo toda a atenção e nunca sendo desafiada, mas eu a desafiei quando não respondi ao seu chamado.

Car... — Começo a falar, mas sou empurrada contra os armários.

Fecho os olhos, sabendo que isso era só questão de tempo.

Quando eu chamo, você vem até mim. — Ela diz, próxima ao meu rosto e tudo que faço é assentir.

Abra os olhos. — Diz, usando uma tonalidade suave, quase fraternal.

Faço o que pede, percebendo só então que se não fosse pelo seu pequeno grupo ainda afastados, estaríamos sozinhas.

Sabe, Nelly. Você é bonita. — Ela diz, acariciando minhas bochechas com as costas de suas mãos.

Um calafrio percorre minha coluna cervical.

Obri...Obrigado. — Digo.

Ela sorrir.

Mas não o suficiente para ele ou qualquer outro.

Ele?

A garota percebe minha confusão, pois esclarece em seguida:

Eu sei o seu segredo.

SEGREDO.

Eu ainda não sei do que ela está falando, mas percebo pelo canto do olho quando suas amigas se aproximam de onde estamos, deixando Eduardo e outro garoto para trás, embora a atenção deles esteja focada no que está acontecendo aqui.

Lágrimas começam a descer pelos meus olhos e não posso controlar o medo que se apodera de mim, continuo encarando os dois garotos, esperando que eles interviam em algum momento.

O que nós vamos fazer com ela? — Uma das meninas pergunta, mas não as encaro para identificar qual delas falou.

Continuo olhando para o menino que achei ser bom.

Vamos ensiná-la sobre respeito. — Identifico a voz de Carlota, evidenciando a maldade em seu tom e me encolho ainda mais.

As garotas me rodeiam, cobrindo toda minha visão.

Soluço, já temendo pelo pior.

Um tapa me acerta em cheio, fazendo meu rosto queimar.

Não olhe pra ele de forma apaixonada nunca mais. — Carlota ruge.

Céus, de quem ela está falando?

Até que uma luz ilumina meus pensamentos.

Ele.

Eduardo?

Ela está falando dele?

ELE É MEU! — Outro tapa, dessa vez mais forte e tombo a cabeça pro lado.

Tento cobrir meu rosto, sair do meio delas, mas sou impedida por tantos braços que acabo desistindo.

Outros t***s surgem, vindo de todos os lugares, tento me defender da melhor forma que consigo, mas são muitas.

Começo a me sentir fraca, cansada e perco o controle de meu corpo. Deixando cair lentamente de encontro ao chão. Algumas garotas passam a puxar meu cabelo e minhas roupas, rasgando metade da minha blusa.

Não. — Gemo, cobrindo meu sutiã quando uma delas tenta o puxar.

O que está acontecendo aqui? — Uma voz grave fala e tudo que posso sentir é as garotas se afastarem.

Socorro... — Gemo, um pouco mais baixo do que eu queria.

Porra! O que raios vocês estão fazendo? — A voz masculina ruge, parecendo furioso e finalmente consigo vê—lo.

Parado me olhando com incredulidade e raiva, está David Bragança, meu professor de história e agora, herói.

Saiam do meio, caralho. — Diz, empurrando os corpos magros das garotas.

Ele me pega no colo, de forma protetora.

Vejo seu pomo de Adão subir e descer, enquanto vistoria meus machucados de perto. Não sei como estou parecendo, elas não tiveram muito tempo antes dele chegar, mas minha pele está ardendo e meu coro cabeludo lateja pelos puxões.

Tudo bem, querida. Você está segura agora. — Seus lábios mergulham na minha testa e um beijo casto, mas reconfortante é deixado lá.

Assinto, acreditando firmemente em suas palavras.

Eu vou ligar para os pais de vocês, farei de tudo para que sejam expulsas. Agora me digam o nome da líder. — Esbraveja, olhando uma por uma.

Nenhuma delas diz nada.

Você. — Aponta para Carlota. — Quem fez isso?

Não sei. — Diz, de forma meiga e fingida.

David ruge, parecendo impaciente enquanto me aperta em seus braços.

Então, você estava passando pra ir ao banheiro bem na hora que eu passei, não é? — Ele diz de forma debochada.

Exatamente isso.

Ele volta a rugir.

O caralho que foi! Todas para a sala da direção, AGORA! — Grita, fazendo com que a garota trema.

Ela ajeita sua postura, não abaixando a cabeça quando o encara. É quase imperceptível, mas posso notar que existe algo mais na maneira que ela o olha.

É quase como obsessão e mágoa.

Como se eles fossem iguais e ele não devesse falar assim com ela.

VÁ! — Ele volta a gritar.

E assim, ela sai, levando todas as outras consigo, mas sem demonstrar medo ou insegurança.

Desculpe por não ter percebido antes, Nelly. Prometo proteger você enquanto estiver aqui.

E então, olhando fundo em seus olhos e ouvindo suas palavras, eu senti. Eu soube naquele momento que David Bragança era meu anjo da guarda, os seus braços me trouxeram a proteção e segurança que nunca encontrei nos braços de qualquer outra pessoa.

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