CAPÍTULO 1 - VOCÊ VAI SE APAIXONAR, EU PROMETO!

||°MIA BELLINI°||

Atualmente... na Itália.

Maitê não para de me convidar para ir passar um tempo com ela nas férias da faculdade. Ela está ansiosa para que eu conheça uma pessoa, seu quase-noivo que faz tanto mistério para me dizer quem é. Tudo o que ela me diz é como ele é gostoso e sabe comer ela muito bem. Coisas sobre a relação íntimas deles que prefiro não saber quando ela começa a me dizer, e eu tenho que cortar ela todas às vezes.

Reviro os meus olhos.

Ligação on:

— Mia, querida, você simplesmente não pode perder essa oportunidade! — começa Maitê, a empolgação transbordando em sua voz, tingida por um sotaque russo que dava um charme todo especial às suas palavras. — Imagine só, as manhãs na Rússia no inverno é como um conto de fadas. Temos neve tão branca quanto açúcar, céus que pintam histórias em auroras boreais, e o calor da hospitalidade russa te esperando. Você vai se apaixonar, eu prometo!

— Ah, Maitê, eu não sei… — Hesito, a insegurança clara em minha voz. — Eu nunca estive tão longe de casa e o frio… você sabe que prefiro o sol.

— Oh, Mia, mas é exatamente por isso que você deve vir! — insisti Maitê, sua voz carregando um calor que parecia capaz de derreter qualquer hesitação. — Vou te mostrar como nós, russos, enfrentamos o frio. Temos os melhores casacos, a vodca para aquecer a alma, e as saunas russas que vão fazer você esquecer qualquer inverno. Além disso, minha família adorará te ter conosco. Você vai ver como a neve pode ser divertida. Patinação no gelo, esqui… Ah, tem tantas coisas! E, claro, vou te apresentar à verdadeira cozinha russa. Borsch, pelmeni, blinis… sua boca vai se apaixonar pela Rússia antes mesmo do seu coração.

Mia riu, a imagem que Maitê pintava era irresistivelmente atraente.

— Tudo bem, você me convenceu, sua maluca. A Rússia no inverno, com a melhor guia que eu poderia querer. Será uma aventura e tanto. Precisarei de uma lista do que levar… e talvez uma aula sobre como não virar um picolé!

— Maravilhoso! — Maitê exclamou, a felicidade clara em sua resposta. — Vou te preparar para tudo, Mia. E quando você chegar aqui, criaremos memórias que vão durar uma vida inteira. Prepare-se para a melhor viagem de sua vida!

Ligação off:

Talvez em outro momento eu me agarraria a essa aventura com ela, conhecer um lugar novo, pessoas e uma cultura nova e diferente da minha, mas…

Já no calor da cozinha da família, onde cheiros de culinária se mesclam com as risadas e conversas cotidianas, encontro-me ao lado de minha mãe e irmã mais nova. Esses momentos são preciosos, considerando especialmente a batalha que mamãe enfrenta contra o câncer de pulmão.

— O que foi meu anjo? — minha mãe me pergunta, passando a mão nos meus braços.

— Nada. É apenas a Maitê, minha amiga da faculdade. Ela quer muito que eu vá passar as férias de verão na casa dela, em Moscou. Eu até aceitei, mas não sei se fiz a escolha certa. — digo me virando para a minha mãe.

— E por que não? — olho para ela, reparando em seu rosto tão parecido com o meu, mais com alguns anos de diferença a mais do que a sua idade que a sua doença roubou. Um rosto mais magro do que o habitual. Ela usa um lenço colorido na cabeça careca, devido à quimioterapia.

— Mãe… a senhora sabe o porquê — ela me dá um olhar triste com pesar.

Para mim, a decisão de estar o mais próximo possível de casa não veio sem meus próprios desafios. A realidade de estudar na Cambridge, longe da minha família neste momento crítico, pesou profundamente em meu coração. A tentativa de transferência para uma faculdade mais próxima foi frustrada pela inexistência de meu curso em instituições locais, colocando-me diante de uma escolha difícil. A ideia de trancar o curso cruzou a minha mente, uma pausa temporária na educação em favor de estar ao lado da minha mãe. No entanto, foi a própria quem, com uma força surpreendente, aconselhou-me a continuar, a não deixar que a sua doença interrompesse também os meus sonhos.

A jornada de minha mãe contra o câncer se estende por anos, uma luta que moldou a dinâmica familiar com um misto de dor, esperança e resiliência. Esse contexto trouxe a mim uma perspectiva de vida mais profunda, conscientizando-me sobre a fragilidade da existência e a importância de nutrir os laços familiares. Ao mesmo tempo, me inspirou a buscar maneiras de equilibrar minhas responsabilidades acadêmicas com o desejo de estar presente para minha família. Em meio a tratamentos, idas e vindas da faculdade e o apoio incondicional entre nós, reside aqui em casa uma história de amor, sacrifício e a incansável busca por dias melhores.

— Filha, não pode deixar de viver por minha causa. Você já renunciou a muita coisa por mim. — ela segura meu rosto, limpando as minhas lágrimas. — Não precisa pensar nisso agora. Só quero que viva e seja feliz.

— Eu já sou feliz mamãe. Tenho a senhora e Mel, tudo o que eu preciso. — digo para ela, deixando um beijo em seu rosto.

— Mas isso não é viver. E enquanto aquele garoto que conheceu naquele baile? — minha mãe, assim com a Melina, é a minha melhor amiga, conto tudo para elas. E lhes contei sobre o meu garoto mascarado, na qual esqueci o seu nome depois desses cinco anos que nunca mais nos vimos e eu saí correndo no dia seguinte do seu baile de aniversário ao receber uma mensagem de minha irmã, me dizendo que se encontrava no hospital com a nossa mãe, foi quando descobrimos que seu câncer regressou, voltando ainda mais agressivo. Foram cinco anos de luta entre idas e vindas ao hospital. — Ele também não é de Moscou?

— Sim, mas será impossível encontrar ele por lá. — ainda mais que nada sei dele, além do seu rosto e seus olhos azuis acinzentados, que chegam ser tão claros, que poderia ver o mundo através deles. Olhos que me seduziram com apenas um olhar dele.

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