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CAPÍTULO 3 - PENSAREI, MAS EU NÃO VOU PROMETER NADA.

||°MIA BELLINI°||

Depois que a minha mãe me fez lembrar do meu garoto misterioso, agora me encontro mergulhada em uma nostalgia inebriante, uma noite que parecia ter sido arrancada de um romance, onde o mistério dançava ao redor do garoto mascarado. O esforço para esconder o meu sotaque italiano, um traço tão inerentemente meu, adicionava outra camada àquela interação já carregada de tensão e mistério. Ela, que fluía no inglês com a mesma facilidade com que respirava, ainda carregava o charme melódico da Itália em suas palavras, um contraste interessante com o sotaque russo marcante de Maitê. Essa mistura de idiomas e sotaques tecia um pano de fundo fascinante para a noite que eu nunca esqueceria.

Refletindo mais profundamente, começo a questionar a origem do misterioso garoto. A voz dele, embora adornada com palavras em russo durante o sono, carregava um sotaque que destoava completamente do russo puro, inclinando-se mais para nuances americanas. Isso a fazia ponderar sobre a complexidade de sua identidade. Talvez ele fosse americano, ou talvez sua vida fosse um mosaico de culturas, com duas nacionalidades moldando sua forma de se expressar. O inglês que ele falava era distinto, não se assemelhava ao dos britânicos que eu estava acostumada a ouvir na faculdade, adicionando camadas à sua curiosidade sobre quem ele realmente era.

A voz do garoto mascarado, um elemento que eu recordava com um carinho quase palpável, tinha o poder de tocar as profundezas de minha alma. Grave, sedutora e incrivelmente sensual, essa voz conseguia arrepiar cada centímetro da minha pele, deixando uma marca indelével em minha memória. Era uma voz que eu ansiava ouvir novamente, um som que eu daria tudo para se perder mais uma vez. O mistério em torno de sua identidade e a lembrança dessa voz sensual criavam um anseio em mim, um desejo de desvendar os segredos escondidos por trás do garoto mascarado e, quem sabe, reencontrar a única conexão que compartilhamos naquela noite inesquecível.

— E já se passaram cinco anos, mesmo que o veja não sei se conseguiria saber quem é ele, sem falar que o mesmo nem deve mais se lembrar de mim. Se ele já não estiver casado e com filhos a essa altura.

— Você não sabe minha menina. — ela faz carinho em meus cabelos — Seria bom ir e ter mais uma oportunidade de procurar pelo seu pai e quem sabe esbarrar por ele mais uma vez.

Carrego no peito um turbilhão de sentimentos sobre o meu pai, Ian Giordano. A história, conforme narrada por minha mãe, pinta Ian como um homem que havia feito a escolha dolorosa de abandonar a nossa família, mas com a intenção de nos proteger. Essa narrativa construiu uma imagem complexa dele na minha mente, uma mistura de ressentimento, curiosidade e, em algum lugar profundo, de esperança. Crescendo, eu sempre perguntei sobre a verdade por trás dessa decisão, sobre o que realmente havia levado o meu pai a tomar um caminho tão radical.

— Pensarei, mas eu não vou prometer nada.

Quando a saúde da minha mãe começou a declinar, me vi diante de uma necessidade urgente que me fez reavaliar tudo o que pensava saber sobre o meu pai. A possibilidade de que ele pudesse auxiliar no tratamento de minha mãe acendeu uma faísca de determinação em mim. Decidi ir atrás dele, uma decisão que me levou a um caminho repleto de desafios. Minha última pista apontava para Moscou, uma cidade que prometia tanto a esperança de reencontro quanto o medo do desconhecido. Foi lá que eu me vi em um baile, um ambiente estranho e distante de tudo que conhecia, movida pela esperança de encontrar o meu pai e trazê-lo de volta para auxiliar a minha mãe.

Essa busca, no entanto, não foi fácil. Moscou apresentou-se como um labirinto de pistas frias e becos sem saída. O fracasso em encontrar o meu pai no baile não foi apenas um revés dos meus esforços para salvar a minha mãe, mas também um golpe duro em minha esperança de reconciliação e entendimento.

Nesse período turbulento, a casa também se tornou um santuário para a minha mãe. Ela diz que, apesar da doença, se sente mais forte quando está rodeada pelas paredes que ecoam tantas memórias. Acredito que, de alguma forma, essas lembranças lhe dão força para continuar lutando, mesmo quando as notícias não são as melhores. É como se a energia de nossa família, acumulada ao longo dos anos, se condensasse ali, oferecendo-lhe conforto e esperança.

Mantendo a casa e cuidando de minha mãe, estamos fazendo mais do que apenas preservar um patrimônio; estamos honrando nossa história e lutando por um futuro. Mesmo com os desafios financeiros, acredito que estamos fazendo a escolha certa. Afinal, a riqueza verdadeira está nos momentos que compartilhamos e no amor que nos une. E, quem sabe, o futuro pode nos reservar surpresas agradáveis, como um reencontro com o garoto mascarado, ou a descoberta de um novo caminho para a cura de minha mãe.

Tento me agarrar nessa última esperança, mesmo sabendo que cada dia que passamos com ela, são dias contados, minha mãe não estava melhorando e poderia não estar aqui em nossos próximos aniversários. Uma triste realidade na qual eu não quero acreditar.

A ideia de passar um tempo com a Maitê e ir atrás do meu pai mais uma vez, com a esperança de encontrar o meu menino mascarado, não é tão ruim assim. Só espero que a mamãe aguente até lá e que ela possa encontrar e ver o meu pai mais uma vez, pois sei que, apesar de ter passado anos longe e sem notícias dele, ela ainda o ama e acredita que ele tenha feito isso para manter a nossa família protegida, mas protegida de quê? A minha mãe nunca me contou sobre o trabalho do papai e os motivos que o levaram a abandonar a família repentinamente. Ao invés de demonstrar ódio e mágoa por ele, ela sempre o defendeu e falou dele com carinho e respeito para a Mel. Eu, por outro lado, sempre tive uma mistura de sentimentos. Parte de mim queria odiá-lo por nos deixar, mas outra parte ansiava por entender suas razões. Talvez essa jornada com a Maitê me ajude a desvendar os segredos que minha mãe sempre guardou tão bem.

Penso em como será encontrar o meu pai depois de tanto tempo. Será que ele ainda se lembra de nós? Será que ele vai nos receber de braços abertos ou com a mesma frieza com que partiu? Essas perguntas rondam meus pensamentos, mas decido focar na esperança.

Nosso plano é simples: seguir as poucas pistas que temos e confiar que o destino nos guiará ao nosso objetivo.

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