Os primeiros versos de “Desenho de giz”, de João Bosco, ecoam pelo som da galeria e como em uma mágica, uma bolha se estende sobre nós, não há mais ninguém ao nosso redor, só eu, ele e a beleza desse momento.
“...Quem quer viver um amor
Mas não quer suas marcas, qualquer cicatriz
A ilusão do amor
Não é risco na areia, é desenho de giz
Eu sei que você quis dizer.
A questão não é querer, desejar, decidir.
Aí, diz o meu coração.
Que prazer tem bater se ela não vai ouvir.
Aí minha boca me diz que prazer tem sorrir
Se ela não me sorrir também.
Quem pode querer ser feliz
Se não for por um grande amor?”
Ele se aproxima mais, o corpo quase grudado ao meu e fala em um tom baixo, colando a boca em meu ouvido.
— Seu namorado é um sujeito muito corajoso, estou certo?
— Hum, não entendi.
— É um ato de coragem deixar você sair de casa com essa arma de destruição em massa. Você está linda, mas é bem provável que acabe pegando um resfriado com essas costas nuas.
De modo displicente e como se fosse o seu direito me tocar do jeito que quisesse, ele leva a mão às minhas costas e percorre lentamente com o dedo indicador todo o decote do meu vestido, do meu pescoço até abaixo da cintura, os seus olhos verdes como duas poças de fogo, cravam-se nos meus.
Um arrepio me sobe dos pés à cabeça, eu rebato o seu jogo, tentando demonstrar uma falsa indignação, reprovando a sua ousadia.
— Eu não tenho namorado e se tivesse, não há homem nesse mundo pra me dizer o que posso ou não vestir, eu sei me cuidar sozinha, com licença.
Eu levanto o queixo e saio de perto dele, recolhendo o último fio de controle que ainda me resta, as pernas bambas como espaguetes moles, tento me equilibrar em meus saltos, ainda sentindo o choque e o calor de seu toque em minhas costas.
Definitivamente, ele sabe como fazer uma mulher contorcer-se na calcinha.
Como hoje em meu calendário é o dia de “enfiar os pés na jaca de salto agulha”, sem remorsos ou restrições, eu aproveito a noite e tomo mais duas caipirinhas.
Depois desse confronto sexual, os dois drinks descem por minha garganta me aquecendo até os ossos. É disso que eu estou precisando, alguma coisa forte pra me fazer relaxar e desmaiar em um sono profundo.
Decido ir embora pra casa, todo mundo sabe que fim de coquetel é sempre um chute na bunda.
No final do evento sempre sobram umas figurinhas chatas que já beberam além da conta e mulheres desesperadas pra ver se arrumam uma companhia masculina de fim de noite.
A minha cota de atividades sociais já foi cumprida por hoje e o que eu quero mesmo é agradecer a Deus por suportar mais um dia, dar um beijo em Kaled, mesmo ele dormindo e deitar na minha cama bem quentinha.
Despeço-me dos amigos e vou em direção ao ponto de táxi, quando sinto uma mão repousar em minhas costas, viro-me assustada e estou sendo amparada por Hafiq.
O que é isso? Eu demoro em entender, ele está com o nariz enterrado atrás da minha orelha, descaradamente me cheirando.
Ele está me cheirando? Eu não posso acreditar nisso!
Sinto os seus lábios resvalarem em meu pescoço, ele é um maldito de um jogador no sexo, intimidante, ele sabe jogar sujo.
— Eu te deixo em casa.
— Obrigada, eu vou pegar um taxi, posso ir sozinha.
Preciso manter uma boa distância dele.
— Eu sei que você pode ir sozinha, mas já é muito tarde, uma mulher linda como você andando por esses becos não é nada seguro. Seria um prazer te fazer companhia até a sua casa, então, por favor, aceite.
Uma carona não é nada demais, não vai me arrancar um pedaço.
Aceito a gentileza e sou conduzida até seu carro, uma BMW preta e ridiculamente cara. Espera aí, no outro dia não era um Jeep? Ele coleciona carros ou é dono de uma concessionária? Pelo visto ele gosta de ostentar a sua riqueza e eu não sei se me sinto bem com isso.
Para quem andava no lombo de um jegue, esse tipo de luxo exacerbado é quase um afronta à pobreza extrema em que vivi por anos a fio.
Não consigo disfarçar, sigo em silêncio durante quase todo o percurso, não sei o que dizer, eu mexo as mãos sem parar para fingir que estou à vontade com a sua presença intimidante.
Ele olha para minhas mãos e me pergunta pacientemente.
— Perdeu alguma coisa ou está nervosa?
— Não, nada, só apreciando a paisagem.
Ele sorri de forma doce e me provoca.
— Se continuar mexendo nas mãos dessa forma é bem provável que acabe arrancando um dedo fora.
Eu tento não rir, mas não consigo, começo a rir sem querer. Ele até que tem senso de humor!
— Você devia sorrir mais Antônia, fica linda assim.
Paro de rir no mesmo instante em que ele termina de falar, graças a Deus chegamos à porta da minha casa.
Retiro meu cinto de segurança e coloco as duas mãos no colo.
Cheguei ao meu destino, nosso tempo juntos acabou, não tenho mais o que falar.
Ele não abre a porta do carro, eu olho pra ele tentando entender.
Mais por que diabos ele não abre a bendita da porta do carro?
— Hafiq, muito obrigada pela carona e boa noite.
— Não flor, você não vai se despedir tão fácil assim.
Ele traz o meu rosto de encontro ao seu, a sua mão grande e forte me segurando pela nuca com firmeza, me impedindo de fugir. Os seus lábios no início roçam nos meus em uma promessa suave, os dedos acariciam minhas bochechas, em toques suaves como plumas.
Eu abro os lábios e o beijo se torna mais urgente.
Ele enfia a língua em minha boca tomando tudo o que quer, as línguas duelam sem que haja vencedores, ele mordisca a minha boca e eu em uma resposta atrevida, mordo o seu lábio inferior, provando a maciez de sua boca, seu cheiro é diferente de tudo que eu conheço, amadeirado, picante e exótico.
A sua língua macia e possessiva invade a minha boca sem muita gentileza e eu gosto disso.
Não tenho tempo pra pensar se é certo, sou tomada em um arroubo, a boca deliciosamente preenchendo as lacunas do meu corpo, não restando mais nada, somente a necessidade das bocas se buscarem, arrancando do outro todo o desejo, todas as sensações, só com o tocar dos lábios.
Só os nossos lábios e nada mais.
Eu preciso conter esse desejo que me toma, sinto arrepios percorrerem todo o meu corpo e um desconforto entre as minhas coxas, que está me deixando completamente desarmada. Eu o quero e não sei onde tudo isso vai terminar, na realidade nós dois bem sabemos, se continuarmos nos beijando assim, eu terminarei enroscada e perdida em seus braços, ele todo enterrado dentro de mim, e é aqui que eu realmente o quero, dentro do meu corpo, me tomando de forma tão intensa e tão gostosa, até me fazer esquecer o próprio nome.
Consigo abrir a porta do carro com muito custo e vou em direção à porta da minha casa em passos rápidos.
Sinto os braços dele em um rompante me suspendendo, ele me pega no colo e me coloca no chão, grudando em meu corpo, de encontro à lateral do carro.
Ele encaixa o corpo entre as minhas pernas e eu sinto a rigidez de sua excitação roçando a minha barriga.
Hafiq enterra o rosto no meu pescoço e me cheira profundamente, raspando os dentes na minha pele, mordiscando e lambendo o lóbulo da minha orelha.
— Você está me deixando louco.
As mãos dele se perdem em minha nuca, apertando-me pela cintura, me puxando para me beijar mais fundo e mais forte.
Sua língua úmida sonda a curva dos meus seios, provocando-me através do tecido.
Meus mamilos se enrijecem e ele mordisca, quase me fazendo gozar, deixando-me com o sexo latejando e úmido, até que eu acordo para a realidade.
Eu estou parada na porta da minha casa, me roçando como uma adolescente, grudada em um carro, à beira de foder com um homem que eu não conheço nada além do nome.
— Por favor, pare com isso.
Lançando mão de uma resistência tibetana, enfim consigo me afastar.
Ele fica frustrado e tenta me puxar pela mão.
— Não faz isso com a gente, Antônia, me diga, você vai conseguir dormir?
Hafiq enrosca as mãos na minha cintura e me traz pra junto de si roçando o membro duro naquele ponto perfeito que me enlouquece a cada minuto.
— Eu te fiz uma pergunta, responda Antônia.
Cada palavra ele pontua com um beijo molhado em meu pescoço.
— Você. Vai. Conseguir. Dormir?
Eu só tenho forças para afirmar com a cabeça.
Ele dá uma enorme e lenta lambida na minha boca.
— Pois eu não, eu não vou conseguir dormir.
Nós ainda estamos ofegantes, mas consigo me desvencilhar de seu toque e sigo andando trêmula até a porta de minha casa.
Hafiq tenta me seguir, frustrado com a interrupção de nossas carícias, eu levanto a mão em um sinal de que é para ele manter a distância, o meu olhar é firme, o meu desejo, vacilante.
— Você mente muito mal, durma bem, Antônia.
Ele caminha de volta para o carro e antes de ir embora, coloca a cabeça do lado de fora do carro, me chamando a atenção.
— Antônia!
Eu viro em direção a ele, segurando a bolsa, quase a esmagando contra o peito, tentando achar o último resquício de autocontrole dentro de mim.
— Eu vou voltar, pode contar com isso.
“Pode contar com isso”, de jeito nenhum.
Nem fodendo eu quero ver esse cara de novo.
Hafiq é o tipo de homem que vem com uma contraindicação, escrita bem no meio da testa: “Este homem é um animal sexual, totalmente contraindicado em caso de mulheres carentes, causa sérios danos para a saúde mental”.
Nunca mais vou vê-lo, eu tenho muita coisa para me preocupar, já estou farta de problemas
Faz mais de três meses que eu simplesmente evito sair de casa, só a exposição na galeria, na semana passada, me tirou de meu refúgio.Esta semana a melancolia tá batendo mais forte dentro de mim, confinei-me nas paredes de minha casa, procurando as respostas que eu não tenho, esperando que elas me digam o que fazer de minha vida.Moro em um espaçoso sobrado em Salvador, no bairro do Rio Vermelho, reduto da boemia baiana.Ah! Morar na terra da alegria... E eu me sentir assim desse jeito é no mínimo muito irônico.Treze anos se passaram e parece que foi ontem, há exatamente treze anos mudei-me de Quijingue, no Sertão da Bahia, para morar neste sobrado de arquitetura histórica.Todos os detalhes de nossa casa são muito pessoais e particulares.Todo o caos que eu vivo é tão surreal que eu ainda não me acostumei a dizer que
HAFIQEla senta-se da forma mais ereta possível, com as pernas cruzadas, charmosa pra cacete com uma camisola velha, maltrapilha, tentando manter a indiferença e o último fio de orgulho que lhe resta.Antônia me aponta outro sofá para eu sentar-me e eu suspiro longamente, tentando dissipar a tensão que emana de nós dois.Eu tento me acomodar da forma mais relaxada possível.Sou um homem que não tem problemas de autoestima, sei do efeito que eu causo nas mulheres, a maioria joga-se em cima de mim como urubus na carniça. É incrível como a combinação de um pouco de beleza, educação e bastante dinheiro torna um homem irresistível.Irresistível e... profundamente solitário.As relações amorosas que eu vivi, se algumas fodas agradáveis podem ser definid
CAPÍTULO 5E aquela força da natureza saiu de minha casa como um furacão.Entrou e saiu como um redemoinho que arromba as portas e tira tudo do lugar, sem pena e sem piedade, sem tempo de se proteger, sem pedir licença.Se minha vida não entrar no eixo de novo, Hafiq vai cumprir com sua promessa, eu serei sua mulher, eu serei dele e isso me assusta demais. Durmo pensando em como conseguirei fugir da sua proposta, sem quebrar a promessa que fiz a Aziz. Kaled agora só tem a mim no mundo, a lembrança de tudo que Ziê fez por mim permanece viva em minha memória, em meu coração.Ele me ajudou a resgatar minha autoestima, e agora os dias sofridos que eu vivi fazem parte o passado, graças a ele.Conheci Ziê quando eu tinha treze anos, em uma viagem que ele fez com Johnny a Quijingue, cidade próxima a Canudos — BA.Era festa de Reis, a cidade estava cheia de visitantes, turistas iam e vinham. E a fome me fazia invisível, eles não me notavam. Eu estava muito magra, sofrida pela fome e dilacerad
Acordei cansada, tive uma noite de sono agitada, ainda sinto as mãos de Hafiq pelo meu corpo, que merda! Por que ele tinha que ser irmão de Zie?Pelo menos estou conseguindo me alimentar melhor, tomo um iogurte e um suco de laranja bem gelado, preparo rapidinho um mingau para Kaled.Sentado na cadeirinha, ele espalha mingau pra tudo que é lado e me sorri daquele jeito inocente que eu tanto admirava em Zie.- Mama, quer nanana. Hum!!! bom a nanana.E a banana se amassa toda entre as suas mãos gordinhas, mas que menino mais danado!Ele é um menino muito doce e travesso, uma boa mistura minha e de Aziz: mulato, cabelos castanhos cacheados, olhos castanhos curiosos e alegres.Em mais uma manhã de choro e birra, no placar mamãe x Kaled, eu perco humilhantemente, desisto por hoje dessa batalha e deixo ele levar escondido a chupeta na mochilinha da creche.Após deixa-lo na escola, retorno correndo para casa, ainda dá tempo de tomar uma chuveirada e arrumar-me rapidamente.Até que eu não estou
Eu as vejo salivarem como um canibal em frente a um banquete de carne, todas se tornaram uma massa líquida de hormônios, entre risinhos bobos, cutucões e suspiros juvenis. Completamente seduzidas pela figura envolvente de voz rouca e sotaque melodioso, que eu adoraria nesse exato momento apertar o pescoço até vê-lo sufocar.Dafne, a atendente da cafeteria, aprendiz de vadia, ousada como sempre, fala com Brenda e Lia.- Nossa, se esse homem fosse meu, só sairia da minha cama de cadeiras de rodas. Lia conclui, aumentando o alvoroço feminino.- É um belo de um parque de diversões, vocês não acham? Pra completar nossa maré de azar, só faltava ele ser gay.Brenda ajeita o decote do vestido, puxando seus peitos enormes para cima, como melões quase saltando à vista de todos, se puxasse mais um pouco, dava pra ver os mamilos.Aff!E minha amiga j**a os cabelos louros para o lado, fazendo a cara mais sexy que pode, em direção a Hafiq.- Não tô nem aí se ele for gay, por mim "fuck you my Darling
Faz um gesto indicando para eu passar em sua frente.Vamos almoçar meu bem.Saio pelo corredor com passos trôpegos, acompanho Hafiq até o carro estacionado na frente da galeria, ele abre a porta e eu me sento, olho para o lado e o filho da puta parece alegre pelo efeito que sua demonstração de poder acabou de provocar.Ele dirige em silêncio, por vezes me olha, observando minha reação.A raiva cresce dentro de mim, uma sensação física de cólera, ele não sabe, mas está abanando um lenço vermelho nas minhas fuças e eu estou botando fogo pelas ventas, prestes a atropelar tudo, um ardor queima meu ventre, subindo até a minha garganta.Minha vida virou de cabeça para baixo desde a chegada desse homem insuportável e lindo que divide o espaço comigo, com uma expressão de calma e contentamento que chega a dar nojo.Não tenho a menor ideia pra onde ele está me levando, com a venda da galeria não sei como pagarei as contas no final do mês e não tenho mais as rédeas da merda do meu destino.Três,
HAFIQSó existe o desejo, os lábios de Tônia entreabrem- se de um jeito muito sexy. A respiração entrecortada demonstra-me que ela está tão excitada quanto eu.Minhas mãos percorrem o seu rosto, a sua pele macia me desperta uma voracidade que eu fiz de tudo pra esconder.Chupo os seus lábios carnudos e doces como tâmaras, seguindo com as mãos trêmulas até a curvatura do seu pescoço, descendo os dedos lentamente e descobrindo o prazer imenso de tocá-la.Eu não consigo tirar as mãos do seu corpo.Meu membro encosta na sua bunda macia, se avolumando cada vez mais, eu peço a ela tudo o que quero, e eu quero tudo, toda ela, só pra mim.Por que brigamos tanto se o que queremos é nos perder um no outro? Se só o que precisamos é aplacar essa fome que nos consome?- Eu quero de novo, dá pra mim, me dá essa boca gostosa, depois a gente volta a brigar, Tônia.Não quero mais brigar, a raiva morreu nesse beijo, dando lugar a um tesão insano. Se essa é a brincadeira, ah, meu bem, eu adoro brincar, d
ANTÔNIAPor que ele me beija assim? Por que continua essa tortura desumana?Eu sou toda sensação, toda desejo, não há mais o medo, a dor, só o prazer de ser mulher, de ser fêmea e o latejar nu e cru do cio.Os dedos me dedilhando dentro e fora, indo e vindo, cada vez mais fundo, cada vez mais rápido, cada vez mais longe; ele esfrega os dedos em um ponto que me deixa mais sensível, úmida e trêmula, contraio o sexo freneticamente, apertando-me em torno de seus dedos.Aperto os olhos com a força do prazer que se aflora em meu ventre e rasga meu corpo, dilacerando-me por dentro.- Abra os olhos, eu quero ver seus olhos enquanto goza, me dê o seu prazer, goza pra mim, habibi.Um orgasmo delirante me toma em um sobressalto e eu gozo em sua mão, viro a minha cabeça girando de um lado pra outro, no desespero de me perder, de não ter chão, de ser levada por caminhos que eu desconheço.Ele ainda mantém os dedos dentro de mim, apertando-me a vulva, circundando o polegar em meu clitóris, respiro