ANTÔNIAOs dois já estavam discutindo na biblioteca, quando vi através da porta entreaberta, Youssef debruçar Brenda em seu colo, arrancar-lhe a calcinha e guardar no bolso da calça.Brenda depois de um tempo, apareceu na sala com a bochecha vermelha e os cabelos desarrumados, sem conseguir nos encarar. Logo após, Youssef passou por ela e falou com a voz baixa, mas audível.— Mais tarde terminamos a nossa conversa, bombonzinho. Eu cravo os olhos no dela e Brenda sorri envergonhada.— Você é louca por ele, não é?Imaginei a Brenda sacana falar qualquer coisa, rir com a minha afirmação, dizer que ela era a rainha da casta das escrotas, me mandar eu me foder.Tudo! Eu esperei por tudo, menos isso.— Demais, esse árabe é um filha da mãe, teimoso pra cacete, me faz tão feliz, amiga! E você pretinha, já está preparada, seu marido é um ogro tão romântico, está animada Tônia?Do que ela está falando, o que é que Hafiq está
PRÓLOGO POR BIANCA MATTOSEnfim, após horas de uma viagem massacrante, tentando disfarçar a minha claustrofobia, o avião aterrissa no Qatar às 14 horas.Eu desço as escadas rolantes ainda um pouco vacilante, observando com cuidado se o meu véu está no lugar e se estou vestida de forma discreta.É a primeira vez que eu saio do Brasil. Infelizmente não consegui folga no trabalho para vir ao casamento de Brenda, mas depois de muito implorar para o meu Chefe no Museu Nacional da UFRJ, eu consegui férias e nem acreditei quando Brenda disse que o meu cunhado, Youssef, pagaria a minha viagem ao Qatar.Ainda não o conheço, mas penso que deve ser um cara com uma paciência de Jó, pois aturar as maluquices de minha irmã, só um homem com uma calma tibetana.Mas eles merecem essa felicidade, só eu sei o quanto me
TRÊS MESES ATRÁS Eu ando em passos lentos, no meio de um calor infernal, espremendo-me entre os pedestres. A feira está lotada e ela resolveu justo agora parar em uma barraca de frutas. Observando-a mais de perto, uma avalanche de sentimentos me toma de forma intensa. Curioso, eu que nunca fui um homem passional, desde que a vi pela primeira vez, tornei-me uma verdadeira montanha-russa de emoções. Meu objeto de observação escolhe algumas frutas enquanto conversa com o feirante. O coitado do velhinho mostra-se entusiasmado com a atenção que recebe da mulher linda e sedutora que está à sua frente. Ela segura em seu ombro e prova um morango. Escorre um pouco de caldo pelo canto de sua boca, ela limpa os lábios e lambe os dedos com naturalidade. Essa visão me deixa tão excitado que chega a doer, e isso é
ANTÔNIAJá ajeitei o vestido e arrumei os cabelos três vezes.Eu tenho que encarar o fato de que mexê-los de um lado para o outro, não vai deixá-los com uma aparência melhor do que esse emaranhado de cachos indomados.Roer as unhas também é patético.Essas manias são aceitáveis e muito bonitinhas quando você é uma garotinha, e eu definitivamente já passei da fase do baile de debutante e do nervosismo da primeira dança.Isso tudo é ridículo para uma mulher de vinte e seis anos, independente, madura e senhora do seu destino.Eu estou fazendo essas afirmações idiotas pra quem mesmo?Antônia, a quem você está querendo enganar?Já o vi algumas vezes, vagando absorto em seus pensamentos, enquanto toma café na cafeteria da galeria de artes
& Mais um dia que eu durmo muito pouco, o resultado é que acordei sentindo o corpo cansado e bastante irritada, já se passaram alguns dias que eu vi Hafiq e a impressão que ele deixou, ainda é muito forte dentro de mim. Resumidamente, desde que o conheci, ele tornou-se o personagem principal dos meus sonhos molhados. Eu acordo suada e ofegante por causa dos orgasmos frustrados e depois de desperta, demoro em voltar a dormir, transformando-me nessa bagunça úmida e hormonal. Arrasto-me até o quarto de Kaled e o meu garotinho está acordado, cheio de gás, ele levanta os braços para que eu o tire da cama e enterra a cabecinha em meu pescoço. — Mamãe, quer “dedêla”. “Dedêla” é mamadeira na linguagem fofa do meu
A noite de ontem foi revigorante, me lembro da molecagem com os meninos na chuva e logo surge em minha mente, os momentos que eu passei com Hafiq.Certamente foi o café mais sensual que eu já provei, o jeito quente como ele bebia e me olhava, era de umedecer qualquer calcinha.Curioso, mas eu tenho a ligeira impressão de tê-lo visto anteriormente em algum outro lugar, faço um tremendo esforço pra lembrar e desisto.É em vão, eu sou péssima em memorizar fisionomias.Acontecerá um evento na galeria à noite e infelizmente, eu não posso faltar. Apesar da preguiça imensa em me socializar, vou ter que comparecer, não tem jeito, essa função faz parte do meu trabalho e, além disso, eu sou uma das organizadoras da exposição.Essas exposições são sempre iguais, conversa chata, risos forçados e um mont
Os primeiros versos de “Desenho de giz”, de João Bosco, ecoam pelo som da galeria e como em uma mágica, uma bolha se estende sobre nós, não há mais ninguém ao nosso redor, só eu, ele e a beleza desse momento.“...Quem quer viver um amorMas não quer suas marcas, qualquer cicatrizA ilusão do amorNão é risco na areia, é desenho de gizEu sei que você quis dizer.A questão não é querer, desejar, decidir.Aí, diz o meu coração.Que prazer tem bater se ela não vai ouvir.Aí minha boca me diz que prazer tem sorrirSe ela não me sorrir também.Quem pode querer ser felizSe não for por um grande amor?”
Faz mais de três meses que eu simplesmente evito sair de casa, só a exposição na galeria, na semana passada, me tirou de meu refúgio.Esta semana a melancolia tá batendo mais forte dentro de mim, confinei-me nas paredes de minha casa, procurando as respostas que eu não tenho, esperando que elas me digam o que fazer de minha vida.Moro em um espaçoso sobrado em Salvador, no bairro do Rio Vermelho, reduto da boemia baiana.Ah! Morar na terra da alegria... E eu me sentir assim desse jeito é no mínimo muito irônico.Treze anos se passaram e parece que foi ontem, há exatamente treze anos mudei-me de Quijingue, no Sertão da Bahia, para morar neste sobrado de arquitetura histórica.Todos os detalhes de nossa casa são muito pessoais e particulares.Todo o caos que eu vivo é tão surreal que eu ainda não me acostumei a dizer que