Amber
O espelho do banheiro refletia uma versão minha que eu mal reconhecia. Meu rosto ainda exibia os hematomas do ataque, os tons arroxeados se misturando com a vermelhidão do corte no lábio. Suspirei, abrindo a pequena necessaire na esperança de encontrar algo que pudesse mascarar as marcas. Usei a pouca maquiagem que tinha, espalhando base com os dedos, mas cada camada parecia apenas destacar o que eu tentava esconder.
O sonho ainda ecoava em minha mente. A voz de Peter, o pen drive, o peso de algo que eu não conseguia lembrar completamente. Cada detalhe parecia se sobrepor, formando um enigma que me deixava ansiosa e inquieta.
Troquei de roupa rapidamente, vestindo algo simples, mas confortável. Quando saí do quarto, meu coração já estava acelerado. Precisava encontrar Leonardo, precisava contar o que estava me corroendo.
Segui o som das vozes para a sala de caf&ea
AmberOlhei para Leonardo, tentando assimilar suas palavras, e senti uma sensação ruim, como se estivéssemos cercados.“Me leva até o apartamento.” As palavras saíram mais rápidas do que eu pretendia, mas o peso da necessidade não deixava espaço para hesitação.Leonardo olhou para o relógio, a mandíbula tensa. "O que exatamente você quer fazer lá?""Encontrar o pen drive," respondi, cruzando os braços. "Preciso saber o que tem nele que é tão importante."Ele suspirou, ponderando. "Temos uma reunião importante hoje, Amber. Não posso perder isso. Mas... se você prometer que será rápido...""Prometo," falei, sem hesitar."Ótimo," ele disse, estreitando os olhos. "Então vá se arrumar. Você vai participar da reunião comigo.""Eu?"
LeonardoA raiva queimava dentro de mim como fogo vivo enquanto observava os danos no carro. Era óbvio que não tinha sido um acidente. Era um movimento calculado: forte o suficiente para assustar, mas não para matar. Uma mensagem clara, e eu odiava ser jogado como uma peça no jogo de outra pessoa."Tirem a senhorita Amber daqui. Agora." Minha voz saiu mais dura, mas a urgência pulsava em cada palavra."Não," ela respondeu, sem hesitar, o tom desafiador. "Quero ficar com você.""É perigoso, Amber," insisti, virando-me para ela, tentando controlar minha frustração. "Você precisa voltar para casa.""Não!" Ela deu um passo à frente, a determinação brilhando em seus olhos. "Eu preciso ir ao apartamento. Se isso foi uma ameaça, como fizeram com a Dra. Gabriela, não posso fugir. Preciso enfrentar isso. Se eu encontrar o pen drive, quem sabe
AmberMeu coração batia como se estivesse correndo uma maratona enquanto subia as escadas do prédio. A digital ainda funcionava, emitindo o clique familiar da porta se destrancando. Um alívio passageiro, mas suficiente para me fazer entrar no apartamento com a sensação de que talvez algo estivesse prestes a se revelar."Nos deixe verificar primeiro, senhora," um dos seguranças disse, segurando a porta. Assenti impaciente, cruzando os braços enquanto esperava no corredor. Meu olhar varria as paredes, cada segundo se esticando como uma eternidade.Assim que eles liberaram a entrada, passei direto por eles, jogando minha bolsa no sofá e correndo para o quarto. Não havia tempo a perder. Comecei a abrir caixas, jogando roupas, papéis e objetos no chão em uma busca frenética."Vamos, vamos," murmurei para mim mesma, batendo com a palma na testa, como se p
LeonardoO som das caixas sendo abertas e fechadas ecoava pelo quarto como um lembrete constante da busca incessante. Quando Magnus finalmente encontrou o fundo falso no guarda-roupa, todos os meus sentidos se aguçaram. Lá estava ele, o pequeno pen drive que parecia carregar mais peso do que seu tamanho sugeria."Vamos para a empresa," sugeri, já formulando um plano em minha cabeça. "Podemos analisar isso com segurança lá.""Não," Amber respondeu imediatamente, pegando o pen drive da mão de Magnus. "Vou ver isso aqui mesmo."Olhei para ela, meus olhos estreitando. "Você lembrou a senha do seu computador?""Não," admitiu, já ligando o computador. Seus dedos tamborilavam na mesa enquanto esperava o sistema inicializar, a impaciência transbordando dela.Suspirei, sabendo que argumentar seria inútil. Ela estava determinada, como sempre. Me p
AmberEntrar na empresa era como mergulhar em um oceano desconhecido, mas com ecos familiares ao fundo. Assim que atravessamos a porta de entrada, senti a necessidade de soltar a mão de Leonardo, um gesto inevitável para manter as aparências, mas que deixou um vazio instantâneo. Meu olhar capturava os rostos que viravam em nossa direção, as sobrancelhas erguidas, os sussurros que não faziam esforço para serem discretos."É ela?""Eu ouvi dizer que...""Voltou mesmo... quem diria.""Bem-vinda de volta, senhorita Bayer." uma recepcionista me falou, e agradeci, ainda tensa com a situação.O elevador, por mais breve que fosse, me deu um momento para respirar. Leonardo aproveitou para pegar minha mão novamente, seus dedos se entrelaçando nos meus com a segurança que só ele conseguia
Leonardo"Agradeço a presença de todos," disse, encerrando a reunião com um tom firme. Observei os diretores levantarem-se, cumprimentando-nos rapidamente antes de saírem um a um. Quando finalmente a sala ficou vazia, voltei-me para Amber com um sorriso provocador. "Viu? Não foi tão difícil assim."Ela soltou uma risada curta e descrente, encostando-se na cadeira. "Fale por você," retrucou, sacudindo a cabeça. "Minhas pernas ainda estão bambas."Me sentei na borda da mesa, de frente para ela, e peguei sua mão entre as minhas. Seus dedos ainda tremiam levemente, e isso me fez querer acalmá-la de todas as formas possíveis. "Estamos no caminho certo," murmurei, acariciando sua palma com o polegar. "Logo tudo vai voltar a ser como antes."Amber inclinou a cabeça, seus olhos cravando-se nos meus. "E o antes era melhor que agora?" perguntou, sua voz
AmberLeonardo estava deitado no tapete da sala, segurando uma mamadeira de brinquedo e emitindo sons exagerados de choro. A cena era tão absurda que eu precisei apertar os lábios para não gargalhar alto. Ele, o poderoso e sempre sério Leonardo Martinucci, estava ali, interpretando o "bebê" de Bella com uma dedicação digna de um Oscar."Papai, bebês não cholam assim!" Bella reclamou, inclinando a cabeça com a seriedade de uma mãe de brincadeira. "Você tem que chorar mais baixinho!" Ela tentou empurrar a mamadeira para a boca dele novamente."Buáááá!" Leonardo respondeu, chorando ainda mais alto, balançando os braços de forma dramática. A sala explodiu em gargalhadas, até mesmo Nonna Rosa, que estava sentada no sofá, segurava o lenço no rosto para esconder as lágrimas de tanto rir.Lo
LeonardoColocar as crianças na cama era um dos momentos que mais apreciava no dia, um ritual que, de alguma forma, parecia selar nossa unidade como família. Bella estava enroscada em sua coberta cor-de-rosa com estampa de unicórnios, enquanto Louis já lutava contra o sono, piscando lentamente, embora ainda insistisse que não estava cansado.“Qual vai ser a história de hoje?” perguntei, ajustando o travesseiro de Louis enquanto Amber se sentava ao lado de Bella.“Uma de dagões!” Louis anunciou, seu entusiasmo ofuscado pelo bocejo que escapou logo em seguida.“E pincesas,” Bella acrescentou, lançando um olhar significativo para mim. “Mas o dagão é bonzinho.”Amber riu suavemente, a melodia de sua risada preenchendo o quarto. “Um dragão bonzinho que ajuda a princesa a encontrar o castelo encantado?”