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Capítulo II - Ariela

A despedida foi maçante e dolorosa. Fui criada sob o peso de ser o que minha família precisasse que eu fosse, sempre me neguei em favor do querer e da vontade deles, pois foi assim que minha mãe me direcionou a ser por meu pai e meu irmão, sempre foram eles em primeiro lugar.

Olhando pela pequena janela do avião, observando Congonhas, sabendo que estou deixando para trás não somente uma vida, mas também o peso da responsabilidade que ela jogou sobre meus ombros.

Mesmo sabendo que tudo ficará bem e que eles são adultos e não precisam mais de mim, não da forma que ela sempre acreditou que precisavam, ainda assim a sensação de estar falhando com minha mãe me oprime. Quero gritar e fazer uma cena dentro do avião, pedir para descer e desistir de tudo, mas no momento em que estou para cometer essa loucura, já com a mão no cinto, sinto o toque em meu pulso direito, não firme como é no sonho, mas suave e tranquilizador. E dessa vez estou acordada.

Olho para os lados à procura de respostas, esperando que mais alguém esteja tendo a mesma alucinação que eu, mas todos estão mergulhados em seu próprio mundo. Levo os dedos trêmulos aos pulsos, tocando-o delicadamente, com medo de que pudesse sentir dedos fantasmagóricos em mim, mas nada acontece, somente uma paz que me invade e quando me dou conta, já estamos sobrevoando São Paulo.

Não tem mais volta.

Meu apartamento é maravilhoso, daqueles que não acreditamos que possa existir na vida real, simples, confortável, aconchegante, que te abraça e envolve falando ao seu ouvido que você enfim está em casa. Dois quartos, sala e cozinha, todo mobiliado e com uma decoração fofa. Não há como reclamar, a proprietária tem bom gosto. Localizado no centro da ilha de Florianópolis, Avenida Mauro Ramos, perto da empresa, shopping, centro da cidade, lojas, mercados, farmácia, enfim, tudo o que preciso para simplesmente andar e encontrar. Após colocar todas as malas para dentro da minha nova casa e arrastá-las para aquele que será o meu quarto, sento-me no sofá e me sinto estranhamente perdida.

Decidi me mudar uma semana antes da data prevista para começar a trabalhar, pois precisava me encontrar dentro dessa nova vida. Agradeci aos céus quando Dani decidiu aceitar minhas súplicas e vir comigo para essa primeira semana. Ela aproveitou que estava com as férias vencidas e juntou o útil ao agradável: me ajudaria nesse recomeço e tiraria férias. Mas só chegaria no outro dia, ainda precisava resolver algumas coisas antes de viajar e eu estava ansiosa demais para ficar esperando. Ainda era cedo para pensar em dormir, estava agitada demais para ficar sentada olhando para a televisão e, ainda que amasse ler, não queria me perder em nenhum livro naquele momento. Peguei a bolsa e saí para a minha primeira noite de adulta solitária. Fui em direção ao shopping, que ficava a três quadras do meu apartamento, pois eu estava faminta.

Resolvi ir caminhando à beira mar e logo me deparei com uma das paisagens mais belas. Pela primeira vez desde que saí de São Paulo, fiquei feliz pela decisão tomada.

Que vista!

A lua reinava no céu estrelado, a brisa forte golpeava meu rosto, bagunçando meus longos fios castanhos, deixando um ninho de confusão em minha cabeça, mas não teria como me preocupar com a aparência naquele momento. As luzes da avenida refletiam sobre a água do mar que, mesmo imprópria para banho, embelezava extraordinariamente de ponta a ponta a avenida.  

Era mesmo pura magia.

Algo atraiu a minha atenção, um prédio alto à minha esquerda, que destoava dos outros prédios residenciais à beira mar. Era feito totalmente de vidro, refletindo as luzes dos carros que passavam e dos postes ao seu redor. Desejei de coração que ali não fosse a Asupritor Eletrônica S/A. Sabia que o edifício da empresa era à beira mar, mas não poderia ser aquele, imponente demais. Para um recomeço, algo mais simples e menos intimidador, seria melhor.

O shopping, assim como tudo o que vi até agora, é lindo. Com algumas lojas de departamento conhecidas, mas outras que nunca vi. Achei a praça de alimentação, não conseguindo deixar de me impressionar com a quantidade de seres humanos lindos por metro quadrado. Me senti em um comercial da Barbie Moda Praia.

Mulheres lindas e homens tão bonitos quanto.

Andei ao redor, procurando por algo que realmente estava com vontade de comer, só para descobrir que, na verdade, não queria nada. A possibilidade de aquele ser o lugar onde iria trabalhar acabou com meu apetite.

Acabei na salada com frango grelhado.

Fiquei no shopping por duas horas, comprei algumas coisas para colocar a minha cara em meu novo espaço, passei no mercado e, por mais estranho que isso possa parecer, estava me sentindo em casa, como se aquele lugar estivesse me abraçando, me recebendo, dizendo que ali era o meu lugar.

Sorri com o pensamento.

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