Não consigo conter as lágrimas que escorrem sem controle, me sinto tão impotente diante as minhas falhas. A cada novo pesadelo, vejo o quanto eu poderia ter feito por ela e não fiz, quantas brechas ficaram abertas e o tamanho do meu egoísmo. Foram dois anos de sofrimento, mas não para todos nós. O sofrimento maior foi somente da minha mãe, ela que sentiu em seu corpo todos os males que o câncer pode proporcionar, foi mutilada de inúmeras formas, perdeu sua identidade como mulher, definhou sobre uma cama, sentia dores alucinantes e, ainda assim, me sentia no direito de acreditar que poderia reclamar de algo.
Egoísta.
E ainda agora me coloco no papel de coitada atormentada, acredito ser cruel a cobrança feita.
Jamais.
Devo isso a ela.
Meu pulso ainda está latejando onde o meu salvador imaginário tocou novamente para me puxar das minhas dívidas part
Senti sua essência no exato momento em que seus pés entraram em meu domínio. Apressada, temerosa, intimidada. Esse medo que minha doce menina tem de viver inebria os meus sentidos, atrai-me como um viciado sem controle. Ajeito-me na cadeira em meu escritório, nunca fiquei tão perto dela assim. Ainda que no vigésimo andar, sua essência parece gritar, marcando sua presença com uma força que ela nem sequer sabe que possui.Controlo a respiração. Sinto-me um incapaz, pois quero me materializar diante dela e sugar seus medos, angústias e dor até a última gota, até não existir mais nada dentro dela, deixá-la como uma casca vazia, oca, sem sentido. Sinto os dedos esmagando a madeira da cadeira, preciso conter a minha ânsia. Levanto e meus pés passam a comandar o show, caminhando rente à parede de vidro, acalmando as gavinhas que habitam em mim.
O ar quente de Floripa encontra meu corpo no momento em que saio da geladeira que é aquele prédio, o choque térmico é inevitável e na mesma hora já sinto o nariz começar a fungar levemente.— Ótimo, vou ficar gripada! — resmungo para que o universo ouça que estou insatisfeita com ele e seus acontecimentos de merda.Preciso mesmo procurar uma profissional, não gosto muito dessa ideia, na verdade sempre a rejeitei. Acredito que se eu, que me conheço bem, não consigo dar um jeito em minhas neuras e loucuras, como alguém que só me escuta e fica me olhando com cara de paisagem me ajudará com isso?Mas diante do último acontecimento, não dá mais. Ter pesadelos é uma coisa, delirar em plena luz do dia em meu ambiente de trabalho – bem, onde será o meu ambiente de trabalho em breve – já é demais
O convite havia sido enviado. Não contenho o júbilo em saber que a ideia de levar os novos funcionários às casas noturnas sob a administração da Asupritor Eletrônica S/A foi a melhor de todas as decisões tomadas pelo conselho, ainda que com o intuito de agregarmos valores de conhecimento, união e a confraternização entre eles, mesmo assim, essa ideia caiu como uma luva.Saber que estaríamos dentro do mesmo ambiente e não precisaria usar de subterfúgios para vê-la, alegrava-me demais. Não que frequentar nossas casas fosse um hábito, mas por ela abriria uma exceção. Sentia-me aflito, como há tempos não me sentia. Algo em meu interior pulsava pedindo por Ariela, buscando ser saciado de alguma forma.Queria ver o pânico em seus olhos, sentir o desespero de sua alma, ouvir seu coração acelerado, batendo em ritmo
Claro que estou confusa, aceitei ao convite do segurança para a área vip de ninguém mais, ninguém menos que o dono da empresa que fui contratada. Com “convite” estou sendo delicada, ele praticamente me intimou para subir ao grande aquário que pairava sobre as cabeças dos simples mortais que se amontavam na casa noturna com o nome bem sugestivo. Dani praticamente quicou indo até o andar de cima, estava de olho em um dos três caras que a comiam com os olhos, mas entre ficar no meio da multidão ou ser vista lá em cima, não pensou duas vezes.Assim que entramos fiquei paralisada por alguns segundos, pois três coisas “gritaram” imediatamente aos meus ouvidos:O aquário era todo de vidro, mas não conseguíamos ver o chão dele lá de baixo, só as paredes, mas o mesmo não acontecia aqui de cima, pois víam
Meu lugar de equilíbrio.Não poderia ter voltado para a casa que mantinha no mundo humano, não teria como simplesmente ficar vagando entre os pesadelos de outras pessoas. Não encontrava em mim a vontade suficiente para nenhum desses atos.Após o toque da ponta de sua língua em meu polegar, por somente uma mísera fração de segundos, minha menina irradiou vida para o meu corpo morto há séculos. Fiquei paralisado, vendo-a correr para longe de mim, sem ter como ou porquê ir atrás dela. Mesmo quando ela já estava na saída da Obsessão e seus olhos encontraram os meus, conseguia sentir a mesma intensidade, como se ainda estivesse diante de mim.Precisava me cercar do meu mundo, do que é conhecido, do que realmente sou feito e nada mais. Assim que meu corpo surgiu no submundo, senti o poder dela se esvaindo e o sorriso se espalhar em meus lábios.
Os dias passaram rápidos demais. Entre pesadelos, noites terríveis, sonhos sem sentido algum e passeios de exploração pela ilha, a semana foi embora e o tempo escorreu entre nossos dedos.Dani era a minha salvação necessária, estar ao lado dela me fazia bem. Sua presença e a forma positiva que enxergava a vida sempre me incentivava a seguir, ver o outro lado da mesma situação. Nem mesmo quando pegamos a tal caixa pessoal na recepção do prédio da Asupritor Eletrônica S/A e vimos tudo o que estava lá dentro, ela surtou.— Mas... olha, pense bem. — Olhávamos para dentro da caixa aberta entre nossas pernas no sofá. — Não é algo demais se pensarmos que é uma empresa de eletrônicos mega moderna, então deve ser normal os funcionários terem essas coisasEla deu de ombros, tirando de dentro da cai
Não consegui dormir. Sei que ele me desejou bons sonhos, mas naquela noite, infelizmente, não atendi aquele pedido. Meus pensamentos trabalhavam com uma frequência absurda, trazendo imagens, lembranças de momentos, ligando pontos, criando vínculos. Em um mundo cheio de mulheres, como ele conseguiu se envolver com a melhor amiga dela?Ela estava lá, acompanhou a dor da minha mãe, viu seu corpo definhando sobre a cama, sendo comido de dentro para fora. Vivenciou o que as sessões agressivas de quimioterapia lhe causavam, o quanto emagreceu e ouviu as confissões da minha mãe, do quanto não se sentia mais mulher para o meu pai.Não conseguia entender.Passei a lembrar de todas as vezes em que nos encontramos na casa dos meus pais e ela estava lá, rindo, conversando, brincando com ele como se fossem dois irmãos ou amigos antigos e quando, após a morte da minha m&ati
A presença de Ariela me atingia como se a luz da magia mais poderosa atravessasse meu corpo milenar. Nem mesmo todas as teorias já discutidas traziam sentido para o que via acontecer diante de meus olhos. Ela não deveria ser nada além somente minha fonte de prazer, o único prazer que realmente me interessava. Seu medo.Por horas fiquei à espreita, esperando o momento exato para degustar do néctar que escorria por seus poros todas as noites. Os pesadelos e o peso da culpa que carregava por acreditar não ter feito o suficiente por sua mãe a corroía, comendo-a de dentro para fora. E minha presença deixava tudo ainda mais interessante. Mas na noite anterior isso não aconteceu, não saciei meu desejo, a fome desenfreada, ao contrário, me limitei a ficar em um canto escuro de seu quarto, observando seu corpo seminu, mexer de um lado para o outro e sua face entregar o que sua boca n&atil