Sim, conhecia histórias de assombração e até mesmo já havia me aventurado em alguns livros sobrenaturais, vampiros e lobos, mas aquilo? Bem, não saberia lidar.
Não há como alguém me criticar por simplesmente ter tido um ataque de desespero, é a reação que um ser humano normal teria, correr do perigo, gritar de medo e não entender quando o seu namorado muito lindo, rico e misterioso se apresenta como o dono do submundo. Loucura demais.
Não sei como saímos daquela escuridão angustiante, mas acordei em meu quarto, vestida e com Alin deitado ao meu lado, o que não ajudou muito para o surto de insanidade que me tocou. Gritei, chorei, joguei as coisas que consegui segurar em cima dele e ele? Ficou somente me olhando como se estivesse decepcionado demais para esboçar qualquer reação, levantou-se e fez o que prometemos não fazer nun
Insanidade.A palavra definia minha fé naquela situação. Acreditar que Ariela não somente entenderia, mas aceitaria o que eu era, foi a mais pura insensatez.Diferente do previsto, ela gritou, chorou e se desesperou, nem ao menos permitiu ser tocada por mim para que saíssemos dali ou ser amparada por meus braços. Me afastar era a decisão certa, tirar de sua mente todas as imagens, seria o correto também. Não consegui. Precisava deixar algo registrado em seu coração, ainda que fosse o medo e o desespero, afinal, não era diferente dos sentimentos que emanavam dela. Eu sou o caos.Afastei-me da empresa, preferi acompanhar tudo de longe. Aproveitei para me dedicar a expansão das filiais, mas todos os meus sentidos estavam ligados a ela, vendo-a em cada momento, observando cada detalhe. Eu a amava, para esse sentimento não existiam dúvidas, mas, além do amo
Cara de pau.Não conseguia pensar em outra coisa quando vi Alin parado em minha frente. Após duas semanas se escondendo da loucura que havia me apresentado, agora surgia com a maior cara de pau do mundo. Sentada de frente para ele, com as pastas das novas fusões, minha vontade era de dar uma surra nele com todas elas juntas, até deixar o brasão da empresa marcado em sua testa.Mas como ele era um ser demoníaco do submundo, me contive em somente segurar a respiração e o ódio e ser a profissional que que fui contratada para ser.Claro que o café da manhã foi golpe de mestre. Às vezes acho que Alin pensa que sempre poderá resolver tudo se me alimentar. Não estava cem por cento errado, mas isso daria certo em uma discussão sobre o filme no cinema, não sobre ser um demônio morando naquele lugar horrível.Aceitei o convite.Havia u
De que forma poderia colocar em palavras o que realmente era e como a humanidade me servia? Em que momento poderia revelar à mulher que mudou toda a minha existência que sua dor e sofrimento alimentava meu corpo vazio e me transbordava em força e vigor?Seria impossível.Tê-la em meus braços, deitados nessa cama, já era algo que passaria o resto de minha existência procurando a quem agradecer, obrigá-la a entender e aceitar, iria contra tudo. Afundava em meus pensamentos, perdido na busca de uma solução para que a verdade e somente a verdade existisse entre nós dois, mas o tremor do celular de Ariela chamou minha atenção.Ela se soltou do meu abraço, jogando o corpo sobre o meu para conseguir pegar o celular que tinha jogado no chão ao lado da cama junto com os outros aparelhos. Ariela olhou para a tela e respirou profundamente mordendo o lábio inf
O jantar foi um total fracasso, uma guerra de testosterona. Achei que fossem se levantar e mijar no pé um do outro, tentando marcar território.Benjamim foi embora rápido, nos deixando sozinhos. Passei a acreditar que ele queria mais do que estava disposta a dar e a presença de Alin o incomodou profundamente.No decorrer dos dias não atendeu minhas ligações nem respondeu minhas mensagens, simplesmente sumiu sem me dar a chance de entender o que acontecia com ele ou entre nós.Sei que vai parecer egoísmo, mas tudo em minha vida estava tão perfeito que não queria que mais ninguém se aproximasse. Estávamos em uma bolha de proteção, amor e conhecimento. Até mesmo na empresa, seguíamos tão bem, em um encaixe tão perfeito, transformando a rotina diária em algo funcional.Conhecia Alin um pouco mais a cada momento, falava-me
Sentia-me o pior da minha espécie, um sujo precário e decrépito, escondendo-me por trás do amor que sentia por ela, mas que não era maior do que minha necessidade.Eu a amava e meu corpo doía diante a possibilidade de perdê-la, não a tocar ou não ter Ariela sob os cuidados de meus olhos. Isso afligia o meu físico e enlouquecia minha mente.Sabia que ela ainda me queria, que dormia ao meu lado sem o menor sinal de desconforto, não temia por quem eu era e em momento algum usava disso como qualquer desculpa para algo.Como poderia ser grato por tê-la em minha vida? Ainda assim, mesmo diante a esse regalo, não teria como abrir mão de sua essência, mas descobri que necessitava de pouco para transbordar.Ariela dormia deitada em meu peito, permanecia acariciando sua pele quente e macia, meus dedos marcando delicadamente por onde deslizava. Vi o exato momento em
Opressor exigiu muito de mim, afinal, a escrita tem sido minha válvula de escape e a salvação para os tormentos da minha alma. É escrevendo que consigo colocar para fora meus demônios pessoais e foi lutando com um desses demônios que a ideia nasceu. Travamos uma luta árdua e, por dois anos, vimos o câncer, literalmente, corroer a minha mãe de dentro para fora, levando de nós a figura saudável, linda e cheia de vida. Foi traumático de muitas formas e enterrar um ente querido sempre nos deixa à margem da loucura. Não sou adepta a entregar meus problemas aos profissionais da saúde, nada contra, mas comigo nunca deu certo, então corro atrás para conseguir resolver meus conflitos sozinha. Um desses conflitos chegou quando passei a ter pesadelos horríveis, carregados de dores, cobranças e perseguições. Eles são desesperadores!Escrev
Ela estava linda.Os cabelos curtos e brancos como fiapos de algodão, o rosto descansado, em paz e pode parecer loucura o que vou dizer, mas existia um leve sorriso em seus lábios.Dormia.Para sempre.O lugar estava lotado. Sempre disse que ela parecia uma candidata para alguma vaga política, pois onde ia demorava uma eternidade porque parava para conversar com todo mundo. Nada mais justo que todos fossem conversar com ela uma última vez.Esse pensamento trouxe o nó de volta à minha garganta. O sentimento que estava reprimindo, fazendo um esforço sobrenatural para manter guardado em algum lugar, não iria desabar, não ali. Ainda não.O caixão foi fechado.As pessoas se posicionaram ao redor.Caminhavam lentamente levando o corpo sem vida da minha mãe.Seu último passeio.A cada passo meu coração acelerava um po
— A última vez.Prometi em alta voz pela milésima vez, não para uma amiga ou um parente, mas uma promessa feita à mulher que me encarava no reflexo do espelho. Estava visivelmente transtornada, batom levemente borrado no canto da boca, o corretivo sob os olhos já não escondia as noites em claro, ao contrário, evidenciavam ainda mais o efeito dos pesadelos intermináveis, e o lápis preto escorreu, deixando a imagem medonha.— Você é uma vergonha, Ariela! — repreendi a imagem patética que me encarava com o mesmo desgosto, se retorcendo com a pronúncia do meu nome.Nunca entendi a necessidade da minha mãe em escolher nomes estranhos, mas ela achava o significado do meu nome lindo – Ariela, “leoa de Deus” – e eu sempre achei tão estranho quanto o nome, mas não teria como mudar aquilo, o estrago foi feito há vi