São pouco mais de sete da manhã quando entro na minha sala e coloco meu blazer sob a cadeira, me sentando nela logo em seguida. A dor de cabeça que sinto me incomoda bastante. Cogitei ficar em casa, dormir até tarde e descansar da noite passada, a qual fiquei até tarde da noite estudando um caso, mas o trabalho precisa de mim. Então, mesmo com a dor e cansaço, estou aqui, pronto para mais um dia.
Abro a gaveta da mesa e vasculho ali em busca de algum remédio. Encontro um comprimido, que engulo mesmo sem água.
Massageio minhas têmporas e me preparo para mais um longo dia de trabalho. Hoje a delegacia está movimentada, policiais andam agitados para lá e para cá, o que é estranho para a pacata cidade de Healdsburg.
Nunca há muito trabalho aqui. Sempre são queixas de furtos e invasões. Há também queixas de pessoas desaparecidas, que não aconteciam com tanta frequência, mas aumentaram nos últimos dias.
Gosto de trabalhar aqui, das manhãs calmas e dos poucos crimes que acontecem na cidade, sinais de um trabalho bem feito pela equipe.
Quando cursei direito, me preparando para atuar como detetive, sonhava em trabalhar em uma cidade grande, resolver crimes e casos, em um lugar agitado. Mas agora, trabalhando aqui e tendo uma vida tranquila, é muito melhor do que qualquer agitação. Minha rotina, baseada em trabalho e sono é ótima para mim.
Ligo meu computador e pego alguns papéis que estavam em cima da minha mesa, nem percebendo quando Jared — legista da Healdsburg P.D. e meu melhor amigo — entra na minha sala, com uma pasta em mãos.
— Heights, temos um caso novo. — me entrega os arquivos, sentando na cadeira à minha frente.
— Bom dia para você também, Jared.
— Bom dia, Alex. Sua cara não está nada boa, dormiu pouco? — assinto.
— Me dediquei aos casos das garotas desaparecidas. — suspiro. — Me fale mais sobre o caso.
— Os corpos de três garotas já foram encontradas na floresta.
— Três? Por que só agora fui comunicado? — questiono, mal humorado.
A dor de cabeça costuma me deixar assim.
— Foram encontrados pela manhã, os três. Foram bem escondidos na floresta. Uma semana de diferença entre cada um.
— Quem os encontrou? — questiono.
— Algumas pessoas que faziam trilha pela região.
Passo os olhos pelos papéis e vejo as fotos. Todas parecem seguir um padrão: loiras, olhos claros, magras e com cabelos longos. Até que, ao olhar bem, reconheço alguns rostos.
As três estão entre as quatro garotas desaparecidas. Estava investigando e estudando seus casos ontem.
Clarice Evans, Lisa George e Blair Stevens.
— Essas garotas estavam desaparecidas. — constato. — As famílias foram comunicadas?
— Sim. Inclusive já fizeram o reconhecimento dos corpos.
— Temos que começar as buscas e os interrogatórios. Câmeras de seguranças estão sendo analisadas? — assente.
— A faculdade, onde Clarice e Blair foram vistas por último, já cedeu as imagens. A loja, onde Lisa foi vista por último, ainda não cedeu.
— Merda. — bufo, irritado. — Irei dar um jeito nisso.
— Parece que devemos ficar de olho nas loiras da cidade. — comenta.
— Seja lá quem for, já sabemos qual seu padrão. — suspiro. — Já foi feita a autópsia dos corpos?
— Todas elas foram esquartejadas e apresentavam sinais de luta corporal. — explica, mostrando os detalhes nas fotos. — Haviam hematomas nos braços, pernas, pescoço e seios. Haviam sinais de violência sexual em todas elas... — suspira. — Porém, não acaba aí. Olhe essas fotos. — pega a pasta da minha mão e tira três fotos dela, uma de cada corpo e coloca sob minha mesa.
Olho para os corpos, procurando por algum detalhe. Até que o vejo. Um nome, gravado nos braços de cada uma das jovens.
— Valentina Hale. — pronuncio, em voz alta.
— Exatamente. Fizemos uma pesquisa sobre essa garota. — entrega mais uma pasta. — Tem as mesmas características físicas das outras garotas. Órfã, mora sozinha desde que se mudou do orfanato onde foi criada, em Detroit. 24 anos, assim como as vítimas encontradas.
— Ela já foi intimada para depor? — nega. — Os policiais já foram até a casa dela?
— Ainda não. — reviro os olhos.
— Precisamos coletar o DNA dela para os exames, verificar seu álibi... — me corta.
— Alex, você acha que ela seria burra o suficiente para se entregar assim? — ri, sarcástico. — Escrever o próprio nome nos corpos?
— Ainda não temos pistas. Não posso tê-la como inocente apenas por isso, Jared. Ela pode ser culpada, não é um nome, que aliás, é dela, que irá inocentá-la. — dou de ombros.
— Certo. Irei providenciar tudo. — fecha as pastas, as colocando sob minha mesa. — Mesmo assim, não creio que seja ela.
— Se não for, iremos descobrir. — dou de ombros, me erguendo e vestindo o blazer outra vez.
— Então, teremos de protegê-la. Ela corre perigo.
— Isso se não for ela própria. — dou de ombros e o vejo revirar os olhos.
— Quem quer que seja, tem como objetivo chegar até ela.
— Eu sei. — pego os papéis, sob seu olhar confuso.
— Para onde você vai, Alex? — questiona, ao me ver sair.
— Irei até Valentina Hale.
Estico meu corpo nos lençóis macios da minha cama, sentindo a preguiça me dominar. Abro os olhos e pego meu celular, vendo que são pouco mais de 07:00. Hoje eu não teria que ir trabalhar, o que me dava algumas boas horas de sono a mais e um dia para descansar, mas mesmo assim, acordei cedo, para deixar parte do meu trabalho de amanhã adiantado.Há pouco mais de um ano trabalho em uma editora na cidade, revisando as obras. Sempre fui apaixonada por livros, desde pequena. Quando a vaga apareceu, fiquei muito feliz. Trabalho em uma área que gosto e recebo bem por isso, além de poder trabalhar de casa na maioria das vezes.Com cuidado, tiro Hades de cima de mim, saindo da cama. O gatinho acorda, mas logo dorme outra vez, enroscado nos meus lençóis. O adotei à poucos meses atrás, quando apareceu na casa da minha melhor amiga, machucado e com fome. Devido à sua alergia a pêlos, fiquei encarregada de cuidar do pequeno bichinho de pelos escuros.Sigo para
— Sim. Algum problema? — questiono, confusa, os dois policiais que estão parados na minha porta.Um é o completo oposto do outro. Não apenas na aparência física, mas na personalidade. Digo isso pois enquanto o loiro de olhos esverdeados me cumprimenta, simpático, o moreno apenas me observa com uma feição de tédio.— Sou Jared Packard, legista da polícia local. — estende a mão para mim, retribuo seu cumprimento.— Olá. — dou-lhe um sorriso.— Esse é o detetive Alex Heights. — ele apenas acena para mim com a cabeça.— Olá. — ele sequer responde. — Em que posso ajudá-los?— Nós viemos até aqui pois precisamos conversar com a Senhorita, tem um minuto? — assinto.— Claro. Entrem, por favor. — Abro espaço e ambos passam pela porta, sentando no sofá da minha sala. Me sento na poltrona em frente para eles e cruzo as mãos, nervosa.— Certo. Senhorita Hale, recentemente estamos investigando u
— Então, senhorita Hale — a loira, que aparenta ter uns 30 anos, se aproxima de mim sob a mesa e pergunta. —, você não tem nenhuma suspeita de alguém que possa estar cometendo esses crimes? — estende novamente aquelas fotos para mim sob a mesa e eu nego.Estamos na sala de interrogatório, que não tem nada além de uma mesa no centro e duas cadeiras, iluminadas por uma luz meio fraca que pende do teto. As paredes são de um cinza escuro e próximo a porta há uma enorme janela de vidro, que apesar de não enxergar por ela, sei que o Detetive Heights está lá naquela salinha, monitorando cada respiração minha.Quando cheguei a delegacia, logo pela manhã? fui recepcionada pelo detetive Alex, que me guiou até aqui, dirigindo a palavra à mim apenas para que eu fosse até a sala de interrogatório. Não fui apresentada à policial que está a minha frente, e ela parece não se interessar por isso, tudo que ela quer é me forçar a falar algo que não sei.Não sei porq
Termino de colocar algumas roupas na mala, fechando em seguida, enquanto Julie arruma a outra mala, colocando meus produtos pessoais nela.— Isso tudo é uma loucura. — fala, enquanto arruma minha nécessaire. — Como será que vai ser na casa dele?— Sinceramente? Não faço ideia. — sento-me na cama e pego o celular, vendo que ainda são 19:20, Alex falou que passaria aqui às 20:00. — Ele é tão confuso, as vezes é simpático, outras vezes é arrogante, parece não me suportar. Sinto que nossa convivência não será muito boa.— Tina, vai ver ele apenas está confuso com tudo isso, afinal é uma desconhecida que irá morar com ele. — dá de ombros. — Da mesma forma que você não o conhece, ele também não sabe nada sobre você além do que deve ter nos relatórios. É uma experiência nova para ambos, tenha paciência.— Você tem razão.— Sempre tenho. — acerto um travesseiro nela. — Agressiva. — resmunga.— Estou tão nervosa. — deito na cama e e
Estico meu corpo sob os lençóis macios da cama, abrindo meus olhos lentamente e me acostumando com a claridade que entrava pelas portas da varanda. Sento na cama e pego meu celular na mesinha de cabeceira, vendo que eram 07:00 da manhã.Com tudo que estava acontecendo, meu chefe decidiu em consenso com os investigadores que o melhor para mim naquele momento era trabalhar em casa, ou melhor, na casa do Alex. Ou seja, meu trabalho passou a ser complemente de casa, para minha segurança.Em outros dias, acharia isso ótimo. Afinal, quem não gostaria de trabalhar na sua própria casa, cumprindo seus horários? Mas nesse momento, moro em outra casa, com alguém totalmente desconhecido. Sinto-me desconfortável, como um peixe fora d'água.Não consegui dormir pela noite, me senti desconfortável. Não pela cama, ou pelos lençóis. Tudo está perfeito. O problema é que sinto falta da minha casa. Gostaria de que tudo isso fosse resolvido o mais rápido possível, para
Nesses últimos dias, que foram um caos, me senti mais cansado e irritado do que o normal. Afoguei-me no trabalho, em busca de alguma pista, por mínima que fosse, que nos leve ao assassino das garotas.Infelizmente, não encontramos nada. Nenhuma pista, rastro ou até mesmo um pequeno fio de cabelo. Absolutamente nada. É como se, mesmo com todo empenho, estivéssemos no mesmo lugar. Nada aparece, nada se resolve.Como suspeitos, dois nomes foram apontados. Pessoas óbvias, geralmente culpados em casos como esse. O primeiro nome é de Josh Bloom. Namorado de Valentina, na época da faculdade. Pelo que li, nos relatórios feitos pela nossa equipe, o término não foi tão bem aceito por ele. Após uma traição, por parte dele, o relacionamento chegou ao seu fim, mas Josh nunca conformou-se. Tentou, por várias vezes, reatar o namoro, apesar dos protestos d
Envergonhada. Surpresa. Assustada.Essas palavras podem definir como estou nesse momento. Alex, parado atrás de nós, espera uma resposta minha. Me encara com um semblante sério, enquanto sinto-me envergonhada por ser vista falando dele. Minhas bochechas estão vermelhas, tenho certeza, e desejo sumir.— Eu... — não consigo responder. Nenhuma frase é formada em meus pensamentos. Minha voz falha e eu me sinto envergonhada por ele escutar isso.Eu deveria pedir desculpas?— Estou meio ocupada. — diz Margot, saindo de mansinho. Lanço para ela um olhar suplicante, pedindo para que fique. — Vou deixá-los conversar. — sai em direção à cozinha.— Então, Valentina. — chama minha atenção, após a saída da governanta. — Você não respondeu minha pergunta. É assim que você me vê? — repete.Respiro fundo, tentando me acalmar, para conseguir responder. Ele ergue uma sobrancelha, esperando por uma resposta.— Bom, sim
— Ok, me fala mais sobre você. — peço, enquanto pego mais uma batatinha.— O que você quer saber, Valentina? — pega a cerveja, dando um gole e se acomodando melhor no assento, olhando para mim.— Idade?— 28.— Família?— Tenho apenas uma irmã, 3 anos mais nova que eu, ela é médica voluntária no Congo. Meus pais moram em San Francisco, se mudaram quando minha irmã entrou na faculdade.— Você sempre gostou de morar aqui?— Pra ser sincero, sim. — dá de ombros. — Fiz faculdade em Nova York e morei lá por uns meses após a conclusão, mas acabei voltando.— Nunca quis trabalhar lá?— Era meu sonho. — suspira. — Mas tive uma oportunidade de trabalho em Healdsburg, me adaptei ao lugar e hoje me sinto feliz aqui. É calmo, tranquilo e tenho a Margot comigo.— Alex?— Oi.— Quem era a garota do porta retrato? — pergunto, apreensiva. Quando questionei Margot, pela tarde