— Então, senhorita Hale — a loira, que aparenta ter uns 30 anos, se aproxima de mim sob a mesa e pergunta. —, você não tem nenhuma suspeita de alguém que possa estar cometendo esses crimes? — estende novamente aquelas fotos para mim sob a mesa e eu nego.
Estamos na sala de interrogatório, que não tem nada além de uma mesa no centro e duas cadeiras, iluminadas por uma luz meio fraca que pende do teto. As paredes são de um cinza escuro e próximo a porta há uma enorme janela de vidro, que apesar de não enxergar por ela, sei que o Detetive Heights está lá naquela salinha, monitorando cada respiração minha.
Quando cheguei a delegacia, logo pela manhã? fui recepcionada pelo detetive Alex, que me guiou até aqui, dirigindo a palavra à mim apenas para que eu fosse até a sala de interrogatório. Não fui apresentada à policial que está a minha frente, e ela parece não se interessar por isso, tudo que ela quer é me forçar a falar algo que não sei.
Não sei porque eu, ou quem será essa pessoa. Não sei de absolutamente nada. Minha vida virou de cabeça para baixo após tudo isso. Ela aponta para as fotos novamente, e ao escutar meu murmúrio falando mais uma vez que não sei de nada, bate na mesa claramente irritada, fazendo com que eu me assuste e recue na cadeira.
— GAROTA, EU ESTOU SENDO MUITO PACIENTE. TENHO CERTEZA QUE VOCÊ SABE DE ALGO, ENTÃO DESEMBUCHA! — pronuncia com raiva, o medo me domina, eu não sei o que fazer.
Estou sem palavras. Mentalmente, questiono o motivo de tanto ódio. Não sei nada, não conheço o culpado, o que essa mulher espera que eu diga? Assuma uma culpa que não tenho? Diga um nome que não conheço?
— Eu... — não termino de falar, pois o detetive Heights abre a porta da sala com força, vindo até mim e me abraçando.
— VOCÊ ESTÁ FICANDO LOUCA ALISSON? ELA JÁ FALOU QUE NÃO SABE, PORRA. PARA DE FORÇAR A GAROTA! — Alex grita com a policial, que revira os olhos e sai da sala, batendo a porta com força.
Ainda estou assustada, as fotos que ela mostrou me deixaram mais abalada ainda. Alex me dá a mão e eu me levanto, ele me guia até uma sala que creio ser a sua, indicando uma cadeira em frente a sua para me sentar. Ele pega um copo de água e me entrega. Enquanto bebo, ele se encosta na mesa, em minha frente.
— Desculpe o comportamento da Policial Thompson, ela exagerou com você. — passa a mão no cabelo, aparentemente irritado com o que houve.
— Está tudo bem. Obrigada por me defender. — apenas assente.
— Coletaram seu material para análise? — assinto.
Ao acordar pela manhã, Jared, o legista que foi até minha casa ontem, estava de volta, para coletar uma amostra do meu sangue e minhas digitais para as análises, que irão comprovar minha inocência.
Alex se afasta da mesa e vai até sua cadeira, onde se senta.
— Temos que conversar um assunto delicado. Sente-se melhor? — questiona.
— Sim.
— Valentina, você sabe que não está segura com este assassino atrás de você, certo? — assinto. — Então pensamos em você morar na minha casa, até que o caso seja solucionado.
— Não vou morar com você! — exclamo, irritada.
Sei que nesse momento, minha segurança é essencial. Mas eu não posso morar na casa dele, não posso conviver com um completo desconhecido. Será totalmente desconfortável para ambos. Não dará certo.
— Deve haver outra solução. — tento, de alguma forma, evitar essa mudança para sua casa. — Eu posso ir para outra cidade, ou até mesmo continuar na minha casa, com algum segurança ou algo do tipo.
— Valentina, você é a porra do alvo desse assassino, estamos tentando te proteger ao máximo, a única maneira de te manter totalmente segura é essa. — passa a mão nos cabelos, visivelmente irritado.
— Deve haver outra maneira. Não quero sair da minha casa e nem você quer me receber, sejamos sinceros. — bufo, irritada.
— Ele está certo, Valentina. — parado na porta, nos observando, está Jared. Ele vem até nós e senta na cadeira ao meu lado. — Você é o alvo e sabe disso. Estando com alguém preparado para te proteger é a melhor saída, a maneira mais eficiente de te proteger. O que me diz? — pega na minha mão, olhando nos meus olhos, em expectativa.
Morar com alguém que eu não conheço me dá muito medo, mas nada que supere o medo de ser o alvo de um serial killer.
— Preciso pensar. — suspiro.
— Certo. — Jared me entrega um cartão, com seu número. — Caso precise. Ao ter a resposta, pode me ligar. — diz, logo que me ergo para ir embora.
— Espero que seja racional e aceite de uma vez. — é a última coisa que ouço, dita por Alex, antes de sair daquele lugar.
×
— Você não vai! — exclama Julie, indignada.
Logo que saí da delegacia, liguei para ela, que veio logo que possível para minha casa, curiosa em saber como foi o interrogatório.
— Eu tentei, mas estão irredutíveis. — suspiro. — Eu poderia até mesmo entrar no programa de proteção, qualquer coisa, sei lá.
— Eles não te deram nenhuma escolha? — nego. — Você não pode ir morar com ele contra sua vontade.
— E por acaso tenho escolha? — bufo, irritada. — Eles fizeram questão de deixar claro que eu não tenho escolha. É isso ou morrer. E bom, amo minha vida.
— É óbvio que tem. Dá um murro na cara deles. — dá de ombros, me fazendo rir. — Eu posso ajudar.
— Nada de violência. — resmunga. — Tenho medo de ir.
— É só não ir. — dá de ombros.
— E me arriscar a morrer por aí?
— O Aidan pode te proteger. Ou então, eu posso. Sei lutar e vou comprar uma arma, ninguém vai te machucar. — rio. — Ei! Me respeita.
— Julie, você nem se protege. No paintball deu um tiro no próprio pé e foi apenas em duas aulas de karatê. — revira os olhos e dá um tapa em mim, enquanto continuo a rir. — Estou sendo sincera.
— Você está mentindo sobre mim.
— Ah, é? — arqueio a sobrancelha, ela assente.
— Voltando ao nosso assunto. Está decidido, você não vai. — dá de ombros. — Ele pode ser um maníaco que quer te matar. Já pensou nessa possibilidade?
— Então eu sou muito desejada, dois assassinos atrás de mim.
— Fica nessa aí e morre. — revira os olhos. — Tina, tem certeza que você vai?
— Certeza não tenho, mas é necessário. — suspiro, derrotada.
— Valentina, eu ainda posso te proteger. — oferece mais uma vez, me fazendo rir.
— Eu passo. — pego meu celular e o cartão, com o número de Jared, que recebi pela manhã.
Não, não tenho certeza do que farei. Mas sei que é necessário. Pela minha vida e segurança.
Vou ter que morar com Alex.
Termino de colocar algumas roupas na mala, fechando em seguida, enquanto Julie arruma a outra mala, colocando meus produtos pessoais nela.— Isso tudo é uma loucura. — fala, enquanto arruma minha nécessaire. — Como será que vai ser na casa dele?— Sinceramente? Não faço ideia. — sento-me na cama e pego o celular, vendo que ainda são 19:20, Alex falou que passaria aqui às 20:00. — Ele é tão confuso, as vezes é simpático, outras vezes é arrogante, parece não me suportar. Sinto que nossa convivência não será muito boa.— Tina, vai ver ele apenas está confuso com tudo isso, afinal é uma desconhecida que irá morar com ele. — dá de ombros. — Da mesma forma que você não o conhece, ele também não sabe nada sobre você além do que deve ter nos relatórios. É uma experiência nova para ambos, tenha paciência.— Você tem razão.— Sempre tenho. — acerto um travesseiro nela. — Agressiva. — resmunga.— Estou tão nervosa. — deito na cama e e
Estico meu corpo sob os lençóis macios da cama, abrindo meus olhos lentamente e me acostumando com a claridade que entrava pelas portas da varanda. Sento na cama e pego meu celular na mesinha de cabeceira, vendo que eram 07:00 da manhã.Com tudo que estava acontecendo, meu chefe decidiu em consenso com os investigadores que o melhor para mim naquele momento era trabalhar em casa, ou melhor, na casa do Alex. Ou seja, meu trabalho passou a ser complemente de casa, para minha segurança.Em outros dias, acharia isso ótimo. Afinal, quem não gostaria de trabalhar na sua própria casa, cumprindo seus horários? Mas nesse momento, moro em outra casa, com alguém totalmente desconhecido. Sinto-me desconfortável, como um peixe fora d'água.Não consegui dormir pela noite, me senti desconfortável. Não pela cama, ou pelos lençóis. Tudo está perfeito. O problema é que sinto falta da minha casa. Gostaria de que tudo isso fosse resolvido o mais rápido possível, para
Nesses últimos dias, que foram um caos, me senti mais cansado e irritado do que o normal. Afoguei-me no trabalho, em busca de alguma pista, por mínima que fosse, que nos leve ao assassino das garotas.Infelizmente, não encontramos nada. Nenhuma pista, rastro ou até mesmo um pequeno fio de cabelo. Absolutamente nada. É como se, mesmo com todo empenho, estivéssemos no mesmo lugar. Nada aparece, nada se resolve.Como suspeitos, dois nomes foram apontados. Pessoas óbvias, geralmente culpados em casos como esse. O primeiro nome é de Josh Bloom. Namorado de Valentina, na época da faculdade. Pelo que li, nos relatórios feitos pela nossa equipe, o término não foi tão bem aceito por ele. Após uma traição, por parte dele, o relacionamento chegou ao seu fim, mas Josh nunca conformou-se. Tentou, por várias vezes, reatar o namoro, apesar dos protestos d
Envergonhada. Surpresa. Assustada.Essas palavras podem definir como estou nesse momento. Alex, parado atrás de nós, espera uma resposta minha. Me encara com um semblante sério, enquanto sinto-me envergonhada por ser vista falando dele. Minhas bochechas estão vermelhas, tenho certeza, e desejo sumir.— Eu... — não consigo responder. Nenhuma frase é formada em meus pensamentos. Minha voz falha e eu me sinto envergonhada por ele escutar isso.Eu deveria pedir desculpas?— Estou meio ocupada. — diz Margot, saindo de mansinho. Lanço para ela um olhar suplicante, pedindo para que fique. — Vou deixá-los conversar. — sai em direção à cozinha.— Então, Valentina. — chama minha atenção, após a saída da governanta. — Você não respondeu minha pergunta. É assim que você me vê? — repete.Respiro fundo, tentando me acalmar, para conseguir responder. Ele ergue uma sobrancelha, esperando por uma resposta.— Bom, sim
— Ok, me fala mais sobre você. — peço, enquanto pego mais uma batatinha.— O que você quer saber, Valentina? — pega a cerveja, dando um gole e se acomodando melhor no assento, olhando para mim.— Idade?— 28.— Família?— Tenho apenas uma irmã, 3 anos mais nova que eu, ela é médica voluntária no Congo. Meus pais moram em San Francisco, se mudaram quando minha irmã entrou na faculdade.— Você sempre gostou de morar aqui?— Pra ser sincero, sim. — dá de ombros. — Fiz faculdade em Nova York e morei lá por uns meses após a conclusão, mas acabei voltando.— Nunca quis trabalhar lá?— Era meu sonho. — suspira. — Mas tive uma oportunidade de trabalho em Healdsburg, me adaptei ao lugar e hoje me sinto feliz aqui. É calmo, tranquilo e tenho a Margot comigo.— Alex?— Oi.— Quem era a garota do porta retrato? — pergunto, apreensiva. Quando questionei Margot, pela tarde
A volta para casa, ao contrário da ida para a lanchonete, foi em um silêncio absoluto. Enquanto Valentina observava pela janela, perdida em pensamentos, eu tentava me concentrar na estrada. Tentando, durante todo tempo, não pensar em quem nos seguiu. Não pensar em como estive perto do assassino, mas ele escapou.Eu me sinto como um inútil. Ele foi mais ágil, fugiu dali rapidamente. E voltamos ao início, sem pistas ou algo que nos leve ao culpado.Ao estacionar, Valentina desce do carro e me dá boa noite, antes de entrar em casa. Ela parece cada dia mais afetada por todo esse caos que está ao seu redor, cada dia mais quieta. E para ser sincero, entendo seu lado.Além de saber que há uma pessoa atrás dela, soube que algumas pessoas na cidade estão mandando mensagens para ela, como se fosse a culpada por tais atrocidades, após uma postagem em um blog local. Ela está sofrendo com tudo isso e as pessoas ainda a culpam, como se fosse ela a pessoa por tr
Desperto pouco depois das sete da manhã, sentindo o corpo peludo de Hades enroscado em mim. Sento na cama e coloco o gatinho ao meu lado, que logo volta a dormir. Pego meu celular e pela barra de notificações, leio a mensagem de Julie, dizendo que mais tarde virá me ver.Após Alex perceber que estávamos sendo seguidos, voltamos para a casa dele no mesmo instante, ele ficou calado durante todo o percurso e quando chegou foi direto ao escritório, onde passou a noite. Não consegui dormir muito bem noite passada — o que vem acontecendo com frequência nas últimas noites —, agora sinto-me cansada e com uma forte dor na cabeça.Ultimamente, tudo me preocupa. O caso, que parece estar pouco longe de ser solucionado. As ameaças, vindas de pessoas daqui, que me culpam pelas mortes das três garotas. A incerteza, em relação à minha segurança. Sei que estou aqui, bem mais segura do que antes, mas ontem me deixou assustada. Fomos seguidos, o que significa que o assassino es
Os lábios macios de Alex encontram os meus, em um beijo macio, calmo e ao mesmo tempo, mostrando o desejo que ambos sentimos. Delicadamente, morde meus lábios e sorri, afastando-se de mim poucos centímetros, apenas para me observar. Aproveito para fazer o mesmo, guardando em minha memória cada detalhe seu.Os lábios avermelhados, as íris esverdeadas, com as pupilas dilatadas. O rosto em um leve tom avermelhado, sua mandíbula marcada pela barba por fazer. Os fios negros bagunçados, algumas mechas caindo pela sua testa.Com cuidado, faz com que me deite. Fica por cima de mim, fazendo uma leve carícia no meu rosto. Esse Alex ainda é novo para mim, nunca o vi assim. Em um misto de fúria, preocupação e no fundo, desejo.— Isso não é um erro? — questiono, insegura.— Por quê?— Você é um detetive, responsável pelo meu caso. — dou de ombros. — Não há algo que impeça nosso contato... — aponto para nós, abraçados. — Hm?