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Capítulo dois, por Valentina Hale.

— Sim. Algum problema? — questiono, confusa, os dois policiais que estão parados na minha porta. 

Um é o completo oposto do outro. Não apenas na aparência física, mas na personalidade. Digo isso pois enquanto o loiro de olhos esverdeados me cumprimenta, simpático, o moreno apenas me observa com uma feição de tédio. 

— Sou Jared Packard, legista da polícia local. — estende a mão para mim, retribuo seu cumprimento. 

 — Olá. — dou-lhe um sorriso. 

— Esse é o detetive Alex Heights. — ele apenas acena para mim com a cabeça. 

— Olá. — ele sequer responde. — Em que posso ajudá-los? 

— Nós viemos até aqui pois precisamos conversar com a Senhorita, tem um minuto? — assinto. 

— Claro. Entrem, por favor. — Abro espaço e ambos passam pela porta, sentando no sofá da minha sala. Me sento na poltrona em frente para eles e cruzo as mãos, nervosa. 

— Certo. Senhorita Hale, recentemente estamos investigando um caso na cidade, onde três garotas foram encontradas mortas, aqui perto. 

— Clarice Evans, Lisa George e Blair Stevens. — diz o detetive. Suas primeiras palavras desde que chegou aqui. — Esses nomes são familiares para você? 

— Não. — tento recordar-me de algum desses nomes, mas não as conheço. — Não mesmo. 

— Senhorita Hale, estas garotas foram assinadas. — explica. — Estranhamente, todas elas têm certas semelhanças físicas, e o pior, todas têm seu nome mutilado no braço. — me estende algumas fotos, que retirou de dentro da sua pasta. 

Ao observar a primeira, sinto uma forte tontura. A cena ali, naquela foto, é brutal. A garota está esquartejada, em meio à floresta. Seu corpo está repleto de hematomas e, no seu braço, posso ver meu nome. Valentina Hale. 

Uma angústia me domina. Sinto-me zonza e, em questão de segundos, o ar parece fugir dos meus pulmões. 

Não tenho inimigos ou pessoas que me odeiam, quer dizer, não que eu tenha conhecimento ou não ao ponto de desejar minha morte. Sinto medo. Muito. Tanto que começo a tremer, ansiosa, enquanto as lágrimas insistem em cair. Sinto-me sufocada. O pânico me domina. 

Uma crise agora não, por favor. — imploro, mentalmente. 

— Eu... — nenhuma palavra sai dos meus lábios. 

Não consigo sequer pensar, estou confusa, assustada, em pânico. 

Jared pega as fotos da minha mão, preocupado. 

— A senhorita está bem? — assinto, recuperando a postura. O outro policial apenas me olha impassível, como se não me suportasse. — Sei que é difícil, mas tudo nos leva a crer que você é o alvo de quem está por trás disso. Consegue imaginar alguém que possa fazer isso? 

— Não, eu não conheço praticamente ninguém aqui. 

— Ninguém que possa ter alguma inimizade com você? - Alex questiona e nego com a cabeça.  — Precisamos compareça na delegacia, senhorita Hale. Você precisa ser interrogada, afinal está envolvida nisso tudo. 

— Ok. 

— Alguns policiais ficarão encarregados da sua segurança. Esperamos sua visita amanhã na delegacia, pode ser? — assinto. Eles se levantam e vão até a porta. — Tudo bem então, nós a esperamos amanhã. Até mais. 

Eles vão até o carro e entram, dando partida em seguida, enquanto eu fico completamente confusa, assustada e apreensiva, desabando em lágrimas logo em seguida. 

×

Já anoiteceu, mas ainda não consegui fazer absolutamente nada. Estou tomada pelo medo e a possibilidade de ter alguém à minha espreita, desejando minha morte, me deixa em pânico. 

Os policiais estão monitorando minha casa. Chegaram logo pela manhã e estão aqui, observando cada movimentação, garantindo que ficarei segura. 

Estou parada em frente à janela, os observando, quando Julie chega. Está aparentemente cansada e as olheiras escuras e fundas, entregam as noites sem dormir. 

— O que está havendo, Tina? — questiona, preocupada, deixando a bolsa e o casaco em cima da minha cama. — Por que esses policiais estão aqui?

Suspiro fundo e, contendo as lágrimas, conto tudo que soube. Sobre as mortes, as fotos, vítimas e sobre a proteção, que agora cerca minha casa. Ela, obviamente, ficou chocada, além de preocupada, afinal somos uma para outra a única família que cada uma tem. 

— Meu Deus! — exclama, sem palavras, assim como eu. 

Nunca tive intrigas com ninguém. Quase não saio de casa, não tenho amigos — exceto Julie e Aidan —, nunca briguei com ninguém, nem mesmo com meus vizinhos irritantes, que fazem festas todas as noites. Como poderia alguém me odiar tanto, ao ponto de cometer tais atrocidades? 

— Terei que ir à delegacia amanhã. — suspiro.

— Se quiser, posso ir com você. — deito minha cabeça no seu colo, aproveitando o cafuné. 

— Você não pode, tem que ir para o hospital. 

— Posso dar um jeito. — dá de ombros. — Te conheço, Valentina. Sei que está com medo de ir. 

— Estou, e muito. — respiro fundo, tentando conter o nervosismo. — Mas não posso permitir que falte amanhã. 

— Promete me manter informada? E ligar para mim, caso precise? — assinto. — O Aidan já sabe? 

— Ainda não. Fiquei tão assustada com tudo que soube, que nem o contei. 

— Posso chamá-lo, se quiser. — nego. 

— Amanhã converso com ele. 

— Sabe, quando fui almoçar, recebi um link. De uma matéria sobre mortes misteriosas aqui na cidade, se não me engano, seu nome foi citado na matéria. 

— Meu nome? — questiono preocupada. 

— Sim. Mas não estava com tempo, já estava perto de voltar ao trabalho, então ignorei. — pega o celular no seu bolso. — Deixei para ler depois. Aqui está. 

Me entrega o aparelho, aberto em um grupo — que creio ser dos funcionários do hospital — e ali, em uma das mensagens, havia um link. Clico, sem me importar com as outras mensagens, comentando sobre o caso.

O link nos direciona ao Healdsburg News, o jornal local.

"NOVO MISTÉRIO EM HEALDSBURG: QUEM É O SERIAL KILLER QUE PERSEGUE AS GAROTAS DA CIDADE?

Desde o último dia 13, corpos de três mulheres foram achados nas florestas de Healdsburg. Ainda não há nomes divulgados como suspeitos.

Desde o último dia 13, três corpos de garotas foram achados nas florestas da cidade, seguindo uma mesma linha de assassinato, todas asfixiadas e esquartejadas, segundo os legistas que investigam o caso. 

De acordo com informações, todas as garotas assassinadas tinham as mesmas características físicas, além de um detalhe que chama bastante atenção: todas tinham o nome Valentina Hale - uma moradora da cidade - mutilados nos seus braços.

Qual será o motivo? Valentina é a motivação por esses crimes? [...]"

Sinto-me angustiada, logo, desvio meus olhos da tela e bloqueio o celular outra vez. Não consegui terminar de ler o que a matéria falava. Agora, eu definitivamente era o alvo. Não apenas do assassino, mas das outras pessoas, que com toda certeza irão vir até mim, questionar sobre o caso. 

— Por que eu? O que essa pessoa quer de mim afinal? — sinto vontade de chorar e sou amparada por Julie, que me abraça e faz carinho nas minhas costas. 

— Eu não faço ideia. — suspira. — Mas fique calma, tudo isso irá se resolver. Você ficará segura, o pesadelo irá acabar. 

Não consigo acreditar que tudo isso esteja acontecendo comigo. Que muitas mulheres estão morrendo por minha causa e que há um louco por aí atrás de mim, disposto a tudo — inclusive matar inocentes — para me ter. Me sinto desesperada. 

— Estou com medo. — afirmo, em um sussurro. 

— Vai ficar tudo bem.

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