O domingo amanheceu ensolarado, fazia calor, mas o clima não era sufocante, por isso decidi ir ao parque do Ibirapuera correr. Não morava tão longe como antes, mas também não era tão perto para ir andando, então peguei meu carro e depois de meia hora estava entre árvores e pessoas me exercitando. Corri por alguns minutos, porém, depois de algum tempo precisei descansar. Sentei-me sob a sombra de uma árvore e fechei os olhos. Estava relaxada, sem pensar em nada quando ouvi.
- Carol.
Por um breve instante achei que estivesse dormindo e mais uma vez sonhando com meu paciente, tentei esquecê-lo, contudo senti um toque no meu ombro e meu nome foi falado em voz alta mais uma vez. Acabei abrindo os olhos, mas ao ver Alexandre sorrindo diante de mim a paz de espírito de minutos antes evaporou.
- Você não devia ficar tão distraída. Eu p
Realmente é impressionante como as coisas acontecem! Quando a gente mais quer ignorar determinado assunto, ou no meu caso, pessoa, parece que tudo te faz lembrar do que você quer esquecer. Afirmo isso, porque depois de acordar com uma dor de cabeça terrível na manhã de segunda-feira – eu não tivera uma boa noite de sono – não esperava pelo que estava prestes a acontecer. Estava no hospital trabalhando, concentrada, quando precisei posicionar adequadamente uma das pacientes em sua cadeira de rodas. Era uma mulher pesada e sem ajuda não seria possível ajeita-la corretamente, por isso pedi a sua acompanhante que me auxiliasse, mas ao fazê-lo a cuidadora deixou sobre a mesa de atendimentos a revista que estava lendo, eu acabei vendo sem querer a página aberta, mas ao reconhecer Alexandre na foto perdi o foco. Minha paciente queixou-se da maneira como eu tinha deixado seu br
Mais uma quinta-feira havia chegado, portanto um novo encontro com Alexandre aconteceria no final da tarde. Tentei não me sentir ansiosa com o fato, afinal estava saindo de casa para o meu primeiro emprego e precisava me manter focada. Contudo, lembrar do meu paciente me fez pensar também em John, no simpático inglês que eu tinha dispensado e que tinha sido motivo de discórdia entre mim e Fernanda. Na verdade, não houve um embate escancarado entre nós, mas ontem quando nos vimos na aula de balé notei uma mudança de comportamento comigo. Fernanda era descontraída, comunicativa, enfim, uma pessoa articulada, porém quando tentei conversar, ela se fechou, deu uma desculpa qualquer e não falou comigo, e a atitude dela só podia ser por causa de John. Provavelmente ele contou-lhe da minha recusa e isso deve ter deixado minha amiga aborrecida, mas o que eu poderia fazer? Pedir desc
Dormi pouco, na verdade apenas quando estava amanhecendo consegui cochilar, ainda assim sonhei com Alexandre, com nosso momento juntos, e por mais que eu não quisesse pensar no que tinha feito eu não conseguia esquecer o instante em que ele me surpreendeu com o beijo. Te surpreendeu Carol?! Uma mulher de quase quarenta anos, que já teve alguns relacionamentos sérios antes de ficar casada por doze anos?! Faça-me o favor! Você sabia que o rapaz faria aquilo e o que é pior, você desejou! Ouvi pela milésima vez a voz da razão que passou a noite toda me atormentando, me condenando por eu ter sido tão irresponsável, afinal se eu tivesse agido antes, se tivesse falado com Vagner como deveria, nada disso teria acontecido. Eu era a grande culpada, sem dúvida, porque quando intuí pela primeira vez o mínimo de interesse do meu paciente por mim eu
O restante do meu dia foi improdutivo, porque depois da visita de Alexandre eu não tinha ânimo para nada, ainda pensei em fazer um bolo para dar aos meus vizinhos, como maneira de agradecer a torta que Gustavo tinha oferecido, mas como estava mal sabia que se me aventurasse na cozinha o bolo seria um desastre. Então para não ficar ociosa eu fui andar pelo bairro. As ruas estavam tranquilas por causa do feriado e apenas uma confeitaria estava aberta. Entrei, resolvi tomar um café e comer um doce, talvez se ingerisse um pouco de açúcar meu humor melhorasse minimamente, mas quando estava prestes a ir embora, voltei e comprei uma rosca de frutas cristalizadas para presentear meus vizinhos e com a sobremesa em mãos eu bati na porta deles. - Carol! Que surpresa! Como você está? Lucas indagou animadamente, minha resposta não foi no mesmo tom, ainda assim disse que tudo estav
Apesar da conversa com Lucas eu não consegui chegar a nenhuma decisão sobre o que fazer a respeito de Alexandre. Parte de mim queria seguir o coração, deixar-me levar apenas pelos sentimentos e me entregar ao jovem que se dizia apaixonado, porém uma pequena porção protestava e me fazia relembrar fatos do passado para me mostrar o quanto eu poderia sofrer se ficasse com meu paciente. Não era apenas por ter sido traída no meu casamento que eu tinha medo. Infelizmente não foi apenas Miguel que me machucou e decepcionou. Dois homens que conheci antes de me casar também me traíram, Caio, um antigo namorado da época da faculdade, e depois Léo, um médico canalha que aprontou muito comigo logo que me mudei para São Paulo, portanto eu tinha sérios motivos para não acreditar nos homens, em suas promessas de amor eterno, mas ainda assim me sentia te
A sessão de quinta-feira com Alexandre foi tão ruim quanto a anterior, quando ele quis conversar sobre nós e eu menti dizendo que estava saindo com John. Naquele dia meu paciente ficou visivelmente abalado, permaneceu em silêncio pelo resto do tempo, e manteve o mesmo comportamento na sessão de quinta. Não disse uma única palavra durante os quarenta minutos ao meu lado. Eu lamentei, mas sabia que era melhor assim. De qualquer modo, mais uma sessão estava prestes a começar, teoricamente a penúltima, e ao pensar nisso meu coração ficou apertado, afinal em breve eu não o veria mais. Alexandre tinha melhorado muito e não precisaria mais das terapias. Soltei um leve suspiro ao constatar o fato, mas tentei ao máximo não deixar transparecer qualquer sentimento quando Alexandre entrou na minha sala. Para tornar tudo profissional eu avisei.<
15- Decisão Eu estava tentando prestar atenção ao falatório incessante de Bartô enquanto dirigia, porém, meus pensamentos estavam em Alexandre, no que aconteceria quando chegasse em casa e o visse. Ainda me sentia tonta com o beijo na clínica, pra confessar, perdida, afinal num momento eu afirmava para mim mesma que nunca mais veria o lindo rapaz com olhos cor de jade e num instante depois estava nos braços dele totalmente entregue aos seus desejos e meus também. - CAROL! Bartô gritou meu nome histericamente me tirando dos meus devaneios. - O que foi? – Perguntei assustada. - Eu é que pergunto o que foi. O que deu em você pra não ter parado no local de sempre? Olhei o entorno e vi que tinha passado do lugar onde costumava deixar meu amigo. - Me desculpe Bartô,
Assim que aproximei meu carro do prédio onde morava, vi a Pajero de Alexandre estacionada em frente ao edifício. A ansiedade aumentou conforme eu entrava e estacionava na garagem. Ainda levei alguns instantes para sair do carro e ir à portaria, mas passados alguns minutos me enchi de coragem, ou pelo menos fingi, e fui ao encontro do jovem. - Você demorou! Fiquei preocupado! Está tudo bem? - Sim, está, só peguei um pouco de trânsito, nada demais. Menti descaradamente, afinal eu não confessaria nem sob tortura que tinha ficado quinze minutos parada pensando na minha pobre e escassa vida sexual, porém, ao sentir os braços de Alexandre em volta do meu corpo, a ansiedade aumentou. Calma Carol. Minha consciência ordenou placidamente e eu cheguei a me admirar com a serenidade da minha voz interna, até é claro