Na tarde de domingo voltei para São Paulo junto com meu namorado. Ele estava dirigindo, mesmo assim me perguntou pouco tempo depois de deixarmos a casa dos meus pais.
- Algum problema, amor? Você parece triste.
- Realmente estou um pouquinho, sempre fico assim quando vou embora, mesmo depois de tantos anos morando longe da minha família ainda não me acostumei com a distância e o tempo que fico sem vê-los.
- Entendi, e acho que se estivesse no seu lugar também me sentiria mal, porque todos são ótimos! É uma bela família!
- Você gostou deles?
- Claro! De todos! Seu pai não é de muitas palavras, mas foi atencioso comigo, sua irmã também é simpática e seu sobrinho é um menino muito esperto.
- E minha mãe? Qual foi sua impressão sobre ela?
- Bem
Eu já havia rodado todo o shopping a procura de um presente para Alexandre, mas nada do que tinha visto até então me agradara. Claro que tinha encontrado roupas e calçados bonitos, mas o problema era que não tinha achado tais objetos interessantes para serem dados no dia dos namorados. Suspirei, antes de me sentar para tomar um chá, talvez um tempinho refletindo me ajudasse a decidir o que comprar, porém, meu celular tocou e ao ver o número me senti mais desanimada. - Alo. - Oi princesa, tudo bem? - Sim... - Tem certeza? Não é isso o que seu tom de voz está mostrando. Alexandre comentou. Não queria preocupá-lo, mas fui obrigada a ser sincera. - O problema é que estou no shopping há mais de duas horas e até agora não encontrei nada para lhe dar de presente amanhã.
No sábado trabalhei até uma da tarde e embora tenha passado a noite anterior com Alexandre, já estava com saudades, além de extremamente arrependida por ter esquecido o dia dos namorados; afinal, se não tivesse dado plantão no hospital eu poderia ter cuidado da minha aparência no período da manhã e desse modo teria o resto do dia livre para ficar com Alexandre. De qualquer modo não foi isso o que aconteceu e após a manhã cheia que tive, passei a tarde no salão de beleza. Só falei com meu namorado uma vez por telefone, quando recebi um lindo buque de flores e liguei para agradecer. Alexandre conversou um pouco comigo, sem o menor resquício de amargura que apresentou na véspera após encontrarmos Caio, mas ainda assim eu sabia que precisava recompensá-lo pelo meu lapso de memória numa data importante como a que iríamos comemorar. Por i
Quase uma semana depois do dia dos namorados voltei a casa de Alexandre. Ele havia me ligado na tarde de sexta-feira e pedido para eu ir ao seu encontro, porque estava cansado e não queria dirigir. Concordei, afinal não era certo apenas ele se deslocar com uma muda de roupas toda vez que íamos ficar juntos, mas ao separar as peças que levaria na mochila pensei novamente no pedido de casamento e no quanto ainda sentia meu peito doer por ter recusado. Racionalmente eu sabia que tinha feito a coisa certa, afinal como um casamento entre mim e Alexandre poderia ter futuro? Nós estávamos apaixonados é claro, no entanto meu namorado era jovem e eu pensava sempre nisso. Na diferença de idade, nas expectativas com o amanhã, no espírito livre de Alexandre, além é claro de relembrar as palavras de minha mãe, me dizendo que eu era uma aventura para alguém como meu namorado. Mas apesar
Depois de uma semana do desagradável encontro com o senhor Xavier Bastos, precisamente no dia vinte e cinco de junho, sexta-feira, acordei assustada após um terrível pesadelo. Não conseguia relembrar com detalhes as imagens do meu inconsciente, pois ele misturava pessoas e situações, contudo me lembro de estar chorando muito num quarto fechado e escuro, ao mesmo tempo em que via meu pai e também o senhor Xavier. Ambos discutiam, uma reprodução imparcial da briga que eu ouvira entre Alexandre e seu pai dias antes, de qualquer modo o mais impressionante no pesadelo foi a sensação de angústia que eu senti e que me fez acordar aos gritos. - Carol! Amor, o que houve? Com o coração acelerado levei alguns instantes para me situar no ambiente, até perceber que estava no meu quarto e Alexandre estava me observando preocupado. - Eu... eu est
Não há palavras para descrever o que foram aqueles dias após a morte do meu pai. Nunca em toda a minha vida eu tinha me sentido tão triste, e as sensações de vazio e melancolia não eram apenas minha, mas também de minha mãe, irmã e sobrinho. Claro que Tiago não compreendia muito a situação e as vezes perguntava pelo avô, contudo, quando Camila lhe explicava que o vovô não estaria mais conosco, meu sobrinho fazia um biquinho triste e indagava, nunca mais? Minha irmã apenas acenava em concordância tentando engolir o choro, porém a constatação do nunca mais era pesada demais para todos nós e cada um ficava num canto com sua própria dor. Apenas um fato me deu força, a presença constante de Alexandre. Ele providenciou tudo para viajarmos, malas, dinheiro, helicóptero, enfim, o que
Quatro dias após a morte de meu pai, retornei a São Paulo com Alexandre, porém não fui para o meu apartamento, ou melhor, fui, mas apenas para pegar mais roupas para passar a semana com meu namorado. Alexandre não permitiu que eu ficasse longe dele, e ainda que eu argumentasse que logo retornaria ao trabalho e que ele próprio também estaria trabalhando, ele insistiu para que eu ficasse em sua casa. Concordei, e desse modo passei os dias em Moema. Eu gostava de lá, do bairro, da casa, de ver Alexandre chegar do escritório e vir ao meu encontro sorrindo, do modo carinhoso e protetor com o qual ele falava comigo... e eram nesses momentos que mais uma faceta da sua personalidade se revelava. Alexandre era amigo, era fiel a seus afetos. Era o tipo de pessoa que deixaria de comer para alimentar quem estivesse com fome, passaria frio para dar o casaco a quem estivesse tremendo ao seu lado. Ele n&atild
Na primeira sexta-feira de julho Alexandre chegou do escritório aparentemente aborrecido e quando o questionei sobre o fato, ele explicou. - Terei que viajar para Curitiba na próxima semana, princesa. Assumimos a reforma de um restaurante lá e eu precisarei me ausentar, no entanto pensei se você não poderia pedir alguns dias de folga ao seu chefe para ir comigo, o que você acha? Eu tinha voltado a trabalhar apenas no hospital e ainda que não estivesse muito disposta sabia que Dr. Isidoro, meu chefe, era uma pessoa pouco acessível, diferente de Vagner, que me concedeu a semana toda de folga quando soube da morte do meu pai. - Não dá amor, eu acabei de voltar de licença, o Dr. Isidoro não irá me conceder mais dias de folga. - Mas não seria tanto tempo assim. Talvez em três ou quatro dias eu já tenha organizado tudo por l&a
Uma semana após Alexandre retornar de Curitiba, o questionei sobre seu pai, porque tinha certeza que meu ofendido namorado não vira mais o senhor Xavier desde a briga que tivera com ele. Minha suposição foi confirmada e eu protestei. - Alexandre, você não pode cortar relações com seu pai por minha causa, já faz tempo que não se falam e isso não está certo. – Alertei meu namorado logo cedo, ainda durante o café da manhã, contudo ele retrucou. - Carol, eu já disse que só volto a conversar com meu pai se ele se retratar com você. - Alexandre, você não pode ser tão radical assim. Não pode intimar o seu pai dessa forma, não é desse jeito que você vai conseguir o que quer. - Carol, me admira você falar isso, afinal você deveria ser a primeira pessoa a me