Não há palavras para descrever o que foram aqueles dias após a morte do meu pai. Nunca em toda a minha vida eu tinha me sentido tão triste, e as sensações de vazio e melancolia não eram apenas minha, mas também de minha mãe, irmã e sobrinho. Claro que Tiago não compreendia muito a situação e as vezes perguntava pelo avô, contudo, quando Camila lhe explicava que o vovô não estaria mais conosco, meu sobrinho fazia um biquinho triste e indagava, nunca mais? Minha irmã apenas acenava em concordância tentando engolir o choro, porém a constatação do nunca mais era pesada demais para todos nós e cada um ficava num canto com sua própria dor.
Apenas um fato me deu força, a presença constante de Alexandre. Ele providenciou tudo para viajarmos, malas, dinheiro, helicóptero, enfim, o que
Quatro dias após a morte de meu pai, retornei a São Paulo com Alexandre, porém não fui para o meu apartamento, ou melhor, fui, mas apenas para pegar mais roupas para passar a semana com meu namorado. Alexandre não permitiu que eu ficasse longe dele, e ainda que eu argumentasse que logo retornaria ao trabalho e que ele próprio também estaria trabalhando, ele insistiu para que eu ficasse em sua casa. Concordei, e desse modo passei os dias em Moema. Eu gostava de lá, do bairro, da casa, de ver Alexandre chegar do escritório e vir ao meu encontro sorrindo, do modo carinhoso e protetor com o qual ele falava comigo... e eram nesses momentos que mais uma faceta da sua personalidade se revelava. Alexandre era amigo, era fiel a seus afetos. Era o tipo de pessoa que deixaria de comer para alimentar quem estivesse com fome, passaria frio para dar o casaco a quem estivesse tremendo ao seu lado. Ele n&atild
Na primeira sexta-feira de julho Alexandre chegou do escritório aparentemente aborrecido e quando o questionei sobre o fato, ele explicou. - Terei que viajar para Curitiba na próxima semana, princesa. Assumimos a reforma de um restaurante lá e eu precisarei me ausentar, no entanto pensei se você não poderia pedir alguns dias de folga ao seu chefe para ir comigo, o que você acha? Eu tinha voltado a trabalhar apenas no hospital e ainda que não estivesse muito disposta sabia que Dr. Isidoro, meu chefe, era uma pessoa pouco acessível, diferente de Vagner, que me concedeu a semana toda de folga quando soube da morte do meu pai. - Não dá amor, eu acabei de voltar de licença, o Dr. Isidoro não irá me conceder mais dias de folga. - Mas não seria tanto tempo assim. Talvez em três ou quatro dias eu já tenha organizado tudo por l&a
Uma semana após Alexandre retornar de Curitiba, o questionei sobre seu pai, porque tinha certeza que meu ofendido namorado não vira mais o senhor Xavier desde a briga que tivera com ele. Minha suposição foi confirmada e eu protestei. - Alexandre, você não pode cortar relações com seu pai por minha causa, já faz tempo que não se falam e isso não está certo. – Alertei meu namorado logo cedo, ainda durante o café da manhã, contudo ele retrucou. - Carol, eu já disse que só volto a conversar com meu pai se ele se retratar com você. - Alexandre, você não pode ser tão radical assim. Não pode intimar o seu pai dessa forma, não é desse jeito que você vai conseguir o que quer. - Carol, me admira você falar isso, afinal você deveria ser a primeira pessoa a me
- Carol, espera, amor por favor, espera! Escutei os gritos de Alexandre enquanto eu ia em direção a porta da sala, não parei um instante para responder, porque tudo o que eu queria era sumir dali, mas quando estava com a mão na maçaneta Alexandre surgiu ao meu lado ofegante. - Por favor Carol, você não pode ir embora! Nós precisamos conversar! Ele segurou minha mão e eu o repeli. - Nós não temos nada o que conversar, portanto volte pra cama pra desfrutar do resto da noite com aquela mulher, seja ela quem for! - Não Carol, você não está achando que eu fui pra cama com aquela mulher, está? - Não foi?! Pois não foi isso o que eu acabei de ver? Você nu e uma mulher ao seu lado? - É a Suzana... - O que?! Gritei sem conseguir me c
Não sei ao certo quando parei de chorar, se foi quando vi meu reflexo no espelho evidenciando meu estado deplorável ou se foi quando escutei a porta da sala ser aberta. Eu saí do banheiro e dei de cara com Alexandre. - O que você veio fazer aqui? - Eu vim conversar, explicar o que aconteceu, amor! - Não me chame de amor, nem tão pouco perca seu tempo ou o meu tentando me ludibriar, porque eu não quero ouvir nada! - Carol, isso não é justo, eu posso explicar o que aconteceu. - Pode?! Puxa, que bom! Pena que eu não esteja disposta a ouvir, portanto vá embora! Empurrei Alexandre para ele me dar passagem, no entanto ele falou com firmeza. - Eu não vou embora até você escutar o que eu tenho pra dizer. - Não vai?! Pois isso é o que vamos ver! Eu vou chamar a pol&i
De uma escapada de manhã, o amor já é história pra vocêÉ um hábito que você está criando, este corpo está desesperado por algo de novoApenas uma questão de sentimentoEsses momentos de loucura com certeza passarãoE as lágrimas secarão enquanto você estiver partindo... Traduzi mentalmente a letra de A matter of feeling, um antigo sucesso de uma das minhas bandas favoritas, o Duran Duran, que apesar de não tocar com tanta frequência nas rádios hoje em dia, estava em alta no meu apartamento, porque era essa a trilha sonora do fim do meu romance com Alexandre. Duas semanas haviam se passado desde o terrível flagrante, mas apesar do tempo eu não podia afirmar que estava melhor, ao contrário, estava cada d
Cheguei exausto em casa, afinal não tinha descansado um instante sequer em Curitiba, contudo por mais que eu tivesse rodado a cidade averiguando em cada escritório de arquitetura o paradeiro de Suzana, nenhuma informação sobre aquela vagabunda tinha chegado a mim. Eu decidira procurar pela garota lá, depois que a ordinária desapareceu do meu escritório, afinal só se a reencontrasse teria alguma chance de convencê-la a contar a verdade a Carol. Porque infelizmente, por mais que eu tivesse tentado convencer minha namorada da minha inocência ela não acreditou em mim um único instante. Logo no início eu fui atrás de provas ou pistas no meu escritório que comprovassem a participação de Pedro no flagrante, afinal depois de confrontar meu pai, ainda na noite em que Carol me viu com Suzana, eu concluí que o único culpado era meu s&oac
Depois de deixar meu pai no seu prédio, resolvi procurar Carol. Eu não a via há três semanas, o tempo que estávamos afastados, apenas ouvia sua voz quando deixava mensagens no celular, mas apesar da minha insistência, Carol não falava comigo. Ainda assim eu não ia desistir. Ela era a mulher da minha vida, o meu verdadeiro amor e eu não deixaria que uma mentira acabasse com tudo. Por isso decidi procurá-la mais uma vez, agora para contar o que tinha feito nessas três semanas. Eu ia dizer sobre a busca frenética por pistas que fiz no meu escritório logo após o flagrante, sobre a descoberta de que o endereço de Suzana aqui em São Paulo era falso, sobre a briga com Pedro e minha última tentativa de achar algo para provar minha inocência indo até Curitiba, cidade natal de Suzana, segundo ela própria disse quando estivemos lá.