Saí do hospital atordoado, afinal depois do pedido do meu pai eu estava pior que antes. Se até então eu estava com ódio do meu irmão, saber agora que eu teria que olhar por ele caso meu pai faltasse me deixou angustiado. Como eu conseguiria ajudar o homem que me prejudicou tanto? Que me fez perder a mulher da minha vida? Como eu cumpriria a promessa que fiz ao meu pai?
- Eu não vou conseguir, meu Deus!
Falei em voz alta enquanto os sentimentos me agitavam por dentro, ainda assim fui para o meu carro, mas antes de dar a partida pensei em Carol. O que minha doce e sábia ex-namorada me aconselharia? Talvez ela me dissesse que eu tinha agido certo ao prometer ao meu pai que olharia por Ricardo, talvez até me elogiasse por eu ser nobre, ou pelo menos tentar ser, mas a verdade é que eu estava tão angustiado com a promessa feita e também com as alterações no testame
Por mais que eu tivesse visto meu pai no caixão eu ainda não conseguia acreditar que ele estava morto. Não era a noite velando seu corpo que me mostrava que aquilo era real, nem as pessoas que me cumprimentavam solidariamente no velório, ou minha tia chorando de maneira contida num canto da sala, nada disso me mostrava que meu pai estava morto. O que me fazia entender o fato, mas não acreditar nele, era a dor que eu sentia. A mesma que eu vivi anos atrás quando perdi minha mãe, a dor que eu não queria sentir agora, mas que me agonizava se espalhando pelo meu peito. Sequei o rosto com palma da mão e de repente ouvi. - Você quer comer alguma coisa? Acenei em negação, mas minha prima insistiu. - Alexandre, você não comeu nada a noite inteira e até agora não o vi nem beber água, precisa se alimentar, logo seu pai será sepul
Durante todo o tempo em que Ricardo esteve na sala onde o corpo do meu pai era velado eu permaneci do lado de fora, bem longe dele. Meu ódio não havia cedido e por isso achei mais prudente me manter afastado. No entanto, quando chegou o momento do sepultamento, novamente nos vimos e se olhares pudessem matar ambos estaríamos mortos. Ainda assim em respeito ao meu pai eu consegui me manter calado, mas a sensação que me dominou foi horrível. O asco, por estar próximo a Ricardo, misturando-se com a dor pela partida do meu pai. Inspirei fundo e fechei os olhos, mas de repente senti um toque no meu ombro. - Calma. – Foi o único conselho de Pedro, como se ele tivesse a capacidade de saber com exatidão como eu me sentia. Eu acenei agradecendo, porém me mantive sério. Por fim o sepultamento acabou e várias pessoas vieram se despedir. Pedro foi um dos últimos, nos abra
O percurso até o Brooklin foi relativamente rápido, mas não o bastante para me tranquilizar, e só quando anunciei minha chegada ao porteiro do prédio onde Carol morava, me senti um pouco menos ansioso, mas ao ouvir o sujeito minha apreensão aumentou novamente. - Ninguém atende no apartamento dela. - Você sabe se ela saiu? - Não posso afirmar, porque comecei a trabalhar aqui há dois dias e ainda não estou familiarizado com todos os moradores. Merda! Ainda essa pra ajudar! - Por favor, você pode interfonar no apartamento 56, gostaria de conversar com o Lucas ou o Gustavo, quem estiver em casa agora. - Está bem, só um instante. Aguardei impaciente, esperando que um dos vizinhos de Carol estivesse em casa e pudesse me informar algo a respeito dela. Eu não tinha muita inti
Fui a delegacia acompanhado de Gustavo. Lucas ficou no apartamento encarregado de ligar para os números da agenda do celular de Carol, no entanto, ainda que eu estivesse torcendo para ele ter sucesso e com isso descobrir algo sobre minha ex-namorada, não me senti confiante. Carol não tinha muitos amigos, na verdade as pessoas que ela considerava como tais eram seus vizinhos, nem mesmo as mulheres que faziam aula de balé, Carol via como amigas verdadeiras, de qualquer modo não podíamos deixar nada de lado. Por isso quando fui conversar com o delegado, contei tudo o que tinha acontecido nos últimos dias. A ida de Carol a minha casa no domingo à noite e minhas tentativas de falar com ela desde a madrugada de terça-feira, também contei que Caio tinha ligado para ela ontem à noite sem sucesso. - Certo, mas você é o que dela? – O delegado me perguntou. - Sou o ex-nam
Ao retornar ao Brooklin conversei com Lucas, contei sobre meu depoimento e as suspeitas do delegado. O vizinho de Carol também teve a mesma impressão de Gustavo quando eu relatei os fatos, no entanto não me acusou, na verdade foi bastante solidário. - Calma Alexandre, eu sei que você seria incapaz de fazer algo contra a Carol. Ela me contou o quanto você a ajudou quando o pai dela morreu e como você sempre foi bom com todos, portanto esqueça essa possibilidade e se concentre no seu irmão, porque infelizmente eu não consegui nada ligando para os números da agenda da Carol. - Você não obteve nenhuma informação? - Não, nada de importante. Aflito, passei os dedos pelos cabelos, afinal estava de mãos e pés atados. - Droga! Se pelo menos alguém soubesse de algo, poderia ajudar, mas a ún
Apesar de ter tido poucas horas de sono, saí de casa cedo para ir a sede do grupo Bastos. Estacionei meu carro numa das vagas destinadas a diretoria apenas com o intuito de procurar pelo Porsche de Ricardo, afinal se ele já estivesse lá eu poderia avisar o detetive, contudo não vi o carro do meu irmão e por isso fui ao escritório dele para conversar com sua assistente. Assim que me aproximei da mesa da jovem vi seus olhos brilharem, fato que acontecia sempre que eu aparecia na sede do grupo. - Olá Adriana, como vai? - Bem, obrigada e você? - Poderia estar melhor, mas em virtude dos últimos acontecimentos... - Claro, eu compreendo e lamento pelo seu pai. Aliás, todos aqui estão muito chocados com a morte repentina do senhor Bastos. - Sim, eu imagino, no entanto, uma pessoa em especial está me deixando mais preocupado, o meu irm&atild
Por mais que eu olhasse o relógio parecia que os ponteiros não saiam do lugar. Eu estava em casa a apenas uma hora, mas parecia que um dia inteiro tinha se passado desde que chegara da sede do grupo Bastos. Esse tempo desconexo começou a me deixar ansioso e para piorar minha sensação passei a pensar em como Carol estava. Se estava se alimentando, se estava protegida do frio, se de algum modo estava sendo torturada... Minha garganta fechou ao imaginar pessoas inescrupulosas e cruéis vigiando Carol e sem conseguir respirar eu fui até a janela da sala e a escancarei. Inspirei o ar frio de agosto, mas ele não ajudou em nada, continuei a me sentir aflito e uma sensação terrível de claustrofobia começou a me dominar. Então eu saí. Andei a esmo pelas ruas do bairro, até que me aproximei do meu escritório, vi o carro de Melissa estacionado e decidi entrar, talvez se
- Alexandre! Você está aí? Tive a impressão de ouvir alguém gritar, mas estava sem forças para agir, para me levantar do chão e ir até a entrada de casa. - ALEXANDRE! Sou eu, o Pedro! Se está em casa, abra a porta! Escutei batidas fortes na janela da sala e de repente saí do estado de torpor. Caminhei até a porta e a abri. - Cara, o que aconteceu? Encarei Pedro sem o ver de verdade, porque ainda me sentia tonto, como se tivesse acabado de acordar, ou melhor, como se tivesse despertado de um longo período de inconsciência. - Eu toquei a campainha várias vezes, porque vi seu carro e moto na garagem, mas como as luzes estavam apagadas fiquei na dúvida se você estava ou não, por isso resolvi pular o muro e chamar por você. Não falei nada, apenas virei as co