Uma hora depois de deixar o apartamento do meu pai cheguei ao prédio do meu ex-sócio. Antes mesmo de tocar o interfone, ouvi.
- Alexandre.
- Manuel, é você? – Indaguei ao interfone reconhecendo a voz do porteiro do prédio, por coincidência o mesmo que estava trabalhando na noite em que briguei com Pedro e que obviamente soube o que tinha acontecido entre mim e meu amigo.
- Sim, sou eu.
- Como vai Manuel?
- Bem, obrigado.
- Que bom! O Pedro está?
- Eu não sei, quer dizer, acho que sim, mas...
- Escuta Manuel, você pode por favor interfonar e avisar que eu gostaria de conversar com ele?
- Está bem, vou fazer isso.
- Obrigado.
Falei e aguardei enquanto pensava no receio do sujeito. Ele era um bom homem, eu o conhecia há bastante tempo, pois antes de
Na segunda-feira bem cedo liguei para o apartamento do meu pai. Conversei com a mesma empregada da véspera e fui informado que tanto Ricardo quanto meu pai já tinham voltado. Indaguei se meu irmão já havia saído para o trabalho e por sorte ouvi que não, havia chegado tarde e ainda dormia. Por isso me decidi, eu ia confrontá-lo naquela manhã. Saí de casa e em pouco tempo estava no apartamento dos Jardins. Não perguntei pelo meu pai, apenas confirmei com a empregada se Ricardo ainda dormia. Ao ouvir a resposta afirmativa eu disse: - Perfeito! Vou até o quarto dele. Fiz menção de deixar a sala, mas escutei. - Seu Alexandre, não seria melhor esperar o seu irmão acordar? Ele não gosta que o chamem quando vai dormir tarde. Virei-me para responder. - Não se preocupe, vou acordá
As horas seguintes foram angustiantes. Meu pai foi levado para a emergência do hospital e ainda que eu soubesse que ele estava sendo assistido por profissionais competentes não consegui me acalmar até conversar com o médico. No entanto, só tive notícias depois de horas de espera e ao ouvir que meu pai tinha tido um infarto e por isso ficaria internado me senti péssimo e com remorso, afinal se eu não tivesse brigado com Ricardo quando meu pai estava em casa talvez agora ele estivesse bem. De qualquer modo consegui vê-lo no final da manhã, mas ao observar seu corpo conectado a aparelhos e fios senti as lágrimas escorrerem do meu rosto. Aproximei-me do seu leito e segurei sua mão. Ele estava de olhos fechados. - Ah pai, eu sinto muito. Ele abriu os olhos, mas parecia exausto, por isso eu falei: - Pai, logo você estará em casa, o médico converso
Estava caminhando pelo hospital rumo a UTI para ver meu pai, quando de repente Carol surgiu me pedindo ajuda. Surpreendi-me, afinal ela não trabalhava ali, mas logo seus gritos me fizeram ignorar esse fato para ir atrás dela. Continuei me guiando pelo som angustiado da sua voz, até que parei em frente a um elevador. A porta se abriu antes que eu acionasse o botão, mas ao ver Carol caída no chão com uma mancha de sangue sobre sua roupa eu dei um grito. - NÃO! Sentei-me na cama ofegante e atordoado. No escuro, procurei pelo celular. Três da madrugada. - Droga! Que pesadelo horrível! Comentei em voz alta e voltei a deitar, fechei os olhos, mas a sensação angustiante do pesadelo não desapareceu e me fez levantar novamente. Passei a mão pelo cabelo tentando me acalmar, mas foi em vão, então peguei o celular e disquei o n&uac
Saí do hospital atordoado, afinal depois do pedido do meu pai eu estava pior que antes. Se até então eu estava com ódio do meu irmão, saber agora que eu teria que olhar por ele caso meu pai faltasse me deixou angustiado. Como eu conseguiria ajudar o homem que me prejudicou tanto? Que me fez perder a mulher da minha vida? Como eu cumpriria a promessa que fiz ao meu pai? - Eu não vou conseguir, meu Deus! Falei em voz alta enquanto os sentimentos me agitavam por dentro, ainda assim fui para o meu carro, mas antes de dar a partida pensei em Carol. O que minha doce e sábia ex-namorada me aconselharia? Talvez ela me dissesse que eu tinha agido certo ao prometer ao meu pai que olharia por Ricardo, talvez até me elogiasse por eu ser nobre, ou pelo menos tentar ser, mas a verdade é que eu estava tão angustiado com a promessa feita e também com as alterações no testame
Por mais que eu tivesse visto meu pai no caixão eu ainda não conseguia acreditar que ele estava morto. Não era a noite velando seu corpo que me mostrava que aquilo era real, nem as pessoas que me cumprimentavam solidariamente no velório, ou minha tia chorando de maneira contida num canto da sala, nada disso me mostrava que meu pai estava morto. O que me fazia entender o fato, mas não acreditar nele, era a dor que eu sentia. A mesma que eu vivi anos atrás quando perdi minha mãe, a dor que eu não queria sentir agora, mas que me agonizava se espalhando pelo meu peito. Sequei o rosto com palma da mão e de repente ouvi. - Você quer comer alguma coisa? Acenei em negação, mas minha prima insistiu. - Alexandre, você não comeu nada a noite inteira e até agora não o vi nem beber água, precisa se alimentar, logo seu pai será sepul
Durante todo o tempo em que Ricardo esteve na sala onde o corpo do meu pai era velado eu permaneci do lado de fora, bem longe dele. Meu ódio não havia cedido e por isso achei mais prudente me manter afastado. No entanto, quando chegou o momento do sepultamento, novamente nos vimos e se olhares pudessem matar ambos estaríamos mortos. Ainda assim em respeito ao meu pai eu consegui me manter calado, mas a sensação que me dominou foi horrível. O asco, por estar próximo a Ricardo, misturando-se com a dor pela partida do meu pai. Inspirei fundo e fechei os olhos, mas de repente senti um toque no meu ombro. - Calma. – Foi o único conselho de Pedro, como se ele tivesse a capacidade de saber com exatidão como eu me sentia. Eu acenei agradecendo, porém me mantive sério. Por fim o sepultamento acabou e várias pessoas vieram se despedir. Pedro foi um dos últimos, nos abra
O percurso até o Brooklin foi relativamente rápido, mas não o bastante para me tranquilizar, e só quando anunciei minha chegada ao porteiro do prédio onde Carol morava, me senti um pouco menos ansioso, mas ao ouvir o sujeito minha apreensão aumentou novamente. - Ninguém atende no apartamento dela. - Você sabe se ela saiu? - Não posso afirmar, porque comecei a trabalhar aqui há dois dias e ainda não estou familiarizado com todos os moradores. Merda! Ainda essa pra ajudar! - Por favor, você pode interfonar no apartamento 56, gostaria de conversar com o Lucas ou o Gustavo, quem estiver em casa agora. - Está bem, só um instante. Aguardei impaciente, esperando que um dos vizinhos de Carol estivesse em casa e pudesse me informar algo a respeito dela. Eu não tinha muita inti
Fui a delegacia acompanhado de Gustavo. Lucas ficou no apartamento encarregado de ligar para os números da agenda do celular de Carol, no entanto, ainda que eu estivesse torcendo para ele ter sucesso e com isso descobrir algo sobre minha ex-namorada, não me senti confiante. Carol não tinha muitos amigos, na verdade as pessoas que ela considerava como tais eram seus vizinhos, nem mesmo as mulheres que faziam aula de balé, Carol via como amigas verdadeiras, de qualquer modo não podíamos deixar nada de lado. Por isso quando fui conversar com o delegado, contei tudo o que tinha acontecido nos últimos dias. A ida de Carol a minha casa no domingo à noite e minhas tentativas de falar com ela desde a madrugada de terça-feira, também contei que Caio tinha ligado para ela ontem à noite sem sucesso. - Certo, mas você é o que dela? – O delegado me perguntou. - Sou o ex-nam