1 - Favor

Olhei-me no espelho do carro rapidamente, apenas para ajeitar o cabelo, mas constatei que estava ótimo! O corte e tintura da véspera ainda permaneciam impecáveis. Então saí levando minha bolsa e jaleco, aproximei-me do segurança da clínica e ouvi.

  - Dra. Carolina, a senhora está muito bonita, quase não reconheci.

  - Obrigada Valmir.

  Respondi sorrindo ao passar pelo homem e entrei na elegante mansão. Avistei Bartô em sua mesa, ele também me viu e disse:

  - Ei, aonde você pensa que vai? Não te conheço, quem atende aqui é a Carol, minha amiga TO!

  - A sua amiga Carol me mandou no lugar dela hoje, posso ficar? – Indaguei descontraidamente enquanto o recepcionista me inspecionava da cabeça aos pés.

  - ARRASOU!

  Bartô falou ao mesmo tempo em que levantava a palma da mão no ar para me parabenizar. Eu retribuí o cumprimento, lhe dei um beijo e após pegar minha agenda de atendimentos dirigi-me para a minha sala.

***

 Após três sessões com pacientes complicados consegui uma folguinha, então fui até a copa da clínica tomar um suco, troquei algumas palavras com dona Márcia, a copeira, e logo depois saí. Estava indo para a minha sala quando ouvi.

  - Carol, o Dr. Vagner quer falar com você. Disse que está na sala dele e você pode ir lá agora se quiser.

  Bartô avisou-me e eu assenti. Caminhei até a sala do meu chefe, um jovem ortopedista muito competente, mas também simpático e acessível, que sempre conversava com sua equipe de igual para igual e por isso não exigia ser tratado como o ser supremo do lugar, apesar de ser o proprietário e médico-chefe de uma das clínicas de ortopedia mais bem conceituadas da capital, ainda assim, apenas os terapeutas sentiam-se à vontade para trata-lo somente pelo nome, porém, todos os demais funcionários sempre se dirigiam a ele usando seu título. Bati na porta e ouvi.

  - Pode entrar.

  - Oi, você quer falar comigo?

  Vagner levantou os olhos do prontuário que estava lendo, tirou os óculos e sorriu.

  - É... as pessoas tinham razão. Você ficou ótima com esse novo corte de cabelo.

  - Obrigada. – Agradeci enquanto Vagner vinha me cumprimentar, então ambos nos dirigimos aos assentos e ele falou:

  - Eu queria conversar com você para pedir um favor.

  - Sim...

  - Tenho um amigo que fraturou o punho há dois meses e está com um pouco de dificuldade para realizar algumas tarefas do dia a dia. Não fui eu que o atendeu após o acidente, porque ele estava em Porto Alegre, mas logo que retornou a São Paulo me procurou para eu dar uma olhada. A imobilização foi retirada hoje de manhã aqui na clínica e após uma breve avaliação achei melhor o encaminhar para a terapia ocupacional. Não acho que ele irá precisar de muitas sessões, talvez dez sejam suficientes, mas gostaria que você fizesse os atendimentos.

  - Claro! Sem problemas, será um prazer!

  - Obrigado, sabia que podia contar com você. – Vagner esboçou um sorriso, pegou o prontuário que estava sobre sua mesa e prosseguiu. – Aqui estão os exames dele e minhas anotações, o caso é simples, ainda mais para uma terapeuta experiente como você.

  Eu passei os olhos rapidamente pela ficha, e constatei que meu chefe estava certo, afinal era uma fratura simples de punho, provocada por queda da própria altura e tratada de maneira convencional, o paciente também era jovem e por isso sua recuperação seria rápida.

  - Alguma pergunta Carol?

  - Não, nenhuma, tudo está muito claro.

  - Ótimo! Então peça ao Bartô para agendar as sessões, ok?

  - Pode deixar, vou fazer isso agora. Mais alguma recomendação?

  - Não, só isso.

  Eu assenti e levantei, no entanto quando estava abrindo a porta, ouvi.

  - Carol...

  - Sim.

  - Meu amigo se chama Alexandre, ele é bastante comunicativo e simpático, tenho certeza que irá gostar dele.

  - Provavelmente... – Esbocei um sorriso cordial e me retirei. Fui até a recepção e pedi a Bartô para telefonar. Dei uma olhada na sala de espera e como não vi meu paciente do próximo horário fiquei aguardando enquanto ouvia Bartô conversar com o amigo de Vagner. Após a ligação, o recepcionista disse:

  - Meu Deus, se esse bofe for tão bonito quanto é a voz dele, vou querer ficar na sua sala durante o atendimento!

  Eu ri com o comentário do meu colega e perguntei:

  - A voz dele é tão bonita assim?

  - Se é! Parece uma seda!

  - Ah Bartô! Você não tem jeito mesmo, sempre à procura de novos romances.

  - E isso não é bom? Você deveria fazer o mesmo.

  - Eu? Não, muito obrigada. Estou bem sozinha, não quero saber de ninguém.

  - Pois não deveria pensar assim, afinal você é jovem e linda e por isso mesmo tem mais é que aproveitar.

  Apenas acenei em negação, porém não prossegui com a conversa, porque um paciente se aproximou da mesa do meu colega, então pedi licença e voltei para a minha sala. Sentei-me e olhei para o prontuário do amigo do meu chefe, pensei em dar uma olhada mais detalhada, no entanto desisti, tudo porque as palavras de Bartô ficaram ecoando na minha mente e com isso me fizeram pensar em Miguel, meu ex-marido.

  - Como será que ele está?

  Indaguei em voz alta. Fazia tempo que não pensava nele, a não ser por ontem quando estive no salão de beleza e contei um pouco da minha história, relembrando os difíceis dias da separação, mas o fato é que agora eu estava feliz e conseguia até lembrar de Miguel sem o ressentimento de meses atrás, por isso era bobagem pensar em novos envolvimentos amorosos como meu colega havia sugerido. Eu estava feliz e era assim que desejava ficar.

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