Eu devo estar sonhando, eu só posso estar sonhando. Se não como explicar que estou na clínica sozinha com Alexandre? Nós estamos na minha sala e ele está mais lindo do que nunca, conversando comigo e brincando com meus dedos numa atitude muito íntima e descontraída. Não consigo entender o que ele está dizendo, mas a sensação de conforto é imensa cada vez que ele acaricia a minha pele. De repente, ele para de falar, me encara por um instante e vem na minha direção. Seus lábios estão a centímetros dos meus e quando eu penso em protestar, o celular toca.
Abri os olhos e constatei que realmente estava dormindo. E o pior, sonhando com meu novo paciente! Olhei o relógio, faltavam quinze minutos para as seis da manhã de sexta-feira. A semana tinha passado tão depressa que nem sequer me dera conta disso.
Levantei, tomei banho
Você não fez nada de errado Carol. Eram essas as palavras que eu vinha dizendo para mim mesma desde que acordei na segunda de manhã até agora, mas não estava surtindo muito efeito, pois cada vez que recordava meu momento libidinoso na madrugada de domingo me sentia constrangida. - Como eu pude me deixar levar daquele jeito? - Indaguei-me num tom de voz baixo enquanto caminhava até a recepção da clínica de ortopedia para saber se meu paciente mais complicado tinha chegado. Talvez ele não tenha vindo, afinal estou atrasada e se Alexandre já tivesse chegado com certeza Bartô teria ligado para me avisar. Foi o que imaginei quando cheguei a recepção e não encontrei Alexandre, respirei aliviada, porém ouvi. - Carol, o Alexandre está no toalete. Bartô avisou-me destruindo m
Na quarta-feira à noite encontrei Fernanda no balé. Nós não tínhamos nos visto desde o churrasco porque minha amiga não tinha ido a aula na segunda-feira, porém, quando a professora nos dispensou Fernanda correu na minha direção. - O John me pediu o seu telefone. Posso dar? Arregalei os olhos, sabia que o cara tinha se interessado, mas não imaginava que chegaria a esse ponto. - Ele falou sobre mim? - E como! Ontem fui a um coquetel oferecido pela agência de publicidade dele e quando John teve uma folga fez questão de conversar comigo sobre você. Disse que te achou linda e muito simpática, por isso queria voltar a te ver, então o que me diz? Posso passar seu número? Ponderei por alguns instantes e ao lembrar de Alexandre me senti confusa, porque mesmo eu não podendo ficar com ele, também n&ati
Na quinta-feira antes de sair para o trabalho pensei em bater à porta do meu vizinho para ver como estava, porém, não eram nem seis e meia e achei inapropriada a visita, afinal, até o infeliz episódio da véspera eu conversara pouco com Lucas e Gustavo, na verdade, apenas em duas ocasiões falamos por alguns minutos. A primeira vez no segundo dia após a minha mudança, quando saí para fazer compras e voltei com algumas sacolas pesadas. Lembro-me que ao entrar no elevador eles já estavam e ao me verem com os pacotes me ajudaram. Foi naquele dia que soubemos que éramos vizinhos. Já o outro encontro foi apenas com Lucas, por coincidência na academia de ginástica, contudo o momento foi breve e desde então eventualmente os via quando estava chegando ou saindo para ir trabalhar. De qualquer modo tinha simpatizado com o casal e mais uma vez lamentei o que tinha acontecido com Lucas.<
O domingo amanheceu ensolarado, fazia calor, mas o clima não era sufocante, por isso decidi ir ao parque do Ibirapuera correr. Não morava tão longe como antes, mas também não era tão perto para ir andando, então peguei meu carro e depois de meia hora estava entre árvores e pessoas me exercitando. Corri por alguns minutos, porém, depois de algum tempo precisei descansar. Sentei-me sob a sombra de uma árvore e fechei os olhos. Estava relaxada, sem pensar em nada quando ouvi. - Carol. Por um breve instante achei que estivesse dormindo e mais uma vez sonhando com meu paciente, tentei esquecê-lo, contudo senti um toque no meu ombro e meu nome foi falado em voz alta mais uma vez. Acabei abrindo os olhos, mas ao ver Alexandre sorrindo diante de mim a paz de espírito de minutos antes evaporou. - Você não devia ficar tão distraída. Eu p
Realmente é impressionante como as coisas acontecem! Quando a gente mais quer ignorar determinado assunto, ou no meu caso, pessoa, parece que tudo te faz lembrar do que você quer esquecer. Afirmo isso, porque depois de acordar com uma dor de cabeça terrível na manhã de segunda-feira – eu não tivera uma boa noite de sono – não esperava pelo que estava prestes a acontecer. Estava no hospital trabalhando, concentrada, quando precisei posicionar adequadamente uma das pacientes em sua cadeira de rodas. Era uma mulher pesada e sem ajuda não seria possível ajeita-la corretamente, por isso pedi a sua acompanhante que me auxiliasse, mas ao fazê-lo a cuidadora deixou sobre a mesa de atendimentos a revista que estava lendo, eu acabei vendo sem querer a página aberta, mas ao reconhecer Alexandre na foto perdi o foco. Minha paciente queixou-se da maneira como eu tinha deixado seu br
Mais uma quinta-feira havia chegado, portanto um novo encontro com Alexandre aconteceria no final da tarde. Tentei não me sentir ansiosa com o fato, afinal estava saindo de casa para o meu primeiro emprego e precisava me manter focada. Contudo, lembrar do meu paciente me fez pensar também em John, no simpático inglês que eu tinha dispensado e que tinha sido motivo de discórdia entre mim e Fernanda. Na verdade, não houve um embate escancarado entre nós, mas ontem quando nos vimos na aula de balé notei uma mudança de comportamento comigo. Fernanda era descontraída, comunicativa, enfim, uma pessoa articulada, porém quando tentei conversar, ela se fechou, deu uma desculpa qualquer e não falou comigo, e a atitude dela só podia ser por causa de John. Provavelmente ele contou-lhe da minha recusa e isso deve ter deixado minha amiga aborrecida, mas o que eu poderia fazer? Pedir desc
Dormi pouco, na verdade apenas quando estava amanhecendo consegui cochilar, ainda assim sonhei com Alexandre, com nosso momento juntos, e por mais que eu não quisesse pensar no que tinha feito eu não conseguia esquecer o instante em que ele me surpreendeu com o beijo. Te surpreendeu Carol?! Uma mulher de quase quarenta anos, que já teve alguns relacionamentos sérios antes de ficar casada por doze anos?! Faça-me o favor! Você sabia que o rapaz faria aquilo e o que é pior, você desejou! Ouvi pela milésima vez a voz da razão que passou a noite toda me atormentando, me condenando por eu ter sido tão irresponsável, afinal se eu tivesse agido antes, se tivesse falado com Vagner como deveria, nada disso teria acontecido. Eu era a grande culpada, sem dúvida, porque quando intuí pela primeira vez o mínimo de interesse do meu paciente por mim eu
O restante do meu dia foi improdutivo, porque depois da visita de Alexandre eu não tinha ânimo para nada, ainda pensei em fazer um bolo para dar aos meus vizinhos, como maneira de agradecer a torta que Gustavo tinha oferecido, mas como estava mal sabia que se me aventurasse na cozinha o bolo seria um desastre. Então para não ficar ociosa eu fui andar pelo bairro. As ruas estavam tranquilas por causa do feriado e apenas uma confeitaria estava aberta. Entrei, resolvi tomar um café e comer um doce, talvez se ingerisse um pouco de açúcar meu humor melhorasse minimamente, mas quando estava prestes a ir embora, voltei e comprei uma rosca de frutas cristalizadas para presentear meus vizinhos e com a sobremesa em mãos eu bati na porta deles. - Carol! Que surpresa! Como você está? Lucas indagou animadamente, minha resposta não foi no mesmo tom, ainda assim disse que tudo estav