CAPÍTULO 10 Valéria Muniz As palavras daquele homem eram dolorosas demais pra mim. Aguentei firme a cada insulto, não deixaria que ele me fizesse abaixar a cabeça, como meus irmãos sempre fizeram, eu o responderia à altura e precisaria esquecê-lo o quanto antes. Vi seu vulto a alguns passos. — Você é muito atrevida, sabia? — ouvi e senti a aproximação dele, estava muito perto de mim. — Se é cega... como sabe que estou fardado, para tentar me diminuir? — Uma pessoa cega sabe identificar muitas coisas, através do som, cheiro e percepções que seres humanos “perfeitos” não são capazes, sabia? — essas palavras doeram em mim, porque já estou tão cansada de julgamentos, por isso não gosto que fiquem me ensinando as coisas que já sei, me esforço para aprender rápido. — Olha, eu não quis ser indelicado, sei perfeitamente sobre isso que acabou de dizer, eu só estou perguntando como sabia que estou fardado? Você consegue ver algumas coisas com os óculos? — me virei para o outro lado,
CAPÍTULO 11 Theodoro Almeida Eu tive dúvidas em certo ponto da conversa, se aquela mulher realmente era uma acompanhante sexual. Iria perguntar novamente, mas depois de falar que era do hotel e não negar nada, não havia dúvidas... Aquele sangue que vi no lençol não significava nada do que eu pudesse estar imaginando. Foi bom reencontrar a Ane, sinto que agora consegui que ocupe um espaço diferente na minha vida, serei apenas o tio do filho dela. Com tantas pessoas não vi para onde a Valéria foi. Queria ter conversado com ela sobre ter me ajudado naquela noite, mas só a vi quando saiu com Samuel, Ane e Vicente... pelo visto conseguiu a confiança deles. Acabei voltando para o hotel, mostrei a cidade para o Messias, e depois voltamos para Guarapuava. Dias depois... . Desde aquele dia, fiquei inquieto. Principalmente depois que descobri que Valéria trabalha na casa da Ane... então, quando recebi uma notificação, não resisti: — “Venha comer o bolo de mêsversário do Samuel,
CAPÍTULO 12 Valéria Muniz “Cadê a minha bengala? Cadê a bengala?“ Me agarrando nas paredes, fui procurando por ela. O pior é que com esse tenente me agarrando e me beijando, deixei de contar os passos, tenho dúvidas de onde estou, “por Deus, que ninguém tenha visto isso, nem o beijo”. Onde estou? — Val? — era a voz da dona Anelise. — Aqui senhora, peço desculpas, mas acho que me perdi pelo movimento da casa. — Ah, estamos na frente do banheiro do corredor, fique tranquila! — segurou na minha mão. — Ah, obrigada... me dê alguns minutos e estará tudo como antes. — Olha, se caso esqueceu, eu posso te explicar novamente... — De maneira nenhuma, já me lembrei de tudo, volto logo! — entrei apressada no banheiro, fechei a porta e escorreguei no chão, encostada nela. Meu corpo tremia inteiro, aquele tenente me causas muitas coisas, isso não pode voltar a acontecer... Em silêncio comecei a ouvir uma conversa do lado de fora, era dona Anelise e... “ele”. — Também se perde
CAPÍTULO 13 Valéria Muniz — Eu não vou com você, me solta! — ele agora me segurava com as duas mãos, e com uma delas prensava o charuto para me queimar. Eu não podia gritar, se meus patrões vissem eu poderia perder o emprego. Estava com o rosto quase grudado nas grades e temi que quebrasse meus óculos outra vez, só a sua voz já me desestabilizava. — Seu noivo ficou furioso porque você fugiu. Sabe quantas desculpas eu precisei dar? Hein, Valéria? Você vai voltar agora mesmo, comigo. Vai lavar, massagear e beijar os pés dele para tentar conseguir o seu perdão, vai precisar implorar, porque ele até já me adiantou o pagamento! — fiquei em estado de choque. — Como assim, pagamento, Aaron? Eu não sou como as mulheres de lá! Não vou permitir que me venda como escrava para aquele velho, horrível, que já matou esposas de tanto maltratar! Ele soltou as minhas mãos, mas me grudou nas grades pelos cabelos, segurando o hijab. — Você não tem querer! Pegou as minhas joias e vendeu a preços d
CAPÍTULO 14 Valéria Muniz — Valéria? — a doce voz da dona Anelise, me fez perceber que eu não podia me deixar abater, precisaria seguir em frente, chorar não iria resolver. — Sim, senhora! — me ajeitei, disfarçando que havia chorado. — Aconteceu alguma coisa? Tive a impressão de ouvir a voz do Théo. — Bom... ele deu uma passadinha, mas já foi. — levei o rosto para baixo, disfarçando. — Nossa, acho que ele se interessou em você, fico feliz com isso! — sua voz era gentil. — Imagina senhora, ele passou por acaso. — senti uma pontada no peito, ele estava atrás do meu corpo cheio de gorduras, que deve ter achado diferente, só pode. — Não, ele está diferente. Nunca o vi assim. Agora me diga realmente... o que aconteceu? — Tive medo de não contar a verdade, ela poderia ter visto e saberia que não confio nela, então fui forçada a falar: — Meu irmão me encontrou, senhora! — Caramba, aqui? — Sim, e o tenente me ajudou a fazê-lo me deixar em paz, foi iss
CAPÍTULO 15 Theodoro Almeida Depois do incidente na casa Ane, algumas coisas pareceram diferentes. — Mas que porra é essa, aqui? Pô xerife, você tá de sacanagem, né? Todos os recrutas com barbas na cara! — me aproximei dos recrutas, mostrando a quantidade de pelos no rosto de um deles — Olha isso aqui, xerife... tá querendo fazer tranças? Volta com a mamãezinha, zero sete! — olhei do outro lado — XERIFE? — Sim senhor! — bateu continência, respirei fundo. — Por que o treze está com a camiseta amassada? — Ah... — O vinte seis com coturno marcado? Já chega, já chega! Hoje quero todo o mundo pagando abdominal. Duzentas para os recrutas, e o xerife trezentas por não fazer direito o seu trabalho. — acelerei o batalhão, e saí tomar um ar. — Estressado? — Messias perguntou. — Não. Vá ajudar o xerife, soldado Messias! — me olhou assustado e levantou. . Hoje o dia começou bagunçado, as coisas que aconteceram de manhã com a Valéria não saíam da mi
CAPÍTULO 16 Valéria Muniz “Mãezinha me ajuda, o que que eu faço?“ O vento frio me fez envergar a espinha, mas logo depois saltei com uma batida, e fiquei paralisada sem saber o que fazer, então agarrei um objeto que senti no criado e o segurei firme, com todas as minhas forças, acertaria quem quer que fosse. Pela minha experiência em sons, tinha quase certeza de que teria sido a janela, mas demorei para criar coragem e tentar abrir, mas o pior foi ouvir o que ouvi... . “Meu irmão me ofereceu por cinco mil dólares?“ “O homem que eu amo não me quer como esposa?“ “Então, porque vai pagar?“ “Não posso viver como prostituta daquele tenente, terei que fugir novamente?“ . Quando ouvi os barulhos de pneus de carro eu me afastei de lá. Me abaixei apressada procurando os óculos, e quando encontrei peguei o bebê no colo saindo do quarto. Acendi as luzes da casa e chamei os patrões, disse apenas que bateram na janela, e o senhor Vicente saiu feito
CAPÍTULO 17 Theodoro Almeida Mal consegui dormir, passei a noite pensando no que havia feito, e de manhã, fui até o endereço do cartão. Verifiquei a minha arma, mesmo não estando fardado, a usaria se fosse necessário. A minha respiração estava pesada, olhei no relógio e vi que faltava um tempo, quando vi um táxi chegando, já desci do carro com a mão na arma; o velho que comprou Valéria não estava. — E, então? Como resolvemos isso? — perguntei parando à sua frente, numa posição ameaçadora, cruzando os braços e o encarando. — Você está certo do que quer? Vai casar e se responsabilizar pela cega? — Mais respeito com a Valéria, ou eu terei que voltar a te mostrar como faço para ensinar babacas a respeitarem as pessoas! — me aproximei apontando a arma e ele se afastou. — Tá, tá certo! Agora vamos falar da “Valéria”, de uma vez! Trouxe um pequeno contrato, quer ler? — guardei a arma, olhei para os lados. — Não vou assinar nada, você é homem ou não