CAPÍTULO 1 Em um hotel de uma pequena cidade, como Guarapuava, Valéria respirava aliviada, havia conseguido encontrar um lugar seguro, depois de tantas cidades em que tentou se instalar. Não era a primeira vez que estava na mesma situação, desde que fugiu de Israel, país onde cresceu e viveu até o dia em que um acidente levou seus pais e também a sua visão. Sua mão enfaixada recentemente, trazia à sua memória, o que aconteceu da última vez que tentou fugir do seu irmão, mas ele a encontrou, ainda doía cada agressão. Segurando a chave do quarto, ela respirou fundo, tremendo, ajeitando sua bolsa pequena, sua bengala e seus óculos quebrados que acabara de guardar, resultado da fuga dessa manhã, ao ouvir a voz do seu agressor, conseguir desvencilhar-se e precisar abandonar seu emprego mais uma vez. Valéria sabia que não seria fácil, ainda mais quando se lembrava que precisou deixar dois irmãos pequenos aos cuidados de sua irmã, seu coração doía, porém a esperança de buscá-los u
CAPÍTULO 02 Theodoro Almeida Quase caí da cama com o susto que levei, aquela louca me expulsou sem motivo algum, provavelmente ficarei dolorido com as pancadas dela, e o pior foi quando vi com meus próprios olhos, que aquele quarto não era o meu. As coisas aconteceram muito rápido, estranhei não me lembrar de ter ligado para chamar uma acompanhante, mas ser tratado assim não dava... olhei pra mim mesmo e me assustei: “Merda! Me fez sair de cueca em pleno corredor!“ Entrei no meu quarto e fui logo me vestindo, sem conseguir raciocinar direito, pegando as primeiras peças que via. . Passei a mão na cabeça, comecei a andar de um lado para o outro, e lembranças da noite que tive vieram de repente. Aquela prostituta me acordou em meio ao surto psicótico e conseguiu me controlar, como ela havia feito aquilo? Ninguém além da mulher que amo conseguiu fazer isso, mas como ela fez? Fiquei olhando pela janela, deveria ter uma explicação, claro que deveria... Abri a porta apres
CAPÍTULO 03 Valéria Muniz “Não posso mais ficar nesse quarto, não é mais seguro!“ — pensei ao me apressar em me vestir e pegar minhas coisas. Não encontrei meu hijab, cobri a cabeça com um sobre-lençol. Me esbarrando nas paredes, tentando calcular a distância entre aquele quarto e a recepção eu saí chorando, sem conseguir evitar a decepção que me atormentava, até que alguém bateu forte, de frente comigo, quase caí. — É IDIOTA OU O QUÊ? QUASE QUEBROU O MEU SALTO, PUTA DESAJEITADA! EU PELO MENOS, NÃO ANDO DE CABELOS BAGUNÇADOS PELOS QUARTOS, COBERTO COM LENÇOL SUJO!— era uma voz feminina, com um perfume doce fortíssimo, mas eu estava tão desesperada que continuei andando, encontrei o corredor e demorei para conseguir chegar à recepção e conseguir um novo quarto. “Lençol sujo?“ — de repente estranhei, pensando nisso, mas o enrolei de baixo do braço. Quando cheguei no quarto, tranquei com chave, grudei as costas na porta e nem respirei direito, fazendo aquela oração importante
CAPÍTULO 04 Theodoro Almeida O percurso foi rápido, porém a minha cabeça dava voltas, pensando naquela mulher. Eu deveria ter ido antes atrás dela, mas não fui, e acabei atordoado com os seus modos. . Assim que cheguei no quartel, alguns sargentos e soldados bateram continência, mas o meu interesse era no soldado Messias, eu sabia que ficar afastado, traria problemas. — O que aconteceu? — perguntei antes de abrir a porta da enfermaria. — O tenente Soares o fez pagar muitas flexões, ele não comeu nada, porque o tenente disse que não iria tomar o café enquanto não terminasse quinhentas, e ele não aguentou. — Não acredito! O que ele fez? — Acusação de revolta, porque tentou ajudar outro soldado. — eu sabia o que aquele babaca do outro tenente havia feito, se aproveitado que eu não estava, para descontar a sua inveja no jovem rapaz que ele sabe que eu trouxe pra cá e era do orfanato. Entrei no local e fiquei ainda mais revoltado quando vi que o rapaz ainda estava desm
CAPÍTULO 05 Valéria Muniz Era um barulho do alarme de incêndio, aquilo não poderia estar acontecendo comigo, por Deus... como eu sairia sozinha por aqui? Sem conhecer nada? E sem a ajuda de um guia, como encontrei quando cheguei e consegui resolver tantas coisas? Meu corpo ficou tenso, enquanto aquele barulho me assustava. Fui batendo nas prateleiras, senti produtos caírem em cima de mim, mas me esforcei para conseguir sair. Quando cheguei na porta, quase chorei de emoção, não queria morrer bem agora que estava tão perto da minha liberdade, não era justo. Com os ouvidos super em alerta, e sentindo o ambiente mais quente, eu parei em frente a porta do quarto, tentando ser racional e não me desesperar. Pessoas falavam ao mesmo tempo, contei quatro passos da porta para frente e fui andando, mas parei quando percebi que tantas pessoas batiam e encostavam em mim, o que me deixou desesperada, sem saber o que fazer. “Eu queria tanto ver, queria saber o que estava acontecendo!“
CAPÍTULO 06 Valéria Muniz — Calma, aqui está a sua bengala. Por que ficou tão nervosa? — o rapaz perguntou com uma voz suave. — Eu preciso sair desse hotel. Meu irmão está atrás de mim, ele não pode me encontrar, me ajude moço, por favor! — procurei pelas mãos dele, ele segurou. — Meu nome é Rafael, pode me chamar assim. Eu te ajudo a se manter escondida aqui, se esse homem pode te causar mal... — Não, eu preciso ir, ele sempre me encontra, preciso ir. — comecei a andar naquele corredor pequeno e com cheiro ruim, procurando as minhas coisas, apalpando tudo, com medo de encostar no que não devia, peguei a minha pequena bolsa. — Olhe, eu não tenho muito dinheiro, mas posso te pagar para que me ajude a encontrar um quarto em uma pensão mais barata. — Fui tentando sair, e ele me ajudou. — Você está muito nervosa... olha, espera até o final do dia, não posso ir com você, agora. É só ficar lá dentro, posso te trazer uns pães e também almoço, não se apavore. Meu coração estava d
CAPÍTULO 07 Valéria Muniz A pior parte quando não se consegue ver, é saber que você está sozinha, não há ninguém por você. Se você cair, terá que se levantar, se não encontrar o seu caminho, terá que depender de estranhos, correndo riscos que você nunca saberá ao certo a profundidade deles e, sobretudo, se sentir numa escuridão interna, sabendo que ninguém poderá te encontrar lá dentro, porque você não tem ninguém. É exatamente assim que me sinto... numa completa escuridão. Se sempre foi assim? Não, já tive uma vida coberta de luz, mas se apagou. Assim o meu coração dói, segurando na porta de um carro estranho, onde o vidro está totalmente aberto, mas me sinto presa, implorando internamente para que ainda existam pessoas boas, e me deem apenas uma chance, de provar que não sou inútil por ser cega. O silêncio me mata a cada segundo, “mamãe, me sinto tão perdida!“ “Você me disse que sempre estaria comigo, mas onde está? Eu não consigo te ver!“ . — Você disse que sabe cuidar d
CAPÍTULO 08 Valéria Muniz Momentos seguintes, na casa de Anelise: Eu concordei com tudo o que ela dizia, só queria um trabalho e também fugir de Aaron. Ela me deixou conhecer um bebezinho muito cheiroso, de apenas cinco meses, que se chamava Samuel, e na mesma hora me acalmei com um anjinho daqueles, “ela confiou em mim”. — Olha, filho, a sua babá chegou! — se aproximou de mim, e senti ela com o bebê, me entregando. — Nossa, ele é tão quietinho! Não estranhou. — Como sabe que ele está acordado? Samuel é bem silencioso. — ajeitei o pequeno nos meus braços, e ouvi pequenos resmungos. — Através dos sons, movimentos corporais, mesmo que poucos, consigo identificar. — encostei o bebê perto de mim, gosto de sentir a respiração, a temperatura, me sinto mais confiante. — Puxa... — ela se expressou mostrando que estava impressionada com algo. Naquele dia, ela me mostrou toda a casa, tudo que o bebê usaria, e como funcionava. Dona Anelise me deu um quart