CAPÍTULO 17 Theodoro Almeida Mal consegui dormir, passei a noite pensando no que havia feito, e de manhã, fui até o endereço do cartão. Verifiquei a minha arma, mesmo não estando fardado, a usaria se fosse necessário. A minha respiração estava pesada, olhei no relógio e vi que faltava um tempo, quando vi um táxi chegando, já desci do carro com a mão na arma; o velho que comprou Valéria não estava. — E, então? Como resolvemos isso? — perguntei parando à sua frente, numa posição ameaçadora, cruzando os braços e o encarando. — Você está certo do que quer? Vai casar e se responsabilizar pela cega? — Mais respeito com a Valéria, ou eu terei que voltar a te mostrar como faço para ensinar babacas a respeitarem as pessoas! — me aproximei apontando a arma e ele se afastou. — Tá, tá certo! Agora vamos falar da “Valéria”, de uma vez! Trouxe um pequeno contrato, quer ler? — guardei a arma, olhei para os lados. — Não vou assinar nada, você é homem ou não
CAPÍTULO 18 Aaron Muniz (Momentos antes) Ainda bem que tive tempo de apagar o áudio que enviei a Ezequiel, ele não pode nem sonhar que a cega foi vendida para outro, isso é coisa minha. Aguardando na linha, me faço de bobo com um dos seus agentes: — É isso mesmo que ouviu, não vou mais vender a minha irmã, vou cuidar dela! — ele ficou em silêncio alguns segundos e resmungou, então conversou com Ezequiel, sem se importar que ainda estava na linha. O velho é tão filho da puta que nem se dá ao trabalho de atender a ligação, tudo é negociado e resolvido com os seus agentes. — Ezequiel perguntou se tem certeza disso? Porquê se ficar sabendo que vendeu a mercadoria dele pra outro, você se lasca, entendeu? — Não, tudo certo. Pode confiar. Eu desisti de vender, vou cuidar da irmã, certo? — Ok. — desligou sem perguntar mais nada, nem vou enviar o dinheiro, depois invento uma desculpa, até porque, a metade do dinheiro é meu, já que cobrei o dobro do policialzinho. . Theodor
CAPÍTULO 19 Valéria Muniz A dona Maria abriu a porta da casa, e por mais que eu quisesse ficar sozinha e chorar, não pude. — Menina, o que está acontecendo? Será que posso te ajudar? — senti as suas mãos quentinhas e o cheirinho do Samuel perto de mim. Logo suas mãozinhas bateram no meu ombro e o abracei forte, sendo amparada por Dona Maria. — A minha vida não é nada fácil, dona Maria! Eu só queria não precisar chorar mais, sabe? — senti uma lágrima boba, mais que depressa senti a carícia dela limpando com delicadeza, senti vontade de tocar no rosto dela e conhecer os seus traços, mas não me atrevi. — Entre criança! Vem, senta aqui no sofá e me conta tudo o que está acontecendo. Estamos sozinhas, não tenho pressa, e o Samuel está quase dormindo. — foi me levando até o sofá e acho que nunca me senti tão bem amparada na vida. A última vez foi quando a minha mãe ainda estava viva. Sentei no sofá e ela arrumou as almofadas, Samuel deitou sobre mim e ficou mexendo os dedinhos
CAPÍTULO 20 Theodoro Almeida — Verifique em que quarto está Aaron... — pensei um pouco — Bom, pode tentar só com o primeiro nome! — avisei a recepcionista, e pelo jeito como começou a digitar rapidamente, já deve ter descoberto o meu cargo no exército. — Senhor Aaron Muniz, está no quarto cento e três, mas... — virei as costas e fui pelas escadas, aquele infeliz seria pego no pulo. A porta estava trancada, bati pacientemente, para que não desconfiasse quem é que estava entrando. Uma mulher abriu a porta, estava com um lençol amarrado no corpo, ou era sua esposa, ou uma puta... — Mande-a sair, você tem uma conversa pendente comigo! — ele tentou fechar a porta, mas empurrei, e num empurrão caiu sobre ele o derrubando no chão, e isso bastou para que a mulher corresse. — Está louco? Você quase quebrou o meu nariz! — reclamou com a maior cara de pau, mas fechei a porta atrás de mim e fui pra cima dele, agarrando seu colarinho. — Quero o documento da Valéria agora mesmo, ou
CAPÍTULO 21 Valéria Muniz O fato dele dizer que vai me levar à um especialista, me emocionou demais. Não pude me conter, foi como ter voltado naquela noite... em Israel há quase dois anos: (...) O dia estava chuvoso, eu já havia passado do horário de voltar pra casa. Se Aaron descobrisse, eu pagaria caro, mas aquele era um abraço que valia a pena. — Você vai ficar bem, soldado. É um homem forte, jovem... — toquei outra vez o seu rosto, apalpei cada detalhe, hoje eu estava conhecendo ainda mais como ele era, suas feridas da face haviam melhorado, com tantas ervas que fiz compressa. — Graças a você, que cuida tanto de mim. Quando eu levantar daqui, vou fazer questão de ir atrás do seu maior sonho, você merece. — Só de saber que está melhor, já é o suficiente! — encostei meu rosto no corpo dele, tentando esquentar seu corpo, embora estivesse com febre. A chuva estava bem forte, ele não poderia piorar. — Sinta as minhas mãos, soldado... elas estão quentes. — ouvi um riso baixo. —
CAPÍTULO 22 Theodoro Almeida — Então vai mesmo se casar com a moça? — a pergunta da Ane me pegou despreparado, olhei profundamente nos olhos dela, ainda me sinto desconfortável falando disso com ela. — Quem te contou? — Isso é o de menos, na verdade, estou perguntando pra ver se fico feliz ou triste com isso, porque a pesar da babá precisar muito de ajuda, eu também penso muito em você. — ela arrumou o Samuel no colo. — Ainda é engraçado como o Samuca parece comigo naquelas fotos que o Rogério tirou no orfanato. — levei a mão até o rosto dele. — Não disfarce! — sorri do jeito dela, que bateu de leve na minha mão. — Querida, fica tranquila! Está tudo bem, só quero ajudar essa moça, e também me certificar que o seu irmão foi preso, e esse aliciador, seja lá quem seja, esse velho que se chama Ezequiel, desapareça ou seja preso também! — digo isso pra ela, mas a quem eu quero enganar? Não será nada mal, ter uma mulher à minha disposição. Por que não
CAPÍTULO 23 Valéria Muniz Passou o final de semana todo e Theodoro não voltou para falar comigo. Na sexta-feira foi capaz de enviar um beijo pela minha patroa, mas não se deu o trabalho de aparecer. Não que eu espere algo dele, mas é que... droga! A quem quero enganar? “Foco, Valéria! Foco!“ Segunda-feira: O dia começou agitado, passei a tarde com os patrões, cuidando do pequeno Samuel enquanto eles planejavam o hotel novo que Vicente está começando a levantar. Quando chegamos, fiquei no jardim com o bebê, ele já iria tomar banho, e fez festa quando o soltei no jardim para engatinhar, é claro que permaneci sentada com ele, controlando cada movimento, mas os seus gritinhos eram incríveis, me faziam gargalhar a cada segundo, ao sentir as suas mãozinhas batendo na grama e nas minhas pernas. — Ah, como você é adorável, pequeno príncipe! — do nada ouvi uma voz pela grade e senti um cheiro ruim e familiar. — Leva o bebê para a mãe dele, e vem co
CAPÍTULO 24 Theodoro Almeida — Você ainda não deve ter recuperado todas as memórias, algo deve estar bagunçando a sua cabeça. — a voz doce e amedrontada da Valéria me fez pensar. — Realmente, às vezes penso que não me lembrei de tudo. Mas como sabe sobre mim? — quando perguntei seu corpo enrijeceu, mas logo me lembrei — Ah! Eu esqueço que você passa o dia todo com a dona Maria, naquela casa a gente sempre acaba sabendo de uma coisa ou outra. — Seu semblante suavizou, percebi que as maçãs do seu rosto ficaram levemente coradas, e até a sua boca voltou a ter cor, então eu sorri, nem percebi que estava com o polegar em cima da sua boca, e então acabei acariciando seus lábios. — Porque tenho tanta vontade de te beijar, Val? Sabia que esse hijab branco e roupas tão cobertas me deixam louco? Me aproximei mais, puxei o seu corpo bem perto do meu, e quanto mais eu olhava pra ela, mas eu queria beijá-la, então a beijei. Dessa vez ela não me rejeitou, parecia es