CAPÍTULO 19 Valéria Muniz A dona Maria abriu a porta da casa, e por mais que eu quisesse ficar sozinha e chorar, não pude. — Menina, o que está acontecendo? Será que posso te ajudar? — senti as suas mãos quentinhas e o cheirinho do Samuel perto de mim. Logo suas mãozinhas bateram no meu ombro e o abracei forte, sendo amparada por Dona Maria. — A minha vida não é nada fácil, dona Maria! Eu só queria não precisar chorar mais, sabe? — senti uma lágrima boba, mais que depressa senti a carícia dela limpando com delicadeza, senti vontade de tocar no rosto dela e conhecer os seus traços, mas não me atrevi. — Entre criança! Vem, senta aqui no sofá e me conta tudo o que está acontecendo. Estamos sozinhas, não tenho pressa, e o Samuel está quase dormindo. — foi me levando até o sofá e acho que nunca me senti tão bem amparada na vida. A última vez foi quando a minha mãe ainda estava viva. Sentei no sofá e ela arrumou as almofadas, Samuel deitou sobre mim e ficou mexendo os dedinhos
CAPÍTULO 20 Theodoro Almeida — Verifique em que quarto está Aaron... — pensei um pouco — Bom, pode tentar só com o primeiro nome! — avisei a recepcionista, e pelo jeito como começou a digitar rapidamente, já deve ter descoberto o meu cargo no exército. — Senhor Aaron Muniz, está no quarto cento e três, mas... — virei as costas e fui pelas escadas, aquele infeliz seria pego no pulo. A porta estava trancada, bati pacientemente, para que não desconfiasse quem é que estava entrando. Uma mulher abriu a porta, estava com um lençol amarrado no corpo, ou era sua esposa, ou uma puta... — Mande-a sair, você tem uma conversa pendente comigo! — ele tentou fechar a porta, mas empurrei, e num empurrão caiu sobre ele o derrubando no chão, e isso bastou para que a mulher corresse. — Está louco? Você quase quebrou o meu nariz! — reclamou com a maior cara de pau, mas fechei a porta atrás de mim e fui pra cima dele, agarrando seu colarinho. — Quero o documento da Valéria agora mesmo, ou
CAPÍTULO 21 Valéria Muniz O fato dele dizer que vai me levar à um especialista, me emocionou demais. Não pude me conter, foi como ter voltado naquela noite... em Israel há quase dois anos: (...) O dia estava chuvoso, eu já havia passado do horário de voltar pra casa. Se Aaron descobrisse, eu pagaria caro, mas aquele era um abraço que valia a pena. — Você vai ficar bem, soldado. É um homem forte, jovem... — toquei outra vez o seu rosto, apalpei cada detalhe, hoje eu estava conhecendo ainda mais como ele era, suas feridas da face haviam melhorado, com tantas ervas que fiz compressa. — Graças a você, que cuida tanto de mim. Quando eu levantar daqui, vou fazer questão de ir atrás do seu maior sonho, você merece. — Só de saber que está melhor, já é o suficiente! — encostei meu rosto no corpo dele, tentando esquentar seu corpo, embora estivesse com febre. A chuva estava bem forte, ele não poderia piorar. — Sinta as minhas mãos, soldado... elas estão quentes. — ouvi um riso baixo. —
CAPÍTULO 22 Theodoro Almeida — Então vai mesmo se casar com a moça? — a pergunta da Ane me pegou despreparado, olhei profundamente nos olhos dela, ainda me sinto desconfortável falando disso com ela. — Quem te contou? — Isso é o de menos, na verdade, estou perguntando pra ver se fico feliz ou triste com isso, porque a pesar da babá precisar muito de ajuda, eu também penso muito em você. — ela arrumou o Samuel no colo. — Ainda é engraçado como o Samuca parece comigo naquelas fotos que o Rogério tirou no orfanato. — levei a mão até o rosto dele. — Não disfarce! — sorri do jeito dela, que bateu de leve na minha mão. — Querida, fica tranquila! Está tudo bem, só quero ajudar essa moça, e também me certificar que o seu irmão foi preso, e esse aliciador, seja lá quem seja, esse velho que se chama Ezequiel, desapareça ou seja preso também! — digo isso pra ela, mas a quem eu quero enganar? Não será nada mal, ter uma mulher à minha disposição. Por que não
CAPÍTULO 23 Valéria Muniz Passou o final de semana todo e Theodoro não voltou para falar comigo. Na sexta-feira foi capaz de enviar um beijo pela minha patroa, mas não se deu o trabalho de aparecer. Não que eu espere algo dele, mas é que... droga! A quem quero enganar? “Foco, Valéria! Foco!“ Segunda-feira: O dia começou agitado, passei a tarde com os patrões, cuidando do pequeno Samuel enquanto eles planejavam o hotel novo que Vicente está começando a levantar. Quando chegamos, fiquei no jardim com o bebê, ele já iria tomar banho, e fez festa quando o soltei no jardim para engatinhar, é claro que permaneci sentada com ele, controlando cada movimento, mas os seus gritinhos eram incríveis, me faziam gargalhar a cada segundo, ao sentir as suas mãozinhas batendo na grama e nas minhas pernas. — Ah, como você é adorável, pequeno príncipe! — do nada ouvi uma voz pela grade e senti um cheiro ruim e familiar. — Leva o bebê para a mãe dele, e vem co
CAPÍTULO 24 Theodoro Almeida — Você ainda não deve ter recuperado todas as memórias, algo deve estar bagunçando a sua cabeça. — a voz doce e amedrontada da Valéria me fez pensar. — Realmente, às vezes penso que não me lembrei de tudo. Mas como sabe sobre mim? — quando perguntei seu corpo enrijeceu, mas logo me lembrei — Ah! Eu esqueço que você passa o dia todo com a dona Maria, naquela casa a gente sempre acaba sabendo de uma coisa ou outra. — Seu semblante suavizou, percebi que as maçãs do seu rosto ficaram levemente coradas, e até a sua boca voltou a ter cor, então eu sorri, nem percebi que estava com o polegar em cima da sua boca, e então acabei acariciando seus lábios. — Porque tenho tanta vontade de te beijar, Val? Sabia que esse hijab branco e roupas tão cobertas me deixam louco? Me aproximei mais, puxei o seu corpo bem perto do meu, e quanto mais eu olhava pra ela, mas eu queria beijá-la, então a beijei. Dessa vez ela não me rejeitou, parecia es
CAPÍTULO 25 Theodoro Almeida Quando o elevador parou, pensei melhor. — Valéria, eu esqueci algo lá no quarto, não saia aqui da última recepção, eu voltarei rapidamente. — Está bem. — deixei a mala com ela, que encostou numa parede e subi com o mesmo elevador. Peguei o meu celular e fiz uma ligação: — Polícia de Guarapuava, boa noite! — É o tenente Almeida. Solicito uma viatura aqui no hotel do centro, subam para o quarto 103, tem alguém que precisam prender, seu nome é Aaron Muniz, um dos homens que denunciei mais cedo. — Certo, Tenente Almeida! Em alguns minutos estarão, aí. — o bom de morar em cidade pequena é isso, aqui muitos me conhecem e esse Aaron vai conhecer agora, já zombou demais com a minha cara. Sorri quando notei que essas portas nunca fecham, agora me seriam úteis. Abri de uma vez e peguei o nojento de saída, todo arrumado, com cara de assustado. — Eu vou te ensinar a ser homem, seu moleque! — meti um soco no estôma
CAPÍTULO 26 Valéria Muniz Achei estranho o fato do Theodoro ter voltado sozinho para o quarto, mas não questionei. O pior foi quando percebi que ele estava demorando, e para completar, senti aquele cheiro de perfume feminino tão familiar... Aquele da mulher que me esbarrou na noite em que encontrei o Théo. “Seria ela?“ — Mas é tonta, mesmo... Sabe que desde a primeira vez que te vi já percebi e não me enganei? — soltei da parede e tentei visualizar o vulto de quem era que estava falando comigo daquele jeito. — Quem é você? Como ousa falar comigo se nem te chamei? — ela bufou. — Cai na real! Eu saquei que está tentando agarrar o Théo, porquê ele me rejeitou, mas não adianta se iludir, ele ama Anelise desde que nasceu e só sai com prostitutas, nunca quis ninguém, não se meta a besta, não... fica feio! Ainda mais uma mulher que não se arruma e ainda por cima é “cega”! — “ele ama Anelise, tanto assim?“ — pensei, mas essa mulher não vai me humilhar. — Deveria cuidar da sua vida, p