CAPÍTULO 12 Valéria Muniz “Cadê a minha bengala? Cadê a bengala?“ Me agarrando nas paredes, fui procurando por ela. O pior é que com esse tenente me agarrando e me beijando, deixei de contar os passos, tenho dúvidas de onde estou, “por Deus, que ninguém tenha visto isso, nem o beijo”. Onde estou? — Val? — era a voz da dona Anelise. — Aqui senhora, peço desculpas, mas acho que me perdi pelo movimento da casa. — Ah, estamos na frente do banheiro do corredor, fique tranquila! — segurou na minha mão. — Ah, obrigada... me dê alguns minutos e estará tudo como antes. — Olha, se caso esqueceu, eu posso te explicar novamente... — De maneira nenhuma, já me lembrei de tudo, volto logo! — entrei apressada no banheiro, fechei a porta e escorreguei no chão, encostada nela. Meu corpo tremia inteiro, aquele tenente me causas muitas coisas, isso não pode voltar a acontecer... Em silêncio comecei a ouvir uma conversa do lado de fora, era dona Anelise e... “ele”. — Também se perde
CAPÍTULO 13 Valéria Muniz — Eu não vou com você, me solta! — ele agora me segurava com as duas mãos, e com uma delas prensava o charuto para me queimar. Eu não podia gritar, se meus patrões vissem eu poderia perder o emprego. Estava com o rosto quase grudado nas grades e temi que quebrasse meus óculos outra vez, só a sua voz já me desestabilizava. — Seu noivo ficou furioso porque você fugiu. Sabe quantas desculpas eu precisei dar? Hein, Valéria? Você vai voltar agora mesmo, comigo. Vai lavar, massagear e beijar os pés dele para tentar conseguir o seu perdão, vai precisar implorar, porque ele até já me adiantou o pagamento! — fiquei em estado de choque. — Como assim, pagamento, Aaron? Eu não sou como as mulheres de lá! Não vou permitir que me venda como escrava para aquele velho, horrível, que já matou esposas de tanto maltratar! Ele soltou as minhas mãos, mas me grudou nas grades pelos cabelos, segurando o hijab. — Você não tem querer! Pegou as minhas joias e vendeu a preços d
CAPÍTULO 14 Valéria Muniz — Valéria? — a doce voz da dona Anelise, me fez perceber que eu não podia me deixar abater, precisaria seguir em frente, chorar não iria resolver. — Sim, senhora! — me ajeitei, disfarçando que havia chorado. — Aconteceu alguma coisa? Tive a impressão de ouvir a voz do Théo. — Bom... ele deu uma passadinha, mas já foi. — levei o rosto para baixo, disfarçando. — Nossa, acho que ele se interessou em você, fico feliz com isso! — sua voz era gentil. — Imagina senhora, ele passou por acaso. — senti uma pontada no peito, ele estava atrás do meu corpo cheio de gorduras, que deve ter achado diferente, só pode. — Não, ele está diferente. Nunca o vi assim. Agora me diga realmente... o que aconteceu? — Tive medo de não contar a verdade, ela poderia ter visto e saberia que não confio nela, então fui forçada a falar: — Meu irmão me encontrou, senhora! — Caramba, aqui? — Sim, e o tenente me ajudou a fazê-lo me deixar em paz, foi iss
CAPÍTULO 15 Theodoro Almeida Depois do incidente na casa Ane, algumas coisas pareceram diferentes. — Mas que porra é essa, aqui? Pô xerife, você tá de sacanagem, né? Todos os recrutas com barbas na cara! — me aproximei dos recrutas, mostrando a quantidade de pelos no rosto de um deles — Olha isso aqui, xerife... tá querendo fazer tranças? Volta com a mamãezinha, zero sete! — olhei do outro lado — XERIFE? — Sim senhor! — bateu continência, respirei fundo. — Por que o treze está com a camiseta amassada? — Ah... — O vinte seis com coturno marcado? Já chega, já chega! Hoje quero todo o mundo pagando abdominal. Duzentas para os recrutas, e o xerife trezentas por não fazer direito o seu trabalho. — acelerei o batalhão, e saí tomar um ar. — Estressado? — Messias perguntou. — Não. Vá ajudar o xerife, soldado Messias! — me olhou assustado e levantou. . Hoje o dia começou bagunçado, as coisas que aconteceram de manhã com a Valéria não saíam da mi
CAPÍTULO 16 Valéria Muniz “Mãezinha me ajuda, o que que eu faço?“ O vento frio me fez envergar a espinha, mas logo depois saltei com uma batida, e fiquei paralisada sem saber o que fazer, então agarrei um objeto que senti no criado e o segurei firme, com todas as minhas forças, acertaria quem quer que fosse. Pela minha experiência em sons, tinha quase certeza de que teria sido a janela, mas demorei para criar coragem e tentar abrir, mas o pior foi ouvir o que ouvi... . “Meu irmão me ofereceu por cinco mil dólares?“ “O homem que eu amo não me quer como esposa?“ “Então, porque vai pagar?“ “Não posso viver como prostituta daquele tenente, terei que fugir novamente?“ . Quando ouvi os barulhos de pneus de carro eu me afastei de lá. Me abaixei apressada procurando os óculos, e quando encontrei peguei o bebê no colo saindo do quarto. Acendi as luzes da casa e chamei os patrões, disse apenas que bateram na janela, e o senhor Vicente saiu feito
CAPÍTULO 17 Theodoro Almeida Mal consegui dormir, passei a noite pensando no que havia feito, e de manhã, fui até o endereço do cartão. Verifiquei a minha arma, mesmo não estando fardado, a usaria se fosse necessário. A minha respiração estava pesada, olhei no relógio e vi que faltava um tempo, quando vi um táxi chegando, já desci do carro com a mão na arma; o velho que comprou Valéria não estava. — E, então? Como resolvemos isso? — perguntei parando à sua frente, numa posição ameaçadora, cruzando os braços e o encarando. — Você está certo do que quer? Vai casar e se responsabilizar pela cega? — Mais respeito com a Valéria, ou eu terei que voltar a te mostrar como faço para ensinar babacas a respeitarem as pessoas! — me aproximei apontando a arma e ele se afastou. — Tá, tá certo! Agora vamos falar da “Valéria”, de uma vez! Trouxe um pequeno contrato, quer ler? — guardei a arma, olhei para os lados. — Não vou assinar nada, você é homem ou não
CAPÍTULO 18 Aaron Muniz (Momentos antes) Ainda bem que tive tempo de apagar o áudio que enviei a Ezequiel, ele não pode nem sonhar que a cega foi vendida para outro, isso é coisa minha. Aguardando na linha, me faço de bobo com um dos seus agentes: — É isso mesmo que ouviu, não vou mais vender a minha irmã, vou cuidar dela! — ele ficou em silêncio alguns segundos e resmungou, então conversou com Ezequiel, sem se importar que ainda estava na linha. O velho é tão filho da puta que nem se dá ao trabalho de atender a ligação, tudo é negociado e resolvido com os seus agentes. — Ezequiel perguntou se tem certeza disso? Porquê se ficar sabendo que vendeu a mercadoria dele pra outro, você se lasca, entendeu? — Não, tudo certo. Pode confiar. Eu desisti de vender, vou cuidar da irmã, certo? — Ok. — desligou sem perguntar mais nada, nem vou enviar o dinheiro, depois invento uma desculpa, até porque, a metade do dinheiro é meu, já que cobrei o dobro do policialzinho. . Theodor
CAPÍTULO 19 Valéria Muniz A dona Maria abriu a porta da casa, e por mais que eu quisesse ficar sozinha e chorar, não pude. — Menina, o que está acontecendo? Será que posso te ajudar? — senti as suas mãos quentinhas e o cheirinho do Samuel perto de mim. Logo suas mãozinhas bateram no meu ombro e o abracei forte, sendo amparada por Dona Maria. — A minha vida não é nada fácil, dona Maria! Eu só queria não precisar chorar mais, sabe? — senti uma lágrima boba, mais que depressa senti a carícia dela limpando com delicadeza, senti vontade de tocar no rosto dela e conhecer os seus traços, mas não me atrevi. — Entre criança! Vem, senta aqui no sofá e me conta tudo o que está acontecendo. Estamos sozinhas, não tenho pressa, e o Samuel está quase dormindo. — foi me levando até o sofá e acho que nunca me senti tão bem amparada na vida. A última vez foi quando a minha mãe ainda estava viva. Sentei no sofá e ela arrumou as almofadas, Samuel deitou sobre mim e ficou mexendo os dedinhos