EZRA D'ARTAGNANO tempo parecia se arrastar enquanto eu permanecia sentado na poltrona, a escuridão da noite lá fora começando a envolver a casa. A única fonte de luz era o outro cigarro que eu mantinha entre os dedos, sua brasa brilhando no ritmo das tragadas que eu dava, cada uma acompanhada por uma exalação lenta de fumaça, mesmo que a raiva e a frustração continuassem a arder silenciosamente dentro de mim.Os acontecimentos recentes tinham me deixado em um estado de alerta constante, mas eu não permitia que isso transparecesse. O mundo ao meu redor podia estar desmoronando, mas eu estava determinado a manter o controle.A porta da sala se abriu suavemente, interrompendo meus pensamentos. Não precisei olhar para saber que era Jonathan. Ele entrou com passos firmes, mas havia algo diferente em seu semblante. Seu rosto estava duro, mais sombrio do que o habitual, como se estivesse carregando o peso de uma notícia que preferia não ter que dar.Eu tirei o cigarro da boca, a ponta ainda
PENÉLOPE VERONESIO tempo parecia se estender indefinidamente, e eu mal conseguia dizer quantas horas haviam passado desde que me colocaram no porta-malas. Cada minuto era um tormento, e o espaço apertado fazia meu estômago revirar. O enjoo se misturava com o medo, criando uma combinação que eu nunca havia experimentado antes. O pior de tudo era o silêncio.O silêncio opressor que só era quebrado pelo som abafado do motor e pela minha própria respiração acelerada.De repente, depois do que pareceram várias e várias horas, o carro começou a desacelerar. Meu coração disparou, batendo tão forte que eu podia senti-lo no peito. A única coisa que eu conseguia ouvir era minha própria respiração, cada vez mais rápida, mais irregular. Então, o carro parou completamente. Tudo ficou quieto, exceto pelo som do meu corpo tremendo.Segundos se passaram. O som da porta do porta-malas sendo aberta me fez prender a respiração. A luz fraca da noite misturado com outra luz branca, invadiu o espaço peque
PENÉLOPE VERONESIO automóvel finalmente parou, e eu senti um frio intenso percorrer minha espinha. Os vidros escurecidos me impediam de ver o que estava lá fora, mas eu sabia que nada de bom me esperava. O silêncio dentro do carro era opressor, como se o próprio veículo estivesse tentando me avisar do perigo que estava por vir.Salvatore saiu primeiro, e eu o ouvi dando ordens, mas não conseguia entender claramente o que ele dizia. De repente, a porta ao meu lado foi aberta, e um homem grande e musculoso agarrou meu braço com força. Um grito de dor escapou dos meus lábios antes que eu pudesse contê-lo. A dor era aguda, irradiando pelo meu braço como se ele estivesse prestes a se partir.Salvatore, em um tom brincalhão que só aumentou meu desprezo por ele, comentou: — Seja gentil com a nossa convidada, por favor. — Havia um sarcasmo cruel em sua voz, como se ele estivesse se divertindo com a minha dor, com o meu terror. O homem que segurava meu braço não aliviou a pressão, e eu fui a
PENÉLOPE VERONESIA escuridão do quarto onde fui trancada era absoluta, opressiva, como se o próprio ar estivesse se fechando ao meu redor. As paredes pareciam se aproximar lentamente, sufocando qualquer esperança de fuga. O tempo, um conceito que antes se dividia em horas e minutos, agora era uma massa indistinta, um vazio sem forma. O frio do chão de concreto penetrava nos ossos, um frio que não era apenas físico, mas também uma presença constante que invadia a mente, corroendo-a lentamente.Na primeira noite, ouvi os passos ecoando do lado de fora antes de ver qualquer coisa. A porta rangeu ao ser aberta, e meu corpo inteiro enrijeceu. Sombras de homens entraram, suas silhuetas apenas contornos nebulosos contra a escuridão. Minha respiração ficou presa na garganta, e um pavor paralisante tomou conta de mim. Eu sabia o que eles queriam, ou pelo menos achava que sabia. Cada músculo do meu corpo gritava para lutar, para resistir, mas o terror me mantinha imóvel, como uma presa diante
PENÉLOPE VERONESIA primeira sensação que tomou conta de mim foi a do tecido áspero contra a pele nua. Depois de dias imersa no escuro, o simples contato me pareceu surreal, como se estivesse entre a vigília e o sono. Um toque suave, quase hesitante, percorreu meu corpo exausto. Minha mente, há muito tempo perdida no caos, começou a registrar o que estava acontecendo. Eu estava sendo levantada, carregada, envolta em algo que, por mais frágil que fosse, ainda assim me cobria. Não era mais o frio úmido das correntes contra minha pele; era uma espécie de misericórdia que eu já não esperava.Minhas pálpebras pesavam como chumbo, e minha visão se recusava a focar, mas, por um breve momento, meus olhos entreabertos captaram a figura de quem me segurava. Jonathan. A mente, entorpecida pela fome e pela sede, mal conseguia processar o alívio ou a confusão. Jonathan... Ezra... as palavras rodopiavam em minha cabeça, desconexas, perdidas em um mar de incertezas. Mas ele estava lá, me carregando
EZRA D'ARTAGNANA noite estava fria, mas o interior da mansão de Enok D'Artagnan estava iluminado e aquecido, como se fosse um refúgio do mundo exterior. No entanto, eu sabia que o calor e a luz que preenchiam aquela casa eram ilusórios. O verdadeiro clima dentro daquelas paredes era muito mais sombrio, muito mais próximo do que eu estava prestes a trazer.Quando a porta da mansão se abriu, eu entrei, seguido por mais de cem homens armados, cada um deles preparado para fazer o que fosse necessário. Ao meu lado, minha mãe, Nomikos D'Artagnan, mantinha a postura ereta, seu olhar calculista e um sorriso no rosto, mostrando que sabia tudo o que estava prestes a acontecer.A música parou quase instantaneamente quando entramos. O salão, que antes estava cheio de risos e conversas, caiu em um silêncio carregado de tensão.As pessoas, muitas delas influentes, olhavam para nós com uma mistura de intriga pelo modo abrupto que se entrou.Eles sabiam quem eu era, sabiam o que minha presença signi
EZRA D'ARTAGNANSeis dias após a execução de Enok D'Artagnan03h:12mA madrugada estava escura e silenciosa, o tipo de noite em que os predadores se movem sem serem percebidos. Eu estava sentado no carro, a janela levemente abaixada para que o ar frio da madrugada entrasse. A fumaça do meu cigarro se misturava com a névoa que pairava sobre a estrada deserta.O motor do carro estava desligado, e o silêncio ao meu redor era quebrado apenas pelo som suave da minha respiração e pelo farfalhar das árvores ao vento.Já haviam se passado seis dias desde que Enok havia caído diante de mim, sua vida terminando com um único tiro. Seis dias desde o desaparecimento de Penélope, e seis dias desde que o submundo começou a tremer com a certeza de que eu não estava dando espaço para brincadeiras. O movimento e as discussões entre as famílias e os aliados eram inevitáveis, mas o que realmente importava era o fato de que eu havia solidificado minha posição. Eu era o chefe agora, indiscutível, inquestio
EZRA D'ARTAGNANTrês dias depois da morte de Sara Kuznastov06h:44mA luz suave do amanhecer começava a iluminar o horizonte, mas dentro do armazém onde eu estava, a escuridão reinava absolutamente. A morte de Sara havia surtido o efeito desejado. Salvatore havia finalmente se revelado. Depois de dias se escondendo como um rato, foi forçado a sair de seu buraco.Ele havia caído exatamente onde eu queria, e agora, estava aqui, amarrado a uma cadeira de metal no centro de um armazém abandonado, sem saída, sem esperança.O silêncio no armazém era quase palpável. Os únicos sons eram o zumbido baixo de lâmpadas fluorescentes piscando acima de nós e a respiração pesada e irregular de Salvatore. Ele estava amarrado firmemente, suas mãos e pés presos com cordas que cortavam sua carne a cada tentativa de movimento. Eu o observava em silêncio, as sombras dançando ao meu redor enquanto me movia de um lado para o outro.Salvatore estava em péssimas condições, mas isso não era surpresa. A última s