PENÉLOPE VERONESIA primeira sensação que tomou conta de mim foi a do tecido áspero contra a pele nua. Depois de dias imersa no escuro, o simples contato me pareceu surreal, como se estivesse entre a vigília e o sono. Um toque suave, quase hesitante, percorreu meu corpo exausto. Minha mente, há muito tempo perdida no caos, começou a registrar o que estava acontecendo. Eu estava sendo levantada, carregada, envolta em algo que, por mais frágil que fosse, ainda assim me cobria. Não era mais o frio úmido das correntes contra minha pele; era uma espécie de misericórdia que eu já não esperava.Minhas pálpebras pesavam como chumbo, e minha visão se recusava a focar, mas, por um breve momento, meus olhos entreabertos captaram a figura de quem me segurava. Jonathan. A mente, entorpecida pela fome e pela sede, mal conseguia processar o alívio ou a confusão. Jonathan... Ezra... as palavras rodopiavam em minha cabeça, desconexas, perdidas em um mar de incertezas. Mas ele estava lá, me carregando
EZRA D'ARTAGNANA noite estava fria, mas o interior da mansão de Enok D'Artagnan estava iluminado e aquecido, como se fosse um refúgio do mundo exterior. No entanto, eu sabia que o calor e a luz que preenchiam aquela casa eram ilusórios. O verdadeiro clima dentro daquelas paredes era muito mais sombrio, muito mais próximo do que eu estava prestes a trazer.Quando a porta da mansão se abriu, eu entrei, seguido por mais de cem homens armados, cada um deles preparado para fazer o que fosse necessário. Ao meu lado, minha mãe, Nomikos D'Artagnan, mantinha a postura ereta, seu olhar calculista e um sorriso no rosto, mostrando que sabia tudo o que estava prestes a acontecer.A música parou quase instantaneamente quando entramos. O salão, que antes estava cheio de risos e conversas, caiu em um silêncio carregado de tensão.As pessoas, muitas delas influentes, olhavam para nós com uma mistura de intriga pelo modo abrupto que se entrou.Eles sabiam quem eu era, sabiam o que minha presença signi
EZRA D'ARTAGNANSeis dias após a execução de Enok D'Artagnan03h:12mA madrugada estava escura e silenciosa, o tipo de noite em que os predadores se movem sem serem percebidos. Eu estava sentado no carro, a janela levemente abaixada para que o ar frio da madrugada entrasse. A fumaça do meu cigarro se misturava com a névoa que pairava sobre a estrada deserta.O motor do carro estava desligado, e o silêncio ao meu redor era quebrado apenas pelo som suave da minha respiração e pelo farfalhar das árvores ao vento.Já haviam se passado seis dias desde que Enok havia caído diante de mim, sua vida terminando com um único tiro. Seis dias desde o desaparecimento de Penélope, e seis dias desde que o submundo começou a tremer com a certeza de que eu não estava dando espaço para brincadeiras. O movimento e as discussões entre as famílias e os aliados eram inevitáveis, mas o que realmente importava era o fato de que eu havia solidificado minha posição. Eu era o chefe agora, indiscutível, inquestio
EZRA D'ARTAGNANTrês dias depois da morte de Sara Kuznastov06h:44mA luz suave do amanhecer começava a iluminar o horizonte, mas dentro do armazém onde eu estava, a escuridão reinava absolutamente. A morte de Sara havia surtido o efeito desejado. Salvatore havia finalmente se revelado. Depois de dias se escondendo como um rato, foi forçado a sair de seu buraco.Ele havia caído exatamente onde eu queria, e agora, estava aqui, amarrado a uma cadeira de metal no centro de um armazém abandonado, sem saída, sem esperança.O silêncio no armazém era quase palpável. Os únicos sons eram o zumbido baixo de lâmpadas fluorescentes piscando acima de nós e a respiração pesada e irregular de Salvatore. Ele estava amarrado firmemente, suas mãos e pés presos com cordas que cortavam sua carne a cada tentativa de movimento. Eu o observava em silêncio, as sombras dançando ao meu redor enquanto me movia de um lado para o outro.Salvatore estava em péssimas condições, mas isso não era surpresa. A última s
EZRA D'ARTAGNANAlguns dias antes da morte de Salvatore03h:00mDentro do escritório, iluminado apenas por uma lâmpada de mesa, eu me encontrava sentado em uma cadeira de couro, a mente afiada e os pensamentos vagando entre um e outro. Nomikos, estava ao meu lado, a expressão quase séria. Jonathan estava em pé, perto da janela, observando as sombras lá fora enquanto esperava por minha ordem. da, algo que estávamos acostumados a manipular.Nos últimos dias, o mundo de Salvatore havia começado a desmoronar, e tudo o que restava agora era dar o golpe final. O plano para derrubá-lo estava em movimento, cada peça do quebra-cabeça encaixada perfeitamente, cada detalhe meticulosamente planejado. Mas antes de Salvatore ser destruído, era necessário garantir que seus próprios aliados o traíssem, que aqueles em quem ele confiava o entregassem a mim sem hesitação. E para isso, precisaríamos jogar um jogo muito mais sombrio e complexo.Minha mãe, Nomikos havia orquestrado muitos dos movimentos qu
EZRA D'ARTAGNANTrês dias se passaram desde que Salvatore encontrou seu fim nas chamas que eu mesmo havia acendido. O mundo ao meu redor estava mudando rapidamente, como sempre acontecia após um movimento decisivo. As sombras se ajustavam, as peças se reposicionavam, mas eu estava no controle.Mas havia uma peça ainda fora do lugar, algo que não me deixava descansar. Penélope. Ela ainda estava lá fora, em algum lugar, e a incerteza sobre seu destino era uma ferida aberta que eu não conseguia ignorar.Jonathan e eu tínhamos trabalhado sem parar nos últimos três dias, rastreando cada possível localização, seguindo cada pista, por menor que fosse. Eu não podia permitir que ela permanecesse fora do meu alcance por mais tempo. A cada hora que passava, a necessidade de encontrá-la se tornava mais urgente, mais intensa.E então, finalmente, Jonathan entrou no escritório onde eu estava, o semblante duro como sempre, mas havia algo diferente em seu olhar, algo que eu não via há dias. Ele segur
EZRA D'ARTAGNANO salão de jantar estava preparado para receber os convidados, todos os antigos aliados que, durante anos, caminharam ao lado de Salvatore. Agora, eles estavam reunidos sob meu teto, não por escolha, mas porque sabiam que o poder havia mudado de mãos. Eles estavam ali para me ouvir, para prestar contas, para se submeter ao novo comando.Entrei no salão com passos firmes, o som dos meus sapatos ecoando pelo chão de mármore polido. Os 200 homens e mulheres presentes se levantaram à minha entrada, o silêncio pesado no ar. Cada olhar estava fixo em mim, mas eu podia sentir a tensão oculta por trás de suas expressões educadas.E eu gostava disso.Gostava de ter o controle absoluto da situação, de ver o medo disfarçado em seus olhos, mesmo enquanto tentavam manter a compostura.Me aproximei da cabeceira da longa mesa, minha mãe, Nomikos, estava sentada ao meu lado. Ela era a verdadeira matriarca, o poder por trás do poder. Quando me sentei, os outros seguiram o exemplo, suas
EZRA D'ARTAGNANCinco meses. Cinco longos meses desde que eu a resgatei das garras de Salvatore. Desde aquele dia, Penélope havia permanecido no hospital, sua vida pendurada por um fio, e eu, todos os dias, fazia questão de estar ao lado dela. Não importava quantas reuniões precisassem ser adiadas, quantos negócios necessitassem de minha atenção. Nada importava além dela.Flores. Elas se tornaram uma rotina, quase um ritual para mim. Comecei com as flores comuns na Grécia— rosas, lírios, e jasmins, que logo passaram a encher o quarto dela com seus aromas suaves. Mas conforme os dias se transformavam em semanas, e as semanas em meses, comecei a buscar mais.Orquídeas raras, tulipas negras da Holanda, até flores exóticas do outro lado do continente. Cada uma delas era escolhida com cuidado, como se, de alguma forma, a beleza e a vida dessas flores pudessem transmitir algo para Penélope, puxá-la de volta para o mundo dos vivos.Toda vez que entrava naquele quarto, o cheiro das flores era