Diário de Joha Dark

México, 1980

Eu não consigo, eu nunca consigo chamar a polícia. Hoje ele veio, tentei falar com ele lhe perguntando o que ele queria. Mas ele não respondeu. Ele demorou um pouco mais hoje, mas não disse nada.

Eu tive a impressão de que ele queria vir até mim, mas vi que ele hesitou, apertou os punhos e parecia que usava muita força. Parecia lutar consigo mesmo para não vir até mim.

Ou será que ele não gosta de mim? Será que eu lhe fiz algo que eu não me lembro? Eu estou ficando maluca, fico horas olhando pela janela esperando que ele venha, mas a cada dia que passa, ele demora mais para aparecer.

Eu estou mesmo ficando maluca. Mas não consigo parar, já me esforcei e tentei tantas vezes ignorá-lo, mas sempre volto para aquela janela à procura dele.

Estou pensando em tanta coisa que eu já nem sei mais. Será que ele é surdo? Ou é um psicopata!? Psicopatas devem analisar as suas vítimas antes de matá-las.

Mas nenhuma das características que eu encontrei na internet indicam que ele seja um psicopata. Ele é obcecado por mim? Sinto borboletas na barriga por pensar nisso, mas eu não quero me iludir. Eu nunca tive um amor, e agora estou alucinando por um louco que eu nem sei o nome e que é meu perseguidor.

Mas percebi que amar dói, amar destrói antes de matar. Eu não sei como chamar atenção dele para que ele fale comigo.

fim

POV ANNIE:

—iiiii... Você não vai acreditar no que eu consegui. — diz minha irmã, quase me deixando surda, entrando no meu quarto.

Deixo o diário da minha bisavó na minha caixinha, trancando-a.

— Vai, diz. — digo com preguiça. Hoje eu não acordei de bom humor e estou com muita preguiça. Não me julguem.

— Eu. Consegui. Dois. Bilhetes. Para. A festa. Dos meninos. Da próxima sexta-feira. — diz pausadamente, sorrindo de orelha a orelha.

— hei... Tô tão feliz. Até esqueci que estou de castigo. — digo ironicamente, fingindo um sorriso.

Ela senta ao meu lado na cama.

— Vamos lá, Annie. Não finge ser uma menina certinha, que a gente já fez isso antes.

— Eu não estou animada para isso, eu tenho muita coisa para fazer.

— Você está falando sobre a competição para ser cheerleader!? Você é a melhor e vais conseguir com certeza. Vamos lá, Annie.

— Eu disse não!!!

— Ouvi dizer que o novato estará lá!

— Sério?? — disse, mostrando interesse.

— Sim!

— Aceito o segundo bilhete. — digo sorrindo travessa, levando o bilhete das mãos dela.

Me levanto da cama e fico olhando para o bilhete em minhas mãos.

— Que tal a gente ir às compras? Eu acho que a minha roupa está ultrapassada e eu já usei quase tudo o que eu tenho. — me viro, ficando de cara com a minha irmã, que ainda está sentada na cama.

— Claro que sim, até podemos levar os pais para fazermos compras em família. — disse minha irmã ironicamente. Acho que é uma coisa de família o deboche em nós. — Esqueceu que estamos de castigo!?

— Não é como se não tivéssemos feito isso antes. — uso as palavras dela contra ela.

Ela revira os olhos e respira fundo antes de ceder.

— Tá bom!

— Na segunda, depois das aulas, a gente vai. - Eu declaro.

Minha irmã me ouvia em silêncio enquanto eu falava dos tipos de vestidos em que eu me imaginava neles.

O final de semana passou lentamente, mas não me desmotivou dos meus planos. Eu tinha 4 dias para conseguir meu vestido lindo e organizar o meu cabelo sem que os meus pais saibam.

Na segunda, no meio das aulas, decidi esperar o professor de matemática entrar e pedi para sair. Eu queria ver o novato de novo.

Fui à turma dele e nenhum professor estava. Graças ao Steve, sei a turma dele. Procurei por ele na turma dele até que vi Samanta vindo em minha direção.

— Está procurando alguém? — ela perguntou. Ela tem um sorriso simples e cabelos ruivos.

— No outro dia, eu vi que vocês tinham um aluno novo aqui. E eu, como vou competir para líder de torcida, quero conhecer todos os jogadores de futebol americano. — menti, com um sorriso falso e me fazendo de sonsa.

Ela me olhou com cara de quem já sabia que eu estava mentindo.

— Entendi! — ela se aproxima mais de mim e diz baixinho — Você também gosta dele?

— Como assim também?

— Annie, acorda. O cara é até muito bonito, mas acho que é o maior mulherengo que eu conheço. Quer um conselho, amiga? Desiste dele. É um idiota.

— Você também gosta dele?

— Isso não tem nada a ver.

— Está bem. Eu vou considerar o seu conselho. Obrigada.

— De nada.

Me despeço dela e saio da sala. Eu deveria desistir? Talvez. Mas eu ainda vou à festa dos meninos. Talvez ela esteja com ciúmes por mais uma gostar dele.

Caminho pelo corredor indo em direção ao andar de baixo, onde se encontra a minha sala de aulas. Mas logo que passo pela sala de materiais de limpeza, sou arrastada para dentro. O garoto de óculos tapa a minha boca e, antes que eu chutasse as suas partes, ele me vira para mais perto dele, ficando de costas para ele e com os nossos corpos colados um ao outro.

— É tempo de aulas, a diretora está fazendo vistorias para ver quem participa ou não das aulas. — ele sussurra em meu ouvido.

Pela fresta da porta, vejo a diretora carregando algumas pastas e sendo seguida por quatro alunos.

— Você é de que ano? — ele me pergunta.

— 3º ano!

— Então, no próximo ano estarás no último?

— Provavelmente. E você?

— Estou no meu último ano.

— Você não parece o tipo de cara que faz coisa errada. O que você faz aqui?

— E o que você faz aqui? Que eu saiba, sua turma está em aula.

— Eu perguntei primeiro...

Antes que eu pudesse terminar as minhas palavras, o idiota me corta

— Vamos! Ela já foi.

Eu não queria levar suspensão ou ter que chamar os meus pais, já tinha problemas demais.

Ele vai para o corredor oposto ao meu. Desço as escadas e rapidamente entro na sala de aulas.