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Capítulo 4 – Palavras entre Mordidas

O silêncio entre eles era espesso, quase palpável.

Não um silêncio comum, mas um carregado de tensão e perguntas não ditas.

Amélia continuou comendo, cada mordida trazendo uma avalanche de sentimentos confusos. O medo ainda estava ali, enraizado em seu peito como um espinho que se recusava a sair. Mas a fome era mais forte, e ela não desperdiçaria aquela oportunidade.

Cada pedaço de pão que mastigava parecia dissolver um pouco da rigidez em seus músculos. A sensação de comida quente no estômago era algo que ela não sentia há muito tempo. Era quase estranho.

Mas a presença de Damian impedia que relaxasse completamente.

Ele permanecia parado perto da porta, os braços cruzados sobre o peito largo, observando-a com um olhar indecifrável.

Não parecia apressado, nem impaciente. Apenas… atento.

Ela não sabia dizer se isso era melhor ou pior.

Depois de alguns instantes, ele finalmente falou:

— Há quanto tempo você estava sozinha?

O som de sua voz quebrou o silêncio como uma pedra atirada em um lago.

Amélia não ergueu os olhos. Mastigou devagar, engoliu e respondeu apenas o necessário:

— Tempo suficiente.

Damian arqueou uma sobrancelha, mas não pressionou.

Ela sabia que ele queria mais. Talvez esperasse que ela se abrisse, que contasse sobre os dias intermináveis na floresta, sobre o frio cortante das noites de inverno, sobre a solidão sufocante. Mas ela não lhe daria isso.

Ele não precisava saber que, às vezes, o pior não era a fome ou o medo dos predadores — mas sim o silêncio. Um silêncio real, absoluto, que fazia parecer que ela era a única pessoa viva no mundo.

Damian permaneceu calado por um instante, como se considerasse suas palavras.

Então, perguntou:

— Como sobreviveu na floresta?

Amélia hesitou. Não queria contar sobre os anos de frio, fome e medo. Sobre as noites em que dormira encolhida em cavernas úmidas ou os dias em que se alimentara de raízes e frutas que mal conhecia.

Não queria que ele a visse como alguém fraca.

— Aprendi a caçar. — Sua voz saiu mais firme do que esperava.

Os olhos de Damian brilharam com algo parecido com interesse.

— Caçar? Sozinha?

Amélia assentiu.

— Com o quê?

Ela limpou os dedos no guardanapo de linho antes de responder:

— Armadilhas. Faca. Às vezes, apenas com as mãos.

Um silêncio carregado se instalou.

Por um momento, ela se perguntou se deveria ter falado tanto. Talvez ele estivesse tentando medir suas habilidades. Descobrir se era uma ameaça ou apenas uma garota perdida que ele poderia controlar.

Mas então, para sua surpresa, Damian sorriu.

Não um sorriso debochado ou cruel. Havia algo genuíno ali. Algo que ela não soube interpretar.

— Impressionante.

Ela piscou, sem saber como reagir.

Ele estava zombando dela? A testando?

Ou será que… realmente a admirava por isso?

A ideia a desconcertou.

Damian deu um passo à frente, apoiando-se casualmente contra a mesa. Seu cheiro — um misto de madeira, terra e algo levemente amadeirado — invadiu o espaço entre eles.

Era uma presença firme, inegável. Ele parecia estar sempre no controle, sempre um passo à frente.

— Você acha que eu vou te machucar, não é?

A pergunta fez os dedos de Amélia apertarem a borda do prato.

Ela sentiu o próprio corpo enrijecer, como um animal encurralado.

Ele estava certo, é claro.

Ela não confiava nele. Como poderia?

Mas se havia algo que aprendera ao longo dos anos, era que mostrar medo demais podia ser perigoso.

Então, respirou fundo e respondeu com a maior honestidade que conseguiu reunir:

— Eu não sei o que pensar de você.

Damian inclinou a cabeça levemente, como se estivesse avaliando suas palavras.

Por um longo momento, ele apenas a observou. Seus olhos escuros carregavam algo indecifrável — algo que a deixava inquieta.

Então, um meio sorriso surgiu em seus lábios.

— Bom — ele disse, com um tom quase divertido. — Acho que prefiro assim.

E, sem mais explicações, virou-se e saiu do quarto.

A porta se fechou atrás dele com um som suave, deixando Amélia sozinha com sua refeição e uma confusão de pensamentos.

Seu coração ainda batia acelerado, como se tivesse acabado de escapar de algo.

Ela olhou para a comida à sua frente, mas, de repente, não sentia mais tanta fome.

O que Damian queria dela?

Essa pergunta ecoou em sua mente, como um segredo prestes a ser revelado.

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