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Capítulo 6 - O Jardim Escondido

O encontro com o Alfa ainda pairava na mente de Amélia como uma sombra persistente. Mesmo depois que ele desapareceu pelo corredor, deixando para trás um rastro de tensão e perguntas sem respostas, ela permaneceu imóvel por um longo instante.

O que ele quis dizer com aquilo? "Espero que saiba no que está se metendo."

A frase ecoava em sua mente, carregada de advertência e algo mais… algo que ela não conseguia definir. Mas ficar parada remoendo palavras não a levaria a lugar nenhum. Inspirando fundo, afastou as dúvidas e retomou sua caminhada.

Ainda não conhecia os limites daquela casa imensa, e algo dentro dela queimava de curiosidade. Seu instinto dizia que, por trás das paredes de pedra e dos olhares desconfiados da matilha, havia segredos esperando para serem descobertos.

Ela seguiu explorando.

Os corredores pareciam se estender infinitamente, alguns estreitos e escuros, outros amplos e iluminados por janelas altas. Ocasionalmente, ela encontrava uma sala abandonada ou uma passagem oculta entre as estantes de livros. Mas, após tanto caminhar, o que realmente chamou sua atenção foi uma porta dupla no fim de um corredor silencioso.

Era diferente das outras. Mais antiga, talvez. Entreaberta, como se a estivesse convidando a entrar.

Amélia hesitou por um momento antes de empurrá-la.

E então, ela viu.

O ar parecia mais puro ali. O cheiro dos lobos foi substituído por um aroma floral suave, misturado ao frescor da terra úmida. Um vento leve acariciou seu rosto quando ela deu o primeiro passo para dentro do lugar.

Era um jardim.

Mas não um jardim comum.

A luz do sol filtrava-se por uma copa densa de árvores, criando reflexos dourados que dançavam pelo chão coberto de folhas. Havia flores por toda parte, em cores e formatos que ela jamais havia visto antes. Algumas pareciam brilhar suavemente sob a luz, outras tinham pétalas tão delicadas que tremulavam ao menor movimento do vento.

Ela avançou devagar, maravilhada. Cada flor era única, cada aroma despertava algo novo dentro dela. Algumas exalavam um perfume adocicado e acolhedor, enquanto outras tinham um cheiro fresco e revigorante, como se pudessem limpar sua mente de qualquer preocupação.

Amélia se abaixou para tocar uma delas, sentindo a maciez inesperada das pétalas.

Como algo tão perfeito poderia existir aqui, escondido dentro do território da matilha?

Mais adiante, ela encontrou um pomar.

Macieiras, pereiras, pessegueiros… e muitas outras árvores frutíferas que ela não conseguia reconhecer. Os galhos estavam carregados de frutos maduros, brilhando sob a luz do sol como joias vivas. Ela estendeu a mão e pegou uma maçã avermelhada, sentindo seu peso na palma da mão antes de dar uma mordida hesitante.

O sabor era doce, suculento, diferente de qualquer outra fruta que já havia provado antes.

Ela riu baixinho para si mesma.

Por um instante, esqueceu-se de Damian, do Alfa, da matilha e de qualquer perigo que pudesse estar à espreita. Ali, naquele jardim, ela não era uma prisioneira. Era apenas uma garota cercada por beleza e silêncio, um lugar onde o tempo parecia desacelerar.

O dia passou sem que ela percebesse.

Caminhou entre as árvores, sentindo o cheiro das folhas e o som suave dos passarinhos escondidos entre os galhos. Colheu algumas frutas, experimentando cada uma com curiosidade. Sentiu a brisa fresca acariciar sua pele, trazendo consigo o cheiro do orvalho que começava a se formar.

E então, quando o cansaço finalmente a alcançou, ela encontrou um refúgio sob uma macieira.

O tronco grosso e firme oferecia o apoio perfeito, e a grama sob seus pés era macia como um colchão natural. Encostando-se ali, com o aroma doce das maçãs ao seu redor, seus olhos começaram a pesar.

Ela tentou se manter acordada. Tentou lembrar-se de que ainda estava em território inimigo, que deveria estar alerta. Mas o cansaço e a serenidade do lugar foram mais fortes.

Seu corpo relaxou.

Seus olhos se fecharam.

E, pela primeira vez em muito tempo, Amélia adormeceu sem medo.

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