O encontro com o Alfa ainda pairava na mente de Amélia como uma sombra persistente. Mesmo depois que ele desapareceu pelo corredor, deixando para trás um rastro de tensão e perguntas sem respostas, ela permaneceu imóvel por um longo instante.
O que ele quis dizer com aquilo? "Espero que saiba no que está se metendo." A frase ecoava em sua mente, carregada de advertência e algo mais… algo que ela não conseguia definir. Mas ficar parada remoendo palavras não a levaria a lugar nenhum. Inspirando fundo, afastou as dúvidas e retomou sua caminhada. Ainda não conhecia os limites daquela casa imensa, e algo dentro dela queimava de curiosidade. Seu instinto dizia que, por trás das paredes de pedra e dos olhares desconfiados da matilha, havia segredos esperando para serem descobertos. Ela seguiu explorando. Os corredores pareciam se estender infinitamente, alguns estreitos e escuros, outros amplos e iluminados por janelas altas. Ocasionalmente, ela encontrava uma sala abandonada ou uma passagem oculta entre as estantes de livros. Mas, após tanto caminhar, o que realmente chamou sua atenção foi uma porta dupla no fim de um corredor silencioso. Era diferente das outras. Mais antiga, talvez. Entreaberta, como se a estivesse convidando a entrar. Amélia hesitou por um momento antes de empurrá-la. E então, ela viu. O ar parecia mais puro ali. O cheiro dos lobos foi substituído por um aroma floral suave, misturado ao frescor da terra úmida. Um vento leve acariciou seu rosto quando ela deu o primeiro passo para dentro do lugar. Era um jardim. Mas não um jardim comum. A luz do sol filtrava-se por uma copa densa de árvores, criando reflexos dourados que dançavam pelo chão coberto de folhas. Havia flores por toda parte, em cores e formatos que ela jamais havia visto antes. Algumas pareciam brilhar suavemente sob a luz, outras tinham pétalas tão delicadas que tremulavam ao menor movimento do vento. Ela avançou devagar, maravilhada. Cada flor era única, cada aroma despertava algo novo dentro dela. Algumas exalavam um perfume adocicado e acolhedor, enquanto outras tinham um cheiro fresco e revigorante, como se pudessem limpar sua mente de qualquer preocupação. Amélia se abaixou para tocar uma delas, sentindo a maciez inesperada das pétalas. Como algo tão perfeito poderia existir aqui, escondido dentro do território da matilha? Mais adiante, ela encontrou um pomar. Macieiras, pereiras, pessegueiros… e muitas outras árvores frutíferas que ela não conseguia reconhecer. Os galhos estavam carregados de frutos maduros, brilhando sob a luz do sol como joias vivas. Ela estendeu a mão e pegou uma maçã avermelhada, sentindo seu peso na palma da mão antes de dar uma mordida hesitante. O sabor era doce, suculento, diferente de qualquer outra fruta que já havia provado antes. Ela riu baixinho para si mesma. Por um instante, esqueceu-se de Damian, do Alfa, da matilha e de qualquer perigo que pudesse estar à espreita. Ali, naquele jardim, ela não era uma prisioneira. Era apenas uma garota cercada por beleza e silêncio, um lugar onde o tempo parecia desacelerar. O dia passou sem que ela percebesse. Caminhou entre as árvores, sentindo o cheiro das folhas e o som suave dos passarinhos escondidos entre os galhos. Colheu algumas frutas, experimentando cada uma com curiosidade. Sentiu a brisa fresca acariciar sua pele, trazendo consigo o cheiro do orvalho que começava a se formar. E então, quando o cansaço finalmente a alcançou, ela encontrou um refúgio sob uma macieira. O tronco grosso e firme oferecia o apoio perfeito, e a grama sob seus pés era macia como um colchão natural. Encostando-se ali, com o aroma doce das maçãs ao seu redor, seus olhos começaram a pesar. Ela tentou se manter acordada. Tentou lembrar-se de que ainda estava em território inimigo, que deveria estar alerta. Mas o cansaço e a serenidade do lugar foram mais fortes. Seu corpo relaxou. Seus olhos se fecharam. E, pela primeira vez em muito tempo, Amélia adormeceu sem medo.O dia já estava avançado quando Damian subiu as escadas em direção ao quarto de Amélia. O aroma do almoço recém-preparado ainda pairava no ar, misturando-se ao cheiro amadeirado característico da casa da matilha.Ele hesitou por um momento diante da porta fechada. Desde que a trouxera para ali, tinha se esforçado para manter certa distância, dar-lhe tempo para aceitar sua nova realidade. Mas agora… agora queria vê-la.Queria que almoçassem juntos.Damian não saberia dizer ao certo o porquê. Só sabia que aquela garota lhe despertava sentimentos conflitantes — e evitá-la não estava funcionando.Bateu na porta uma vez. Depois outra.Nenhuma resposta.Franzindo o cenho, girou a maçaneta e entrou.O quarto estava vazio.No mesmo instante, algo dentro dele se retesou.O cheiro dela ainda estava ali, fresco no ar, mas a ausência de sua presença fez um frio percorrer sua espinha. Seu olhar percorreu o cômodo rapidamente, procurando qualquer sinal de que ela pudesse ter saído por vontade própr
Amélia sentia o olhar intenso de Damian sobre ela, mas fingia não perceber. Algo nele a desconcertava de um jeito que não conseguia explicar. Ele era enigmático, controlador e, ao mesmo tempo, tinha um jeito estranho de cuidar dela. — Venha — disse ele, levantando-se e estendendo a mão. Ela arqueou a sobrancelha. — Para onde? — Quero te mostrar algo. Amélia hesitou. A casa da matilha já era grande o suficiente para fazê-la se sentir deslocada, e agora ele queria levá-la para outro lugar? Mas sua curiosidade foi mais forte do que a razão. Ela pegou a mão dele com relutância, sentindo o calor de sua pele contra a sua. Damian a guiou por um caminho estreito que passava entre árvores e arbustos bem cuidados. O ar ali era diferente, carregado com um aroma suave de flores misturado ao cheiro amadeirado da floresta ao redor. Quando saíram da trilha, Amélia se deparou com um jardim oculto. Era magnífico. Caminhos de pedras sinuosas cortavam um gramado impecável, levando a pequenos cant
Amélia observava Damian com uma expressão desconfiada. Algo nele havia mudado no instante em que ela riu da pergunta sobre seu "lobo". O jeito como ele a olhava agora era diferente—como se visse nela algo que nem mesmo ela conhecia. — Você está me assustando — ela disse, cruzando os braços. Damian hesitou. Parte dele queria deixar esse assunto para outro momento, mas outra parte sabia que o tempo estava se esgotando. Se ela realmente não sabia a verdade, então era questão de tempo até seu corpo forçá-la a encará-la da pior maneira possível. — Eu preciso que você confie em mim — ele disse, finalmente. Ela riu sem humor. — Você realmente acha que posso confiar em alguém que me trouxe para cá contra minha vontade? Damian segurou o olhar dela, como se tentasse encontrar um jeito de fazê-la entender. — Se eu não quisesse o seu bem, acha que eu me importaria se você soubesse ou não quem realmente é? — Sua voz era calma, mas carregava uma firmeza que fez Amélia vacilar. Ela abriu a
Outro uivo cortou o ar, carregado de algo sombrio e urgente. Damian ficou rígido, os olhos escurecendo com um brilho feroz, como se seu instinto tivesse sido acionado no mesmo instante. Amélia sentiu um arrepio percorrer sua espinha. O som parecia distante, mas, de alguma forma, também próximo o suficiente para fazer seu coração disparar. Ela abriu a boca para perguntar o que estava acontecendo, mas antes que qualquer palavra escapasse, Damian deu um passo à frente. Com um movimento surpreendentemente delicado para alguém tão intenso, ele segurou seu queixo entre os dedos, erguendo seu rosto suavemente. Amélia prendeu a respiração. O olhar dele era diferente agora, mais profundo, mais íntimo. Não havia apenas preocupação em seus olhos, mas algo mais… algo que ela não conseguia decifrar. Então, sem aviso, Damian inclinou-se e encostou seus lábios nos dela. Foi
O coração de Amélia martelava no peito enquanto os olhos frios do estranho permaneciam fixos nela.— O que quer dizer com isso? — sua voz saiu firme, mas por dentro ela lutava contra o medo crescente.O homem inclinou a cabeça levemente, como um predador analisando sua presa.— Você não faz ideia, não é? — Ele riu, um som baixo e cheio de escárnio. — Isso torna tudo ainda mais interessante.Antes que pudesse reagir, ele se moveu. Rápido. Rápido demais.Amélia tentou recuar, mas antes que pudesse dar mais um passo, um estrondo ecoou pela casa.A porta foi arrombada com brutalidade, batendo contra a parede com um impacto que fez as janelas vibrarem.E então, ele estava lá.Damian.Seus olhos brilharam com um dourado feroz, sua respiração pesada e sua presença dominadora preenchendo todo o espaço. O cheiro dele—amadeirado e selvagem—misturou-se ao ar carregado de tensão.E ele estava furioso.
Ótima escolha! Vamos aprofundar a conexão entre Amélia e Damian, explorar as emoções dela e deixar Damian explicar o significado da ligação. Também podemos trazer um pouco mais sobre o estranho, talvez dando pistas sobre quem ele é e por que tem interesse nela. Aqui está a continuação do capítulo:O silêncio entre eles era denso, quebrado apenas pela respiração pesada de Damian. Seus olhos dourados ardiam sobre ela, e a mão quente em seu rosto enviava arrepios por sua pele.Amélia sentia algo crescer dentro de si—uma onda de calor, de anseio, de algo que não conseguia nomear. Seu corpo reconhecia Damian de uma forma que sua mente ainda lutava para entender.— O que está acontecendo comigo? — sua voz saiu mais baixa do que queria, quase um sussurro.Damian deslizou o polegar suavemente por sua bochecha, hesitante, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado.— Você sentiu, não sentiu? — ele repetiu, os olhos intensos nos dela.
O tempo passou, mas as perguntas permaneceram sem resposta.Durante um mês inteiro, Damian fez de tudo para descobrir a identidade do estranho que invadiu sua casa naquela noite.Ele interrogou membros da matilha, rastreou possíveis inimigos, até mesmo buscou informações em territórios neutros. Mas nada.Era como se o homem simplesmente não existisse.E isso o deixava furioso.— Você está obcecado com isso — disse Ethan, seu beta, enquanto se sentavam no escritório da casa de Damian.Damian rosnou, passando a mão pelo cabelo.— Esse desgraçado apareceu do nada, sabia sobre Amélia, sabia sobre a ligação… e sumiu sem deixar rastro. Isso não é normal.Ethan cruzou os braços.— Você acha que ele pode ser um caçador?Damian hesitou. Se fosse um caçador, já teria tentado algo novamente. Mas o homem parecia ter outros planos.— Não sei. Mas ele está esperando alguma coisa.E isso o d
O mês passou como um sopro, e a contagem regressiva do cartão misterioso pairava sobre a matilha como uma sombra silenciosa. Damian intensificou a segurança, ordenando patrulhas mais frequentes ao redor do território, mas, apesar de seus esforços, não conseguiu encontrar nenhuma pista concreta sobre o estranho. O mistério permanecia, e a única certeza que ele tinha era que algo estava vindo.Mas, ao mesmo tempo, outra coisa estava mudando.A relação entre ele e Amélia.Desde o beijo naquela noite, a dinâmica entre os dois se transformou. Os toques que antes pareciam ocasionais agora eram mais frequentes, como se seus corpos reconhecessem um ao outro antes mesmo de suas mentes aceitarem. Os olhares trocados carregavam algo não dito, algo que crescia a cada dia.Damian notava isso nos pequenos gestos. Como Amélia demorava um pouco mais quando suas mãos se encostavam. Como o cheiro dela parecia mais presente em sua mente, como se impregnado em s