A casa da matilha estava silenciosa naquela noite. O vento frio soprava pelas janelas abertas, trazendo consigo o cheiro da floresta. Amélia estava sentada na beira da cama, olhando fixamente para o nada, sentindo o coração bater acelerado. Nos últimos dias, algo dentro dela parecia estar mudando. A presença de Damian já não a deixava apenas nervosa—ela a envolvia, a puxava como uma corrente invisível. O calor que sentia quando ele estava por perto já não era apenas o da ligação... era algo mais profundo. E ela não sabia o que fazer com isso. Suspirando, ela se levantou e saiu do quarto. O corredor estava escuro, mas a porta do quarto de Damian estava entreaberta. Sem pensar muito, ela bateu levemente. — Damian? — Entra. A voz dele veio baixa, rouca. Amélia hesitou por um segundo antes de empurrar a porta e entrar. Ele estava sentado à mesa, cercado por
Desde a noite anterior, Amélia tentava ignorar o fato de que havia visto Damian saindo do banho com nada além de uma toalha na cintura. Mas, por mais que tentasse, a cena insistia em voltar à sua mente em momentos inoportunos. A forma como as gotas de água escorriam por sua pele, o desenho de seus músculos… Ela balançou a cabeça, afastando o pensamento."Isso não pode estar acontecendo", repreendeu-se mentalmente. Damian era… bem, Damian. Seu protetor, seu amigo – ou ao menos era assim que deveria ser.Naquela manhã, ao descer para a cozinha, encontrou-o sentado à mesa, distraído com alguns papéis sobre a festa que estava organizando para ela. Mas assim que ergueu o olhar e a viu, um sorriso apareceu no canto de sua boca.— Dormiu bem? — ele perguntou casualmente, mas havia um brilho malicioso em seus olhos.Amélia travou no lugar. Algo na forma como ele a olhava lhe dizia que ele sabia exatamente o que ela estava pensando. Ela se o
Os preparativos para a festa de aniversário de Amélia estavam em pleno vapor. A casa da matilha estava movimentada, com membros indo e vindo, organizando cada detalhe. A ideia de Damian de fazer a comemoração ao ar livre parecia perfeita, considerando que a lua cheia brilharia sobre todos naquela noite especial.Amélia caminhava pelo espaço escolhido para a festa — um grande campo aberto, cercado por árvores altas, onde tochas e lanternas seriam espalhadas para iluminar tudo. Apesar da empolgação, um certo nervosismo crescia dentro dela. Não apenas pela festa, mas também pela transformação que aconteceria naquela noite.Ela se perdeu em pensamentos até sentir uma presença atrás de si.— Gostou do lugar? — Damian perguntou, a voz grave e próxima ao ouvido dela.Ela se virou e o encontrou ali, tão perto que podia sentir o calor do corpo dele.— Sim, é lindo — respondeu, tentando ignorar o arrepio que subiu por sua pele. — Mas… tem
O mês que se passou trouxe mudanças sutis, mas profundas. Amélia se acostumava cada vez mais à rotina da matilha, e Damian, sem perceber, encontrava nela uma presença reconfortante. Eles ainda tinham seus desentendimentos ocasionais, principalmente quando ela insistia em desafiar certas regras, mas a convivência entre os dois se tornava mais natural, até mesmo agradável.E enquanto os dias corriam, algo importante se aproximava: o aniversário de Amélia.Damian queria que fosse especial. Afinal, além de marcar seus dezoito anos, também seria a noite de sua primeira transformação. E embora ele não demonstrasse sua preocupação, sabia que essa mudança seria desafiadora para ela. O corpo humano não estava acostumado à metamorfose lupina, e a dor da primeira transformação era inevitável.Por isso, planejava cada detalhe da festa. Não apenas para celebrar a nova fase de Amélia, mas para distraí-la do que viria depois.— Você acha que ela vai gostar?
Faltavam apenas três dias para a festa de aniversário de Amélia, e a matilha estava em plena atividade. O grande salão da casa principal havia se transformado em um verdadeiro cenário de conto de fadas, repleto de preparativos que Amélia não conhecia completamente. Essa falta de controle a deixava inquieta.Ela observava os lobos movimentando mesas, carregando caixas de enfeites e discutindo sobre iluminação e arranjos florais. Os olhos dela percorriam cada detalhe, tentando decifrar o que Damian havia planejado sem contar a ela.— Isso não é exagerado? — murmurou, cruzando os braços.Damian, que estava supervisionando a montagem do palco, ergueu uma sobrancelha ao ouvir sua voz. Ele se aproximou, parando ao lado dela.— O que foi? — perguntou, curioso.Ela suspirou.— Essa festa… é enorme. Parece um evento de gala, não uma comemoração de aniversário.Ele soltou um pequeno riso.— Eu avisei que seria especial.— Mas eu não sabia que seria algo assim… — Ela apontou para o palco. — Isso
O dia seguinte amanheceu com a matilha ainda em ritmo acelerado. Os últimos detalhes da festa estavam sendo ajustados, e Amélia finalmente decidiu se envolver mais nos preparativos, tanto para ocupar a mente quanto para tentar se acostumar com a grandiosidade do evento.Ela passou parte da manhã ao lado de algumas lobas da matilha, ajudando a organizar a decoração e opinando sobre as cores dos arranjos. Apesar da distração, sua mente voltava constantemente ao bilhete misterioso da noite anterior e à conversa que tivera com Damian.Uma conexão crescenteNo início da tarde, ela foi até o jardim lateral para ver como estavam os preparativos do espaço ao ar livre. Para sua surpresa, encontrou Damian sozinho, ajustando algumas luzes que seriam instaladas entre as árvores.Ele vestia uma camiseta preta simples, mas os músculos dos braços ficavam evidentes a cada movimento. O olhar concentrado, a forma como a luz do sol realçava seus traços… Amélia sentiu o coração acelerar sem motivo aparen
Antiope era uma vila cercada por colinas ondulantes e bosques de carvalhos tão antigos quanto o próprio tempo. As casas de pedra, cobertas de trepadeiras floridas, pareciam emanar um calor acolhedor, mas sob essa aparente tranquilidade escondia-se um medo enraizado. O nome do Alfa ressoava como um trovão nas conversas sussurradas. Ele governava não apenas a vila, mas também os corações de seus habitantes, que andavam sempre com olhares baixos e passos apressados, como se até mesmo o vento pudesse levar suas palavras para ouvidos errados.No meio dessa realidade opressora, vivia Amélia.Desde muito jovem, a vida lhe ensinara a sobreviver com pouco. Seus pais foram arrancados dela antes mesmo que tivesse idade para compreender a dor da perda. A memória deles era um borrão distante, fragmentos de vozes e risadas que às vezes vinham nos sonhos, apenas para desaparecer ao amanhecer. A vila, que deveria ter sido seu lar, virou um lugar onde não havia espaço para uma órfã. Sem ninguém que a
O silêncio entre eles era espesso como a neblina que pairava sobre a floresta. Amélia caminhava um passo atrás do filho do Alfa, os olhos atentos a cada detalhe do caminho. As árvores pareciam se curvar à presença dele, os pássaros silenciavam ao seu redor, e até o vento hesitava em soprar. Ela deveria ter fugido. Deveria ter resistido. Mas algo nela — talvez o instinto, talvez o cansaço de viver sozinha — a impediu. O cheiro de terra úmida começou a se misturar com algo mais denso, algo que fazia seus pelos se arrepiarem: o cheiro de outros lobos. Eles estavam perto. Muito perto. Seu coração começou a bater mais forte. O que ele queria com ela? Quando os portões da matilha surgiram à frente, sua respiração ficou rasa. Eram enormes, de madeira escura reforçada com ferro, e guardados por dois homens de olhar predador. Eles a observaram com curiosidade, mas não ousaram questionar o filho do Alfa quando ele passou por eles, trazendo-a consigo. Amélia se encolheu ao sentir dezenas de