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Capítulo 7 - Instinto Protetor

O dia já estava avançado quando Damian subiu as escadas em direção ao quarto de Amélia. O aroma do almoço recém-preparado ainda pairava no ar, misturando-se ao cheiro amadeirado característico da casa da matilha.

Ele hesitou por um momento diante da porta fechada. Desde que a trouxera para ali, tinha se esforçado para manter certa distância, dar-lhe tempo para aceitar sua nova realidade. Mas agora… agora queria vê-la.

Queria que almoçassem juntos.

Damian não saberia dizer ao certo o porquê. Só sabia que aquela garota lhe despertava sentimentos conflitantes — e evitá-la não estava funcionando.

Bateu na porta uma vez. Depois outra.

Nenhuma resposta.

Franzindo o cenho, girou a maçaneta e entrou.

O quarto estava vazio.

No mesmo instante, algo dentro dele se retesou.

O cheiro dela ainda estava ali, fresco no ar, mas a ausência de sua presença fez um frio percorrer sua espinha. Seu olhar percorreu o cômodo rapidamente, procurando qualquer sinal de que ela pudesse ter saído por vontade própria. As cobertas estavam reviradas, mas não como se alguém tivesse saído com pressa. A janela estava fechada. Nenhum indício de fuga.

Mas, então… onde diabos ela estava?

O coração de Damian bateu forte contra o peito, e um impulso quase irracional tomou conta dele. Saiu do quarto num rompante, descendo as escadas em passos firmes e chamando a primeira empregada que encontrou pelo caminho.

— Onde está Amélia? — sua voz saiu mais áspera do que pretendia, carregada de um tom de comando que fez a mulher estremecer.

— Eu… eu não sei, senhor. A última vez que a vi, estava no quarto.

Damian cerrou os dentes. Virou-se rapidamente e foi atrás de outra funcionária, depois de outra. Nenhuma sabia do paradeiro dela.

O incômodo em seu peito cresceu. A raiva borbulhou junto à preocupação.

Ela fugiu?

Se tivesse fugido, teria levado algo com ela. Mas sua roupa estava no quarto, e a única saída sem ser vista seria através dos fundos da casa…

Ele passou a mão pelos cabelos, exasperado. Rodou toda a casa da matilha, entrou em salas que raramente visitava, verificou os corredores e até os cômodos menos usados. Nada.

Até que uma lembrança lhe veio à mente.

O jardim.

O jardim de sua mãe.

Seu coração acelerou quando se virou e caminhou apressadamente em direção à porta escondida no fim do corredor.

Empurrou-a com um único movimento e, assim que entrou, o impacto da cena à sua frente desarmou qualquer resquício de raiva que ainda lhe restava.

Ali, debaixo da grande macieira, Amélia dormia.

A respiração dela era tranquila, seu rosto sereno, uma expressão que ele jamais havia visto nela antes. Seu corpo estava levemente encolhido sobre a grama macia, como se o mundo ao seu redor não existisse.

Damian ficou imóvel, apenas observando.

Sua preocupação se dissolveu no instante em que a viu assim. Em seu lugar, surgiu algo diferente — algo mais profundo, mais instintivo.

Ela parecia tão vulnerável, tão pequena sob a copa das árvores…

Seu lobo rosnou baixo dentro de si, um som que não era de ameaça, mas de posse. De necessidade.

Sem pensar, ele se aproximou.

Ajoelhou-se ao lado dela, o olhar percorrendo cada detalhe. O sol filtrava-se pelas folhas, dançando suavemente sobre sua pele. Mechas de seus cabelos estavam espalhadas sobre a grama, e seus lábios estavam levemente entreabertos, como se ela estivesse perdida em um sonho agradável.

Ele não queria acordá-la.

Mas também não queria vê-la ali, desconfortável.

Então, com uma delicadeza que não combinava com seu porte imponente, Damian se deitou ao lado dela. Lentamente, ergueu sua cabeça e a colocou sobre seu colo, ajustando-a para que ficasse mais confortável.

Um suspiro suave escapou dos lábios de Amélia, mas ela não despertou.

Damian ficou ali, observando-a, sentindo o calor do corpo dela contra o seu. Ele não sabia explicar o motivo, mas precisava estar perto. Precisava protegê-la.

Os minutos passaram, e ele sequer percebeu quando começou a afagar distraidamente uma mecha de seus cabelos, perdido no momento.

Até que Amélia se mexeu.

Ele sentiu quando sua respiração mudou. Quando seus músculos se retesaram levemente antes de seus olhos se abrirem de repente.

Por um segundo, ela apenas piscou, desorientada.

Então, ao perceber sua posição — sua cabeça no colo dele, a forma como ele estava inclinado sobre ela —, deu um pulo, afastando-se em um movimento rápido e ágil.

Seu olhar encontrou o dele, carregado de desconfiança.

— Parece que você gosta de me ver dormindo.

O canto da boca de Damian se ergueu num sorriso de pura diversão.

— Talvez eu só goste do fato de que, quando você dorme, não está tentando me irritar.

Amélia cruzou os braços, estreitando os olhos.

— O que estava fazendo?

Ele deu de ombros, despreocupado.

— Você parecia confortável. Só garanti que continuasse assim.

Ela abriu a boca para retrucar, mas hesitou. Seus olhos vagaram por ele, captando a forma relaxada com que estava sentado ali, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.

E, de repente, percebeu.

Damian não estava ali para atormentá-la.

Ele a procurou porque estava preocupado.

Porque, de alguma forma que ela ainda não entendia, ele se importava.

O pensamento a deixou desconcertada.

Desviando o olhar, ela passou a mão nos cabelos, tentando afastar a sensação estranha que tomava conta de seu peito.

— Da próxima vez, tente me acordar antes de decidir me usar como travesseiro.

Damian riu baixo.

— Da próxima vez, tente dormir na sua cama, e eu não precisarei.

Ela revirou os olhos, mas um pequeno sorriso escapou de seus lábios antes que pudesse evitá-lo.

E Damian, ainda sentado sob a sombra da macieira, percebeu que, naquele momento, ele gostou disso.

Gostou mais do que deveria.

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