O dia já estava avançado quando Damian subiu as escadas em direção ao quarto de Amélia. O aroma do almoço recém-preparado ainda pairava no ar, misturando-se ao cheiro amadeirado característico da casa da matilha.
Ele hesitou por um momento diante da porta fechada. Desde que a trouxera para ali, tinha se esforçado para manter certa distância, dar-lhe tempo para aceitar sua nova realidade. Mas agora… agora queria vê-la. Queria que almoçassem juntos. Damian não saberia dizer ao certo o porquê. Só sabia que aquela garota lhe despertava sentimentos conflitantes — e evitá-la não estava funcionando. Bateu na porta uma vez. Depois outra. Nenhuma resposta. Franzindo o cenho, girou a maçaneta e entrou. O quarto estava vazio. No mesmo instante, algo dentro dele se retesou. O cheiro dela ainda estava ali, fresco no ar, mas a ausência de sua presença fez um frio percorrer sua espinha. Seu olhar percorreu o cômodo rapidamente, procurando qualquer sinal de que ela pudesse ter saído por vontade própria. As cobertas estavam reviradas, mas não como se alguém tivesse saído com pressa. A janela estava fechada. Nenhum indício de fuga. Mas, então… onde diabos ela estava? O coração de Damian bateu forte contra o peito, e um impulso quase irracional tomou conta dele. Saiu do quarto num rompante, descendo as escadas em passos firmes e chamando a primeira empregada que encontrou pelo caminho. — Onde está Amélia? — sua voz saiu mais áspera do que pretendia, carregada de um tom de comando que fez a mulher estremecer. — Eu… eu não sei, senhor. A última vez que a vi, estava no quarto. Damian cerrou os dentes. Virou-se rapidamente e foi atrás de outra funcionária, depois de outra. Nenhuma sabia do paradeiro dela. O incômodo em seu peito cresceu. A raiva borbulhou junto à preocupação. Ela fugiu? Se tivesse fugido, teria levado algo com ela. Mas sua roupa estava no quarto, e a única saída sem ser vista seria através dos fundos da casa… Ele passou a mão pelos cabelos, exasperado. Rodou toda a casa da matilha, entrou em salas que raramente visitava, verificou os corredores e até os cômodos menos usados. Nada. Até que uma lembrança lhe veio à mente. O jardim. O jardim de sua mãe. Seu coração acelerou quando se virou e caminhou apressadamente em direção à porta escondida no fim do corredor. Empurrou-a com um único movimento e, assim que entrou, o impacto da cena à sua frente desarmou qualquer resquício de raiva que ainda lhe restava. Ali, debaixo da grande macieira, Amélia dormia. A respiração dela era tranquila, seu rosto sereno, uma expressão que ele jamais havia visto nela antes. Seu corpo estava levemente encolhido sobre a grama macia, como se o mundo ao seu redor não existisse. Damian ficou imóvel, apenas observando. Sua preocupação se dissolveu no instante em que a viu assim. Em seu lugar, surgiu algo diferente — algo mais profundo, mais instintivo. Ela parecia tão vulnerável, tão pequena sob a copa das árvores… Seu lobo rosnou baixo dentro de si, um som que não era de ameaça, mas de posse. De necessidade. Sem pensar, ele se aproximou. Ajoelhou-se ao lado dela, o olhar percorrendo cada detalhe. O sol filtrava-se pelas folhas, dançando suavemente sobre sua pele. Mechas de seus cabelos estavam espalhadas sobre a grama, e seus lábios estavam levemente entreabertos, como se ela estivesse perdida em um sonho agradável. Ele não queria acordá-la. Mas também não queria vê-la ali, desconfortável. Então, com uma delicadeza que não combinava com seu porte imponente, Damian se deitou ao lado dela. Lentamente, ergueu sua cabeça e a colocou sobre seu colo, ajustando-a para que ficasse mais confortável. Um suspiro suave escapou dos lábios de Amélia, mas ela não despertou. Damian ficou ali, observando-a, sentindo o calor do corpo dela contra o seu. Ele não sabia explicar o motivo, mas precisava estar perto. Precisava protegê-la. Os minutos passaram, e ele sequer percebeu quando começou a afagar distraidamente uma mecha de seus cabelos, perdido no momento. Até que Amélia se mexeu. Ele sentiu quando sua respiração mudou. Quando seus músculos se retesaram levemente antes de seus olhos se abrirem de repente. Por um segundo, ela apenas piscou, desorientada. Então, ao perceber sua posição — sua cabeça no colo dele, a forma como ele estava inclinado sobre ela —, deu um pulo, afastando-se em um movimento rápido e ágil. Seu olhar encontrou o dele, carregado de desconfiança. — Parece que você gosta de me ver dormindo. O canto da boca de Damian se ergueu num sorriso de pura diversão. — Talvez eu só goste do fato de que, quando você dorme, não está tentando me irritar. Amélia cruzou os braços, estreitando os olhos. — O que estava fazendo? Ele deu de ombros, despreocupado. — Você parecia confortável. Só garanti que continuasse assim. Ela abriu a boca para retrucar, mas hesitou. Seus olhos vagaram por ele, captando a forma relaxada com que estava sentado ali, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. E, de repente, percebeu. Damian não estava ali para atormentá-la. Ele a procurou porque estava preocupado. Porque, de alguma forma que ela ainda não entendia, ele se importava. O pensamento a deixou desconcertada. Desviando o olhar, ela passou a mão nos cabelos, tentando afastar a sensação estranha que tomava conta de seu peito. — Da próxima vez, tente me acordar antes de decidir me usar como travesseiro. Damian riu baixo. — Da próxima vez, tente dormir na sua cama, e eu não precisarei. Ela revirou os olhos, mas um pequeno sorriso escapou de seus lábios antes que pudesse evitá-lo. E Damian, ainda sentado sob a sombra da macieira, percebeu que, naquele momento, ele gostou disso. Gostou mais do que deveria.Amélia sentia o olhar intenso de Damian sobre ela, mas fingia não perceber. Algo nele a desconcertava de um jeito que não conseguia explicar. Ele era enigmático, controlador e, ao mesmo tempo, tinha um jeito estranho de cuidar dela. — Venha — disse ele, levantando-se e estendendo a mão. Ela arqueou a sobrancelha. — Para onde? — Quero te mostrar algo. Amélia hesitou. A casa da matilha já era grande o suficiente para fazê-la se sentir deslocada, e agora ele queria levá-la para outro lugar? Mas sua curiosidade foi mais forte do que a razão. Ela pegou a mão dele com relutância, sentindo o calor de sua pele contra a sua. Damian a guiou por um caminho estreito que passava entre árvores e arbustos bem cuidados. O ar ali era diferente, carregado com um aroma suave de flores misturado ao cheiro amadeirado da floresta ao redor. Quando saíram da trilha, Amélia se deparou com um jardim oculto. Era magnífico. Caminhos de pedras sinuosas cortavam um gramado impecável, levando a pequenos cant
Amélia observava Damian com uma expressão desconfiada. Algo nele havia mudado no instante em que ela riu da pergunta sobre seu "lobo". O jeito como ele a olhava agora era diferente—como se visse nela algo que nem mesmo ela conhecia. — Você está me assustando — ela disse, cruzando os braços. Damian hesitou. Parte dele queria deixar esse assunto para outro momento, mas outra parte sabia que o tempo estava se esgotando. Se ela realmente não sabia a verdade, então era questão de tempo até seu corpo forçá-la a encará-la da pior maneira possível. — Eu preciso que você confie em mim — ele disse, finalmente. Ela riu sem humor. — Você realmente acha que posso confiar em alguém que me trouxe para cá contra minha vontade? Damian segurou o olhar dela, como se tentasse encontrar um jeito de fazê-la entender. — Se eu não quisesse o seu bem, acha que eu me importaria se você soubesse ou não quem realmente é? — Sua voz era calma, mas carregava uma firmeza que fez Amélia vacilar. Ela abriu a
Outro uivo cortou o ar, carregado de algo sombrio e urgente. Damian ficou rígido, os olhos escurecendo com um brilho feroz, como se seu instinto tivesse sido acionado no mesmo instante. Amélia sentiu um arrepio percorrer sua espinha. O som parecia distante, mas, de alguma forma, também próximo o suficiente para fazer seu coração disparar. Ela abriu a boca para perguntar o que estava acontecendo, mas antes que qualquer palavra escapasse, Damian deu um passo à frente. Com um movimento surpreendentemente delicado para alguém tão intenso, ele segurou seu queixo entre os dedos, erguendo seu rosto suavemente. Amélia prendeu a respiração. O olhar dele era diferente agora, mais profundo, mais íntimo. Não havia apenas preocupação em seus olhos, mas algo mais… algo que ela não conseguia decifrar. Então, sem aviso, Damian inclinou-se e encostou seus lábios nos dela. Foi
O coração de Amélia martelava no peito enquanto os olhos frios do estranho permaneciam fixos nela.— O que quer dizer com isso? — sua voz saiu firme, mas por dentro ela lutava contra o medo crescente.O homem inclinou a cabeça levemente, como um predador analisando sua presa.— Você não faz ideia, não é? — Ele riu, um som baixo e cheio de escárnio. — Isso torna tudo ainda mais interessante.Antes que pudesse reagir, ele se moveu. Rápido. Rápido demais.Amélia tentou recuar, mas antes que pudesse dar mais um passo, um estrondo ecoou pela casa.A porta foi arrombada com brutalidade, batendo contra a parede com um impacto que fez as janelas vibrarem.E então, ele estava lá.Damian.Seus olhos brilharam com um dourado feroz, sua respiração pesada e sua presença dominadora preenchendo todo o espaço. O cheiro dele—amadeirado e selvagem—misturou-se ao ar carregado de tensão.E ele estava furioso.
Ótima escolha! Vamos aprofundar a conexão entre Amélia e Damian, explorar as emoções dela e deixar Damian explicar o significado da ligação. Também podemos trazer um pouco mais sobre o estranho, talvez dando pistas sobre quem ele é e por que tem interesse nela. Aqui está a continuação do capítulo:O silêncio entre eles era denso, quebrado apenas pela respiração pesada de Damian. Seus olhos dourados ardiam sobre ela, e a mão quente em seu rosto enviava arrepios por sua pele.Amélia sentia algo crescer dentro de si—uma onda de calor, de anseio, de algo que não conseguia nomear. Seu corpo reconhecia Damian de uma forma que sua mente ainda lutava para entender.— O que está acontecendo comigo? — sua voz saiu mais baixa do que queria, quase um sussurro.Damian deslizou o polegar suavemente por sua bochecha, hesitante, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado.— Você sentiu, não sentiu? — ele repetiu, os olhos intensos nos dela.
O tempo passou, mas as perguntas permaneceram sem resposta.Durante um mês inteiro, Damian fez de tudo para descobrir a identidade do estranho que invadiu sua casa naquela noite.Ele interrogou membros da matilha, rastreou possíveis inimigos, até mesmo buscou informações em territórios neutros. Mas nada.Era como se o homem simplesmente não existisse.E isso o deixava furioso.— Você está obcecado com isso — disse Ethan, seu beta, enquanto se sentavam no escritório da casa de Damian.Damian rosnou, passando a mão pelo cabelo.— Esse desgraçado apareceu do nada, sabia sobre Amélia, sabia sobre a ligação… e sumiu sem deixar rastro. Isso não é normal.Ethan cruzou os braços.— Você acha que ele pode ser um caçador?Damian hesitou. Se fosse um caçador, já teria tentado algo novamente. Mas o homem parecia ter outros planos.— Não sei. Mas ele está esperando alguma coisa.E isso o d
O mês passou como um sopro, e a contagem regressiva do cartão misterioso pairava sobre a matilha como uma sombra silenciosa. Damian intensificou a segurança, ordenando patrulhas mais frequentes ao redor do território, mas, apesar de seus esforços, não conseguiu encontrar nenhuma pista concreta sobre o estranho. O mistério permanecia, e a única certeza que ele tinha era que algo estava vindo.Mas, ao mesmo tempo, outra coisa estava mudando.A relação entre ele e Amélia.Desde o beijo naquela noite, a dinâmica entre os dois se transformou. Os toques que antes pareciam ocasionais agora eram mais frequentes, como se seus corpos reconhecessem um ao outro antes mesmo de suas mentes aceitarem. Os olhares trocados carregavam algo não dito, algo que crescia a cada dia.Damian notava isso nos pequenos gestos. Como Amélia demorava um pouco mais quando suas mãos se encostavam. Como o cheiro dela parecia mais presente em sua mente, como se impregnado em s
A casa da matilha estava silenciosa naquela noite. O vento frio soprava pelas janelas abertas, trazendo consigo o cheiro da floresta. Amélia estava sentada na beira da cama, olhando fixamente para o nada, sentindo o coração bater acelerado. Nos últimos dias, algo dentro dela parecia estar mudando. A presença de Damian já não a deixava apenas nervosa—ela a envolvia, a puxava como uma corrente invisível. O calor que sentia quando ele estava por perto já não era apenas o da ligação... era algo mais profundo. E ela não sabia o que fazer com isso. Suspirando, ela se levantou e saiu do quarto. O corredor estava escuro, mas a porta do quarto de Damian estava entreaberta. Sem pensar muito, ela bateu levemente. — Damian? — Entra. A voz dele veio baixa, rouca. Amélia hesitou por um segundo antes de empurrar a porta e entrar. Ele estava sentado à mesa, cercado por