Capítulo 3 - É, eu não sei

     — Tudo bem. Mas só por alguns minutos — cedi.

     Ele segurou minha mão e me levou pra sua casa. Durante o curto caminho, olhei pra trás e vi a Geovanna acenando e dando uma piscadela. Sinceramente, diário, me deu vontade de dar um soco naquela carinha maquiada dela por ter feito isso comigo. O bom é que verei minha ruivinha novamente, mas isso ainda não me impede de querer matar a Geo.

     Sabe, diário, as vezes adoro lembrar o quanto minha ruivinha é uma fofa. Ela é tão ruiva quanto o Ícaro, só que tem olhos azuis. Dá vontade de enforcar aquela garotinha num abraço de tão fofa.

     Ícaro pegou as chaves e começou a destrancar e a abrir a porta. Subimos as escadas silenciosamente até o quarto dela e quem abriu fui eu. Ela estava brincando com suas bonecas e não percebeu que era eu entrando.

     — Ruivinha? — chamei.

     Ingrid virou-se rapidamente, reconhecendo minha voz.

     — Alessandra! — exclamou e correu em minha direção para um abraço apertado.

     — Como sabia que era eu? — perguntei me fazendo de boba de brincadeira.

     — Pela sua voz e pelas mechas azuis, não faz tanto tempo que não te vejo — diz ela, achando graça.

     Eu ri.

     — Você está tão grande — falei com voz doce. — Apenas se passaram um ano e alguns meses.

     — Pra mim pareceu uma eternidade — admitiu meio divertida.

     — Pelo menos eu estou aqui.

     — E bem no meu aniversário! — Ela olhou pro irmão. — Obrigada, idiota. Foi o melhor presente que já recebi!

     — De nada, bobona.

     Ela voltou a me olhar nos olhos. Os olhos dela eram tão perfeitos... Da cor do céu mais azul.

     Depois de algum tempo me encarando, ela aproximou sua pequena boca para meu ouvido e sussurrou:

     — É impressão minha ou seus seios estão maiores? — o que era pra sair como um sussurro, acabou que saiu um pouco alto demais.

     Não tenho dúvidas de que o Ícaro tenha ouvido e isso causou um grande constrangimento naquele momento quando dirigi meu olhar a ele em seguida. Ficamos corados quando nossos olhares se encontraram.

     — Você não foi a única que me disse isso e parece que não foi a única que notou — respondi em voz audível e olhei de novo pra ele o que o deixou ainda mais vermelho e constrangido.

     Desci os degraus um por um, meio apressada, enquanto ouvia Ingrid me chamar. Claro que eu estava morrendo de pena, mas eu sabia que não aguentaria ficar mais um segundo sequer por ali. Prometi a mim mesma que se um dia a visse de novo (e estivesse com boa memória), pediria desculpas por isso.

     Agradeci pela porta estar destrancada e saí de lá em disparada, correndo em direção a casa da Geo, determinada a matar ela por ter me feito passar por isso.

     ★Dica 211 = Quando sua amiga te fizer passar por um momento difícil, "matê-a" (pelo amor de Deus, não leve isso a sério, crianças).★

     Cheguei batendo a porta pra abrir e pra fechar. Quase arrombei a porta do quarto dela, mas ela abriu antes que eu fizesse tal coisa.

     — Eu vou te matar, vadia! — gritei, fervendo de raiva.

     — Voltaram a namorar? — questionou ela, como se eu não estivesse em chamas.

     — Não! — rosnei.

     — Ei, dá pra relaxar? Foi só um empurrãozinho que eu dei, literalmente.

     Bufei.

     — Geo, por que você fez isso? Você sabe que eu não estava nem um pouco preparada psicologicamente!

     — Fofinha, foi meu instinto que pediu. — Geo se sentou em sua cama. — Eu achei que tivesse superado tudo isso. — Ela deu de ombros.

     — Você sabe muito bem que não superei!

     — Desculpa, Sandrinha. Minha intenção era só fazer você enfrentar isso de uma vez — sua voz saiu como se ela fosse coitadinha.

     — Dessa vez eu te perdôo, Geovanna, mas da próxima eu me vingo.

     Ela levantou os braços em rendição.

     — Ok, eu prometo, amiga. Agora dá pra relaxar ou ta difícil?

     Me sentei em sua cama, um pouco afastada dela e peguei meu celular, dando uma rápida espiada na foto do Dani... Tudo bem, eu confesso: não foi uma rápida espiada. Foi uma demorada espiada. Desculpa, diário, é que é impossível não olhar pra ele de novo.

     — Olhando pra ele de novo, não é, amiga? — disse ela chegando mais perto de mim, quase enfiando a cara no meu celular.

     — E-eu não — gaguejei e tirei a foto da tela, talvez antes dela ter visto alguma coisa, pra tentar transformar minha mentira em verdade.

     — Relaxa, eu entendo que ele é lindo demais pra ser olhado uma vez só — brincou ela.

     Dei um sorriso pequeno, concordando discretamente com o que ela disse.

     — Sabe, Ale, se ele estiver afim de você, fica tranquila que ele vai te chamar pra sair nessas férias.

     — Dá pra não me dar esperanças? — pedi com um sorriso fraco.

     — Ah, fofinha, eu tenho que te dar esperanças. Pensa só! Alessandra Goulding Marie, namorando depois de séculos solteira!

     — Nem me fale.

     — Vamos, Sandrinha! Eu sei que está louca por um namorado! Animação!

     — Não use o termo “louca” ou eu vou me sentir desesperada — falei meio rindo.

     — E você não está?

     — Talvez, mas não precisamos deixar explícito — digo soltando uma risadinha.

     Seguiu-se alguns segundos de silêncio.

     — Sabe o que é estranho? É que “certas amigas” não revelam que tem um caso com pessoas famosas — comentou ela de repente.

     Olhei pra ela de forma agressiva, sabendo que ela estava se referindo ao Adriano. Não queria que ela tivesse começado esse assunto.

     — Eu não “tive um caso” com ele — respondi um tanto inquieta.

     — E as fotos tiradas de vocês dois entre beijos?

     — Ah, beijar não é crime. — Revirei os olhos.

     — Pelo menos você tinha que ter me falado sobre esse romance entre vocês!

     — Não houve e nem há romance entre nós. Aconteceu apenas uns beijos e nada mais. — Dei de ombros, querendo desviar logo esse assunto.

     Ela ficou pensativa por um tempo.

     — Aposto que foi você que o beijou primeiro! — brincou entre risos.

     — E eu aposto que você vai ficar com inveja de saber que foi ele que começou tudo — rebati um pouco grosseira pra ver se aquilo acabava de vez.

     ★Dica 212 = Seja grossa até mesmo com as amigas quando for preciso (ainda mais se ela “brincar” com o seu “mini-romance” com um cara gato-famoso-e-gostoso).★

     — Vou ter que pedir pra você ficar calma de novo? Eu não estava falando sério.

     Revirei os olhos, deixando bem claro (pelo menos pra mim) de que eu não queria mais conversa sobre aquilo.

     — Mas diga, amiga, ele beija bem? — perguntou ela com entusiasmo.

     — Lá vem você de novo...

     — Assim como beijar, querer saber também não é crime... — cantarolou.

     O toque de mensagem do meu celular interrompeu a frase dela.

     Dani: Ale, poderia me ajudar?

     — Mensagem do seu futuro namorado? — questionou ela curiosamente.

     — Mais ou menos — digo meio distraída, enquanto lia a mensagem.

     — Responde logo, droga! Eu quero saber!

     — Ei, calma, calma... Sim, é dele.

     — Deixa eu ver? — Ela mal me deixou responder e já veio voando pro meu celular, ansiosa pra ler a mensagem. — Eu não te disse? Ele vai te chamar pra sair nessa “ajuda”.

     — Não seja boba, Geo. Talvez seja uma coisa que eu posso ajudar pela mensagem mesmo.

     — Fofinha, quantas vezes eu vou ter que te dizer que sei muito sobre garotos?

     Soltei um longo suspiro, concordando com ela mentalmente.

     — O que está esperando? Responda a mensagem antes que seja tarde! — falou desesperada, quase querendo me bater.

     Alessandra: Com o quê?

     Em um minuto ele respondeu:

     Dani: Amanhã será a festa de aniversário da Carol e ela quer que eu cante uma música pra ela, mas não consigo achar nenhuma... Poderia vir aqui na minha casa me ajudar?

     — Retiro o que eu disse. — Joguei meu celular no travesseiro dela, deitando nele logo em seguida.

     — Ele te chamou pra sair, não foi?

     — Quase isso. Ele quer que eu vá na casa dele. — Levanto do travesseiro.

Ela fez uma cara surpresa.

     — Ale, isso é ótimo! Você e ele, a sós em uma casa, com camas...

     — Não continue, por favor, ou serei obrigada a te socar neste exato momento.

     ★Dica 213 = Se sua amiga falar coisas idiotas já vai logo saindo no soco (desculpa, mas eu simplesmente o-d-e-i-o esse tipo de coisa, porque não consigo parar de pensar nisso depois).★

     — Eu estava só brincando, Sandrinha. Eu sei que você não gosta quando falo sobre isso.

     — Se você sabe, então para! — exclamei com uma pontada de raiva na voz.

     — Ok, já parei — disse Geovanna levantando os braços em rendição. — O assunto morreu aqui, mas o que ele quer com você?

     — Apenas quer que eu ajude a escolher uma música.

     — Uma música? Pra quê?

     — Pra ele cantar pra namorada dele na festa dela.

     — Opa! Já sei o presente perfeito. No dia da festa, rouba ele. Vai ser um presente memorável — cantarolou.

     — Geo, não fala isso. A Carol é uma garota qualquer. Eu não posso destruir o namoro dela assim.

     — Helloooooooo! É a minha amiga Alessandra que está ai dentro ou é só uma imitação barata? Fofinha, aqui é matar ou ganhar e você precisa matar para ganhar! Olha, Ale, se você quer ele, precisa lutar e ser mais forte! Você cede muito fácil... Tem que lutar até o final, até ele mesmo dizer que não te quer e se ele não te quiser, que se dane, você é linda e se até um cantor famoso é a fim de você, pode conseguir garotos à vontade! — discursou ela e eu aplaudi de brincadeira.

     ★Dica 214 = Tenha uma pessoa que saiba fazer bons discursos improvisados por perto.★

     — Como você está culta hoje, Geovanna. — Soltei uma risadinha. — Só por isso eu vou prometer que vou tentar ser mais forte.

     — Ale, eu sempre fui uma garota cultamente inteligente.

     — Cultamente? Não to sabendo que existe essa palavra no dicionário não...

     — Ai Ale, claro que existe. Depois eu que sou burra.

     Rimos por um bom tempo e eu respondi a mensagem:

     Alessandra: Que horas você quer que eu vá?

     Dani: Depois do almoço (13:00), pode ser? Vou ir te buscar. Me passa o endereço?

     Alessandra: Claro.

     Passei o endereço da casa da Geo e por fim ele mandou uma carinha feliz.

     — Isso, passa o meu endereço mesmo! É bom que ele vem aqui mais vezes pensando que é sua casa — disse ela, empolgada. — Agora outro sinal de que ele está a fim de você é ele estar te respondendo rápido.

     — Ei, isso não quer dizer nada. — Dou de ombros meio constrangida porque isso era o que eu fazia.

     — Claro que quer! Se ele responde rápido é porque está ansioso pra conversar com você. Sabe, quer ficar o tempo todo tendo o prazer de ver você digitar. Querer saber qual será sua próxima resposta e tal.

     — Geo, acho que você está inventando demais.

     — Fofinha, é claro que não! Ele está super a fim de você! Tanto que te chamou pra sair.

     — Ele não me chamou pra sair. Ele só quer que eu ajude com uma música boba.

     — Tanto faz. — Ela revira os olhos. — Ele quer ficar ao seu lado, mesmo que seja por poucas horas.

     — Eu sei, mas...

     — Ale, dá pra parar de negar os sentimentos dele por você? Que droga. Aceita logo.

     — Eu só não quero ter falsas esperanças... — falei soltando um longo suspiro.

     — E quem disse que são falsas? Tem alguma coisa te impedindo? Não, claro que...

     — Eu já perguntei e ele me cortou! — exclamei alto, interrompendo-a.

     Antes que a mesma respondesse alguma coisa, tapei meu rosto com as mãos por ter falado isso tão alto.

     — Sandrinha, olhe pra mim. — Retirei as mãos do rosto devagar. — Querida, ele não vai te dizer tão facilmente. Acha mesmo que ele vai arriscar? É só você prestar bem atenção nas perguntas que ele faz, porque acredito eu que ele vai te testar de vez em quando.

     — Dessa vez, dessa vez, irei acreditar em você e é bom você estar certa.

     ★Dica 215 = Se você for ouvir uma dica de uma pessoa, tenha certeza que ela esteja certa (senão você está redondamente ferrado).★

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