— Então diga — pede ele.
— Por favor, pare! — grito, mas minha voz não sai com tanta intensidade.
— Não vou parar até que me diga.
— Eu só disse que queria que você me beijasse como fez no vestiário — digo finalmente.
— Ah, por que não disse logo?
Sem ao menos me deixar pensar na situação, ele fez de novo. Beijou meu pescoço como havia feito no vestiário. Não tem como esquecer os beijos suaves dele. E aquele mesmo calor voltou a percorrer por todo meu corpo enquanto sua boca trabalhava em cima de minha tatuagem. O que eu deveria fazer? Por quanto tempo ele ficaria ali? Ah, Dani, por favor, quero que fique pra sempre beijando meu pescoço deste jeito. É tã
O resto da viajem não foi muito agradável. O ar de ódio e brigas havia voltado entre nós duas. Eu queria sair. Ser livre. Ficar perto dela era como pisar em pregos. Não quero mais. Acabou. Quando eu era criança, não sabia das coisas que sei hoje, por isso a amava, mas hoje em dia, tudo não passa de lembranças fúteis. Quando pisei os pés em casa, eu me sentia estranha. Estava acostumada a apenas duas camas, TV sofá... Resumindo, eu estava acostumada ao colégio. A morar em apenas um quarto e nada mais. Entrei em meu quarto, joguei minhas malas e meu tênis no chão e pulei na minha cama desconfortável e nem um pouco parecida com a do colégio. Olhei pro relógio e já eram 19:00. Eu não poderia dormir sem jantar, então teria que esperar minha mãe fazer algo.
No meu relógio são 01:18 da madrugada. Por que eu estou acordada até agora? Tudo bem, confesso que um dos motivos é que não consigo dormir. Pensamentos rodam cruelmente em minha mente. Um desses “pensamentos” na verdade é apenas um sentimento: raiva.Meu quarto estava totalmente escuro. Meus olhos, inquietos, batiam em várias partes daquele lugar estranho. Por que lugar estranho? Porque acabei de me mudar. Recentemente, minha mãe aceitou um emprego aqui em Finsta. Um lugar mais cheio de pessoas riquinhas do que árvores. Não nos encaxávamos nessa sociedade de ricos, e, se não fosse por mim... Quero dizer, se não fosse pelo dinheiro que eu guardava na minha poupança, não teríamos comprado essa casa. Juro que minha mãe, Sabrina, ajoelhou para usar o dinheiro que havia lá e, não sei por que, meu coração amo
— Eu não acredito... — ele estava tão surpreso que não conseguiu terminar a frase. — Eu tentei avisar — digo. — Como você pôde ter jogado esse monte de... — Coloquei a minha mão em sua boca. Ter a absoluta certeza que aquilo aconteceu na minha frente era humilhante demais. — Não diga, por favor. Eu tenho consciência do que acabou de acontecer — falei, tirando minha mão da sua boca. — Mas como você pôde ter feito uma coisa dessas? Por que não deu uma verificada rápida para ter certeza de que não jogasse uma mala cheia de roupa íntima feminina? — Na hora em que a joguei, não tinha notado qual mala eu estava segurando.&nbs
Eu estava correndo igual a uma louca. Qualquer um podia ver a fúria nos meus olhos que consumia minha alma. Quando aquele garoto estiver em minhas mãos, farei estragos apenas com minhas unhas. Nenhum garoto que teve a coragem para arrancar minha blusa favorita de meu corpo, terá coragem de me enfrentar frente a frente. As pessoas que nos olhavam correr como loucos pelo pátio: ou riam ou ficavam surpresos. Ninguém, sequer falava alguma coisa, apenas mostrava uma expressão qualquer. Não digo porque queria chamar a atenção, mas apenas queria que as pessoas o parassem para que eu pudesse fazer meu trabalho. Aqui vai uma lista das coisas que as pessoas podiam ver, especialmente para você, diário: > Um menino e uma menina correndo; > O menino segurando uma blusa rasgada atr&aac
— Por que você fez isso? — Eu podia ver que ainda restava uma sombra de dúvida no seu rosto quanto ao real motivo do tapa. Eu tenho certeza que ele sabia muito bem, apenas perguntou para confirmar. — Você mereceu e era pra eu ter te dado ele ontem, quando abriu a minha mala. — Foi você que disse pra eu dizer. Só te fiz um favor. — Quer saber, por que você não vai atormentar sua namorada ao invés de mim? — Ela está em aula no momento. Ela é do segundo ano e eu do terceiro. Há vezes que não posso vê-la por conta disso. Suspirei fortemente. Eu tinha que arranjar outra maneira de me livrar dele. Mas até que senti uma ponta de pena dele. Imagine só, diário, ter que ficar al
— Por favor, me explique de novo. — Eu ainda estava o seguindo. Nós ainda estávamos no campus, indo em direção ao prédio onde ficava o dormitório dele. Meus tênis ainda permaneciam em minhas mãos e meus pés afundavam na macia grama. — Não tenho mais tempo — diz ele. — Tem muito tempo sim! — O fiz parar novamente com um tapa forte em seu braço. — Se me esperou até sair daquele quarto, pode me dar uma explicação! — Não vou explicar de novo e pronto! — Ele continuou a caminhar. — Você ficou prestando atenção em outra coisa porque quis! — Eu estava prestando atenção em você! Tudo bem que era nos seus olhos,
— Você leu meu diário, sua...! — gritei. — Eu tinha que saber a verdade. E agora você não tem mais como esconder. Sei de tudo. Você ficou para mim transparente como a água agora. Sentei em minha cama, fechei os olhos por alguns segundos, soltei um suspiro e perguntei: — Que parte do meu diário você leu pra chegar nessa conclusão? — “... Eu queria tanto pôr as mãos naquele... garoto de olhos lindos!” — disse ela, tentando imitar minha voz de forma inútil. — Tudo bem, eu admito. Agora só uma coisa: eu não gosto do jeito que você pensa. Apenas tenho uma... — Eu estava tentando achar a palavra certa. — Quedinha. 
Tudo o que se podia ouvir na sala, quebrando o silêncio, era meu choro abafado. Eu queria descobrir se o Abridor de Malas estava com pena de mim, mas não tive coragem o suficiente para olhá-lo com minha mãe por perto. Nunca tive medo da minha mãe, mesmo assim, as vezes me bate uma dor no peito, porque eu sei que no fundo daquele coração, ela me odeia por eu ser sua filha. Não pedi pra nascer, sei disso, porém, as vezes peço para morrer. — Responda ou eu vou jogar meu sapato em você! — gritou ela. Não tenho dúvidas de que sua paciência se esgotou. — Por favor, fique calma, senhora — implorou a diretora. Era tarde demais para que minha mãe se acalmasse. — Calma? Calma? Como posso me acalmar?&