Eu estava correndo igual a uma louca. Qualquer um podia ver a fúria nos meus olhos que consumia minha alma. Quando aquele garoto estiver em minhas mãos, farei estragos apenas com minhas unhas. Nenhum garoto que teve a coragem para arrancar minha blusa favorita de meu corpo, terá coragem de me enfrentar frente a frente. As pessoas que nos olhavam correr como loucos pelo pátio: ou riam ou ficavam surpresos. Ninguém, sequer falava alguma coisa, apenas mostrava uma expressão qualquer. Não digo porque queria chamar a atenção, mas apenas queria que as pessoas o parassem para que eu pudesse fazer meu trabalho.
Aqui vai uma lista das coisas que as pessoas podiam ver, especialmente para você, diário:
> Um menino e uma menina correndo;
> O menino segurando uma blusa rasgada atrás;
> A menina segurando com as duas mãos os seios;
Diário, se você tivesse olhos, poderia contemplar ao vivo as minhas expressões confusas e aleatórias.
— Pare de correr seu maldito ladrão de blusas! — gritei de maneira inútil. Se ao menos eu conseguisse chegar perto o suficiente para tocá-lo, as coisas poderiam se tornar mais fáceis.
Infelizmente ele corria mais rápido, mas ninguém tem o direito de me julgar. Não sou mais lerda que aquele idiota, o problema está apenas em ter que segurar meus seios. Será que não tinha outra maneira da professora me ter feito passar vergonha? Porque além de ser o mico dos micos é quase impossível correr assim.
Enquanto eu tinha esperança de que as coisas não poderiam ficar pior. Elas ficaram. Irônico, não é mesmo? Tinha que ser justo a garota semi-nua a cair exatamente na diretora, enquanto ela caminhava pelo colégio enorme com mais de 1000m². É uma droga essa coisa de que nós passamos na mesma hora e no mesmo local.
★Dica 11 = Quando estiver correndo por um colégio: nunca caia na diretora. É a pior coisa que pode acontecer, principalmente se você estiver sem blusa e sutiã.★
— O que você está fazendo menina? — perguntou ela. Nos levantamos no mesmo instante. Claro que ela levou um pouco mais de tempo para se levantar, por ser... um pouco mais avançada na idade do que eu.
— Desculpe, diretora. Não foi a minha intenção.
— Então que intenção você tinha de correr pelo colégio desse jeito? — De um jeito ou de outro, eu tinha que arranjar uma desculpa muito boa para explicar minha situação. A única desculpa que eu tinha, era dizer logo a verdade e acabar com tudo isso.
— Eu juro diretora, não foi culpa minha — digo.
Na verdade, foi tudo culpa minha. Pra começar: se eu não tivesse desafiado a professora, ela não teria cortado minha blusa. E se eu não tivesse ido falar com aquele infeliz, ele não sairia correndo com a minha blusa em mãos.
— Chega de desculpas! Venha comigo para minha sala agora! — Suas mãos chegaram em um de meus braços e eu quase fui carregada por ela. Acho que isso só não aconteceu porque de uns dias pra cá, venho ganhando uns quilos a mais.
Quando cheguei com o braço vermelho e com a marca da mão dela, a diretora me soltou e me pediu educadamente para sentar em uma das cadeiras que ficava em frente a sua mesa.
— O que você tem na cabeça? — Não era o tipo de primeira pergunta que eu imaginava que ela faria.
— Cérebro — digo tentando parecer brincalhona, mesmo estando muito encrencada.
— Não é o que parece — rebateu friamente.
Essa doeu. Eu senti ela me chamando de burra. Não sabia que pequenas e poucas palavras a um comentário de brincadeira, poderiam machucar tanto. Um longo e esquisito silêncio percorreu por aquela sala.
— Agora vamos tratar de seus problemas: por que saiu correndo pelo colégio apenas de calça e sapato?
— Só corrigindo: eu estou de tênis. E não foi minha culpa. Uma professora desmiolada cortou minha blusa com um canivete de cima a baixo com o meu sutiã junto.
— O que exatamente você fez antes de que isso ocorresse?
— Só gritei com ela um pouco, porque ela havia me chamado de mocinha e eu odeio quando qualquer pessoa me chama assim.
— Eu creio que não saiba que aquela professora tem seus... problemas psicológicos...
— Ou seja, ela é doida.
— Não exatamente isso. — A diretora limpa a garganta. — De qualquer forma, a única pessoa culpada aqui por ter a blusa cortada é você.
— Ah, me desculpe — fui irônica —, mas como eu iria saber que a professora desse colégio iria me deixar praticamente pelada?
— Para começo de conversa, você deveria tê-la obedecido. Se você tivesse ficado com a boca fechada e tivesse ido sentar em seu lugar, não estaria a ponto de ganhar um castigo. — Ela mexia em seu computador. Acho que deveria estar olhando a cena que ficou gravada pela câmera da sala.
— Eu sei diretora, mas eu não imaginava que as coisas poderiam chegar a esse ponto.
— Agora que aconteceu só te resta lamentar. — Ela suspirou. — E por que saiu sem nada na parte de cima? Se ela apenas cortou sua blusa, era de se esperar que você a usaria para se cobrir.
— Eu estava com as mãos e então a senhora não pode me dizer que eu "estava sem nada". — Olhei para mim mesma lembrando que eu ainda estava semi-nua e bem na frente da diretora. — Bom, diretora, eu ainda estou...
Ela pareceu ter levado um choque. Acho que ela se esqueceu mesmo que eu estava apenas com minhas mãos cobrindo meus seios. Provavelmente deveria estar tão concentrada em preparar um castigo terrível para mim que nem estava olhando para minha quase nudez.
— Vá colocar uma blusa e depois volte aqui. Temos muita coisa para conversar ainda.
Eu estava caminhando super nervosa e envergonhada pelo colégio. A diretora pelo menos poderia ter me dado algo para me esconder — até um saco de compras me serviria nessa situação. Ou ela poderia ter dito logo o que ela quer de mim. Ou simplesmente ter enviado um helicóptero — ok, acho que isso é mais impossível. Cada neurônio trabalhava em um plano para acabar de vez com aquele idiota do ladrão de blusas e abridor de malas. Estou cansada dele me fazer de idiota.
— Gostou de eu ter roubado sua blusa? — Aquele abridor de malas estava me seguindo novamente. Aposto que veio aprontar mais alguma para cima de mim.
— O que você veio fazer agora? Roubar minha calça também? — perguntei sem o mínimo de delicadeza possível.
— Por enquanto não. — Ele mostrou um sorriso torto; sarcástico. Acho que ele queria me provocar tentando me convencer que aquilo era uma ameaça.
— Pode devolver a minha blusa? — perguntei esperando uma resposta positiva.
— Tarde demais.
— O que você fez?
— Dei pra minha namorada. Ela disse que adorou a blusa.
— Mesmo rasgada atrás?
— Ela sabe costurar, sabia?
— Não dou a mínima, mas pode esperar que eu vou recuperar minha blusa, custe o que custar.
— Mesmo se ficar mais tempo ainda de castigo?
— Farei de tudo. Não serei pega para que isso aconteça — falei destemida. Aquelas foram minhas últimas palavras antes de eu sair correndo para meu quarto, querendo me vestir logo e desejar que as pessoas que me viram sem blusa e correndo atrás daquele ladrão de blusas, esqueçam a cena.
O bom dele ter dado a sua namorada minha blusa, é que ela estará novinha em folha quando eu for buscá-la. Assim saberemos se aquela tal namorada sabe costurar.
Dessa vez eu coloquei uma blusa completamente preta e pra não ficar só uma blusa comum, coloquei uma blusa fina de abotoar, aberta — quadriculada preto e branco. Ficou bem bonito em mim. Nunca tinha experimentado essa roupa, mas chega de falar sobre moda. Agora é hora de enfrentar a diretora.
Eu estava caminhando em pequenos passos. Confesso estar com medo daquela diretora. Se a professora cortou minha blusa, imagine o que essa diretora pode fazer, ainda mais sendo alguém que tem mais controle sobre o colégio.
★Dica 12 = Tente adiar ao máximo sua “morte”.★
Sim, eu sei: apenas passos curtos não irão adiantar. Em algum momento eu vou chegar na sala dela e então receberei o castigo mais terrível de todos que ela deve estar aproveitando o tempo que estou fora para continuar planejando.
Durante o pequeno percurso, não aconteceu nada em especial. Só alguns comentários sobre eu ter corrido igual a uma louca. E por eu ser corajosa o suficiente para ter gritado com a professora... Coisas do tipo. Mesmo conversando com pessoas super legais e sociáveis, aquela minha lerdeza até a sala da diretora só podia estar piorando mais ainda todo o meu desastre do dia de hoje. Me despedi de uma garota que parou para elogiar minhas mechas e agora era oficial: eu iria enfrentar a diretora de uma vez.
Minhas mãos tocaram a maçaneta pintada de dourado — dava para sentir que estava descascando na parte de baixo —, e só então percebi que elas estavam completamente molhadas de suor. Agora sei o quanto estou nervosa.
— Onde nós estávamos? — Eu ainda estava terminando de entrar e fechar a porta, quando ela já veio com uma afirmação: — Ah, sim, você estava dizendo que não era culpa sua, e é ai que entra minha pergunta: por que saiu pelo colégio daquele jeito?
Me sentei na cadeira antes de começar a responder:
— Um garoto idiota roubou minha blusa.
— Essa é a sua explicação?
— Sim. É a verdade e é a única coisa que tenho pra dizer e me defender.
— Isso não me convence.
— Mas diretora eu juro pra você que é a verdade.
— Sabe o nome dele?
— Não.
— Sem o nome dele para provar que você está falando a verdade, não posso te ajudar. Vou chamar sua mãe para termos uma conversa.
— Isso não é justo! — Me levantei bruscamente da cadeira. — Não foi culpa minha se aquele garoto tirou a blusa de mim. Eu não tenho uma bola de cristal para prever que um garoto maluco me deixaria semi-nua!
— Sabe qual é o quarto dele? Talvez eu consiga identificá-lo.
— Eu não. Por que saberia? Acabei de chegar no colégio.
— Você sabe como ele é, então? — A paciência dela já estava quase no fim.
— Ele tem cabelos pretos e seus olhos são verdes.
— Em que ano ele está? Sabe em que ano ele está? — ela estava tão nervosa que repetiu a mesma pergunta.
— Acho que no terceiro ano, igual a mim. — Aquele nervosismo dela todo, me assustava um pouco. Cheguei até a abaixar o tom da voz.
Ela deu um suspiro muito longo. Longo até demais. Ela parecia saber e já esperar quem deveria ser.
— Sente-se e aguarde um pouco. Já sei quem é o indivíduo que eu procuro.
Ela saiu da sala e me deixou lá, sentada na cadeira e sozinha, sem absolutamente nada para fazer a não ser ficar olhando pras paredes ou objetos.
Sabe, diário, acabei de pensar em uma coisa: eu tenho inveja dele. Por quê? Porque não é justo aquele idiota ter nascido com olhos tão lindos. Acho que nem a genética estava do meu lado. Meu pai tem olhos verdes e mesmo assim, não consegui nada. Apenas consegui olhos negros que a maioria dos jovens hoje em dia tem. Mas é claro que não dou tanta importância assim para esse tipo de coisa. Isso é só uma maneira minha de distrair a cabeça, enquanto a diretora tenta achar aquele abridor de malas.
Depois de uns vinte minutos, a diretora voltou com ele ao seu lado. Por que ela não o puxou pelo braço igual fez comigo?, penso. Foi injusto ela ter ferido meu pobre braço. Pelo menos as marcas de suas mãos e dedos já desapareceram.
— Nos conte tudo, garoto. — Ela estava se sentando em sua cadeira, enquanto o garoto se sentava na cadeira que estava ao meu lado. Talvez essa seja uma ótima oportunidade para querer arrancar cada centímetro de pele que haja nele por ter tirado minha blusa na hora errada. Mas não posso negar que foi divertido. Se eu o agredir na frente da diretora, pode ser que ela fique ao seu lado, então é melhor deixar essa idéia pra ser executada mais tarde, longe do olhar da diretora. Primeiro preciso que ela o inclua na lista de suspeitos além de mim.
— Eu não sei de nada. Eu juro. Ela está mentindo. Eu não tenho nada a ver com isso. — Tenho que admitir que ele sabe mentir muito bem.
— Pare de mentir seu ladrão de blusas! — gritei me levantando da cadeira com vontade de socá-lo.
— Você é que está mentindo! Eu não tenho nada com você! — gritou em sua defesa. Ele também se levantou mostrando ser mais alto, mas nada disso me motivava a ter medo dele. Droga, quando ele vai admitir de uma vez? Ele quer que eu acabe de castigo sozinha?
— Diga logo a verdade seu...! — ameaço a dizer.
— Silêncio! Não quero brigas em minha sala! — até mesmo a diretora gritou. Nossas gritarias estão só deixando as coisas pior pra mim. Acho que nem mesmo ele a diretora está considerando. É bem possível que ela já esteja anotando mentalmente todas as coisas que estou fazendo desde que cheguei.
Ficou tudo em silêncio. Eu e aquele ladrão de blusas estávamos nos encarando, ainda em pé. Eu tentava mostrar ódio, mas confesso que adorava ficar olhando pra aqueles olhos verdes.
Ele desviou seu olhar de mim e olhou para a diretora.
— Diretora, eu estou falando a verdade. Essa garota está inventando tudo. Por qual motivo eu roubaria a blusa dela?
— Pode ir — ela falou tão diretamente que me fez estranhar, juntamente com aquele ladrão de blusas.
— Eu? — perguntei esperando que a resposta fosse positiva.
— Não. — Quase me deu vontade de gritar com ela por sua resposta. Quer dizer que vou levar toda a culpa sozinha por causa das mentiras daquele garoto? — Ele é que pode ir.
— O quê? Por quê? — as palavras simplesmente saíram. Eu não estava conseguindo conter todo meu ódio que caía sobre todos daquela sala, inclusive eu mesma.
★Dica 13 = Tente se defender, mesmo que todos estejam contra você.★
— Porque dessa vez vou acreditar nele — respondeu ela.
— Mas a novata aqui sou eu! — meu tom de voz saiu elevado. Por pouco não gritei.
— Não importa. Quem escolheu sair correndo por ai sem blusa foi você.
— Eu não escolhi nada! — Era tarde demais para retirar o que eu havia dito. Como eu pude ter a coragem de realmente gritar com a diretora?
— Conte logo a verdade. — Ele ainda teve a coragem de piscar para mim e aproveitar a chance de ir embora.
Ah, quando eu sair daqui vou fazer estragos ainda maiores com minhas unhas. Ele vai me deixar mesmo aqui, sozinha, para ir curtir a vida. Se a diretora decidiu acreditar nele, não posso fazer nada para impedir. A única solução é aguentar tudo que ela vai decidir jogar para cima de mim. Mas é sério, diário, não me deixe esquecer que tenho agora três motivos para querer matar aquele abridor de malas e ladrão de blusas:
> Abriu minha mala cheia de calcinhas;
> Roubou minha blusa rasgada me deixando semi-nua;
> Deixou que eu levasse toda a culpa por uma coisa que ele fez;
— Como eu disse anteriormente: irei chamar sua mãe para termos uma séria conversa sobre seu comportamento. Eu nunca esperaria que teria de fazer isso no seu primeiro dia de aula.
A única coisa que fiz foi soltar um suspiro.
— Pode me dizer, pelo menos, quando minha mãe virá ao colégio? Quero me preparar.
— Pedirei para ela vir amanhã.
— Ok, posso sair agora?
— Pode sim. E tente não repetir esse episódio, por favor.
Eu não quis responder nada. Fui embora antes que ela fizesse outro comentário que me incomodasse e que me fizesse lembrar do maldito garoto que me meteu nessa encrenca toda e ainda saiu por cima, feliz da vida.
Eu queria tanto pôr as mãos naquele... garoto de olhos lindos! O quê? Que coisa mais idiota eu acabei de escrever? Diário, por favor, me diz que eu não o chamei de lindo. Estou começando a achar que até meu cérebro está contra mim nessa batalha. Qual é, até ele está do lado daquele ladrão de blusas. Será que não existe ninguém nesse mundo que fica do meu lado?
★Dica 14 = Tenha cuidado com as coisas que você pensa e escreve. As vezes nosso cérebro adora pregar umas peças na gente.★
Decidi mexer no celular para tentar acalmar os nervos. Ali, eu apenas fazia anotações em um aplicativo para colocar no meu diário mais tarde e também o manter atualizado das coisas que anotava no diário. Droga, mais uma vez acabei de lembrar que não tenho mais minhas amigas para desabafar. Um dia se passou aqui no colégio e já estou achando isso um inferno... Odeio minha mãe. Só tenho agora um diário que mal sei como usá-lo para dizer as coisas que sinto.
Enquanto eu mexia de maneira distraída no celular, acabei caindo como no primeiro dia de aula, mas dessa vez caí junto com alguém. Abridor de Malas.
— Você está me seguindo, garoto que abriu minha mala? — Eu estava em cima dele e pude observar diretamente seus olhos verdes mais uma vez.
— Pode ser que sim ou pode ser que não. — Ele me mostrou um sorriso bobo assim que terminou a frase.
— Olha, se você quer continuar arranjando encrenca na minha vida, é só me dizer. — Me levantei.
— Eu quero continuar arranjando encrenca na sua vida. — Ele se levantou querendo rir de sua própria frase.
Antes mesmo que ele pudesse se dar conta, minhas mãos fizeram um ótimo trabalho na sua bochecha, ou seja, lhe dei um tapa bem dado na cara. Vamos parar para pensar, diário: ele merecia isso desde que abriu minha mala.
★Dica 15 = Se um garoto fizer alguma coisa que você não goste: se defenda. Dê um tapa na cara dele se for preciso.★
— Por que você fez isso? — Eu podia ver que ainda restava uma sombra de dúvida no seu rosto quanto ao real motivo do tapa. Eu tenho certeza que ele sabia muito bem, apenas perguntou para confirmar. — Você mereceu e era pra eu ter te dado ele ontem, quando abriu a minha mala. — Foi você que disse pra eu dizer. Só te fiz um favor. — Quer saber, por que você não vai atormentar sua namorada ao invés de mim? — Ela está em aula no momento. Ela é do segundo ano e eu do terceiro. Há vezes que não posso vê-la por conta disso. Suspirei fortemente. Eu tinha que arranjar outra maneira de me livrar dele. Mas até que senti uma ponta de pena dele. Imagine só, diário, ter que ficar al
— Por favor, me explique de novo. — Eu ainda estava o seguindo. Nós ainda estávamos no campus, indo em direção ao prédio onde ficava o dormitório dele. Meus tênis ainda permaneciam em minhas mãos e meus pés afundavam na macia grama. — Não tenho mais tempo — diz ele. — Tem muito tempo sim! — O fiz parar novamente com um tapa forte em seu braço. — Se me esperou até sair daquele quarto, pode me dar uma explicação! — Não vou explicar de novo e pronto! — Ele continuou a caminhar. — Você ficou prestando atenção em outra coisa porque quis! — Eu estava prestando atenção em você! Tudo bem que era nos seus olhos,
— Você leu meu diário, sua...! — gritei. — Eu tinha que saber a verdade. E agora você não tem mais como esconder. Sei de tudo. Você ficou para mim transparente como a água agora. Sentei em minha cama, fechei os olhos por alguns segundos, soltei um suspiro e perguntei: — Que parte do meu diário você leu pra chegar nessa conclusão? — “... Eu queria tanto pôr as mãos naquele... garoto de olhos lindos!” — disse ela, tentando imitar minha voz de forma inútil. — Tudo bem, eu admito. Agora só uma coisa: eu não gosto do jeito que você pensa. Apenas tenho uma... — Eu estava tentando achar a palavra certa. — Quedinha. 
Tudo o que se podia ouvir na sala, quebrando o silêncio, era meu choro abafado. Eu queria descobrir se o Abridor de Malas estava com pena de mim, mas não tive coragem o suficiente para olhá-lo com minha mãe por perto. Nunca tive medo da minha mãe, mesmo assim, as vezes me bate uma dor no peito, porque eu sei que no fundo daquele coração, ela me odeia por eu ser sua filha. Não pedi pra nascer, sei disso, porém, as vezes peço para morrer. — Responda ou eu vou jogar meu sapato em você! — gritou ela. Não tenho dúvidas de que sua paciência se esgotou. — Por favor, fique calma, senhora — implorou a diretora. Era tarde demais para que minha mãe se acalmasse. — Calma? Calma? Como posso me acalmar?&
— Está bem, já entendi. Chega de encher meus ouvidos com isso — digo. Ela semicerrou os olhos e disse: — Espero que tenha entendido mesmo. Agradeci que encerramos esse assunto. Depois disso, começamos a conversar algumas coisas bobas, como garotas normais fariam. Fico feliz que ela também, de vez em quando, consiga ser uma garota normal. Quando não está passando por um momento bipolar, gosto dela. As conversas e as coisas engraçadas e bestas que ela diz são boas de ouvir. Ela seria uma perfeita amiga se não tentasse me matar de vez em quando. As vezes tenho até medo de dormir perto dela. Vá saber o que ela pode fazer enquanto eu estiver dormindo. Meia-noite nós fomos dormir. Bom, eu não queria ter ido dormir. O papo entre mi
Diário, eu ainda não sei se minha expressão no momento é de raiva ou de nojo. Minha mente ainda não conseguiu processar o que acabou de acontecer. Aquele maldito Abridor de Malas, além de jogar água no meu rosto, conseguiu acertar minha boca. Vou acabar com ele por isso. — Foi mal ai, garota. Não vi que estava de boca aberta — dizia ele entre risos. Como ele pode rir quando estou tendo um ataque de nojo? Não imaginava que essa nossa guerrinha pudesse terminar assim. Ainda me pergunto o por quê de eu ainda estar com aquela água suja dentro da boca. Já era pra eu ter cuspido, não é? Sabe, as vezes me odeio por esquecer do que está acontecendo ao meu redor. Cuspi aquela água de volta na privada. — Vou te mat
A resposta que ele havia me dado, só me deixou com mais raiva e ainda mais curiosa. Eu preciso de respostas. Ele mentiu pra mim e agora quero saber o por quê. — Me diz logo. Por que minhas blusas ainda estam aqui? — Eu queria tanto poder gritar, mas o colega de quarto dele dormindo, me impedia de fazer isso. — Eu ainda não tive tempo de dar pra Carol. — Dessa vez ele conseguiu soar como se estivesse falando a verdade, mas eu sabia que não estava. Olhos não conseguem mentir. — Mentira. Se fosse isso, você não teria gaguejado na primeira vez que eu perguntei. E também não me olharia desse jeito.★Dica 46 = Sempre tente descobrir quando a pessoa está mentindo. Analise desde a primeira fala que supostamente começou a mentira.★
Lá estava o Abridor de Malas, fechando a porta atrás de si. Seu único comentário me fez ferver de raiva. Ele não acreditava em mim. — Você não me conhece — respondi seca. — Não nos conhecemos direito pra você saber que eu levo muito jeito pra isso sim. — Duvido um pouco. Você tem mais jeito pra ser rockeira do que líder de torcida — respondeu ele de maneira neutra. — Cale a boca! Já te disse: você não me conhece. ★Dica 51 = Quando estiver tentando fazer algo, nunca perca a razão que vai conseguir.★<