Lá estava o Abridor de Malas, fechando a porta atrás de si. Seu único comentário me fez ferver de raiva. Ele não acreditava em mim.
— Você não me conhece — respondi seca. — Não nos conhecemos direito pra você saber que eu levo muito jeito pra isso sim.
— Duvido um pouco. Você tem mais jeito pra ser rockeira do que líder de torcida — respondeu ele de maneira neutra.
— Cale a boca! Já te disse: você não me conhece.
★Dica 51 = Quando estiver tentando fazer algo, nunca perca a razão que vai conseguir.★<
Fomos para o vestiário e todas nós colocamos os uniformes. O uniforme era apenas um top vermelho justo e uma saia rodada com uma listra branca na barra. O tênis, nós mesma que podíamos escolher. Sabe, diário, não estava me sentindo tão confortável como deveria. Nunca havia colocado tão pouca roupa nesses últimos meses. Nem mesmo biquíni eu usava, muito menos roupas desse tipo. Não acredito que Betânia está me fazendo passar por isso. Assim que terminei de me trocar, dei uma olhada rápida para ver como Betânia estava com o uniforme. Ela estava fofa. Em seu umbigo, dava pra ver um piercing de argola prateado. Se ela tivesse vindo falar comigo quando tinha acabado de se arrumar, eu juro que faria um belo elogio a ela. Agora a coisa mais importante que
— Vou te levar pra enfermaria — disse Dani com voz de preocupação. — Deixa que eu levo — ofereceu-se o Abridor de Malas enquanto se levantava da arquibancada, vindo na nossa direção. — Obrigada, jovem — agradeceu Danielle. Diário, será que dá pra você me explicar o motivo do Abridor de Malas ter se oferecido para me levar até a enfermaria? Bom, acho que nem você sabe. O que ele quer conseguir com isso? Será que ele já me considera tanto sua amiga assim? O Abridor de Malas me pegou no colo e começou a me carregar até a enfermaria. No caminho, ele começou a falar algumas coisas comigo, mas não consegui ouvir por estar sentindo muita dor. Achei a ação dele bem... Heróica
Foi anunciado o intervalo pelo interlocutor. Ficamos bastante agitadas e nervosas, mas tentamos, acima de tudo, manter a calma. Juntamos as mãos por um minuto e logo já estávamos andando em direção ao campo. Está na hora de começar. — Agora teremos uma pequena apresentação das líderes de torcida dos jogadores da casa — anunciou o interlocutor assim que começamos a aparecer no campo. Começamos a fazer a apresentação da maneira que fora ensaiado anteriormente. Mesmo com poucos ensaios, eu diria, com toda certeza, que fomos muito bem. No geral, meu tornozelo não chegou a atrapalhar tanto como eu imaginava. A hora da pirâmide estava chegando. Não sei se ficaria da maneira como ficou no treino — eu na base —, ou se faríamos difere
— Um pouco — a resposta veio quase de imediato. — Eu vou te matar! — gritei o mais alto possível. — Sorte sua por eu estar com a perna quebrada! — Pare de gritar. Vão pensar que estou fazendo alguma coisa com você — ele pareceu um pouco desesperado e assustado. — Mas como? Como? Como teve coragem de ler meu diário? — eu ainda soava como se estivesse em chamas. E realmente ainda estava zangada. — Tendo — respondeu sorrindo, como se a um segundo atrás não tivesse dito o que disse. Assim que ele respondeu, tentei procurar alguma coisa para jogar nele, mas não encontrei nada. Ele merecia ter algo na cara nesse momento. — Lá vem você com essas
— Obrigada, mãe! — Com um pouco de dificuldade, dei um abraço apertado nela. — Não exagere ou eu mudo de ideia. Imediatamente eu a soltei. Não poderia ser agora que a bondade dela poderia acabar. ★Dica 76 = Quando sua mãe demonstrar um pouco de bondade, não deixe que acabe.★ Antes de sair junto dela do quarto, peguei meu celular e meu diário e pedi, com todo um jeitinho especial, para que ela levasse as flores pra casa e cuidasse delas. Saímos junto do quarto, mas sem quase dizer nada. Eu acho que nem tchau ela vai me dar. Depois de pouco tempo, já estávamos na entrada do hospital. Um local que tinha uma parte gramada, onde tinha dois bancos de madeira pouco separados.<
— Como está seu namoro? — era a voz da Betânia que eu conseguia ouvir atrás da porta. — Está horrível — agora era a voz da Carol em lamento. — Mas por que, amiga? — Sabe aquela garota que dorme aqui? — Sei. — Então. Ela está estragando meu namoro... — Eu já avisei várias vezes pra ela. — Houve um suspiro. — Mas não adiantou de nada. — Vou ver o que posso fazer. — Obrigada. Ela vai pagar caro por isso! — falou Carol em tom raivoso. — É assim que se fala! E aquela idiota acha que sou doente.
Parecia aquelas brigas infantis com arranhões e tapas. A minha felicidade não estava no rosto, mas eu estava bem feliz porque era eu que estava ganhando — pelo menos achava. Eu podia ver que ela estava sofrendo com a minha raiva e ódio projetados nas unhas. — Meninas! Peguem ela! — gritou a garota assim que lhe dei um arranhão tão forte que vi uma linha de sangue na sua bochecha. Duas do grupo me pegaram pelos meus braços. Elas me deixaram “em pé” — elas me seguravam pelos braços, mas de uma forma em que o peso do meu corpo ainda ia para as pernas —, só que de uma forma que estava machucando minha perna quebrada. Ah, diário, não me diga que ela me deixou vulnerável por medo de perder... Além de ser implicante, não sabe quando é hora de parar, mesmo perdendo.
A enfermeira deu uma olhada no meu braço, o que demorou uns cinco minutos. O ar-condicionado da enfermaria estava ligado e isso me deixava um pouco mais relaxada mediante a situação. — Está tudo bem? — pergunto um pouco ansiosa. Parte dessa ansiedade era medo. — Não totalmente. — Ela olhou pra mim por míseros segundos e voltou seu olhar ao meu braço. — Vou retirar os pequenos pedaços de vidros ainda presos, darei uma limpada para que não tenha risco de infeccionar e por último vou fazer um curativo. Alguns cortes foram profundos, mas nada que precise de pontos. — Por quanto tempo terei que ficar com o curativo? — Eu recomendo um mês, porém, depois de três ou duas semanas, você pode retirar o curativo. Isso