— Como está seu namoro? — era a voz da Betânia que eu conseguia ouvir atrás da porta.
— Está horrível — agora era a voz da Carol em lamento.
— Mas por que, amiga?
— Sabe aquela garota que dorme aqui?
— Sei.
— Então. Ela está estragando meu namoro...
— Eu já avisei várias vezes pra ela. — Houve um suspiro.
— Mas não adiantou de nada.
— Vou ver o que posso fazer.
— Obrigada. Ela vai pagar caro por isso! — falou Carol em tom raivoso.
— É assim que se fala! E aquela idiota acha que sou doente.
Parecia aquelas brigas infantis com arranhões e tapas. A minha felicidade não estava no rosto, mas eu estava bem feliz porque era eu que estava ganhando — pelo menos achava. Eu podia ver que ela estava sofrendo com a minha raiva e ódio projetados nas unhas. — Meninas! Peguem ela! — gritou a garota assim que lhe dei um arranhão tão forte que vi uma linha de sangue na sua bochecha. Duas do grupo me pegaram pelos meus braços. Elas me deixaram “em pé” — elas me seguravam pelos braços, mas de uma forma em que o peso do meu corpo ainda ia para as pernas —, só que de uma forma que estava machucando minha perna quebrada. Ah, diário, não me diga que ela me deixou vulnerável por medo de perder... Além de ser implicante, não sabe quando é hora de parar, mesmo perdendo.
A enfermeira deu uma olhada no meu braço, o que demorou uns cinco minutos. O ar-condicionado da enfermaria estava ligado e isso me deixava um pouco mais relaxada mediante a situação. — Está tudo bem? — pergunto um pouco ansiosa. Parte dessa ansiedade era medo. — Não totalmente. — Ela olhou pra mim por míseros segundos e voltou seu olhar ao meu braço. — Vou retirar os pequenos pedaços de vidros ainda presos, darei uma limpada para que não tenha risco de infeccionar e por último vou fazer um curativo. Alguns cortes foram profundos, mas nada que precise de pontos. — Por quanto tempo terei que ficar com o curativo? — Eu recomendo um mês, porém, depois de três ou duas semanas, você pode retirar o curativo. Isso
O barulho era muito alto. Era impossível sair dali sem ser vista. Mesmo assim tentei. Peguei minhas muletas e fiquei atrás da porta. Meu coração estava pulando no ritmo do alarme. Diário, juro que eu estava mais desesperada do que parecia. ★Dica 96 = Mesmo sabendo que está encrencada, tente dar um jeito de disfarçar.★ Não põe a culpa em mim, diário. Eu estava desesperada e não tinha outra alternativa. Só me escondi atrás da porta, porque era uma frustrante tentativa de não levar castigo por isso. Se eu tiver sorte, ela pode não notar que estou aqui. Tudo que me resta agora é rezar para que ela não olhe para trás da porta. — O que está acontecendo aqui? — gritou a diretora, ent
Betânia afirmou com a cabeça, enquanto eu engolia em seco. Me virei pra diretora, não consegui identificar expressão alguma em seus olhos. Queria tanto qualquer pista sobre o que ela quer conversar comigo. Diário, queria tanto que algo ou alguém me salvasse... Bem que poderia cair um carrinho de sorvete voador em cima dela. — Você não vai morrer. Apenas me siga — falou a diretora por fim. A diretora me levou a diretoria. Ok, agora não me resta nem um pingo de dúvida de que estou encrencada. Meu Deus, o que será que eu fiz dessa vez? Deve ter sido algo gigantescamente idiota. Ela fez com que eu sentasse, sentou em sua cadeira e olhou-me fixamente. — Imagina por que está aqui? — perguntou ela. — N&ati
— Então por que seu diário diz o contrário? — Ela estava tirando meu diário da mochila que carregava e o jogou no chão. — Sei de todas as suas conversas com meu namorado e sei o tanto que você me odeia, mas vou avisá-la que não serei tão fácil de ser eliminada. Cuido muito bem do que é meu. — Ela me jogou um olhar mortal. Abri um sorriso sarcástico no rosto. Uma provocação havia chegado na minha mente. Está na hora de usar as minhas jogadas. Ainda bem que consegui pensar rápido. Pelo menos espero que minhas provocações sejam tão boas quanto estou pensando. ★Dica 106 = Deixe sua inimiga usar todos seus argumentos e arme alguns bem rápido.★ — Já qu
— Não vale. Você fez de propósito! — exclamo, começando a me irritar. — Só fiz o que a diretora pediu. — Ele deu de ombros. — Tinha que ser aquela bruxa — resmunguei. Queria ter dito apenas para mim mesma, mas acabou que falei um pouco alto demais. — Fica calma. Foi pro seu bem. Acredite. — Bem? Que tipo de “bem” é esse? — Do tipo que ela se preocupa com você. — A diretora? Preocupada comigo? — falei com voz de deboche e ri. — Nem no núcleo da terra, isso seria capaz de acontecer. — Dei mais uma pequena risada da minha piada sem graça. — Por favor. Pegue minhas muletas. — Pra quê?
— Por que fez isso? — Eu e Diana questionamos em uníssono. — Foi uma prevenção — respondeu Betânia. — Acho melhor a gente sair daqui. A qualquer momento uma das duas pode sair. — Você está certa, vamos — Diana falou e todas nós saímos dali. Enquanto íamos passeando pelo pátio, vimos uma sombra de árvore e decidimos sentar ali. Precisávamos nos distrair um pouco e aproveitar nosso tempo livre: — Vejo que gosta muito de azul — comentou Diana de repente, se referindo a mim. — Gosto bastante, mas não é minha cor favorita — digo. — E qual é? — Amarelo. Amo muito, mas acho q
— Pode tentar esconder o quanto quiser. — Diana abriu um sorriso maléfico. — A Betânia já me contou tudo. — Betânia, sua vaca! Não era pra contar — rosnei. — Alessandra, o quanto você é tonta? — Diana riu. — Ela não me disse nada. Mas você me deu a confirmação. — Se você contar pra alguém eu...! — Ele tá vindo. — Ela apontou para algum lugar, mas não me dei o trabalho de virar para ver. — Quem? — Quem você acha? O seu namorado, é claro. — Ela riu. — Pare de implicar comi... Foi só então que vi. Ele rea