Capítulo 2

Sebástian

Engoli a seco enquanto ela se afastava. Minha mente vagava repetindo suas últimas palavras. Nunca poderia imaginar que Soraya fosse me abandonar, e pior, deixando seus filhos para trás. Minha mãe resgatou os bebês de meu colo, eu não tinha reação. Fiquei ao chão, parado, com os olhos fixados na porta. Ela me deixou. Um tempo depois, levantei e me tranquei ao quarto. Deixei as lágrimas caírem, elas foram direto para nossa foto de casamento no porta retrato. Soraya estava linda nesse dia, um vestido simples, rendado, com um buquê de rosas-brancas. Não queria se casar, aquilo era um tormento, mas como perdeu sua virgindade comigo, foi obrigada por seus pais. 

Soraya sempre foi ambiciosa, queria ganhar o mundo, e eu sabia disso, contudo, como um bobo apaixonado, acreditei que pudesse mudar, que conforme os anos passassem, o amor iria florescer, ainda mais quando descobri sua gravidez. Sinto um misto de vazio e preenchimento ao mesmo tempo, com os filhos enchendo meu peito, mas em compensação, sem minha mulher comigo. Meu corpo escorregou na porta, me permiti voltar ao chão, dessa vez com a foto dela grudada em meu peito.

— Como eu te amo meu amor.

— Meu filho. Junto as sobrancelhas quando dona Geane entra. — Não fique assim. Me parte o coração lhe ver tão triste. 

— Minha razão de viver foi embora. Como a senhora gostaria que eu estivesse?

— Sua razão de viver está no quarto ao lado. Seus filhos. Selene e Suel. São razões mais do que suficiente para sair desse chão, recuperar-se e esquecer dessa mulher. Não chore por ela. Soraya sempre foi uma ingrata, interesseira. Não merece uma lágrima sua. 

— É a mulher que amo.

— Ela não te ama. Nunca te amou. Desde pequena, Soraya dava indícios de ser ambiciosa, só gostava de brinquedos caros, andar com aquele nariz empinado, ostentando acessórios e roupas emprestadas das filhas dos patrões. Maldito seja aquele dia em que você tirou a virgindade daquela garota. Nossas vidas nunca mais foram as mesmas. Sabia que ia terminar assim, indo embora, e a desgraçada ainda lhe deixou os filhos recém-nascidos. 

— Soraya estava confusa. Eu li uma vez sobre isso, depressão pós-parto. Muitas mulheres rejeitam seus filhos através dessa condição. Claro que foi mãe, nunca faria isso conosco. Ela vai voltar.

— Ela não vai voltar.

— Vai sim! -  arranho a garganta pela força na voz.— Eu não aceito que tenha me enganado e esteja deixando as crianças de propósito. Algo aconteceu, e eu vou atrás dela para descobrir. Ela vai retornar a essa fazenda por bem, ou por mal, nem que para isso eu tenha que rodar aqueles cabelos negros em meu pulso e a trazer a força.

— Ir atrás dela? Não foi suficiente ter te abandonando? 

— Quero que fale com todas as palavras, olhando nos meus olhos que nunca me amou, que não ama seus filhos. Tenho certeza que a resposta será positiva. Eu acredito na mulher que tenho. Ela vai voltar e vamos formar a família que sempre sonhei. Eu acredito nisso.

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Logo descobri que minha esposa estava em um dos hotéis da cidade, na suíte mais cara, o que me fez questionar como conseguiu instalar-se. Deixei algumas notas ao taxista e entrei ao prédio. A recepcionista não quis ajudar-me, parti para o plano B. Aproveitei que um dos funcionários iria entrar ao elevador levando toalhas e lençóis, me posicionei atrás do monte e por ali me escondi. Pedi para que ele ficasse quieto e logo cheguei ao andar. Com três toques, ela abriu a porta. Estava com um robe branco, envelopando o corpo esculpido, deixando exposta uma de suas belas coxas grossas.

— O que está fazendo aqui?

Retomei a postura formal. Com os braços cruzados, entrei ao quarto. Tudo muito lindo e luxuoso, totalmente fora da nossa realidade.

— Ande, junte suas coisas e vamos para casa.

Sorri irônica.

— O quê? Você bebeu? Não está vendo que estou bem. Olha em volta. Esse quarto com móveis caros, televisão moderna, e o tapete? Felpudo que até faz cosquinhas nos pés.

— Eu não estou brincando Soraya. Pegue suas malas e desça comigo. O taxista ainda deve estar lá em baixo.

Ignora o que falo. Caminha em direção à cama, deita, e com um controle em mãos, movimenta o colchão, como se fosse a sua mais nova brincadeira.

— Essa cama é de terceira geração. Se apertar esse botãozinho, ela inclina. Não é um máximo?

Perco a paciência. Puxo seus pés, a retiro da cama colocando em pé a minha frente.

— Está louca, ou o quê? Não ouviu o que eu falei? Ela sorri. — Eu não sou idiota. Esse quarto. Essa joia pendurada no seu pescoço. - retiro brutalmente. — Essa maquiagem forte, quem foi que te deu? Seu amante?

Para de sorrir na mesma hora em que a puxo pelo braço, levando ao banheiro. 

— O que vai fazer comigo?

Abro a torneira, forço seu pescoço a descer, e começo a limpar seu rosto. 

— Sua idiota! Acha que isso é vida? Se prostituir em troca de joia, de luxo? Uma mãe de dois filhos, casada, cheia de problemas para resolver! Viro seu corpo. — Você tem duas crianças para criar. Elas precisam de você, eu preciso de você. 

Ela cospe em minha face.

— Mas eu não preciso de você, nem daquelas crianças. Acha que eu sinto algo por elas? Que eu gosto delas porque nasceram do meu ventre? - nega com a cabeça. — Eu não sinto nada por eles. Ao contrário, ter permitido que nascessem foi o pior erro da minha vida, mil vezes ter abortado. - pisco algumas vezes não acreditando no que estou a ouvir. — Ter esperado os nove meses somente atrasou a minha vida.

Para em frente a uma escrivaninha, se serve do uísque repousado nela. Penso em como tais palavras saíram de sua boca. É como se estivesse diante de uma nova criatura. Essa não é a mulher que escolhi para casamento. 

— Sabe, quando meu pai me obrigou a me casar com você, eu quase sofri um infarto. Imaginei que minha vida tivesse acabado. Só que Leandro viu em mim um potencial que eu não enxergava. Ele me seduziu, me galanteou, mostrou que a vida era muito mais do que afundar as botas em lama. 

— Meu patrão. - junto o cenho. — Muito mais velho que você. 

— E muito mais competente que você. Acha mesmo que eu queria viver ao seu lado para sempre? Tendo uma vida medíocre. Ordenhando vaca e retirando cocô de cavalo? - pende a cabeça observando meus olhos se encherem. — Ô meu Deus, você acreditou mesmo. Tadinho. Minha vida agora é ao lado do meu milionário, vivendo os melhores dias, aproveitando tudo que eu mereço. 

— E eu? E os seus filhos?

— Como eu disse, isso não é mais problema meu. 

A fúria se alastra em meu peito. Não espero nem mais um segundo e faço provar tudo o que me disse. A agarro pela cintura e com força junto nossos lábios. De começo se debate em meus braços, posteriormente acaba cedendo, retribuindo na mesma intensidade. Seu robe cai o chão, expondo o belo corpo queimado ao sol que tanto amo. Com mãos firmes a ergo em meus braços. A jogo na cama, encaixando o peso de meu corpo por cima.

Analiso suas curvas por completo, nua, exposta para mim. Paro a inspeção lembrando de seus atos. Em um solavanco, minha mão esquerda acopla em seu pescoço. Ela arregala os olhos parecendo um rato acuado. Passo o polegar por seus lábios, arranhando com minha aspereza. Abaixo o zíper. Em um movimento certeiro, entro forte em sua intimidade, a fazendo soltar um grito retido a garganta.

 Retiro e novamente coloco, dando início a uma sequência implacável. Ela se contorce em meus braços, como sempre faz. Estoco firme, esvaindo toda a minha fúria e mágoa por essa mulher. Não quero que sinta prazer, mas sim dor, como a que está me causando. Após alguns segundos, satisfeito e aliviado, levanto da cama. Pego aquela mesma nota de 20 reais que me ofertou e jogo na cama.

— Pelos seus serviços. Ela abaixa os olhos. — Nunca mais me procure. Quer viver como prostituta? Viva como uma, mas esqueça que meus filhos existem. Você morreu para mim.

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