Sebástian
Engoli a seco enquanto ela se afastava. Minha mente vagava repetindo suas últimas palavras. Nunca poderia imaginar que Soraya fosse me abandonar, e pior, deixando seus filhos para trás. Minha mãe resgatou os bebês de meu colo, eu não tinha reação. Fiquei ao chão, parado, com os olhos fixados na porta. Ela me deixou. Um tempo depois, levantei e me tranquei ao quarto. Deixei as lágrimas caírem, elas foram direto para nossa foto de casamento no porta retrato. Soraya estava linda nesse dia, um vestido simples, rendado, com um buquê de rosas-brancas. Não queria se casar, aquilo era um tormento, mas como perdeu sua virgindade comigo, foi obrigada por seus pais.
Soraya sempre foi ambiciosa, queria ganhar o mundo, e eu sabia disso, contudo, como um bobo apaixonado, acreditei que pudesse mudar, que conforme os anos passassem, o amor iria florescer, ainda mais quando descobri sua gravidez. Sinto um misto de vazio e preenchimento ao mesmo tempo, com os filhos enchendo meu peito, mas em compensação, sem minha mulher comigo. Meu corpo escorregou na porta, me permiti voltar ao chão, dessa vez com a foto dela grudada em meu peito.
— Como eu te amo meu amor.
— Meu filho. Junto as sobrancelhas quando dona Geane entra. — Não fique assim. Me parte o coração lhe ver tão triste.
— Minha razão de viver foi embora. Como a senhora gostaria que eu estivesse?
— Sua razão de viver está no quarto ao lado. Seus filhos. Selene e Suel. São razões mais do que suficiente para sair desse chão, recuperar-se e esquecer dessa mulher. Não chore por ela. Soraya sempre foi uma ingrata, interesseira. Não merece uma lágrima sua.
— É a mulher que amo.
— Ela não te ama. Nunca te amou. Desde pequena, Soraya dava indícios de ser ambiciosa, só gostava de brinquedos caros, andar com aquele nariz empinado, ostentando acessórios e roupas emprestadas das filhas dos patrões. Maldito seja aquele dia em que você tirou a virgindade daquela garota. Nossas vidas nunca mais foram as mesmas. Sabia que ia terminar assim, indo embora, e a desgraçada ainda lhe deixou os filhos recém-nascidos.
— Soraya estava confusa. Eu li uma vez sobre isso, depressão pós-parto. Muitas mulheres rejeitam seus filhos através dessa condição. Claro que foi mãe, nunca faria isso conosco. Ela vai voltar.
— Ela não vai voltar.
— Vai sim! - arranho a garganta pela força na voz.— Eu não aceito que tenha me enganado e esteja deixando as crianças de propósito. Algo aconteceu, e eu vou atrás dela para descobrir. Ela vai retornar a essa fazenda por bem, ou por mal, nem que para isso eu tenha que rodar aqueles cabelos negros em meu pulso e a trazer a força.
— Ir atrás dela? Não foi suficiente ter te abandonando?
— Quero que fale com todas as palavras, olhando nos meus olhos que nunca me amou, que não ama seus filhos. Tenho certeza que a resposta será positiva. Eu acredito na mulher que tenho. Ela vai voltar e vamos formar a família que sempre sonhei. Eu acredito nisso.
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Logo descobri que minha esposa estava em um dos hotéis da cidade, na suíte mais cara, o que me fez questionar como conseguiu instalar-se. Deixei algumas notas ao taxista e entrei ao prédio. A recepcionista não quis ajudar-me, parti para o plano B. Aproveitei que um dos funcionários iria entrar ao elevador levando toalhas e lençóis, me posicionei atrás do monte e por ali me escondi. Pedi para que ele ficasse quieto e logo cheguei ao andar. Com três toques, ela abriu a porta. Estava com um robe branco, envelopando o corpo esculpido, deixando exposta uma de suas belas coxas grossas.
— O que está fazendo aqui?
Retomei a postura formal. Com os braços cruzados, entrei ao quarto. Tudo muito lindo e luxuoso, totalmente fora da nossa realidade.
— Ande, junte suas coisas e vamos para casa.
Sorri irônica.
— O quê? Você bebeu? Não está vendo que estou bem. Olha em volta. Esse quarto com móveis caros, televisão moderna, e o tapete? Felpudo que até faz cosquinhas nos pés.
— Eu não estou brincando Soraya. Pegue suas malas e desça comigo. O taxista ainda deve estar lá em baixo.
Ignora o que falo. Caminha em direção à cama, deita, e com um controle em mãos, movimenta o colchão, como se fosse a sua mais nova brincadeira.
— Essa cama é de terceira geração. Se apertar esse botãozinho, ela inclina. Não é um máximo?
Perco a paciência. Puxo seus pés, a retiro da cama colocando em pé a minha frente.
— Está louca, ou o quê? Não ouviu o que eu falei? Ela sorri. — Eu não sou idiota. Esse quarto. Essa joia pendurada no seu pescoço. - retiro brutalmente. — Essa maquiagem forte, quem foi que te deu? Seu amante?
Para de sorrir na mesma hora em que a puxo pelo braço, levando ao banheiro.
— O que vai fazer comigo?
Abro a torneira, forço seu pescoço a descer, e começo a limpar seu rosto.
— Sua idiota! Acha que isso é vida? Se prostituir em troca de joia, de luxo? Uma mãe de dois filhos, casada, cheia de problemas para resolver! Viro seu corpo. — Você tem duas crianças para criar. Elas precisam de você, eu preciso de você.
Ela cospe em minha face.
— Mas eu não preciso de você, nem daquelas crianças. Acha que eu sinto algo por elas? Que eu gosto delas porque nasceram do meu ventre? - nega com a cabeça. — Eu não sinto nada por eles. Ao contrário, ter permitido que nascessem foi o pior erro da minha vida, mil vezes ter abortado. - pisco algumas vezes não acreditando no que estou a ouvir. — Ter esperado os nove meses somente atrasou a minha vida.
Para em frente a uma escrivaninha, se serve do uísque repousado nela. Penso em como tais palavras saíram de sua boca. É como se estivesse diante de uma nova criatura. Essa não é a mulher que escolhi para casamento.
— Sabe, quando meu pai me obrigou a me casar com você, eu quase sofri um infarto. Imaginei que minha vida tivesse acabado. Só que Leandro viu em mim um potencial que eu não enxergava. Ele me seduziu, me galanteou, mostrou que a vida era muito mais do que afundar as botas em lama.
— Meu patrão. - junto o cenho. — Muito mais velho que você.
— E muito mais competente que você. Acha mesmo que eu queria viver ao seu lado para sempre? Tendo uma vida medíocre. Ordenhando vaca e retirando cocô de cavalo? - pende a cabeça observando meus olhos se encherem. — Ô meu Deus, você acreditou mesmo. Tadinho. Minha vida agora é ao lado do meu milionário, vivendo os melhores dias, aproveitando tudo que eu mereço.
— E eu? E os seus filhos?
— Como eu disse, isso não é mais problema meu.
A fúria se alastra em meu peito. Não espero nem mais um segundo e faço provar tudo o que me disse. A agarro pela cintura e com força junto nossos lábios. De começo se debate em meus braços, posteriormente acaba cedendo, retribuindo na mesma intensidade. Seu robe cai o chão, expondo o belo corpo queimado ao sol que tanto amo. Com mãos firmes a ergo em meus braços. A jogo na cama, encaixando o peso de meu corpo por cima.
Analiso suas curvas por completo, nua, exposta para mim. Paro a inspeção lembrando de seus atos. Em um solavanco, minha mão esquerda acopla em seu pescoço. Ela arregala os olhos parecendo um rato acuado. Passo o polegar por seus lábios, arranhando com minha aspereza. Abaixo o zíper. Em um movimento certeiro, entro forte em sua intimidade, a fazendo soltar um grito retido a garganta.
Retiro e novamente coloco, dando início a uma sequência implacável. Ela se contorce em meus braços, como sempre faz. Estoco firme, esvaindo toda a minha fúria e mágoa por essa mulher. Não quero que sinta prazer, mas sim dor, como a que está me causando. Após alguns segundos, satisfeito e aliviado, levanto da cama. Pego aquela mesma nota de 20 reais que me ofertou e jogo na cama.
— Pelos seus serviços. Ela abaixa os olhos. — Nunca mais me procure. Quer viver como prostituta? Viva como uma, mas esqueça que meus filhos existem. Você morreu para mim.
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Observando o movimento ao lado de fora do carro, entrelaço os dedos aos de Leandro. Hoje finalmente me livrarei de Sebástian. Assinaremos o divórcio e me casarei com meu milionário, como sempre sonhei, tendo a vida que sempre desejei. Não foi fácil destacar-me dentre tantas empregadas que havia relações, contudo, usei das minhas melhores armas, meus jogos de sedução, esperando todos dormirem e indo ao seu quarto tarde da noite com apenas a lingerie por baixo. Ganhei limpamente e me orgulho por isso.— Minha linda. - ergue nossas mãos depositando um leve beijo em minha pele. — Espero que eu lhe entregue tudo o que espera ao meu lado. Fortuna, sucesso, fama...— Que eu possa lhe fazer a mulher mais realizada nessa vida.— Eu não tenho dúvidas disso. Te escolher foi a melhor decisão da minha existência. Só de estar comigo, me acompanhando na assinatura do divórcio, mostra como é um homem digno e muito leal. Tenho certeza que posteriormente ao assinar os papéis do casamento, não me arrep
Três anos depoisSebástianDepois de muitos anos juntando minhas economias, finalmente pude comprar a fazenda de Ágar e me tornar o dono de todo um império. Logo que soube que as terras seriam vendidas no leilão, a preço de banana, por conta de diversas dívidas, não hesitei em comprá-las. Como um peão modesto, confesso que essa situação era uma utopia. Tomar posse do território que antes era de meu patrão, o tal que fugiu com minha ex mulher, se tornou meu objetivo de vida. Senti que tirando uma parte que pudesse ser destinada a Soraya, seria um modo de fazê-la pagar por tudo que fez, mas a verdade é que não consigo agir ao lado da vingança. Meu coração está em paz por conquistar o que sempre sonhei, e não posso estragar minha vida com pensamentos em quem não merece.— Ela foi muito burra.— Ainda pensa nessa mulher? - pergunto enquanto encaixo os botões da camiseta. Giro para que ela possa dobrar as mangas.— Não há como não pensar. Você nunca foi um homem sem ambições, pelo contrári
Em caso de violência a mulher, denuncie! ❌Soraya O sol nasce me forçando a despertar. Espreguiço-me deixando o corpo descansar de toda a noite de ontem. Leandro está muito diferente. De uns anos para cá, venho notado que não sou sua prioridade como antes. Acredito estar me traindo, e isso não é o pior. O jeito que temos relações está ficando cada vez mais frio, robótico, como se eu fosse uma boneca de plástico. Está bruto, ofensivo, sempre violento ao toque, parecendo querer me ferir.Sei que algo não anda bem em suas finanças. Acabou perdendo alguns bens, inclusive a terra que era de seu pai. Ágar sempre foi uma das mais famosas fazendas, a mais tradicional, sempre rendendo muito lucro. Não sei quem a comprou, mas tenho certeza que fez bom negócio. Vejo que deixou um bilhete a cabeceira. Estico os braços para alcançá-lo."Esteja pronta às 21:00 em ponto. Jantaremos com um renomado executivo, Diogo Valadares. Não me envergonhe"Leandro A.Jogo o papel longe. Como se eu fosse constra
— Foram alguns ossos quebrados. Duas costelas fraturadas. Alguns dedos da mão direita deslocados. Cortes profundos no supercílio e lábios. O que mais me preocupou foram as pancadas em seu ventre. Eu sinto muito Soraya, mas não poderá mais engravidar.Assinto com a cabeça.— Tudo bem. - tento disfarçar a lágrima que escorre sem querer. Nunca tive sonhos de engravidar, muito menos ter mais filhos. É estranho o que estou sentindo, está tudo embolado. Ainda não sei como essa informação me atinge. — Não tem importância.— Você já tem filhos, não é mesmo?— Sim. Gêmeos. Suel e Selene. Eles têm três anos.— Imaginei que fosse mãe. Outras mulheres entrariam gritando em prantos nesse momento. Tem muita sorte por estar viva, o que aconteceu aqui foi muito grave. Uma policial virá para o interrogatório, e peço que não exite em falar a verdade. Mais tarde voltarei para verificar seu estado. E... Soraya...Dou minha atenção a ele.— Aproveite seus filhos ao máximo. Eles crescem rápido.//— Linda
Dou um passo para trás quando Sebastián ameaça atacar-me. Dois peões tentam intervir colocando as mãos em seu peito. As crianças me olham assustadas, logo aquela mulher os leva consigo, deixando-me ali paralisada sem saber o que fazer. Junto as sobrancelhas. Minha presença desagrada tanto assim?— O que faz aqui? - desperto com a voz de Geane, minha ex sogra.Seu belo vestido vermelho de cetim, compõe perfeitamente sua face amarga. Nunca foi minha fã, com certeza está me xingando por dentro.— Vim para a festa.— Não foi convidada. Como soube que hoje seria um dia comemorativo?Rio de escárnio.
Limpei meus saltos no pano de chão. Fiz o sinal da cruz e adentrei a casa de minha mãe. Senti novamente o ar acolher-me como quando eu era criança. O cheiro de madeira misturado com o solo molhado de chuva me fazem recordar do bolo de milho com café com leite. Ao mesmo tempo que esses sentimentos bons invadem, o temor do seu estado de saúde, me assusta. Fecho os olhos pedindo forças aos céus. Enchendo o peito de ar, aos poucos abro a porta de seu quarto.— Soraya.— Mãe.Sorrio amedrontada. Está deitada com aparelhos acoplados em seu corpo. Olho para a máquina que mostra seus batimentos. Estão lentos. Prendo o choro que se forma em minha garganta. Tento disfarçar dando m
SebastiánEu não estava em meus melhores dias. Uma terrível praga invadiu a minha plantação, destruindo os meus frutos mais bem pagos. Isso me deu muita raiva no coração, principalmente porque eu estava em meu melhor momento. Parece que quando prosperamos, acontecem inúmeras coisas para nos tirar do propósito. Tenho que lidar com a inveja, intriga, e a cobiça a todo momento, e se esse for o preço para ser financeiramente bem, eu não quero pagar por ele.Diana e minha mãe não param de me dizer o quanto se orgulham pela minha trajetória. Elas se admiram pelo fato de eu ter superado os inúmeros obstáculos e ter alcançado êxito, chegando a ser um dos mais bem sucedidos fazendeiros da região, tendo primordialmente a fazenda São João de Agar em meu nome. Isso não me diz nada. Se um homem não tem as suas raízes plantadas em s
Soraya Estar ao lado de Sebastian após anos, era estranho. Estávamos perto demais e eu não sabia quais sensações passavam pelo meu corpo. Eu não deveria pensar em prevaricações, estando com a memória de minha mãe em minha cabeça, porém, o cheiro forte do homem que por muito tempo esteve ao meu lado, estava perturbando a minha mente. Enquanto Sebástian galopava, eu vislumbrava a fazendo de São João de Agar. Eu jurei que nessa terra eu nunca voltaria, e agora estou aqui, mordendo a minha própria língua. Posso dizer que não senti saudades desse lugar. Acho que viver em uma fazenda, rodeada pelos animais, nunca fez parte do meu gosto, mas se é aqui que o meu passado vive, eu vou estar. A minha vontade é de conhecer os meus filhos e talvez em um futuro próximo conseguir me reconciliar com o pai das crianças. Não digo c