Dou um passo para trás quando Sebastián ameaça atacar-me. Dois peões tentam intervir colocando as mãos em seu peito. As crianças me olham assustadas, logo aquela mulher os leva consigo, deixando-me ali paralisada sem saber o que fazer. Junto as sobrancelhas. Minha presença desagrada tanto assim?— O que faz aqui? - desperto com a voz de Geane, minha ex sogra.Seu belo vestido vermelho de cetim, compõe perfeitamente sua face amarga. Nunca foi minha fã, com certeza está me xingando por dentro.— Vim para a festa.— Não foi convidada. Como soube que hoje seria um dia comemorativo?Rio de escárnio.
Limpei meus saltos no pano de chão. Fiz o sinal da cruz e adentrei a casa de minha mãe. Senti novamente o ar acolher-me como quando eu era criança. O cheiro de madeira misturado com o solo molhado de chuva me fazem recordar do bolo de milho com café com leite. Ao mesmo tempo que esses sentimentos bons invadem, o temor do seu estado de saúde, me assusta. Fecho os olhos pedindo forças aos céus. Enchendo o peito de ar, aos poucos abro a porta de seu quarto.— Soraya.— Mãe.Sorrio amedrontada. Está deitada com aparelhos acoplados em seu corpo. Olho para a máquina que mostra seus batimentos. Estão lentos. Prendo o choro que se forma em minha garganta. Tento disfarçar dando m
SebastiánEu não estava em meus melhores dias. Uma terrível praga invadiu a minha plantação, destruindo os meus frutos mais bem pagos. Isso me deu muita raiva no coração, principalmente porque eu estava em meu melhor momento. Parece que quando prosperamos, acontecem inúmeras coisas para nos tirar do propósito. Tenho que lidar com a inveja, intriga, e a cobiça a todo momento, e se esse for o preço para ser financeiramente bem, eu não quero pagar por ele.Diana e minha mãe não param de me dizer o quanto se orgulham pela minha trajetória. Elas se admiram pelo fato de eu ter superado os inúmeros obstáculos e ter alcançado êxito, chegando a ser um dos mais bem sucedidos fazendeiros da região, tendo primordialmente a fazenda São João de Agar em meu nome. Isso não me diz nada. Se um homem não tem as suas raízes plantadas em s
Soraya Estar ao lado de Sebastian após anos, era estranho. Estávamos perto demais e eu não sabia quais sensações passavam pelo meu corpo. Eu não deveria pensar em prevaricações, estando com a memória de minha mãe em minha cabeça, porém, o cheiro forte do homem que por muito tempo esteve ao meu lado, estava perturbando a minha mente. Enquanto Sebástian galopava, eu vislumbrava a fazendo de São João de Agar. Eu jurei que nessa terra eu nunca voltaria, e agora estou aqui, mordendo a minha própria língua. Posso dizer que não senti saudades desse lugar. Acho que viver em uma fazenda, rodeada pelos animais, nunca fez parte do meu gosto, mas se é aqui que o meu passado vive, eu vou estar. A minha vontade é de conhecer os meus filhos e talvez em um futuro próximo conseguir me reconciliar com o pai das crianças. Não digo c
Hoje é o enterro de minha mãe. É difícil eu aceitar que isso realmente aconteceu. Ela era a única pessoa que me amava, e a sua ausência dilacera minha alma. Subo o xale negro que cobre as marcas que minha ex sogra deixou. Faz dois dias que isso aconteceu, mas parece que ainda sinto o chicote penetrar em minha alma. Por um segundo, fecho meus olhos. Ela vai pagar caro pela humilhação que me fez passar.— Sinto muito Soraya. - sorrio forçadamente para o aglomerado de pessoas que se juntam a fim de me dar os pêsames. Bando de corvos. Quando minha mãe precisou, não estavam para socorrer. Só vieram para celebrar a sua morte.O impressionante é que mesmo tendo passado alguns anos, ainda sinto olhares afiados em minha di
SebástianPensei a noite toda se seria certo de minha parte levar meus filhos ao enterro da avó. A minha dúvida não foi referente a ela, mas sim, na mãe das crianças. Não quero que meus filhos tenham contato com Soraya. Eu não sou de retroceder em minhas palavras, e não será diferente dessa vez. Eu sinto muito que essa tragédia tenha ocorrido, e tudo pareça estar desmoronando na cabeça de Soraya. As amarguras de sua vida, são simplesmente o resultado que plantou.O abandono das crianças e sua desistência do nosso casamento, jamais sairão de minha cabeça. É como uma doença incurável, a qual nem mesmo meus filhos me fazem esquecer. Balanço a cabeça. Logo a sua apari&cced
SebastiánFechei meus olhos por um instante. Era contra isso que lutei por tanto tempo. Limpar os registros de Soraya não foi difícil, eles nunca souberam de sua existência. Agora com sua volta, isso pode ser fatal. Engulo a seco tentando pensar em outra estratégia para que as crianças não descubram sua identidade. Fecho as mãos em punho.- Ela é somente uma mulher qualquer.Subo os ombros sem olhar aos olhos deles. Continuo a minha refeição, como se a pergunta que havia sido feita, fosse algo banal, e realmente era. Soraya não representava nada na vida dos meus filhos.- Desculpe insistir, papai, mas também fiquei curiosa para
SorayaPresenciar os meus filhos chorando, e não conseguir ter coragem de olhar em seus rostos, foi terrível. Eu queria correr até eles, os abraçar bem apertado, e dizer o quanto eu ansiava em conhecê-los. Mesmo que eu tenha cometido muitos pecados, e eu sei que não foram os mais leves, eu ainda confio que eu tenho direito de ter contato com eles.Não é justo separar um filho de uma mãe. Eu sei que fui eu quem fugiu, e quis me livrar das crianças, em troca de uma vida luxuosa, porém, eu me arrependi! As pessoas não podem se arrepender? Tudo que eu quero, é dar uma vida digna a eles. Que conheçam a mãe verdadeira, e comigo construam boas memórias.Não tenh