Soraya
Estar ao lado de Sebastian após anos, era estranho. Estávamos perto demais e eu não sabia quais sensações passavam pelo meu corpo. Eu não deveria pensar em prevaricações, estando com a memória de minha mãe em minha cabeça, porém, o cheiro forte do homem que por muito tempo esteve ao meu lado, estava perturbando a minha mente.
Enquanto Sebástian galopava, eu vislumbrava a fazendo de São João de Agar. Eu jurei que nessa terra eu nunca voltaria, e agora estou aqui, mordendo a minha própria língua. Posso dizer que não senti saudades desse lugar. Acho que viver em uma fazenda, rodeada pelos animais, nunca fez parte do meu gosto, mas se é aqui que o meu passado vive, eu vou estar. A minha vontade é de conhecer os meus filhos e talvez em um futuro próximo conseguir me reconciliar com o pai das crianças. Não digo c
Hoje é o enterro de minha mãe. É difícil eu aceitar que isso realmente aconteceu. Ela era a única pessoa que me amava, e a sua ausência dilacera minha alma. Subo o xale negro que cobre as marcas que minha ex sogra deixou. Faz dois dias que isso aconteceu, mas parece que ainda sinto o chicote penetrar em minha alma. Por um segundo, fecho meus olhos. Ela vai pagar caro pela humilhação que me fez passar.— Sinto muito Soraya. - sorrio forçadamente para o aglomerado de pessoas que se juntam a fim de me dar os pêsames. Bando de corvos. Quando minha mãe precisou, não estavam para socorrer. Só vieram para celebrar a sua morte.O impressionante é que mesmo tendo passado alguns anos, ainda sinto olhares afiados em minha di
SebástianPensei a noite toda se seria certo de minha parte levar meus filhos ao enterro da avó. A minha dúvida não foi referente a ela, mas sim, na mãe das crianças. Não quero que meus filhos tenham contato com Soraya. Eu não sou de retroceder em minhas palavras, e não será diferente dessa vez. Eu sinto muito que essa tragédia tenha ocorrido, e tudo pareça estar desmoronando na cabeça de Soraya. As amarguras de sua vida, são simplesmente o resultado que plantou.O abandono das crianças e sua desistência do nosso casamento, jamais sairão de minha cabeça. É como uma doença incurável, a qual nem mesmo meus filhos me fazem esquecer. Balanço a cabeça. Logo a sua apari&cced
SebastiánFechei meus olhos por um instante. Era contra isso que lutei por tanto tempo. Limpar os registros de Soraya não foi difícil, eles nunca souberam de sua existência. Agora com sua volta, isso pode ser fatal. Engulo a seco tentando pensar em outra estratégia para que as crianças não descubram sua identidade. Fecho as mãos em punho.- Ela é somente uma mulher qualquer.Subo os ombros sem olhar aos olhos deles. Continuo a minha refeição, como se a pergunta que havia sido feita, fosse algo banal, e realmente era. Soraya não representava nada na vida dos meus filhos.- Desculpe insistir, papai, mas também fiquei curiosa para
SorayaPresenciar os meus filhos chorando, e não conseguir ter coragem de olhar em seus rostos, foi terrível. Eu queria correr até eles, os abraçar bem apertado, e dizer o quanto eu ansiava em conhecê-los. Mesmo que eu tenha cometido muitos pecados, e eu sei que não foram os mais leves, eu ainda confio que eu tenho direito de ter contato com eles.Não é justo separar um filho de uma mãe. Eu sei que fui eu quem fugiu, e quis me livrar das crianças, em troca de uma vida luxuosa, porém, eu me arrependi! As pessoas não podem se arrepender? Tudo que eu quero, é dar uma vida digna a eles. Que conheçam a mãe verdadeira, e comigo construam boas memórias.Não tenh
O aglomerado de pessoas que se formou em volta, mostrou o quanto aparentemente havia sido brusco o meu acidente. Eu mexi as pernas e os braços, para constatar que realmente eles estavam bem. Deus me livre passar por algum trauma mais sério. Do jeito que as coisas andam para mim, não me admirava se isso houvesse acontecido.Tento me levantar, mas as pessoas me empurram ao chão. Depois de algum esforço, desviando as mãos que me seguravam, eu levantei. Mexi o corpo novamente, e segui o meu caminho para o outro lado da rua, como se nada houvesse ocorrido.Eu acho que isso foi um sistema da minha própria mente e corpo, para esquecer o rosto da pessoa. Não é que eu tenha visto o rosto de Leandro, a pessoa estava com um boné e um capuz, mas toda a sua estrutura co
SebastianColoco dois dedos no espaço entre meus olhos, massageando a minha pele. Continuo tentando entender o que está acontecendo. Leucemia é um dos últimos diagnósticos que pensei que daria. O exame final ainda não saiu, mas pelo que tudo indica é isso mesmo que está em minha filha.Eu não sei porque isso está acontecendo justamente agora. Parece que Soraya trouxe todos os males com ela, e isso respingou em minha filha. Com certeza isso é culpa daquela mulher. Fecho os punhos. Se ela não tivesse retornado em nosso caminho, nada disso estaria acontecendo.As mãos delicadas de Diana, massageiam as minhas costas. Relaxo, deixando a tensão de todo um dia estressante,
Soraya- Então. Por que você resolveu trabalhar de limpeza em minha lanchonete? O mundo está disposto a te dar várias oportunidades, bem melhores do que essa. Bem melhores do que lavar pratos e limpar banheiros.Seguro-me para não rolar os olhos. Diogo é encantador, um verdadeiro galanteador de novela. Ele está mais de meia-hora tentando me fazer desistir desse emprego, e eu não consigo entender o que quer com isso.- Diogo, pela terceira vez, eu não vou trabalhar com você em seu escritório de advocacia. Ser sua secretária, seria ótimo para mim, mas eu quero começar com o emprego que eu mesma consegui, não porque você me colocou no cargo.- Por que isso? - ele arqueia uma sobrancelha. - Daria no mesmo.- As pessoas já acham que eu continuo sendo a mesma golpista de antes. Se me verem junto a você, trabalhando ao seu lado, claramente entenderão que eu estou mentindo quando falo que quero meus filhos de volta. Obviamente também não vai soar bem para o juiz eu estar no mesmo local de um
— Soraya. - Geane arqueia uma sobrancelha como se fosse surpresa ter me visto. — Bem que me disseram que você estava trabalhando na limpeza. Está gostando do trabalho?A forma com que ela dissertava, estava repleta de maldade, soberba, esbanjando a verdadeira pessoa que ela é. Por incrível que pareça, Diana, que antes me olhava por cima de seu nariz empinado, agachou minimamente para poder me ajudar a levantar.— Obrigada. - desconfiada, agradeci a ela. Já em pé, encarei minha ex-sogra. — consegui esse trabalho graças a Deus. É de limpeza, sim, mas eu não tenho do que reclamar, está pagando as minhas contas e me ajudando em meu objetivo.— E qual seria o seu objetivo