Capítulo 3

Observando o movimento ao lado de fora do carro, entrelaço os dedos aos de Leandro. Hoje finalmente me livrarei de Sebástian. Assinaremos o divórcio e me casarei com meu milionário, como sempre sonhei, tendo a vida que sempre desejei. Não foi fácil destacar-me dentre tantas empregadas que havia relações, contudo, usei das minhas melhores armas, meus jogos de sedução, esperando todos dormirem e indo ao seu quarto tarde da noite com apenas a lingerie por baixo. Ganhei limpamente e me orgulho por isso.

— Minha linda. - ergue nossas mãos depositando um leve beijo em minha pele. — Espero que eu lhe entregue tudo o que espera ao meu lado. 

Fortuna, sucesso, fama...

— Que eu possa

lhe fazer a mulher mais realizada nessa vida.

— Eu não tenho dúvidas disso. Te escolher foi a melhor decisão da minha existência. Só de estar comigo, me acompanhando na assinatura do divórcio, mostra como é um homem digno e muito leal. Tenho certeza que posteriormente ao assinar os papéis do casamento, não me arrependerei de seguir o meu coração.

— Confesso que não queria o desprezo de Sebástian, ele é um dos melhores peões de minha fazenda. Mas também não poderia ocultar a atração que sinto pela bela mulher a minha frente. Suas curvas, seus lábios carnudos, seios fartos, sempre instigaram minhas imaginações a tê-la em meus braços. 

— E agora sou toda sua.

Junto nossos lábios. Sinto o roçar de seus pelos arranhando a pele. Leandro é trinta anos mais velho. Ao auge dos meus vinte, não me importo com sua idade, desde que assuma as minhas necessidades, e é o que está fazendo. Suas mãos grossas adentram a barra de meu vestido, esquentando o que há debaixo dele. Derreto entre a pele, e amoleço em seus dedos.

//

— Vocês têm ciência do passo que estão dando?

— Sim. Respondemos em uníssono. 

— Somente assinem e estarão divorciados.

Sebástian é o primeiro a assinar. Com um leve suspiro, sorrio para meu homem. Esse é o meu momento, o que mais quis durante muito tempo. Sinto o doce sabor da vitória e o cheiro agradável do dinheiro. Seguro firme a caneta em meus dedos e sentencio meu destino.  Leandro e eu assinamos os papéis de casamento. Meu peito arde de entusiasmo. Senhora Soraya de Agar. Agora, sim, agora serei feliz!

— Bom, terei uma reunião importante antes de viajarmos. - Leandro segura meu queixo. Sorrio leve — Me espere daquele jeito que gosto, minha esposa. 

— De calcinha e sutiã.

— Você sabe.

Nos beijamos. Mesmo de olhos fechados sinto os movimentos de Sebástian. Sei que está morrendo por dentro e isso me aquece. É bom para ver o que perdeu e nunca mais terá de volta. Que morra condenado a essa vida medíocre. Após Leandro sair, saco minha bolsa e os óculos escuros a fim de ir embora para sempre, porém, uma incontrolável vontade de humilhar meu ex marido me atinge, então assim faço. Batendo meus saltos altos me coloco a sua frente.

— Conseguiu o que queria. Parabéns. Finalmente terá a vida de luxo que tanto sonhou.

— Obrigada. Confesso que por algumas vezes duvidei que sairia desse lugar, e olha só, eu consegui. - suspiro fundo. — Meu coração está em paz, tão em paz que até mesmo verei se os remelentos que deixei, parecem comigo.

Sou detida de imediato. Com mãos firmes, Sebástian me olha de um jeito nunca visto, como um assassino, a ponto de avançar em meu pescoço.

— Eu disse que nunca mais chegaria perto deles.

— Não pode fazer isso. Eles são meus filhos. Mesmo que eu não os queira, saíram de meu ventre, portanto tenho direito sobre eles.

— Seu direto acabou com a assinatura desse divórcio. Com sua preferência ao dinheiro do que a sua família. Não brinquei quando disse que não chegaria mais perto de nós. Meus filhos irão crescer órfãos de mãe, e quando ganharem entendimento, eu direi a prostituta que você foi e por quem os trocou. 

Manejo a cabeça.

— Tanto faz.

— Agora ande, saia daqui. Não quero que suje essa terra com a sua imundice. Apodreça com seu dinheiro, Soraya. Até nunca mais.

Recolho minha postura e giro em direção à porta. O choro de criança me faz paralisar. Olho para trás e observo entregarem os gêmeos a Sebástian. Com toda a leveza do mundo, ele os segura. Sorri como um bobo e as fazem sorrir também. Os deixo com a certeza que fiz a escolha certa. Não terei que aguentar choros, cólicas e noites mal dormidas com idas a hospitais. A única coisa que devo preocupar-me daqui em diante é com a minha riqueza, se meus cabelos estão sedosos, a unha feita e a pele aveludada.

— Vagabunda! - sou atingida por algo que não consigo identificar. Sinto o cheiro forte de ovo, ele escorrega e cai ao solo. 

— Quem me jogou isso? - percebo que estou rodeada por arruaceiros que trabalham na fazenda. Eles tem vassouras e inchadas a mão. — Leandro demitirá todos vocês!

— Cobra!

Sou inundada por arremessos violentos. Ovos, banana, lama, são algumas coisas que consigo identificar. Meus olhos se enchem d'água. Tento sair, mas meus saltos quebram quando grudam a lama.

— Quem vocês pensam que são? Sou a patroa de vocês, mereço respeito!

— Não respeitamos uma mulher que abandona os filhos recém-nascidos!

Ainda continuo a receber as ovadas, até que um dos encarregados, me escolta ao carro. Fecho os punhos e com todo o ódio solto um grito a garganta. 

— Maldito sejam! Imundos! Porcos! Vocês merecem a mediocridade. Morram nessa terra de merda. A insignificância é o lugar de gente pobre igual vocês!

O cheiro forte mareja meus olhos. Com raiva, tento tirar o máximo de conteúdo os jogando pela janela. Retiro os sapatos e os jogo também. Desse lugar eu não quero levar nada! Nem a poeira do sapato. Cuspo ao lado de fora. Não piso nunca mais nessa terra. Bando de infelizes.

Com o carro em movimento, permito-me deitar e chorar. Nunca fui tão humilhada em toda a minha vida. Abraço meu corpo, como uma menina frágil que sou. Sebástian deve ter armado tudo isso. Está com ódio somente porque não foi homem suficiente para me manter ao seu lado. Mais cedo ou mais tarde irá me pagar por essa humilhação, ou não me chamo Soraya de Agar.

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