Ao levantar os braços, Débora sentiu uma tontura. Reconheceu que exagerou mesmo. Mesmo assim, continuou colocando a blusa. Dentro de cinco minutos a porta foi aberta por Rosa.“Débora?”“Madrinha… Eu estou…”Antes de terminar a escuridão tomou conta dela. Antes de perder completamente a consciência, ela sentiu um cheiro agradável de madeira e limão. E braços macios que a pegou com cuidado.As três pessoas que estavam na ante sala correram para não deixá-la cair, mas foi Carlos quem chegou primeiro e pegou Débora em seus braços fortes. “Para onde devo levá-la?”Perguntou o rapaz com a esposa nos braços. “Coloque-a na maca. Devo fazer um novo exame médico. Mas tem quase certeza que ela está desmaiada de fraqueza. Perdeu sangue e ainda coletou para doar.”Falou o médico preocupado.“Que desmiolada, essa minha afilhada. Ela parece que não sabe que até os fortes também tem seus momentos de fraqueza”Falou sério Rosa.Enquanto o casal falava, Carlos a levou até a maca onde ele viu Débora
Quando Débora acordou seus olhos estavam a alguns centímetros dos olhos fechados de Carlos. Suas respirações se tocavam como uma leve caricia. ‘Ele é mesmo muito bonito’ A médica pensou por um momento e logo lembrou dos porquês de se manter longe dele e enterrou esse pensamento no fundo da inconsciência. De fato ele era um homem muito bonito, mas com uma personalidade muito vulgar e superficial. Ela se afastou para quebrar a intimidade que compartilhavam. A poltrona que ele estava sentado foi reclinada e estava encostada praticamente a cama dela, sua cabeça se inclinou para a esquerda, direção em que a cabeça dela estava quando dormia. Como dois amantes confidenciando seus sonhos! Ela queria se levantar. Mas percebeu que havia exagerado ao fazer o menor movimento sua cabeça girava, a mão cortada estava envolta em bandagem branca, no mesmo pulso o acesso do soro. Olhando para o conjunto de cuidados em sua mão lembrou que teve sonhos muito loucos naquela noite. Em outra parte do
Depois de fazer um exame no corte do paciente e perguntar algumas coisas, o grupo foi embora."Você não sabe? O segurança teve que tirar a camisa e dar para ela estancar o sangue enquanto ia buscar no carro a maleta da médica. Alí mesmo ela limpou, tratou e enfaixou. Quando chegou ao hospital o sangramento já havia parado, mas o paciente corria o risco de entrar em choque, por falta de sangue. Ela o mandou para a sala de cirurgia, como o melhor cirurgião da casa e foi direto para o posto de coleta. Para doar sangue. Raro e precioso! Eu sou sinceramente fã dessa mulher.” Garota falando como Débora socorreu o pai.No quarto Débora estava acordando. Carlos que havia passado a noite em claro, olhando para a mulher. Percebeu quando Débora acordou, ele deitou a sua própria cabeça e seus olhos estavam a alguns centímetros dos olhos fechados dela. Suas respirações se tocavam como uma leve caricia. A médica pensou por um momento, Carlos sentiu sua excitação. Porém, logo a mulher se afastou d
Depois que Carlos foi embora, André pediu para que o enfermeiro particular que o estava servindo o ajudasse a chegar no quarto de Débora. Ao chegar lá a filha estava dormindo mais uma vez. No seu quarto havia uma infinidade de flores e presentes. A iluminação que via da janela, trouxe à cabeça de André uma cena semelhante.A dezoito antesAndré entrou na sala do pai e pela primeira vez na vida o viu com um semblante pálido e preocupado. O telefone ainda na mão parecia esquecido, sua gravata estava solta e dois botões de sua camisa estavam abertos. Ele realmente parecia uma pessoa em choque.“Sua neta está só.”A frase da jaciara girava e girava na cabeça do velho. “Um acidente de carro em uma estrada rural, levou à morte de Niara. O acidente aconteceu à noite e quando elas foram resgatadas já era tarde demais para minha irmã.”“Elas???”“Sim, Débora estava com ela. Com a menina não aconteceu nada de grava no corpo. Porém ela passou a noite inteira no meio do mato com a mãe.”“Como i
Ainda era madrugada quando Débora acordou naquele dia, sua roupa de dormir, era um pijama de algodão de fundo branco com pequenas rosas coloridas. Ela se viu quando passou na porta do banheiro coletivo do orfanato. Naquela hora não tinha uma viva alma acordada. Ela estava com seus objetos de limpeza e roupas que iria usar naquele dia. Ela pegou um pequeno baldo e encheu com água da pia do banheiro, o levando para dentro de um dos cubículos de uso das bacias sanitárias. Ela não queria usar o cheveiro para não chamar atenção de alguma pessoa do orfanato. Água estava fria. Era um dos preços que a menina tinha que pagar para sair sem ser notada. Os chuveiros tinham água quente, mas na pia não. Ela teria que enfrentar o fenômeno da compensação térmica. Que provoca dias quentes e noites e madrugadas frias, no interior do estado de Pernambuco. Mesmo assim, a menina enfrentou a baixa temperatura da água em uma temperatura ambiente de vinte graus. Se lavou, se trocou e saiu pela janela, sem
O motorista deixou a garota nas mãos da sogra e partiu para fazer sua tarefa. “Vou voltar para a cozinha, porque tenho muita coisa a fazer. Você fica aqui, comportada e quando chegar a hora nós vamos ao fórum. Certo?”“Sim, senhora.”A menina pegou o suco de cajá e o bolo que a mulher colocou na sua frente e comeu. O suco estava gelado e doce, fazendo contraste com o azedo do cajá, o bolo era gostoso também, uma massa com sabor de interior, tinha o nome sugestivo de engorda marido.Débora viu o estabelecimento mudar de clientes totalmente umas três vezes, antes de finalmente a mulher sair da cozinha. Pronta para ir com ela ao fórum. Havia tirado a touca, branca que escondia o cabelo preto da mulher, tirado o avental e vestido uma blusa de mangas sete quartos.“Vamos, menininha?”“Sim, senhora.”As duas caminharam umas poucas quadras e logo já estavam no fórum da cidade, esperaram cerca de cinco minutos e logo o atendimento começou na repartição pública.As duas entraram no edifício e
O juiz estupefato olhou para a garota e perguntou:“Também é seu passatempo ler códigos legislativos?”“Não. Isso eu li ontem, à noite, depois que o senhor mandou o ofício para o orfanato. Mas queria nos concentrar no problema.”“Qual é o problema do seu ponto de vista?”Perguntou o juiz interessado em saber a opinião daquela pequena gênia.“A lei determina que existem duas possibilidades de paternidade. A paternidade biológica e a afetiva. O teste de DNA confere a identidade genética da pessoa, sendo o exame que garante a certeza da paternidade biológica. Mas são os afetos que de fato criam a relação parental entre pais e filhos. Mesmo que esse homem tenha emprestado um espermatozóide para a geração de um novo ser. No caso, eu. Ele rejeitou esse ser desde que estava no ventre da mãe.”“As crianças não devem ser envolvidas nos problemas emocionais dos adultos.”“É o que teoricamente seria apropriado. Porém, não é o que de fato ocorre. Esse homem nunca se interessou em entrar em conta
O secretário saiu para buscar Débora. E lauro saiu do seu papel de juiz, vestindo a aparência de amigo.Veio até Jorge e falou:“Tio Jorge. Espero que essa garotinha seja muito bem cuidada por você. Ela é uma pessoa muito especial.”No que quase todos na sala concordavam. Apenas André não tinha impressão nenhuma de Débora. Na verdade ele nunca viu a garota. Nem quando entrou no apartamento de Niara e fizeram sexo ele olhou para ela. Ele estava descontente com o amigo Lauro.Mas não falou nada até a garota entrar na sala. Seus traços eram muito bonitos, mas ainda não definidos. A garota passou por ele e abraçou o avô dizendo:“Vovô senti muita saudade de você.”Depois pegou Paulo no colo fazendo graça para o bebê rir. Em nenhum momento ela se dirigiu a ele. André se sentiu desprezado pela garota e a considerou arrogante feito a mãe."Ei, garotinha não quer saber qual a minha decisão?”“Claro! Mas eu sei que vossa excelência é um homem sensato e optou pelo melhor.”Afinal sua tia apesa