Capítulo 4

Lucca Moretti

Chego à Eclipse como faço em muitas noites, mas hoje algo é diferente. Meu humor está mais sombrio do que o habitual, minha mente ocupada com questões de negócios, o fardo constante de manter tudo sob controle e ainda a questão de que meu Don quer me casar.

A Eclipse é um refúgio para mim, um lugar onde posso observar o caos organizado e lembrar que, por trás das luzes e da música, sou eu quem comanda tudo isso. Mas esta noite, há algo mais que me atrai aqui.

Entro no clube, o som da música pulsando nos meus ouvidos, e o cheiro de perfume e cigarro misturados invade meus sentidos. A multidão está em sua energia habitual, mas enquanto eu passo as pessoas vão abrindo caminho, homens observando com olhos famintos as mulheres que dançam para eles, enquanto as dançarinas se movem com a graça calculada de quem sabe que cada gesto é uma oportunidade para ganhar mais dinheiro. As luzes piscam em tons de vermelho e roxo, criando um ambiente onde as sombras dominam tanto quanto os flashes de luz.

Meu olhar percorre o ambiente, passando rapidamente por rostos conhecidos e desconhecidos, mas logo é capturado por algo – ou melhor, alguém. No palco, uma nova dançarina se apresenta, e imediatamente sinto meu corpo se tensionar. Ela é diferente de todas as outras. Cabelos vermelhos como chamas, um contraste marcante com sua pele clara e seus olhos verdes que parecem hipnotizar qualquer um que ousa olhar diretamente para eles. Ela se move com uma graça que não é forçada, uma sensualidade natural que faz com que todos os outros na sala desapareçam.

Estou fascinado. É raro algo ou alguém me distrair assim, mas essa mulher... não consigo desviar o olhar. Ela parece desconhecer o poder que exerce sobre todos os que a observam, ou talvez esteja totalmente ciente e use isso a seu favor. Sua dança é diferente, há algo cru, quase selvagem, em sua performance. Ela não é como as outras dançarinas da Eclipse. Ela é única, e isso me intriga mais do que estou disposto a admitir.

Conforme ela continua a dançar, meus pensamentos começam a divagar. Quem é ela? De onde veio? Como acabou aqui, na Eclipse? Tento lembrar se já a vi antes, se seu nome foi mencionado em algum momento, mas nada me vem à mente. Ela é nova, isso é certo, e a ideia de que alguém tão fascinante poderia ter passado despercebido por mim até agora é perturbadora.

Mas não é apenas sua beleza que me atrai. É a maneira como ela se move, como parece estar em controle absoluto de sua performance, mas ao mesmo tempo, há uma vulnerabilidade nela que é quase palpável. É como se ela estivesse escondendo algo, uma história que ainda não foi contada, e isso desperta em mim um desejo de saber mais. Eu sou um homem acostumado a obter respostas, e essa mulher agora se tornou uma pergunta que preciso responder.

Minhas mãos se fecham em punhos, e percebo que meu corpo está tenso. Tento me controlar, mas a necessidade de saber mais sobre ela é forte. De repente, tudo ao meu redor parece insignificante, e tudo o que importa é a mulher no palco. A forma como ela balança os quadris, como seus cabelos vermelhos dançam ao redor de seu rosto enquanto ela se move, cada detalhe é gravado na minha memória.

Ela desce do palco, e meu olhar a segue. Vejo como os homens ao redor a observam, olhos cheios de desejo e talvez algo mais. Sinto uma pontada de raiva crescer dentro de mim, um sentimento de possessividade que não consigo explicar. Ela não é minha, mas a ideia de que qualquer um desses homens poderia tocá-la, falar com ela, até mesmo respirar o mesmo ar que ela me irrita.

Mais tarde, a vejo interagir com alguns dos clientes que colocam gorjetas na barra da saua em sua cintura. Ela sorri, mas seus olhos... eles dizem outra coisa. Há algo por trás daquele sorriso, uma tristeza ou talvez uma determinação que não consigo identificar.

Eu já vi muitas mulheres neste mundo, algumas quebradas, outras duras como aço, mas ela... ela parece ser algo entre os dois extremos. Isso apenas aumenta minha curiosidade.

Decido observá-la de longe, sem interferir. Quero ver como ela se comporta, como lida com as situações. Cada gesto dela, cada palavra trocada, é analisada por mim.

Ela parece se mover com facilidade por entre os clientes, mas há momentos em que seu olhar se perde, como se estivesse pensando em outro lugar, em outra vida. Isso me faz pensar no que ela poderia estar fugindo, ou para onde quer ir. 

— Quem é ela? — pergunto a meu primo Vito, sem tirar os olhos dela. A resposta de Vito é quase automática, como se ele já esperasse por essa pergunta.

— Sophie Nolasco.—  ele diz, acompanhando meu olhar.

— Ela começou aqui há pouco tempo. Tem feito sucesso, mas ainda está se adaptando ao lugar. Não tem muito tempo de casa.— Sophie. O nome dela ressoa em minha mente, e não consigo evitar repetir para mim mesmo.

Há algo nesse nome, algo que parece se encaixar perfeitamente com a mulher que estou observando. Uma decisão se forma em minha mente, rápida e decisiva, como todas as minhas decisões.

— Quero que ela trabalhe para mim.— digo, minha voz firme, deixando claro que isso não é uma sugestão, mas uma ordem. Vito me olha, um misto de surpresa e compreensão em seus olhos. Ele sabe que quando faço uma escolha, não há espaço para questionamentos.

— Tem certeza, Lucca? — ele pergunta, não para desafiar, mas para confirmar o que já sabe.

— Ela ainda é nova, não sabemos muito sobre ela. Pode ser arriscado. — Dou um meio sorriso, sabendo que Vito está apenas fazendo seu trabalho.

— Ela vai trabalhar para mim, Vito.—  repito, mais devagar desta vez, para que não haja dúvidas.

— Quero que a apresente a mim e depois que ela saiba que, a partir de agora, ela é minha. — Vito assente, sem mais questionamentos. Ele sabe que, quando tomo uma decisão, não há retorno. Enquanto ele se afasta para executar minha ordem, continuo observando Sophie.

Vito retorna em poucos minutos, me chamando para ir em seu escritório momentos depois Sophie entra e ela parece surpresa, talvez um pouco nervosa, mas há algo em seu olhar que me diz que ela é forte, determinada. Isso apenas reforça minha decisão. 

Vito nos apresenta com formalidade e Sophie olha para mim, seus olhos verdes me analisando de forma direta, sem medo.

Há um brilho desafiador neles e isso me agrada. A maioria das pessoas, quando encontra meu olhar, desvia rapidamente, intimidadas pela minha reputação e pelo poder que sabem que exerço. Mas não Sophie. Ela me olha de volta, com curiosidade e uma ponta de desafio. 

— Sophie. — digo, deixando que o som de seu nome se prolongue na minha boca.

— A partir de hoje, você não é mais apenas uma dançarina na Eclipse. Você vai trabalhar para mim diretamente. Tudo o que precisar, tudo o que desejar, será providenciado. Mas há regras. E você terá que segui-las.— Ela arqueia uma sobrancelha, e vejo um lampejo de resistência em seus olhos. Ela não está acostumada a ser controlada, isso é evidente. Mas o mundo ao qual ela está prestes a entrar é um onde a liberdade tem um preço, e eu sou aquele que define os termos.

— E se eu não quiser? — ela pergunta, sua voz suave, mas carregada de uma força que a maioria das pessoas não ousaria usar comigo. Esse desafio apenas reforça minha decisão. Ela tem espírito, algo que poucos aqui têm, e isso apenas me faz querer ainda mais dominá-la.

— Você não tem escolha.— respondo calmamente, meu tom firme.

— No momento em que você entrou aqui, sua vida mudou. Eu sou a mudança. E você, Sophie, vai aprender a aceitar isso.— Ela não responde imediatamente, mas vejo o conflito em seus olhos.

Ela sabe que não pode simplesmente recusar, mas também não quer se render tão facilmente. Esse jogo de poder, essa dança entre controle e submissão, é algo que conheço bem, e estou ansioso para ver como ela vai reagir.

— Vito vai cuidar dos detalhes.—  digo, encerrando a conversa.

— A partir de agora, você é minha responsabilidade. Vou ser bonzinho em deixar você finalizar a noite de hoje e amanhã para se despedir das meninas, mas se algum homem te tocar, eu mato. Amanhã no final do expediente venho te buscar. — Enquanto Sophie é levada por Vito para começar o processo de transição, sinto uma onda de satisfação.

Há algo nessa mulher que me atrai, algo que me desafia de uma forma que não estou acostumado. Ela pode não saber ainda, mas Sophie será moldada conforme minha vontade. E eu mal posso esperar para ver como ela vai se transformar sob meu controle.

Enquanto a noite continua na Eclipse, percebo que meus pensamentos estão presos nela, em sua imagem, em seus olhos verdes desafiadores. Eu, Luca, um homem acostumado a obter tudo o que quero, agora estou fascinado por uma mulher que mal conheço. E sei que, para o bem ou para o mal, isso só pode levar a uma coisa: ela será minha, completamente, e nada no mundo vai impedir isso.

Antes de deixar a Eclipse, a vejo pela última vez, agora fora do palco. Ela está no bar bebebdo água e falando com uma das outras dançarinas.

Há algo mais leve em sua expressão agora, uma camaradagem que me faz questionar como ela realmente se sente em relação ao que faz. Ela parece tão diferente de todas as outras, como se este mundo não fosse realmente o dela, mas ao mesmo tempo, ela se adapta a ele com uma facilidade impressionante.

Enquanto saio do clube, a imagem de Sophie fica comigo. Não consigo evitar o sentimento de que ela é mais do que apenas uma dançarina, mais do que apenas uma mulher atraente. Há profundidade nela, algo que estou determinado a descobrir. Pela primeira vez em muito tempo, sinto que encontrei algo, ou alguém que pode me desafiar de uma maneira que nada mais fez.

Não importa o que seja necessário, vou descobrir tudo o que puder sobre ela. E se ela for tão especial quanto parece, vou garantir que ela nunca saia da minha vista. Ela pode não saber ainda, mas agora, ela faz parte do meu mundo. E eu protejo o que é meu, custe o que custar.

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