CAPÍTULO 5

Sophie

Eu saio do Eclipse, ainda a noite que está envolta em sombras densas como meus próprios pensamentos. Cada passo que dou parece mais pesado, como se o chão tentasse me prender, como se a gravidade soubesse o peso das palavras de Lucca.

Ele disse que eu trabalharia para ele, sem nem me dar escolha. As palavras dele ainda ecoam na minha mente, frias e implacáveis, e sinto um arrepio subir pela minha espinha. Não posso contestar, não posso desafiá-lo. O medo é um nó apertado em meu estômago, um frio constante que me corrói por dentro.

Quando chego em casa, tudo parece em silêncio. As paredes, que deveriam me dar segurança, agora parecem se fechar sobre mim, cúmplices do que está prestes a acontecer. Puxo as chaves do bolso e as mãos tremem.

Eu olho para a porta, sabendo que depois de cruzá-la, terei que confrontar a realidade. Lucca não é o tipo de homem que faz promessas vazias e se eu não fizer o que ele espera, eu sei que ele pode ir atrás do que mais amo. Ele não sabe sobre o meu filho e nem sobre o meu irmão. E isso me desespera.

Entro na casa e o ambiente que costumava me acalmar agora parece encharcado de tensão. Cada sombra, cada canto escuro parece esconder um perigo. Fecho a porta atrás de mim, trancando o mundo lá fora, mas sei que o verdadeiro perigo já está dentro da minha mente.

Atravesso a sala, o coração acelerado e vou direto para o quarto do meu filho. Preciso vê-lo, sentir o seu calor, saber que ele está seguro, pelo menos por enquanto.

Abro a porta do quarto com cuidado para não fazer barulho, como se o simples som pudesse quebrar a frágil paz que ainda resta. Ele está dormindo, os cachos loiros espalhados pelo travesseiro, o rosto sereno, alheio ao turbilhão que se desenrola à sua volta.

Me aproximo da cama e me ajoelho ao lado dela, as lágrimas que eu segurava desde o Eclipse finalmente escorrem, mas faço o máximo para não soluçar e acordá-lo. Eu o abraço suavemente, envolvendo seu pequeno corpo no meu, e ele murmura algo incoerente em seu sono, se aconchegando mais em mim. 

O amor que sinto por ele é um misto de alegria e dor. Alegria por tê-lo comigo, por saber que ele é a razão pela qual continuo lutando e dor, porque agora sei que, para protegê-lo, estou presa nas garras de Lucca. Meu maior medo é perder isso, perder essa paz momentânea, perder meu filho para um mundo que eu tento desesperadamente manter longe dele.

Depois de um tempo, me forço a soltá-lo. Preciso ser forte, preciso pensar com clareza. Dou-lhe um último beijo na testa e me levanto, deixando-o dormir em paz, embora eu saiba que a minha está longe de ser garantida.

Saio do quarto e vou para o corredor, onde as sombras parecem mais longas, mais escuras. Respiro fundo, reunindo a coragem para entrar no quarto do meu irmão.

Empurro a porta do quarto dele e o vejo deitado na cama, os olhos fixos no teto, perdido em pensamentos que ele raramente compartilha comigo. Ele mudou tanto desde que nossos pais morreram. A dor o transformou, o afastou de mim, e isso me destrói. Eu sempre quis ser a irmã mais velha que ele pudesse admirar, em quem pudesse confiar, mas sinto que falhei com ele. 

Sento-me à beira da cama e estendo a mão para acariciar seu cabelo. Ele não reage, mas também não se afasta. Sei que ele está acordado, mas respeito o silêncio que se instalou entre nós. O toque nos conecta de uma maneira que as palavras não conseguem. Ele está perdido e eu, apesar de tudo, ainda estou tentando encontrar uma maneira de trazê-lo de volta.

— Você está bem? — pergunto em voz baixa, sabendo que é uma pergunta sem resposta.

Ele balança a cabeça, ainda olhando para o teto. Eu não insisto. Sei que ele guarda tudo para si, que o mundo dentro da cabeça dele é um lugar que ele não deixa ninguém entrar. Mas eu não posso deixar de me preocupar.

Penso em tudo o que nós passamos com a dor da morte dos meus pais, eles foram brutalmente assassinados e tudo piorou depois que a polícia encerrou o caso sem nenhuma resposta.

Foi como se a esperança tivesse sido arrancada do meu irmão, deixando apenas um vazio e agora, com Lucca em cena, sinto que esse vazio só vai crescer. Eu acaricio seu cabelo mais uma vez, na tentativa desesperada de lhe dar algum conforto, mas a verdade é que estou tão perdida quanto ele.

— Eu vou cuidar de tudo.— sussurro, mesmo sabendo que ele pode não acreditar mais em promessas. Ele virou um homem antes do tempo, forçado pelas circunstâncias e agora ele está metido em algo que eu nem consigo entender.

Quero continuar e protegê-lo, mas o que posso fazer quando estou sendo controlada por um homem como Lucca?

Eu fico ali, sentada ao lado dele, o tempo passando sem pressa, cada segundo uma eternidade de incertezas. Meus pensamentos se enredam em preocupações, em planos que não fazem sentido, em um futuro que parece cada vez mais sombrio. A realidade é que estou sozinha e a responsabilidade de manter minha família segura pesa sobre mim como nunca antes.

Por fim, ele se vira para o lado e fecha os olhos, fingindo dormir. Sei que ele só quer que eu vá embora, que ele precisa do seu espaço para enfrentar seus próprios demônios. Mas eu não consigo me mover, como se sair desse quarto fosse uma admissão de que estou falhando com ele. Eventualmente, eu me forço a levantar, a me afastar da cama, meu coração pesado com a responsabilidade e o medo.

Eu caminho lentamente para fora do quarto dele, fechando a porta suavemente atrás de mim. Encosto-me na porta, o peito apertado, tentando encontrar uma saída para o pesadelo em que estamos presos. Mas Lucca não deixa espaço para escolhas e eu estou correndo contra o tempo para proteger aqueles que amo.

O que faço a seguir? Como posso manter meu filho e meu irmão seguros quando o próprio chão sob meus pés parece prestes a desmoronar? Cada respiração é um lembrete da batalha que enfrento, e sei que terei que ser mais forte do que jamais fui. Porque agora, mais do que nunca, a vida dos dois depende disso.

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