Sophie
Eu saio do Eclipse, ainda a noite que está envolta em sombras densas como meus próprios pensamentos. Cada passo que dou parece mais pesado, como se o chão tentasse me prender, como se a gravidade soubesse o peso das palavras de Lucca.
Ele disse que eu trabalharia para ele, sem nem me dar escolha. As palavras dele ainda ecoam na minha mente, frias e implacáveis, e sinto um arrepio subir pela minha espinha. Não posso contestar, não posso desafiá-lo. O medo é um nó apertado em meu estômago, um frio constante que me corrói por dentro.
Quando chego em casa, tudo parece em silêncio. As paredes, que deveriam me dar segurança, agora parecem se fechar sobre mim, cúmplices do que está prestes a acontecer. Puxo as chaves do bolso e as mãos tremem.
Eu olho para a porta, sabendo que depois de cruzá-la, terei que confrontar a realidade. Lucca não é o tipo de homem que faz promessas vazias e se eu não fizer o que ele espera, eu sei que ele pode ir atrás do que mais amo. Ele não sabe sobre o meu filho e nem sobre o meu irmão. E isso me desespera.
Entro na casa e o ambiente que costumava me acalmar agora parece encharcado de tensão. Cada sombra, cada canto escuro parece esconder um perigo. Fecho a porta atrás de mim, trancando o mundo lá fora, mas sei que o verdadeiro perigo já está dentro da minha mente.
Atravesso a sala, o coração acelerado e vou direto para o quarto do meu filho. Preciso vê-lo, sentir o seu calor, saber que ele está seguro, pelo menos por enquanto.
Abro a porta do quarto com cuidado para não fazer barulho, como se o simples som pudesse quebrar a frágil paz que ainda resta. Ele está dormindo, os cachos loiros espalhados pelo travesseiro, o rosto sereno, alheio ao turbilhão que se desenrola à sua volta.
Me aproximo da cama e me ajoelho ao lado dela, as lágrimas que eu segurava desde o Eclipse finalmente escorrem, mas faço o máximo para não soluçar e acordá-lo. Eu o abraço suavemente, envolvendo seu pequeno corpo no meu, e ele murmura algo incoerente em seu sono, se aconchegando mais em mim.
O amor que sinto por ele é um misto de alegria e dor. Alegria por tê-lo comigo, por saber que ele é a razão pela qual continuo lutando e dor, porque agora sei que, para protegê-lo, estou presa nas garras de Lucca. Meu maior medo é perder isso, perder essa paz momentânea, perder meu filho para um mundo que eu tento desesperadamente manter longe dele.
Depois de um tempo, me forço a soltá-lo. Preciso ser forte, preciso pensar com clareza. Dou-lhe um último beijo na testa e me levanto, deixando-o dormir em paz, embora eu saiba que a minha está longe de ser garantida.
Saio do quarto e vou para o corredor, onde as sombras parecem mais longas, mais escuras. Respiro fundo, reunindo a coragem para entrar no quarto do meu irmão.
Empurro a porta do quarto dele e o vejo deitado na cama, os olhos fixos no teto, perdido em pensamentos que ele raramente compartilha comigo. Ele mudou tanto desde que nossos pais morreram. A dor o transformou, o afastou de mim, e isso me destrói. Eu sempre quis ser a irmã mais velha que ele pudesse admirar, em quem pudesse confiar, mas sinto que falhei com ele.
Sento-me à beira da cama e estendo a mão para acariciar seu cabelo. Ele não reage, mas também não se afasta. Sei que ele está acordado, mas respeito o silêncio que se instalou entre nós. O toque nos conecta de uma maneira que as palavras não conseguem. Ele está perdido e eu, apesar de tudo, ainda estou tentando encontrar uma maneira de trazê-lo de volta.
— Você está bem? — pergunto em voz baixa, sabendo que é uma pergunta sem resposta.
Ele balança a cabeça, ainda olhando para o teto. Eu não insisto. Sei que ele guarda tudo para si, que o mundo dentro da cabeça dele é um lugar que ele não deixa ninguém entrar. Mas eu não posso deixar de me preocupar.
Penso em tudo o que nós passamos com a dor da morte dos meus pais, eles foram brutalmente assassinados e tudo piorou depois que a polícia encerrou o caso sem nenhuma resposta.
Foi como se a esperança tivesse sido arrancada do meu irmão, deixando apenas um vazio e agora, com Lucca em cena, sinto que esse vazio só vai crescer. Eu acaricio seu cabelo mais uma vez, na tentativa desesperada de lhe dar algum conforto, mas a verdade é que estou tão perdida quanto ele.
— Eu vou cuidar de tudo.— sussurro, mesmo sabendo que ele pode não acreditar mais em promessas. Ele virou um homem antes do tempo, forçado pelas circunstâncias e agora ele está metido em algo que eu nem consigo entender.
Quero continuar e protegê-lo, mas o que posso fazer quando estou sendo controlada por um homem como Lucca?
Eu fico ali, sentada ao lado dele, o tempo passando sem pressa, cada segundo uma eternidade de incertezas. Meus pensamentos se enredam em preocupações, em planos que não fazem sentido, em um futuro que parece cada vez mais sombrio. A realidade é que estou sozinha e a responsabilidade de manter minha família segura pesa sobre mim como nunca antes.
Por fim, ele se vira para o lado e fecha os olhos, fingindo dormir. Sei que ele só quer que eu vá embora, que ele precisa do seu espaço para enfrentar seus próprios demônios. Mas eu não consigo me mover, como se sair desse quarto fosse uma admissão de que estou falhando com ele. Eventualmente, eu me forço a levantar, a me afastar da cama, meu coração pesado com a responsabilidade e o medo.
Eu caminho lentamente para fora do quarto dele, fechando a porta suavemente atrás de mim. Encosto-me na porta, o peito apertado, tentando encontrar uma saída para o pesadelo em que estamos presos. Mas Lucca não deixa espaço para escolhas e eu estou correndo contra o tempo para proteger aqueles que amo.
O que faço a seguir? Como posso manter meu filho e meu irmão seguros quando o próprio chão sob meus pés parece prestes a desmoronar? Cada respiração é um lembrete da batalha que enfrento, e sei que terei que ser mais forte do que jamais fui. Porque agora, mais do que nunca, a vida dos dois depende disso.
Lucca .Eu saio do Eclipse com passos firmes, mas a mente em completo caos. O ar da noite é frio, mas não o suficiente para acalmar o fogo que queima dentro de mim. Algumas das meninas tem relações sexuais consentidas com os clientes vips, por volta das 3h da manhã vejo Sophie se despedir de algumas pessoas e sair.Eu me amaldiçoo em silêncio, o olhar fixo à frente, mas perdido. Não deveria ter feito nada disso. O conselho já tem tudo planejado, cada movimento, cada aliança, e a apresentação da minha esposa está prestes a acontecer. Eles não aceitam erros, muito menos desvios. E o que acabei de fazer com Sophie é tudo menos parte do plano.Meus dedos apertam o volante do carro com tanta força que os nós dos dedos ficam brancos. Não consigo afastar a imagem dela dançando. Cada movimento, cada curva do corpo dela parecia desenhado para prender minha atenção, para desafiar minha própria vontade. E, droga, como eu tentei desviar o olhar, ignorar o magnetismo dela. Mas era impossível. Cad
Sophie.O sol ainda está nascendo quando acordo, já ouvindo o som suave de Bernardo se mexendo na cama ao lado. Meu filho é a primeira coisa que vejo todas as manhãs e isso me dá forças para enfrentar o dia. Ele é minha maior alegria, minha maior preocupação e a razão pela qual faço tudo o que faço. Acordo devagar, tentando não fazer barulho para não acordá-lo de uma vez. Mas ele já está acordado, esfregando os olhinhos enquanto me observa com um sorriso tímido.— Bom dia, meu amor.— sussurro, acariciando seus cachinhos. Bernardo se aninha em mim e aproveito esse momento antes de começar minha rotina. Sei que o dia será longo, como sempre e que terei que me dividir entre minhas responsabilidades como mãe e minha vida na Eclipse, quer dizer, com Lucca.— Bom dia mamãe, hoje tem queci? — Eu não me aguento quando ele fala creche errado e o aporto todinho.— Sim amor da mamãe, hoje tem creche.— Depois de nos levantarmos, sigo para a cozinha para preparar o café da manhã.Sempre faço quest
Lucca.Sinto o peso do meu erro, ecoando na minha mente como uma sentença autoimposta. Não deveria ter mencionado o filho dela durante o jantar. Desde o instante em que as palavras saíram da minha boca, soube que havia cometido um erro. O pânico que vi nos olhos de Sophie me atingiu com força, esses olhos verdes, sempre tão cheios de vida, de repente ficaram opacos, preenchidos por um medo que eu nunca quis despertar. Eu deveria ter sido mais cuidadoso, mais atento. Deveria ter me controlado. O jantar seguiu de forma robotica, mal conversamos, Sophie mal olha para mim e quando terminamos de comer a sobremessa decido que não prolongarei a noite. Eu mesmo acabei com o clima, mas pretendo consertar.*Agora, enquanto guio o carro de volta ao apartamento, não consigo parar de me repreender. Sophie está ao meu lado, em silêncio, as mãos repousando no colo. Ela está claramente perturbada, e é tudo culpa minha. Porque tive que mencionar o filho e o irmão dela? Porque precisei mostrar que se
Sophie.A noite está cheia de reviravoltas e eu ainda não consigo acreditar em tudo que está acontecendo. O jantar foi estranho, para dizer o mínimo. Quando Lucca mencionou Bernardo, fiquei totalmente assustada. Como ele sabia sobre meu filho e meu irmão? Que tipo de poder ele tem sobre mim? Aquele olhar sério e seguro me deixou sem saída e mesmo que ele tenha tentado consertar as coisas depois, com um pedido de desculpas, ainda estou tentando entender o que ele realmente quer de mim.Agora, ao entrar neste apartamento que ele diz ser meu, me sinto ainda mais perdida. Um lugar luxuoso, completamente fora da minha realidade. O que Lucca quer comigo? O que ele realmente está tentando me oferecer? Não posso simplesmente aceitar tudo isso sem questionar. Ele é um homem perigoso, isso é óbvio, mas ao mesmo tempo, há algo nele que me intriga, algo que me faz querer entender mais.Quando ele me mostrou o quarto que supostamente é meu, senti-me sufocada pela grandiosidade de tudo. "Quero que
Sophie . Estou sentada no sofá do apartamento que Lucca disse ser meu, mas ainda não consigo acreditar em nada disso. Tudo parece surreal. Eu olho ao redor, observando os detalhes sofisticados e caros, cada peça de mobília escolhida a dedo, como se ele soubesse exatamente o que eu gostaria, mas... isso não faz sentido. Quem é esse homem que entra na minha vida de forma tão abrupta, fazendo exigências e controlando minhas ações? Minha mente estva um caos desde o jantar, e com o beijo que ele me deu, minha mente virou amoeba. Porque está tão interessado em mim? Não consigo mais segurar essas dúvidas dentro de mim. Elas estão me consumindo. Me levanto do sofá e me aproximo dele, Lucca está relaxado, sentado, mas seus olhos me observam com uma intensidade que me faz arrepiar. Respiro fundo, tomando coragem. Preciso de respostas. Agora. — Quem é você de verdade, Lucca? Eu preciso saber.— Minha voz sai firme, mesmo que por dentro eu esteja tremendo. Ele me encara por alguns segundos
Lucca.Caminho até a porta, olho para os dois homens que selecionei pessoalmente para vigiar Sophie. Ambos são de confiança, homens que cresceram comigo e sabem o que está em jogo.— Fiquem de olho nela.— ordeno, minha voz baixa, mas firme.— Nada de errado pode acontecer. Vocês dois ficam aqui até eu voltar.— Angelo, um dos meus homens de maior confiança, acena com a cabeça.— Pode deixar, chefe. Ninguém vai passar por nós.— Eu assinto, satisfeito com a resposta, e saio do apartamento. Sei que Sophie vai questionar essa vigilância, mas não tenho escolha. No momento, ela é o meu ponto mais vulnerável. E nessa vida, vulnerabilidades são sinônimos de fraqueza e fraqueza pode matar.Caminho para o elevador, sentindo uma tensão crescente em meus ombros. Ainda estou tentando processar o que aconteceu entre nós. Ver Sophie dançar para mim... aquilo mexeu comigo de uma forma que eu não esperava. Foi mais do que desejo. Foi algo mais profundo, algo que eu ainda não quero nomear.Mas agora,
Sophie.—Saio do quarto que Lucca disse ser meu, a mente ainda girando com tudo que aconteceu. Ele me deu um apartamento inteiro, um espaço que parece surreal, distante da minha realidade. No entanto, não posso negar a sensação de desconforto que isso me traz. Tudo parece uma jaula dourada, por mais luxuosa que seja. Sinto-me sufocada, como se estivesse perdendo o controle da minha própria vida. Preciso ver meu filho, Bernardo, e meu irmão, Enrico. Preciso voltar à minha realidade, lembrar quem eu sou.Quando chego à porta da saida, encontro dois homens tão grandes que parecem um armario, e lembro que Lucca disse que eu não estarei sozinha. Não gosto disso, não gosto dessa sensação de ser vigiada, de estar cercada. Eles parecem acreditar que têm o direito de me manter aqui, como se eu fosse uma prisioneira.Respiro fundo antes de me aproximar, endireitando a postura. Eu me recuso a ser submissa ou intimidada por esses seguranças, mesmo sabendo que eles estão apenas cumprindo ordens.
Sophie.Já se passaram dois dias desde que saí do apartamento de Lucca. Duas noites sem vê-lo, sem ouvir sua voz ou qualquer explicação para o que está acontecendo. E esses dois dias têm sido uma montanha-russa de emoções. A cada hora que passa, fico mais inquieta, mais confusa.Mais confusa com a transação bancária inesperada de 2.500 euros na minha conta. O valor estava lá, transferido diretamente da conta de Lucca. Minha primeira reação foi de choque. O que significa esse dinheiro? Era para ser algum tipo de pagamento? Mas pagamento porque? Pelo tempo que passei com ele? Pela dança?Eu me senti ofendida. O orgulho que ainda restava em mim gritou que eu não deveria aceitar esse dinheiro, que não deveria ser tratada como uma mercadoria. Mas, ao mesmo tempo, eu sei que a minha situação financeira não é das melhores, já que Lucca me tirou da boate, ele teralmente deve me pagar, não é?Bernardo precisa de mim e esse dinheiro pode ajudar a manter nossa vida estável por um tempo. Então,