CAPÍTULO 3

Sophie

A música começa a pulsar pelo clube, uma batida lenta e sensual que reverbera através do chão de madeira e sobe pelas minhas pernas. Estou no palco agora, as luzes me banham em tons de vermelho e dourado, projetando minha sombra nas paredes como se fosse um reflexo de algo mais sombrio dentro de mim. Tento afastar os pensamentos do porque realmente estou aqui, mas é impossível. 

Enquanto me movo ao ritmo da música, a atmosfera ao meu redor parece se tornar mais densa, mais pesada. Há uma energia no ar, algo que eu não consigo identificar, mas que me deixa inquieta. A pista diante de mim está cheia de homens em ternos caros, mas os rostos deles são meras sombras, indistinguíveis na penumbra do clube. O foco deles está em mim, e é meu trabalho entretê-los, seduzi-los, mantê-los cativados.

Respiro fundo, forçando meu corpo a relaxar enquanto começo a deslizar pelos movimentos que pratiquei tantas vezes antes. Minha mente se esvazia e o mundo ao meu redor desaparece, deixando apenas o ritmo da música e a sensação do chão sob meus pés. Eu danço como se fosse a única coisa que importa, como se cada movimento fosse uma fuga da realidade que me cerca.

Aos poucos, sinto o calor familiar da excitação e adrenalina tomando conta de mim. Meu corpo responde à música, cada gesto calculado para provocar, para atrair, para cativar. Meus olhos percorrem a multidão, evitando o contato direto com qualquer um deles, mas mantendo a ilusão de que estou dançando apenas para quem está assistindo. 

As luzes piscam, mudando de cor, e eu giro no palco, minha saia curta subindo levemente, revelando mais pele. O público reage com murmúrios e sussurros, mas é tudo um ruído distante para mim. Meu foco está em manter o controle, em garantir que nada me afete enquanto estou aqui em cima, mas isso é mais fácil dizer do que fazer. 

Meus olhos captam um movimento na escuridão, algo que não consigo identificar de imediato. Meu corpo responde com um arrepio involuntário, e tento ignorar, mas é impossível. Algo mudou no ambiente, algo que não posso ignorar, um homem dos olhos verdes estão completamente focados em mim.

Ele está lá, na sombra de uma cabine mais ao fundo, onde a luz não chega totalmente, mesmo à distância, consigo sentir sua presença. Ele está observando, seus olhos estão fixos em mim e sei que ele não perdeu nenhum movimento meu.

É como se ele estivesse me testando, me estudando, tentando descobrir quem eu realmente sou por trás da máscara que uso.

Minha respiração se acelera e por um momento, perco o ritmo da música. O público não parece notar, mas eu sei que ele percebe. Ele vê tudo.

Tento recuperar o controle, mas sua presença me desequilibra de uma forma que eu não esperava. Há algo nele que me atrai, que me faz querer me aproximar, mesmo sabendo que é perigoso.

Eu continuo dançando, mas agora meus movimentos são mais automáticos, quase mecânicos. Minha mente está ocupada com pensamentos desse homem e como ele está me observando agora. Sinto um calor subir pelo meu pescoço se espalhar pelo meu rosto, e tento ignorar a reação visceral que ele provoca em mim.

A música finalmente chega ao fim, e eu termino minha performance com um último movimento ousado, minha respiração ofegante e minha pele formigando de excitação e medo. O público aplaude, mas eu mal consigo ouvir. Estou concentrada demais nesse homem, que ainda está lá, imóvel, observando.

Desço do palco, minhas pernas tremendo levemente enquanto faço meu caminho de volta aos camarins. As outras garotas estão ocupadas, algumas se preparando para subir ao palco, outras descansando entre as apresentações. Eu tento me misturar, mas sei que ainda estou diferente, ainda perturbada pelo que aconteceu.

Quando estou sozinha no camarim, finalmente permito que meus pensamentos corram livres.

Não é a primeira vez que um cliente se interessa de forma especial por uma das meninas, mas ele é diferente. Ele não é apenas um cliente comum. Ele é alguém com poder, alguém com segredos, e eu não posso deixar de me perguntar que tipo de perigo estou correndo ao me envolver, mesmo que involuntariamente, com ele.

Não deveria sentir isso, não deveria permitir que um homem como ele entrasse na minha cabeça, mas não consigo evitar. Há algo nele que chama a minha atenção, que me puxa para um território perigoso, onde as regras que criei para mim mesma não parecem mais importar.

Passo as mãos pelos meus cabelos, tentando me acalmar. Preciso de um plano, de uma forma de manter ele à distância, de garantir que ele não descubra sobre mim do que eu estou disposta a revelar. Mas ao mesmo tempo, há uma parte de mim que está curiosa, que quer saber o que o trouxe até aqui, por que ele pareceu tão fascinado.

Minha mente está uma confusão de pensamentos e emoções conflitantes. Tento focar no motivo pelo qual estou aqui – meu irmão, a dívida, meu filho, a necessidade de sobrevivência, mas aquele homem continua invadindo meus pensamentos, cada vez mais presente, mais impossível de ignorar. 

Há uma batida leve na porta e eu salto de susto, meu coração disparando novamente. Uma das meninas aparece, anunciando que o chefe quer me ver de novo. Meu estômago se contrai em um nó, não sei o que esperar desta vez, mas sei que não tenho escolha.

Eu me levanto, ajeito minha roupa e saio do camarim, com a sensação de que estou caminhando para dentro de uma armadilha que não consigo ver.

Enquanto faço meu caminho de volta ao escritório, minhas mãos tremem levemente. Tento lembrar das palavras que direi, da forma como me comportarei, mas tudo parece escapar enquanto a imagem do homem continua a se formar em minha mente. Quando chego à porta do escritório, paro por um momento para respirar fundo, preparando-me para o que está por vir.

Empurro a porta e entro, meus olhos encontrando imediatamente os do homem dos olhos verdes, que está de pé ao lado da mesa, como se estivesse me esperando. Ele me observa com aquela mesma intensidade desconcertante e meu coração salta no peito. 

Vito sorri levemente, um gesto quase imperceptível, mas que carrega um peso imenso.

— Sophie quero lhe apresentar Lucca Moretti. Ele é um dos clientes mais fiéis dessa casa e a partir de agora você irá trabalhar apenas para ele.— Eu o encaro, tentando decifrar suas intenções, mas tudo o que vejo é um homem que sabe mais do que está disposto a revelar.

Sinto que estou jogando um jogo perigoso, um jogo que não sei se posso ganhar, mas ao mesmo tempo, uma parte de mim está disposta a arriscar. 

— Como assim? Você nem sabe quem eu sou.— Eu pergunto, desafiando-o com o olhar.

— Isso é o que iremos descobrir.— Lucca sorri de novo, dessa vez com mais intensidade. 

Sinto um calafrio percorrer minha espinha enquanto ele se aproxima. A tensão no ar é palpável, e sei que o jogo apenas começou. Seja qual for o resultado, não há como voltar atrás agora.

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