Sophie
A música começa a pulsar pelo clube, uma batida lenta e sensual que reverbera através do chão de madeira e sobe pelas minhas pernas. Estou no palco agora, as luzes me banham em tons de vermelho e dourado, projetando minha sombra nas paredes como se fosse um reflexo de algo mais sombrio dentro de mim. Tento afastar os pensamentos do porque realmente estou aqui, mas é impossível.
Enquanto me movo ao ritmo da música, a atmosfera ao meu redor parece se tornar mais densa, mais pesada. Há uma energia no ar, algo que eu não consigo identificar, mas que me deixa inquieta. A pista diante de mim está cheia de homens em ternos caros, mas os rostos deles são meras sombras, indistinguíveis na penumbra do clube. O foco deles está em mim, e é meu trabalho entretê-los, seduzi-los, mantê-los cativados.
Respiro fundo, forçando meu corpo a relaxar enquanto começo a deslizar pelos movimentos que pratiquei tantas vezes antes. Minha mente se esvazia e o mundo ao meu redor desaparece, deixando apenas o ritmo da música e a sensação do chão sob meus pés. Eu danço como se fosse a única coisa que importa, como se cada movimento fosse uma fuga da realidade que me cerca.
Aos poucos, sinto o calor familiar da excitação e adrenalina tomando conta de mim. Meu corpo responde à música, cada gesto calculado para provocar, para atrair, para cativar. Meus olhos percorrem a multidão, evitando o contato direto com qualquer um deles, mas mantendo a ilusão de que estou dançando apenas para quem está assistindo.
As luzes piscam, mudando de cor, e eu giro no palco, minha saia curta subindo levemente, revelando mais pele. O público reage com murmúrios e sussurros, mas é tudo um ruído distante para mim. Meu foco está em manter o controle, em garantir que nada me afete enquanto estou aqui em cima, mas isso é mais fácil dizer do que fazer.
Meus olhos captam um movimento na escuridão, algo que não consigo identificar de imediato. Meu corpo responde com um arrepio involuntário, e tento ignorar, mas é impossível. Algo mudou no ambiente, algo que não posso ignorar, um homem dos olhos verdes estão completamente focados em mim.
Ele está lá, na sombra de uma cabine mais ao fundo, onde a luz não chega totalmente, mesmo à distância, consigo sentir sua presença. Ele está observando, seus olhos estão fixos em mim e sei que ele não perdeu nenhum movimento meu.
É como se ele estivesse me testando, me estudando, tentando descobrir quem eu realmente sou por trás da máscara que uso.
Minha respiração se acelera e por um momento, perco o ritmo da música. O público não parece notar, mas eu sei que ele percebe. Ele vê tudo.
Tento recuperar o controle, mas sua presença me desequilibra de uma forma que eu não esperava. Há algo nele que me atrai, que me faz querer me aproximar, mesmo sabendo que é perigoso.
Eu continuo dançando, mas agora meus movimentos são mais automáticos, quase mecânicos. Minha mente está ocupada com pensamentos desse homem e como ele está me observando agora. Sinto um calor subir pelo meu pescoço se espalhar pelo meu rosto, e tento ignorar a reação visceral que ele provoca em mim.
A música finalmente chega ao fim, e eu termino minha performance com um último movimento ousado, minha respiração ofegante e minha pele formigando de excitação e medo. O público aplaude, mas eu mal consigo ouvir. Estou concentrada demais nesse homem, que ainda está lá, imóvel, observando.
Desço do palco, minhas pernas tremendo levemente enquanto faço meu caminho de volta aos camarins. As outras garotas estão ocupadas, algumas se preparando para subir ao palco, outras descansando entre as apresentações. Eu tento me misturar, mas sei que ainda estou diferente, ainda perturbada pelo que aconteceu.
Quando estou sozinha no camarim, finalmente permito que meus pensamentos corram livres.
Não é a primeira vez que um cliente se interessa de forma especial por uma das meninas, mas ele é diferente. Ele não é apenas um cliente comum. Ele é alguém com poder, alguém com segredos, e eu não posso deixar de me perguntar que tipo de perigo estou correndo ao me envolver, mesmo que involuntariamente, com ele.
Não deveria sentir isso, não deveria permitir que um homem como ele entrasse na minha cabeça, mas não consigo evitar. Há algo nele que chama a minha atenção, que me puxa para um território perigoso, onde as regras que criei para mim mesma não parecem mais importar.
Passo as mãos pelos meus cabelos, tentando me acalmar. Preciso de um plano, de uma forma de manter ele à distância, de garantir que ele não descubra sobre mim do que eu estou disposta a revelar. Mas ao mesmo tempo, há uma parte de mim que está curiosa, que quer saber o que o trouxe até aqui, por que ele pareceu tão fascinado.
Minha mente está uma confusão de pensamentos e emoções conflitantes. Tento focar no motivo pelo qual estou aqui – meu irmão, a dívida, meu filho, a necessidade de sobrevivência, mas aquele homem continua invadindo meus pensamentos, cada vez mais presente, mais impossível de ignorar.
Há uma batida leve na porta e eu salto de susto, meu coração disparando novamente. Uma das meninas aparece, anunciando que o chefe quer me ver de novo. Meu estômago se contrai em um nó, não sei o que esperar desta vez, mas sei que não tenho escolha.
Eu me levanto, ajeito minha roupa e saio do camarim, com a sensação de que estou caminhando para dentro de uma armadilha que não consigo ver.
Enquanto faço meu caminho de volta ao escritório, minhas mãos tremem levemente. Tento lembrar das palavras que direi, da forma como me comportarei, mas tudo parece escapar enquanto a imagem do homem continua a se formar em minha mente. Quando chego à porta do escritório, paro por um momento para respirar fundo, preparando-me para o que está por vir.
Empurro a porta e entro, meus olhos encontrando imediatamente os do homem dos olhos verdes, que está de pé ao lado da mesa, como se estivesse me esperando. Ele me observa com aquela mesma intensidade desconcertante e meu coração salta no peito.
Vito sorri levemente, um gesto quase imperceptível, mas que carrega um peso imenso.
— Sophie quero lhe apresentar Lucca Moretti. Ele é um dos clientes mais fiéis dessa casa e a partir de agora você irá trabalhar apenas para ele.— Eu o encaro, tentando decifrar suas intenções, mas tudo o que vejo é um homem que sabe mais do que está disposto a revelar.
Sinto que estou jogando um jogo perigoso, um jogo que não sei se posso ganhar, mas ao mesmo tempo, uma parte de mim está disposta a arriscar.
— Como assim? Você nem sabe quem eu sou.— Eu pergunto, desafiando-o com o olhar.
— Isso é o que iremos descobrir.— Lucca sorri de novo, dessa vez com mais intensidade.
Sinto um calafrio percorrer minha espinha enquanto ele se aproxima. A tensão no ar é palpável, e sei que o jogo apenas começou. Seja qual for o resultado, não há como voltar atrás agora.
Lucca MorettiChego à Eclipse como faço em muitas noites, mas hoje algo é diferente. Meu humor está mais sombrio do que o habitual, minha mente ocupada com questões de negócios, o fardo constante de manter tudo sob controle e ainda a questão de que meu Don quer me casar.A Eclipse é um refúgio para mim, um lugar onde posso observar o caos organizado e lembrar que, por trás das luzes e da música, sou eu quem comanda tudo isso. Mas esta noite, há algo mais que me atrai aqui.Entro no clube, o som da música pulsando nos meus ouvidos, e o cheiro de perfume e cigarro misturados invade meus sentidos. A multidão está em sua energia habitual, mas enquanto eu passo as pessoas vão abrindo caminho, homens observando com olhos famintos as mulheres que dançam para eles, enquanto as dançarinas se movem com a graça calculada de quem sabe que cada gesto é uma oportunidade para ganhar mais dinheiro. As luzes piscam em tons de vermelho e roxo, criando um ambiente onde as sombras dominam tanto quanto os
SophieEu saio do Eclipse, ainda a noite que está envolta em sombras densas como meus próprios pensamentos. Cada passo que dou parece mais pesado, como se o chão tentasse me prender, como se a gravidade soubesse o peso das palavras de Lucca.Ele disse que eu trabalharia para ele, sem nem me dar escolha. As palavras dele ainda ecoam na minha mente, frias e implacáveis, e sinto um arrepio subir pela minha espinha. Não posso contestar, não posso desafiá-lo. O medo é um nó apertado em meu estômago, um frio constante que me corrói por dentro.Quando chego em casa, tudo parece em silêncio. As paredes, que deveriam me dar segurança, agora parecem se fechar sobre mim, cúmplices do que está prestes a acontecer. Puxo as chaves do bolso e as mãos tremem.Eu olho para a porta, sabendo que depois de cruzá-la, terei que confrontar a realidade. Lucca não é o tipo de homem que faz promessas vazias e se eu não fizer o que ele espera, eu sei que ele pode ir atrás do que mais amo. Ele não sabe sobre o me
Lucca .Eu saio do Eclipse com passos firmes, mas a mente em completo caos. O ar da noite é frio, mas não o suficiente para acalmar o fogo que queima dentro de mim. Algumas das meninas tem relações sexuais consentidas com os clientes vips, por volta das 3h da manhã vejo Sophie se despedir de algumas pessoas e sair.Eu me amaldiçoo em silêncio, o olhar fixo à frente, mas perdido. Não deveria ter feito nada disso. O conselho já tem tudo planejado, cada movimento, cada aliança, e a apresentação da minha esposa está prestes a acontecer. Eles não aceitam erros, muito menos desvios. E o que acabei de fazer com Sophie é tudo menos parte do plano.Meus dedos apertam o volante do carro com tanta força que os nós dos dedos ficam brancos. Não consigo afastar a imagem dela dançando. Cada movimento, cada curva do corpo dela parecia desenhado para prender minha atenção, para desafiar minha própria vontade. E, droga, como eu tentei desviar o olhar, ignorar o magnetismo dela. Mas era impossível. Cad
Sophie.O sol ainda está nascendo quando acordo, já ouvindo o som suave de Bernardo se mexendo na cama ao lado. Meu filho é a primeira coisa que vejo todas as manhãs e isso me dá forças para enfrentar o dia. Ele é minha maior alegria, minha maior preocupação e a razão pela qual faço tudo o que faço. Acordo devagar, tentando não fazer barulho para não acordá-lo de uma vez. Mas ele já está acordado, esfregando os olhinhos enquanto me observa com um sorriso tímido.— Bom dia, meu amor.— sussurro, acariciando seus cachinhos. Bernardo se aninha em mim e aproveito esse momento antes de começar minha rotina. Sei que o dia será longo, como sempre e que terei que me dividir entre minhas responsabilidades como mãe e minha vida na Eclipse, quer dizer, com Lucca.— Bom dia mamãe, hoje tem queci? — Eu não me aguento quando ele fala creche errado e o aporto todinho.— Sim amor da mamãe, hoje tem creche.— Depois de nos levantarmos, sigo para a cozinha para preparar o café da manhã.Sempre faço quest
Lucca.Sinto o peso do meu erro, ecoando na minha mente como uma sentença autoimposta. Não deveria ter mencionado o filho dela durante o jantar. Desde o instante em que as palavras saíram da minha boca, soube que havia cometido um erro. O pânico que vi nos olhos de Sophie me atingiu com força, esses olhos verdes, sempre tão cheios de vida, de repente ficaram opacos, preenchidos por um medo que eu nunca quis despertar. Eu deveria ter sido mais cuidadoso, mais atento. Deveria ter me controlado. O jantar seguiu de forma robotica, mal conversamos, Sophie mal olha para mim e quando terminamos de comer a sobremessa decido que não prolongarei a noite. Eu mesmo acabei com o clima, mas pretendo consertar.*Agora, enquanto guio o carro de volta ao apartamento, não consigo parar de me repreender. Sophie está ao meu lado, em silêncio, as mãos repousando no colo. Ela está claramente perturbada, e é tudo culpa minha. Porque tive que mencionar o filho e o irmão dela? Porque precisei mostrar que se
Sophie.A noite está cheia de reviravoltas e eu ainda não consigo acreditar em tudo que está acontecendo. O jantar foi estranho, para dizer o mínimo. Quando Lucca mencionou Bernardo, fiquei totalmente assustada. Como ele sabia sobre meu filho e meu irmão? Que tipo de poder ele tem sobre mim? Aquele olhar sério e seguro me deixou sem saída e mesmo que ele tenha tentado consertar as coisas depois, com um pedido de desculpas, ainda estou tentando entender o que ele realmente quer de mim.Agora, ao entrar neste apartamento que ele diz ser meu, me sinto ainda mais perdida. Um lugar luxuoso, completamente fora da minha realidade. O que Lucca quer comigo? O que ele realmente está tentando me oferecer? Não posso simplesmente aceitar tudo isso sem questionar. Ele é um homem perigoso, isso é óbvio, mas ao mesmo tempo, há algo nele que me intriga, algo que me faz querer entender mais.Quando ele me mostrou o quarto que supostamente é meu, senti-me sufocada pela grandiosidade de tudo. "Quero que
Sophie . Estou sentada no sofá do apartamento que Lucca disse ser meu, mas ainda não consigo acreditar em nada disso. Tudo parece surreal. Eu olho ao redor, observando os detalhes sofisticados e caros, cada peça de mobília escolhida a dedo, como se ele soubesse exatamente o que eu gostaria, mas... isso não faz sentido. Quem é esse homem que entra na minha vida de forma tão abrupta, fazendo exigências e controlando minhas ações? Minha mente estva um caos desde o jantar, e com o beijo que ele me deu, minha mente virou amoeba. Porque está tão interessado em mim? Não consigo mais segurar essas dúvidas dentro de mim. Elas estão me consumindo. Me levanto do sofá e me aproximo dele, Lucca está relaxado, sentado, mas seus olhos me observam com uma intensidade que me faz arrepiar. Respiro fundo, tomando coragem. Preciso de respostas. Agora. — Quem é você de verdade, Lucca? Eu preciso saber.— Minha voz sai firme, mesmo que por dentro eu esteja tremendo. Ele me encara por alguns segundos
Lucca.Caminho até a porta, olho para os dois homens que selecionei pessoalmente para vigiar Sophie. Ambos são de confiança, homens que cresceram comigo e sabem o que está em jogo.— Fiquem de olho nela.— ordeno, minha voz baixa, mas firme.— Nada de errado pode acontecer. Vocês dois ficam aqui até eu voltar.— Angelo, um dos meus homens de maior confiança, acena com a cabeça.— Pode deixar, chefe. Ninguém vai passar por nós.— Eu assinto, satisfeito com a resposta, e saio do apartamento. Sei que Sophie vai questionar essa vigilância, mas não tenho escolha. No momento, ela é o meu ponto mais vulnerável. E nessa vida, vulnerabilidades são sinônimos de fraqueza e fraqueza pode matar.Caminho para o elevador, sentindo uma tensão crescente em meus ombros. Ainda estou tentando processar o que aconteceu entre nós. Ver Sophie dançar para mim... aquilo mexeu comigo de uma forma que eu não esperava. Foi mais do que desejo. Foi algo mais profundo, algo que eu ainda não quero nomear.Mas agora,