CAPÍTULO 2

Sophie

Eu caminho pela calçada úmida de uma rua estreita e mal iluminada, observando o nevoeiro que se espalha pela cidade como um véu de mistério. As luzes fracas dos postes piscam, projetando sombras longas e distorcidas que parecem se estender até o infinito.

Estou indo em direção ao Eclipse, um clube noturno conhecido por sua clientela exclusiva e pelo que acontece lá dentro, longe dos olhos curiosos.

Minha respiração forma pequenas nuvens de vapor no ar gelado da noite. Sinto um arrepio percorrer minha espinha, mas não é apenas por causa do frio. É a expectativa. O nervosismo que me corrói por dentro. Ainda assim, mantenho minha expressão neutra, treinada para esconder qualquer traço de vulnerabilidade. Afinal, neste mundo, fraqueza é um luxo que não posso me permitir.

O letreiro do clube surge à minha frente, com suas letras néon roxas pulsando em um ritmo lento e hipnótico. Pego minha bolsa e puxo a alça sobre o ombro, erguendo o queixo enquanto subo os degraus.

Dois seguranças estão parados na porta, vestidos com ternos pretos e expressões ameaçadoras. Um deles me olha de cima a baixo, reconhecendo-me de imediato. Ele acena com a cabeça, me dando passagem sem questionamentos. Pelo menos aqui dentro, eu sou alguém que merece respeito.

Assim que entro no clube, sou saudada por uma onda de calor e pelo som abafado da música. O ambiente é dominado por uma iluminação vermelha suave, que cobre tudo com um brilho quente e sedutor. As paredes são decoradas com cortinas de veludo e espelhos, refletindo as luzes e criando a ilusão de um espaço maior, quase infinito. 

Minhas mãos tremem levemente enquanto deslizo pelo chão de madeira polida, sentindo a vibração da música nos pés. Os rostos dos clientes vips são sombras indistintas nas cabines escuras ao longo das paredes. Eles são liberados primeiro do que os clientes comuns eu os conheço bem; homens de negócios, políticos, figuras importantes que pagam muito bem pela privacidade e discrição. Aqui, todos têm algo a esconder.

O palco central está sendo organizado para o show. Uma dançarina está testando o pole dance, seus movimentos fluidos e graciosos, como se fosse uma extensão da música.

Ela dança para uma pequena audiência de homens que observam cada movimento seu com olhos predadores.

Eu me dirijo aos bastidores, onde o cheiro de perfume barato e suor domina o ar. As outras garotas estão se preparando, vestindo-se com roupas minúsculas que mal cobrem seus corpos e fazendo a maquiagem.

Algumas me cumprimentam com um aceno de cabeça, outras permanecem concentradas em seus próprios reflexos no espelho. Não há muito tempo para conversas aqui. Todas sabem que, quando estão no palco, estão sozinhas.

No camarim, meus pensamentos se voltam para o motivo pelo qual estou aqui meu irmão e meu filho. Não escolhi essa vida, mas foi a única saída que encontrei para lidar com a dívida insuportável que meu irmão acumulou. Ele se envolveu com as pessoas erradas, jogando com dinheiro que não era dele e agora eu estou pagando o preço.

Trabalhar neste clube é minha única chance de evitar que algo pior aconteça a ele. Cada noite, cada performance, é uma pequena fração do que devo, mas é um sacrifício que estou disposta a fazer. Estou aqui há cerca de uma semana e recebo uma boa gorjeta todos os dias, sempre coloquei na minha cabeça que sou dançarina, embora algumas meninas se venda seus corpos para esses homens poderosos. 

Eu me visto com cuidado, colocando uma lingerie de renda preta e uma saia curta de couro. O espelho me devolve o reflexo de uma mulher que aprendeu a se esconder atrás de uma máscara de sensualidade. Meu ruivo cabelo cai em ondas sobre meus ombros e meus lábios estão pintados de um vermelho intenso. Respiro fundo, ajustando as alças do sutiã antes de me virar para sair do camarim. 

Quando estou prestes a sair, uma das outras garotas me avisa que o chefe quer falar comigo. Meu coração acelera. Nunca fui chamada ao escritório antes.

— Sophie, ele está te esperando.— diz ela com uma voz baixa e sussurrada. O chefe raramente fala com as meninas diretamente, e isso nunca é um bom sinal.

Subo as escadas que levam ao escritório com passos cautelosos. Quando chego à porta de madeira pesada, hesito por um momento antes de bater. Uma voz firme me manda entrar. Respiro fundo e empurro a porta.

O escritório é um contraste gritante com o clube. Aqui, a decoração é elegante e minimalista. Uma mesa de mogno ocupa o centro do espaço, com uma cadeira de couro atrás dela. Nas paredes, quadros de arte moderna e uma estante cheia de livros encadernados em couro. Atrás da mesa, sentado com uma expressão indecifrável, está Vito Casagrande, as meninas e eu sempre resolvemos qualquer coisa com Cassandra, que se acha a dona do clube, mas o real dono pelo que sei é o homem que se encontra na minha frente.

— Olá Sophie.— ele diz, sua voz baixa e controlada. Ele sabe quem eu sou, acredito que mesmo não vindo muito aqui, ele sabe quem é cada uma das meninas que trabalha pra ele.

— Olá chefe.— respondo, tentando manter minha voz firme. Há uma pausa longa enquanto ele continua a me observar, como se estivesse tentando decifrar cada detalhe de mim. Finalmente, ele faz um gesto para que eu me sente.

Eu obedeço, sentando-me na cadeira à frente dele. Vito entrelaça os dedos e se inclina levemente para frente.

— Você sabe por que está aqui? — ele pergunta, mantendo seus olhos fixos nos meus.

— Não senhor.— Eu balanço a cabeça negativamente. 

— Tenho ouvido coisas interessantes sobre você, Sophie. Dizem que você é uma das melhores dançarinas que já passou por este clube.— Ele inclina a cabeça para o lado como se estivesse me estudando.

— Faço apenas o meu melhor, eu sou formada em dança, então pra mim as vezes é relativamente fácil.— Digo humildemente mantendo minha expressão neutra.

— Eu acredito. — ele responde, seu tom cheio de subtexto.

— Mas me diga, por que uma mulher como você está neste lugar? O que a trouxe até aqui? — A pergunta é direta e inesperada. Por um momento, meu coração para.

— Eu precisava do dinheiro. Coisa pessoal.— Eu escolho com cuidado as palavras, não posso contar a verdade. 

— Dinheiro é sempre pessoal Sophie, Especialmente nesse mundo.— Vito solta um riso curto, sem humor. 

Ele se levanta, caminhando lentamente ao redor da mesa até parar ao meu lado. Ele se inclina, colocando uma mão firme no braço da cadeira, me obrigando a olhá-lo diretamente nos olhos.

— Você entende que está jogando um jogo perigoso, não entende? — Sua voz é um sussurro sombrio. Eu vejo algo nos olhos dele, algo escuro e fascinante, mas também assustador.

É como se ele estivesse me avisando, me desafiando a ir mais fundo, mas ao mesmo tempo me alertando sobre as consequências.

— Sim.— eu sussurro, incapaz de desviar o olhar. 

— Bom. Quero que você entenda uma coisa, Sophie. Neste clube, não é apenas o seu corpo que está em jogo. É sua vida. Hoje teremos homens muito poderosos aqui e eu quero que esteja sempre em alerta para qualquer um que tentar se aproximar de você, essa é sua segunda semana nesta casa então há coisas que você ainda não sabe, mas eu dou esse aviso as meninas pessoalmente.— Ele se endireita e recua, eme dando as costas e volta para a mesa.

— Você pode ir. Mas lembre-se, cuidado— Eu me levanto, ainda tremendo e saio do escritório sem olhar para trás.

Meu coração b**e acelerado e sinto o peso das palavras dele como uma âncora presa ao meu peito, algumas meninas cochicham sobre ele ser gay, só que ainda assim ele é um homem bastante intimidante.

Quando chego de volta ao camarim, as outras meninas estão indo para o palco, mas eu paro por um momento, tentando recuperar o fôlego.

As luzes do palco piscam e ouço o nome da próxima dançarina sendo anunciado. É a minha vez. Respiro fundo, ajusto minha postura e caminho em direção ao palco, sabendo que, a partir de agora, nada será como antes.

Enquanto subo no palco, sinto os olhos de muitos homens que eu nunca vi antes em mim.

E sim Vito estava certoz todos parecem ameaçadores, intimidantes, mas não posso recuar, o jogo começou e sei que não haverá volta.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo