Sophie
Eu caminho pela calçada úmida de uma rua estreita e mal iluminada, observando o nevoeiro que se espalha pela cidade como um véu de mistério. As luzes fracas dos postes piscam, projetando sombras longas e distorcidas que parecem se estender até o infinito.
Estou indo em direção ao Eclipse, um clube noturno conhecido por sua clientela exclusiva e pelo que acontece lá dentro, longe dos olhos curiosos.
Minha respiração forma pequenas nuvens de vapor no ar gelado da noite. Sinto um arrepio percorrer minha espinha, mas não é apenas por causa do frio. É a expectativa. O nervosismo que me corrói por dentro. Ainda assim, mantenho minha expressão neutra, treinada para esconder qualquer traço de vulnerabilidade. Afinal, neste mundo, fraqueza é um luxo que não posso me permitir.
O letreiro do clube surge à minha frente, com suas letras néon roxas pulsando em um ritmo lento e hipnótico. Pego minha bolsa e puxo a alça sobre o ombro, erguendo o queixo enquanto subo os degraus.
Dois seguranças estão parados na porta, vestidos com ternos pretos e expressões ameaçadoras. Um deles me olha de cima a baixo, reconhecendo-me de imediato. Ele acena com a cabeça, me dando passagem sem questionamentos. Pelo menos aqui dentro, eu sou alguém que merece respeito.
Assim que entro no clube, sou saudada por uma onda de calor e pelo som abafado da música. O ambiente é dominado por uma iluminação vermelha suave, que cobre tudo com um brilho quente e sedutor. As paredes são decoradas com cortinas de veludo e espelhos, refletindo as luzes e criando a ilusão de um espaço maior, quase infinito.
Minhas mãos tremem levemente enquanto deslizo pelo chão de madeira polida, sentindo a vibração da música nos pés. Os rostos dos clientes vips são sombras indistintas nas cabines escuras ao longo das paredes. Eles são liberados primeiro do que os clientes comuns eu os conheço bem; homens de negócios, políticos, figuras importantes que pagam muito bem pela privacidade e discrição. Aqui, todos têm algo a esconder.
O palco central está sendo organizado para o show. Uma dançarina está testando o pole dance, seus movimentos fluidos e graciosos, como se fosse uma extensão da música.
Ela dança para uma pequena audiência de homens que observam cada movimento seu com olhos predadores.
Eu me dirijo aos bastidores, onde o cheiro de perfume barato e suor domina o ar. As outras garotas estão se preparando, vestindo-se com roupas minúsculas que mal cobrem seus corpos e fazendo a maquiagem.
Algumas me cumprimentam com um aceno de cabeça, outras permanecem concentradas em seus próprios reflexos no espelho. Não há muito tempo para conversas aqui. Todas sabem que, quando estão no palco, estão sozinhas.
No camarim, meus pensamentos se voltam para o motivo pelo qual estou aqui meu irmão e meu filho. Não escolhi essa vida, mas foi a única saída que encontrei para lidar com a dívida insuportável que meu irmão acumulou. Ele se envolveu com as pessoas erradas, jogando com dinheiro que não era dele e agora eu estou pagando o preço.
Trabalhar neste clube é minha única chance de evitar que algo pior aconteça a ele. Cada noite, cada performance, é uma pequena fração do que devo, mas é um sacrifício que estou disposta a fazer. Estou aqui há cerca de uma semana e recebo uma boa gorjeta todos os dias, sempre coloquei na minha cabeça que sou dançarina, embora algumas meninas se venda seus corpos para esses homens poderosos.
Eu me visto com cuidado, colocando uma lingerie de renda preta e uma saia curta de couro. O espelho me devolve o reflexo de uma mulher que aprendeu a se esconder atrás de uma máscara de sensualidade. Meu ruivo cabelo cai em ondas sobre meus ombros e meus lábios estão pintados de um vermelho intenso. Respiro fundo, ajustando as alças do sutiã antes de me virar para sair do camarim.
Quando estou prestes a sair, uma das outras garotas me avisa que o chefe quer falar comigo. Meu coração acelera. Nunca fui chamada ao escritório antes.
— Sophie, ele está te esperando.— diz ela com uma voz baixa e sussurrada. O chefe raramente fala com as meninas diretamente, e isso nunca é um bom sinal.
Subo as escadas que levam ao escritório com passos cautelosos. Quando chego à porta de madeira pesada, hesito por um momento antes de bater. Uma voz firme me manda entrar. Respiro fundo e empurro a porta.
O escritório é um contraste gritante com o clube. Aqui, a decoração é elegante e minimalista. Uma mesa de mogno ocupa o centro do espaço, com uma cadeira de couro atrás dela. Nas paredes, quadros de arte moderna e uma estante cheia de livros encadernados em couro. Atrás da mesa, sentado com uma expressão indecifrável, está Vito Casagrande, as meninas e eu sempre resolvemos qualquer coisa com Cassandra, que se acha a dona do clube, mas o real dono pelo que sei é o homem que se encontra na minha frente.
— Olá Sophie.— ele diz, sua voz baixa e controlada. Ele sabe quem eu sou, acredito que mesmo não vindo muito aqui, ele sabe quem é cada uma das meninas que trabalha pra ele.
— Olá chefe.— respondo, tentando manter minha voz firme. Há uma pausa longa enquanto ele continua a me observar, como se estivesse tentando decifrar cada detalhe de mim. Finalmente, ele faz um gesto para que eu me sente.
Eu obedeço, sentando-me na cadeira à frente dele. Vito entrelaça os dedos e se inclina levemente para frente.
— Você sabe por que está aqui? — ele pergunta, mantendo seus olhos fixos nos meus.
— Não senhor.— Eu balanço a cabeça negativamente.
— Tenho ouvido coisas interessantes sobre você, Sophie. Dizem que você é uma das melhores dançarinas que já passou por este clube.— Ele inclina a cabeça para o lado como se estivesse me estudando.
— Faço apenas o meu melhor, eu sou formada em dança, então pra mim as vezes é relativamente fácil.— Digo humildemente mantendo minha expressão neutra.
— Eu acredito. — ele responde, seu tom cheio de subtexto.
— Mas me diga, por que uma mulher como você está neste lugar? O que a trouxe até aqui? — A pergunta é direta e inesperada. Por um momento, meu coração para.
— Eu precisava do dinheiro. Coisa pessoal.— Eu escolho com cuidado as palavras, não posso contar a verdade.
— Dinheiro é sempre pessoal Sophie, Especialmente nesse mundo.— Vito solta um riso curto, sem humor.
Ele se levanta, caminhando lentamente ao redor da mesa até parar ao meu lado. Ele se inclina, colocando uma mão firme no braço da cadeira, me obrigando a olhá-lo diretamente nos olhos.
— Você entende que está jogando um jogo perigoso, não entende? — Sua voz é um sussurro sombrio. Eu vejo algo nos olhos dele, algo escuro e fascinante, mas também assustador.
É como se ele estivesse me avisando, me desafiando a ir mais fundo, mas ao mesmo tempo me alertando sobre as consequências.
— Sim.— eu sussurro, incapaz de desviar o olhar.
— Bom. Quero que você entenda uma coisa, Sophie. Neste clube, não é apenas o seu corpo que está em jogo. É sua vida. Hoje teremos homens muito poderosos aqui e eu quero que esteja sempre em alerta para qualquer um que tentar se aproximar de você, essa é sua segunda semana nesta casa então há coisas que você ainda não sabe, mas eu dou esse aviso as meninas pessoalmente.— Ele se endireita e recua, eme dando as costas e volta para a mesa.
— Você pode ir. Mas lembre-se, cuidado— Eu me levanto, ainda tremendo e saio do escritório sem olhar para trás.
Meu coração b**e acelerado e sinto o peso das palavras dele como uma âncora presa ao meu peito, algumas meninas cochicham sobre ele ser gay, só que ainda assim ele é um homem bastante intimidante.
Quando chego de volta ao camarim, as outras meninas estão indo para o palco, mas eu paro por um momento, tentando recuperar o fôlego.
As luzes do palco piscam e ouço o nome da próxima dançarina sendo anunciado. É a minha vez. Respiro fundo, ajusto minha postura e caminho em direção ao palco, sabendo que, a partir de agora, nada será como antes.
Enquanto subo no palco, sinto os olhos de muitos homens que eu nunca vi antes em mim.
E sim Vito estava certoz todos parecem ameaçadores, intimidantes, mas não posso recuar, o jogo começou e sei que não haverá volta.
SophieA música começa a pulsar pelo clube, uma batida lenta e sensual que reverbera através do chão de madeira e sobe pelas minhas pernas. Estou no palco agora, as luzes me banham em tons de vermelho e dourado, projetando minha sombra nas paredes como se fosse um reflexo de algo mais sombrio dentro de mim. Tento afastar os pensamentos do porque realmente estou aqui, mas é impossível. Enquanto me movo ao ritmo da música, a atmosfera ao meu redor parece se tornar mais densa, mais pesada. Há uma energia no ar, algo que eu não consigo identificar, mas que me deixa inquieta. A pista diante de mim está cheia de homens em ternos caros, mas os rostos deles são meras sombras, indistinguíveis na penumbra do clube. O foco deles está em mim, e é meu trabalho entretê-los, seduzi-los, mantê-los cativados.Respiro fundo, forçando meu corpo a relaxar enquanto começo a deslizar pelos movimentos que pratiquei tantas vezes antes. Minha mente se esvazia e o mundo ao meu redor desaparece, deixando apena
Lucca MorettiChego à Eclipse como faço em muitas noites, mas hoje algo é diferente. Meu humor está mais sombrio do que o habitual, minha mente ocupada com questões de negócios, o fardo constante de manter tudo sob controle e ainda a questão de que meu Don quer me casar.A Eclipse é um refúgio para mim, um lugar onde posso observar o caos organizado e lembrar que, por trás das luzes e da música, sou eu quem comanda tudo isso. Mas esta noite, há algo mais que me atrai aqui.Entro no clube, o som da música pulsando nos meus ouvidos, e o cheiro de perfume e cigarro misturados invade meus sentidos. A multidão está em sua energia habitual, mas enquanto eu passo as pessoas vão abrindo caminho, homens observando com olhos famintos as mulheres que dançam para eles, enquanto as dançarinas se movem com a graça calculada de quem sabe que cada gesto é uma oportunidade para ganhar mais dinheiro. As luzes piscam em tons de vermelho e roxo, criando um ambiente onde as sombras dominam tanto quanto os
SophieEu saio do Eclipse, ainda a noite que está envolta em sombras densas como meus próprios pensamentos. Cada passo que dou parece mais pesado, como se o chão tentasse me prender, como se a gravidade soubesse o peso das palavras de Lucca.Ele disse que eu trabalharia para ele, sem nem me dar escolha. As palavras dele ainda ecoam na minha mente, frias e implacáveis, e sinto um arrepio subir pela minha espinha. Não posso contestar, não posso desafiá-lo. O medo é um nó apertado em meu estômago, um frio constante que me corrói por dentro.Quando chego em casa, tudo parece em silêncio. As paredes, que deveriam me dar segurança, agora parecem se fechar sobre mim, cúmplices do que está prestes a acontecer. Puxo as chaves do bolso e as mãos tremem.Eu olho para a porta, sabendo que depois de cruzá-la, terei que confrontar a realidade. Lucca não é o tipo de homem que faz promessas vazias e se eu não fizer o que ele espera, eu sei que ele pode ir atrás do que mais amo. Ele não sabe sobre o me
Lucca .Eu saio do Eclipse com passos firmes, mas a mente em completo caos. O ar da noite é frio, mas não o suficiente para acalmar o fogo que queima dentro de mim. Algumas das meninas tem relações sexuais consentidas com os clientes vips, por volta das 3h da manhã vejo Sophie se despedir de algumas pessoas e sair.Eu me amaldiçoo em silêncio, o olhar fixo à frente, mas perdido. Não deveria ter feito nada disso. O conselho já tem tudo planejado, cada movimento, cada aliança, e a apresentação da minha esposa está prestes a acontecer. Eles não aceitam erros, muito menos desvios. E o que acabei de fazer com Sophie é tudo menos parte do plano.Meus dedos apertam o volante do carro com tanta força que os nós dos dedos ficam brancos. Não consigo afastar a imagem dela dançando. Cada movimento, cada curva do corpo dela parecia desenhado para prender minha atenção, para desafiar minha própria vontade. E, droga, como eu tentei desviar o olhar, ignorar o magnetismo dela. Mas era impossível. Cad
Sophie.O sol ainda está nascendo quando acordo, já ouvindo o som suave de Bernardo se mexendo na cama ao lado. Meu filho é a primeira coisa que vejo todas as manhãs e isso me dá forças para enfrentar o dia. Ele é minha maior alegria, minha maior preocupação e a razão pela qual faço tudo o que faço. Acordo devagar, tentando não fazer barulho para não acordá-lo de uma vez. Mas ele já está acordado, esfregando os olhinhos enquanto me observa com um sorriso tímido.— Bom dia, meu amor.— sussurro, acariciando seus cachinhos. Bernardo se aninha em mim e aproveito esse momento antes de começar minha rotina. Sei que o dia será longo, como sempre e que terei que me dividir entre minhas responsabilidades como mãe e minha vida na Eclipse, quer dizer, com Lucca.— Bom dia mamãe, hoje tem queci? — Eu não me aguento quando ele fala creche errado e o aporto todinho.— Sim amor da mamãe, hoje tem creche.— Depois de nos levantarmos, sigo para a cozinha para preparar o café da manhã.Sempre faço quest
Lucca.Sinto o peso do meu erro, ecoando na minha mente como uma sentença autoimposta. Não deveria ter mencionado o filho dela durante o jantar. Desde o instante em que as palavras saíram da minha boca, soube que havia cometido um erro. O pânico que vi nos olhos de Sophie me atingiu com força, esses olhos verdes, sempre tão cheios de vida, de repente ficaram opacos, preenchidos por um medo que eu nunca quis despertar. Eu deveria ter sido mais cuidadoso, mais atento. Deveria ter me controlado. O jantar seguiu de forma robotica, mal conversamos, Sophie mal olha para mim e quando terminamos de comer a sobremessa decido que não prolongarei a noite. Eu mesmo acabei com o clima, mas pretendo consertar.*Agora, enquanto guio o carro de volta ao apartamento, não consigo parar de me repreender. Sophie está ao meu lado, em silêncio, as mãos repousando no colo. Ela está claramente perturbada, e é tudo culpa minha. Porque tive que mencionar o filho e o irmão dela? Porque precisei mostrar que se
Sophie.A noite está cheia de reviravoltas e eu ainda não consigo acreditar em tudo que está acontecendo. O jantar foi estranho, para dizer o mínimo. Quando Lucca mencionou Bernardo, fiquei totalmente assustada. Como ele sabia sobre meu filho e meu irmão? Que tipo de poder ele tem sobre mim? Aquele olhar sério e seguro me deixou sem saída e mesmo que ele tenha tentado consertar as coisas depois, com um pedido de desculpas, ainda estou tentando entender o que ele realmente quer de mim.Agora, ao entrar neste apartamento que ele diz ser meu, me sinto ainda mais perdida. Um lugar luxuoso, completamente fora da minha realidade. O que Lucca quer comigo? O que ele realmente está tentando me oferecer? Não posso simplesmente aceitar tudo isso sem questionar. Ele é um homem perigoso, isso é óbvio, mas ao mesmo tempo, há algo nele que me intriga, algo que me faz querer entender mais.Quando ele me mostrou o quarto que supostamente é meu, senti-me sufocada pela grandiosidade de tudo. "Quero que
Sophie . Estou sentada no sofá do apartamento que Lucca disse ser meu, mas ainda não consigo acreditar em nada disso. Tudo parece surreal. Eu olho ao redor, observando os detalhes sofisticados e caros, cada peça de mobília escolhida a dedo, como se ele soubesse exatamente o que eu gostaria, mas... isso não faz sentido. Quem é esse homem que entra na minha vida de forma tão abrupta, fazendo exigências e controlando minhas ações? Minha mente estva um caos desde o jantar, e com o beijo que ele me deu, minha mente virou amoeba. Porque está tão interessado em mim? Não consigo mais segurar essas dúvidas dentro de mim. Elas estão me consumindo. Me levanto do sofá e me aproximo dele, Lucca está relaxado, sentado, mas seus olhos me observam com uma intensidade que me faz arrepiar. Respiro fundo, tomando coragem. Preciso de respostas. Agora. — Quem é você de verdade, Lucca? Eu preciso saber.— Minha voz sai firme, mesmo que por dentro eu esteja tremendo. Ele me encara por alguns segundos