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Capítulo 2 - O destino nas cartas

Paulah

Deixei a noite passar, nenhuma resposta que preciso seria dada naquela noite. Eles beberam após a conversa que ouvi parcialmente, o som das taças batendo parecia que haviam decidido algo sobre mim. Estou cansada, tentarei adormecer um pouco, ou na manhã seguinte eu estaria ainda pior do que estou. Usei uma das roupas que aquela mulher trouxe, um vestido elegante...

Esperei mais horas passarem, me levantei e saí pela casa buscando uma saída. As principais portas da casa estavam bloqueadas por cadeados com senhas, passei na frente do quarto que acredito pertencer a ele. Tudo estava silencioso, observei que não há sinal algum da existência de uma mulher na vida dele.

Só resta saber se isso é uma desvantagem ou não, para mim!

Volto para o quarto e tranco a porta, consigo dormir um pouco... Despertando com cães latindo pelo quintal.

A porta do quarto abre, a mulher tinha uma cópia da chave.

Eu observei a mulher dobrar as roupas em silêncio, hesitante. Ela parecia tão desconfortável quanto eu me sentia naquele lugar.

— Obrigada... pelas roupas — murmurei, tentando quebrar o gelo.

Ela ergueu os olhos por um breve momento, mas não disse nada, voltando a organizar as peças com mãos trêmulas e claramente querendo sair daqui.

— A senhora... trabalha aqui há muito tempo? — arrisquei, tentando uma abordagem diferente.

Ela engoliu seco, hesitou, mas respondeu com a voz baixa: — É o que faço.

Algo no tom dela me fez insistir. — Você parece... tão desconfortável quanto eu. Não precisa ter medo de mim!

Ela olhou rapidamente para a porta, depois para mim, e sussurrou: — Não fale assim. Ele pode ouvir.

A tensão na sala era tão grande, mas eu precisava entender.

— Por favor, me ajude a entender. Por que estou aqui? Quem é Benício para você?

Ao ouvir o nome, ela ficou visivelmente tensa, baixando o olhar.

— Ele... ele é tudo para minha família. Sem ele, não teríamos nada.

Havia algo mais ali, algo que ela não dizia.

— E o que ele pediu em troca? Algo que a faz ter medo até de olhar para ele?

— Benício não é perigoso para aqueles em quem possa confiar. Siga as ordens dele e você ficará bem!

Eu dei um passo mais perto, tentando não a assustar.

— Eu só quero sair daqui. Se você souber algo... qualquer coisa...

Ela hesitou, olhando para a porta novamente, e então sussurrou com a voz trêmula:

— Você tinha algum marido lá fora?

A pergunta dela me deixou surpresa.

— Não, por que a pergunta?

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ela se afastou rapidamente, sorrindo, como se o tempo estivesse acabando.

— Espere! Você não precisa fazer isso sozinha — implorei, a voz quase falhando. — Posso ajudar com a limpeza...

— Descanse, hoje precisa estar descansada! — respondeu ela, saindo em seguida.

— Descansada para o quê? Diabo de lugar.

Ela tem medo, ou simplesmente é mais uma cúmplice e não terá empatia por mim. Faço minha higiene, saio do quarto algum tempo depois... Não me levaram comida e pareciam querer que eu saísse da "toca".

A sala de jantar estava posta, havia um belo café da manhã.

— Sente-se, vamos servi-la. — disse a empregada.

— E... ele?

— O senhor Benício já saiu.

Respiro aliviada, consigo tomar um café que desce ardendo na garganta. Saio de dentro da casa, pela primeira vez consigo vê-la melhor... As crianças que corriam pela rua do lado de fora, olharam para mim como se eu fosse um animal em uma grade de zoológico.

— Olá! — me aproximo deles, tentando forçar um sorriso.

— Não podemos falar com ela, ainda não é uma de nós...

— Espere, quero ser sua amiga... Pode conversar comigo?

Os dois correm para longe ao serem chamados por uma mulher, a mesma que me trouxe para cá. Ela me olha com ainda mais ódio do que olhou da primeira vez e se aproxima.

— Não sinta que faz parte daqui só porque o babaca te colocou sob o teto dele. Benício acabará decidindo acabar com a sua vida! E eu ainda apertarei o gatilho!

— O que eu fiz para me odiar assim?

Ela não respondeu, com o mesmo desprezo no olhar... Se afastou.

— Volte para dentro, não pode sair dos limites da casa — disse um dos homens, certamente que colocaram para vigiar meus passos.

As horas não passam nesse lugar, aproveitei que o dono da casa não estava. Uma das empregadas estava limpando o quarto dele, ela levou alguns lençóis para fora e deixou a porta aberta. Sem pensar, entrei e comecei a olhar o meu redor em busca de pistas sobre o passado daquele homem e qualquer coisa que me ajude a entender a situação.

A cama era enorme, arrumada e o quarto era ainda mais bonito do que o outro. Uma camisa preta estava sobre uma poltrona, certamente a última que havia sido usada por ele... Percebi pelo mesmo perfume amadeirado que senti quando ele me conteve na noite passada, sinto seu perfume e a devolvo para o mesmo lugar enquanto olho em direção à porta com medo de ser descoberta.

Um notebook estava sobre a cama, entreaberto e eu corri para verificar se estava em alguma página em especial. Ele estava bloqueado por senha, não sei por que acreditei que ele cometeria um erro tão amador quanto o deixar acessível a mim.

— Ele não seria tão idiota! Nem eu seria...

A gaveta ao lado parecia aberta e dentro dela havia algo que chamou minha atenção. Um livro de capa preta com nome: Culla del Crimine e com vários nomes, sobrenomes e datas de nascimento. Além de textos que estavam em outro idioma, a poeira quase me fez espirrar e o devolvi para o mesmo lugar. Quando fui fazer isso, uma foto que estava dentro dele acabou caindo sobre o meu pé direito e eu a peguei.

Nela estava Benício, parecia bem mais jovem e ao seu lado estava uma mulher loira e muito bonita. Certamente era a esposa dele, mas onde ela está agora? Ele mesmo a matou por ter descoberto algo? Enfiei a foto de volta e saí correndo dali, quase esbarrei em uma mulher que chegava e estava em direção ao quarto que ocupo.

— Você é Paulah, cuidaremos da sua beleza para essa noite especial. — disse ela.

Entramos no quarto, ela colocou dois vestidos de festa sobre a cama e me olhou.

— Experimente-os! — disse ela.

— Pode me dizer para quê?

— Gosta de poker? — perguntou, abrindo o zíper do modelo de cor dourada e entregando-o a mim.

— Não muito...

— Isso é uma tradição aqui, uma bela dama atrai uma festa e um jogo importante de poker.

— Darão uma festa em minha homenagem? É isso?

— Não posso dizer mais nada, não faz parte do meu trabalho. Faremos maquiagem e um penteado sexy!

Sair daqui não seria má ideia, uma festa com muita distração me ajudaria a fugir desse lugar. Não posso mais viver nessa incerteza, longe daqui eu não importaria com respostas.

Escolhi o vestido, agi como ela esperava que eu agisse e colaborei com todo aquele circo. Durante o dia, ela me preparou, fiquei produzida como nunca antes e olho para o espelho, dizendo a mim mesma que aquela é minha fantasia de fuga.

— Você está linda! Gostou de verdade?

— Eu adorei! — respondi empolgada.

A empregada misteriosa entrou, me viu arrumada e disse:

— Benício a espera para seguirem juntos!

Desci as escadas, ele estava me esperando. Usando um terno, cabelos arrumados com gel e aquela cara de vilão.

— Vamos? — disse ele.

Olhei para fora, o carro já estava nos esperando e havia seguranças demais para que saísse correndo dali. Entramos no automóvel e percorremos por uns quinze minutos até chegarmos a um salão que parecia gigantesco. Vários carros, estava lotado e todas as pessoas da cidade deveriam estar ali... Até as crianças que avistei mais cedo e a menina acenou para mim.

Benício colocou uma taça cheia de vinho em minha mão, saiu entre os convidados da festa conversando e interagindo com todos que encontrava à sua frente. Tomei um gole e devolvi a taça na primeira bandeja que encontrei, fiquei andando por lá e olhando para fora como se eu quisesse voar...

— É hora do jogo! — disse um dos homens, chamando a atenção de absolutamente todos na festa, que pareciam já esperar por aquele momento.

Benício, o homem que me levou para lá, e um velho com cara de alcoólatra... O que intrigou é que todos olhavam em minha direção.

— Por que me olham? — perguntei aflita.

— Jogarão para ganhar você! — respondeu uma criança em meio ao salão.

— Que brincadeira é essa? Isso é ridículo. Achei que essa era uma cidade respeitável...

— E é! — respondeu Benício, acomodando-se na cadeira e esperando suas cartas.

— Se apostar uma mulher nas cartas é normal para o senhor, então deve rever suas virtudes!

— Não apostamos uma noite apenas, apostamos o futuro! Se quer viver, aceite as condições que impormos. Eu já disse isso a você! — completou.

— Casamento? Estão na idade média? Certo! Me dê as cartas, quero jogar também! — Todos me olharam com surpresa, enquanto me sentava à mesa com eles. — Vamos e se eu ganhar, quero minha liberdade!

— Dê as cartas para ela, Benício, acha que uma mulher pode nos vencer uma só partida de Poker? — ironizou o velho.

Eu nunca imaginei que estaria nessa posição. Sentada à mesa, com o olhar de três homens fixos em mim, mas não pelo jogo em si. A aposta não era fichas, dinheiro ou prestígio. Era eu.

O velho à minha esquerda ajeitou o chapéu surrado, ele parecia desconfortável, mas não o suficiente para sair da mesa. Do outro lado, aquele homem mais jovem que tinha um sorriso arrogante, como se já tivesse ganho antes mesmo de as cartas serem distribuídas. E então, havia Benício e sua expressão de liderança. Ele estava à minha frente, suas mãos descansando sobre a mesa, os olhos fixos nos meus. Ele não precisava falar para deixar claro quem comandava.

As cartas foram distribuídas. Peguei as minhas com mãos tremendo, tentando esconder meu nervosismo. Um rei de espadas e um dez de copas. Não era um início ruim, mas não era o suficiente para me dar segurança.

O velho olhou para suas cartas e fez uma aposta pequena, como se não quisesse se comprometer. O jovem riu baixinho e aumentou a aposta, empurrando fichas para o meio da mesa.

Benício acompanhou sem hesitar, empurrando suas fichas com uma calma que parecia ensaiada. E eu? Eu não tinha escolha.

— Eu acompanho — respondi, tentando soar firme, mas minha voz quase falhou.

O flop foi revelado: um ás de copas, um dez de espadas e um sete de ouros. Um par para mim, mas nada que me garantisse vantagem.

O velho hesitou, murmurando algo antes de passar sua vez. O jovem, com um sorriso debochado, apostou alto.

— Eu aumento — disse Benício, empurrando uma pilha de fichas para o centro, e meu coração disparou.

Minha vez. Respirei fundo e acompanhei a aposta, sentindo os olhos de Benício queimarem em mim.

— Estou fora. — O velho suspirou, jogando suas cartas na mesa.

Restaram apenas nós três. O jovem, talvez tentando provar algo, anunciou "all-in", jogando todas as suas fichas para o centro.

Benício sorriu e disse: — Eu acompanho.

Minha vez novamente. Olhei para minhas fichas, depois para minhas cartas. Eu sabia que não tinha a menor chance contra Benício, mas algo dentro de mim me impediu de desistir. Talvez fosse orgulho ou desespero.

— All-in — eu disse, empurrando o restante das fichas para o centro.

As últimas cartas foram reveladas: um rei de copas e um dois de espadas. Meu coração deu um salto. Dois pares. Rei e dez.

O jovem jogou suas cartas na mesa. Ele só tinha um par. Meu olhar foi para Benício. Ele virou suas cartas com calma: um ás e um dez. Dois pares também, mas mais altos que os meus.

— Melhor sorte na próxima — disse Benício, recolhendo as fichas. Mas seus olhos estavam fixos em mim, e o sorriso em seus lábios era diferente. Não era só vitória. Era posse.

O tal livro que achei na gaveta dele estava lá, nas mãos de um dos velhos que acompanhavam tudo de longe. Queriam que nós dois o assinássemos, era um casamento...

— Eu, eu...

— Não envergonhe Benício na frente de todos. — disse a tal Elisa, minha primeira algoz.

— Não me sinto bem... — blefei.

— Assine! — gritou Benício.

Eu não tive escolha, tive que assinar aquele livro estúpido e minhas forças quase foram embora. Propuseram um brinde assim que ele assinou seu nome, estamos casados! Ao som de vários pedidos para um beijo, Benício chegou perto e eu me joguei em seus braços, forjando um desmaio. Ele me pegou nos braços, os sons foram cessando e eu abri disfarçadamente meus olhos.

Ele me levou a um lugar mais tranquilo da festa, ouvi sua voz pedindo para me trazerem água.

— Paulah? Consegue me ouvir? — perguntou ele.

Benício colocou o copo em minha mão, decisão errada a dele! Quando meus olhos avistaram uma porta aberta, eu não tive dúvida... O acertei com o copo na cabeça e saí correndo ao som de seus xingamentos:

— Desgraçada! Filha da puta!

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