Paulah
Aquela cena ainda queimava a minha mente. O jeito como Elisa se atirou sobre Benício, o sorriso presunçoso que ela lançou em direção à janela... Era como se eu fosse um detalhe insignificante na história que ela estava tentando escrever com ele. Eu sei que não devo me importar, mas é impossível ignorar o nó que se formou no meu estômago toda vez que eu penso naquilo.
Com o pé machucado, presa por completo entre essas quatro paredes. Tentei me distrair com um livro que estava em um dos móveis, mas as palavras não faziam sentido. Tudo o que eu via era a cena de Elisa e Benício, ouvi vozes do lado de fora e Sara estava brincando com o cachorro...
— Por que não sobe novamente aqui e conversamos um pouco? Benício nos atrapalhou mais cedo!
— Sim, eu irei daqui a pouco.
Ela demorou a cumprir sua palavra, estou mais entediada do que nunca. Uma batida leve na porta me trouxe de volta à realidade. Antes que eu pudesse responder, Sara entrou, segurando um livro de colorir.
— Posso entrar agora? — ela perguntou, os olhos brilhando de curiosidade.
— Claro, pode entrar — respondi, tentando sorrir.
Ela se sentou na beira da cama, abrindo o livro no colo.
— Quer pintar também?
— Claro! Agora que temos mais tempo e seu tio não está, posso te fazer uma pergunta?
— Ele disse que devo ter cuidado sobre o que digo a você.
— Não confia em mim? — perguntei, olhando-a nos olhos.
— Pergunte.
— Benício teve uma esposa ou filhos antes de mim? Você é muito nova, talvez antes do seu nascimento... — Minha pergunta soou tão inútil.
— Papai disse uma vez que sim, mas eu não sei dizer... Você gosta dele?
— Não! Quero dizer, sim, claro.
— Ele gosta de você!
— O quê? Por que você acha isso? — tentei disfarçar, mas minha voz saiu mais alta do que eu esperava.
— Porque ele jogou por você na festa. E antes, ele brigou com um homem por sua causa. — Ela disse isso com a inocência de quem não entende o peso das palavras.
— Ele só estava tentando salvar minha vida, Sara. — Tentei minimizar, mas meu coração estava disparado.
— Se ele salvou sua vida, é porque gosta de você. — Ela deu de ombros, voltando a colorir como se tivesse acabado de dizer algo comum.
Antes que eu pudesse responder, ouvi passos no corredor. A empregada apareceu na porta, claramente surpresa ao ver Sara ali.
— Sara, não incomode a Paulah ou seu tio pode ficar irritado — ele disse, mas sua voz estava mais suave do que o habitual.
— Eu não estou incomodando! Ela me chamou — ela protestou.
— Eu só queria saber se você precisa de alguma coisa — disse, os olhos fixos em nós duas.
— Estou bem, obrigada. — respondi rapidamente e a mulher saiu.
Vigiada o tempo inteiro, é assim que me sinto nesse lugar!
— Acabei de fazer um desenho para você.— É mesmo? — Sorri, tentando parecer animada, apesar da tempestade dentro de mim. — Deixa eu ver.
Ela me entregou o papel. Era um desenho dela, de Benício e de mim, todos de mãos dadas. Meu coração apertou...
— Gostou? — ela perguntou, balançando os pés enquanto se sentava de novo na beira da cama.
— Muito, querida. Você é uma artista de verdade.
Ela sorriu, muito satisfeita com o elogio, e começou a falar sobre como gostava de desenhar. Foi então que uma ideia surgiu. Sara era curiosa, doce e, acima de tudo, queria me ver bem com Benício. Talvez ela pudesse me ajudar mesmo sendo vigiadas.
— Sara, você lembra daquele livro grande que assinamos ontem na festa?
Ela inclinou a cabeça, pensativa. — Qual livro?
— Um que parece antigo, com os nomes das pessoas da cidade. Eu vi uma vez quando estava no quarto do seu tio.
— Ah, eu sei qual é! Tio Benício guarda muitas coisas lá — respondeu, com os olhos brilhando de empolgação.
— Será que você consegue pegar ele para mim? Só por um tempinho?
Ela pulou da cama num instante, animada. — Claro! Vou procurar agora!
— Mas, Sara, faz isso com cuidado, tá? Não quero que o seu tio fique bravo com você.
— Ele não vai nem perceber, sempre demora voltar quando vai para o trabalho — respondeu com um sorriso travesso, antes de sair correndo.
Enquanto esperava, tentei ajeitar meus pensamentos. Esse livro pode me dar pistas sobre Benício, sobre o passado que ele esconde. E, se eu fosse honesta comigo mesma, talvez fosse só uma desculpa para tentar entender por que ele mexia tanto comigo.
Alguns minutos depois, Sara voltou, segurando um livro pesado e com um sorriso de vitória.
— Aqui está!
— Ninguém te viu entrar? — perguntei.
— Não, as empregadas estão na cozinha.
— Você é incrível, sabia?
Ela riu e se sentou ao meu lado enquanto eu abria o livro. Meu coração batia acelerado. As páginas estavam cheias de nomes, datas e assinaturas. Era um registro da vida das pessoas da cidade, mas eu sabia que, em algum lugar ali, podia haver mais do que isso.
— Olha aqui! — Sara apontou para uma página. — O nome de vocês dois.
Lá estava. Paulah e Benício, assinados contra minha vontade na noite passada.
Estava escrito em italiano e outros idiomas do início ao fim, nada adiantaria ter aquilo tudo em mãos à disposição se eu não sabia interpretar, porra nenhuma!
Algumas horas frustrantes mais tarde...
— Leve-o de volta! Com o mesmo cuidado que usou para trazer.Ela conseguiu devolver o livro, a submeti a um risco inútil.
— Vamos agora Sara! Seu pai está esperando... — gritou uma das empregadas.
— Venha me ver depois e jure não dizer nada disso a ninguém.
— Eu prometo! — disse ela, me dando um beijo no rosto e entregando alguns desenhos que havia pintado antes de sair.
Me levantei com cuidado, consegui tomar um banho sem pedir ajuda a ninguém. Meu pé parece ainda muito inchado, mas foram alguns pontos e isso é natural!
Entre as roupas que eu tinha, em sua maioria vestidos. Escolhi o mais simples, um modelo rosa que marcava um pouco as curvas... Passei um perfume e penteei os cabelos, enquanto eu fazia isso e ajeitava meu colar, olhando aquele imenso espelho da penteadeira. Benício entrou no quarto e nossos reflexos se confrontaram ali mesmo, sem que eu precisasse me virar para ele.
— Quer ir lá embaixo ou ainda prefere ficar aqui?
— Quero sair desse quarto um pouco!
Ele se aproximou, apoiei o lado do pé ferido no corpo dele e descemos as escadas sem dizer uma só palavra.
— Parece que o casamento vai bem... — disse o velho que me disputou na noite passada com Benício.
— Não me venha com ironias Tony!
Benício me colocou sentada no sofá e eu apenas fiquei observando a interação deles e aquele barbudo tarado não tirava os olhos de mim.
— O lote de heroína chegou a Istambul há duas horas. O dinheiro já deve estar na conta!
Ele olhou para mim, parecia constrangido com a informação que recebera na minha frente. Nada mais pode me surpreender sobre ele, já sei quem são e o que fazem para acumular tantas riquezas.
— Certo, diga que passarei os valores correspondentes a todos amanhã!
— Amanhã chefe? A lua de mel está lhe tomando tanto tempo assim? — ironizou o velho.
Benício avançou sobre ele, segurando-o pelo colarinho, e os ânimos se exaltaram. Ele não disse uma palavra, apenas largou o homem que saiu correndo da casa...
Ao me ver assustada com a cena, ele perguntou:
— Pediu algo especial para o jantar?
— Não...
— O jantar está servido! — disse a empregada, ele se aproximou para me ajudar e eu recusei.
— Ela pode me ajudar agora!
Ela não retrucou, apenas seguiu até a sala de jantar sem olhar para trás ou argumentar. O jantar foi servido com salmão ao molho, vinho e uma bela salada. Esperei a empregada servir e nos deixar novamente a sós...
— Você tem filhos?
Minha pergunta o fez parar de comer, engolindo com velocidade o que ainda estava em sua boca.
— Por que essa pergunta agora, Paulah?
— Porque ficou fora o dia inteiro e estamos em um momento conveniente!
— Conveniente para quem? — ironizou.
— Você sabe tudo sobre mim, é justo que eu comece a saber sobre você!
— Só me casei para salvar sua vida! Foi um ato de solidariedade...
— Mas se casou, mesmo por um motivo como esse.
— Se eu responder... Vai calar a boca? — perguntou ele, limpando a boca com o guardanapo e me olhando com ira.
— Talvez!
— Sim, eu tive um filho. Ele faleceu há uns anos.
— Como ele morreu? — perguntei com firmeza.
— Disse que se calaria!
— É apenas uma curiosidade.
— Ele morreu há muitos anos, logo após o nascimento. Causas naturais...
— Sinto muito por tocar nesse assunto.
Ele ficou muito incomodado, sei que perdeu o apetite por causa disso e não quis sair da mesa para que eu não percebesse o quanto o afetou. Benício tem sentimentos, perdas que talvez ainda não tenha se dado a oportunidade de lamentar de verdade.
Se esconde em uma máscara de poder, enquanto o coração pode estar sofrendo... Um solitário...
O celular dele tocou, Benício apenas desligou a ligação e tomou uma última taça de vinho antes de se levantar apressado da mesa.
— Com licença! — disse ele, saindo em seguida com o aparelho na mão.
E se for Elisa? Um encontro com qualquer uma daquelas mulheres da festa, se não tem escrúpulos e vive do crime... Certamente deve ter várias putas à sua escolha pela cidade.
— Quer ajuda para voltar ao quarto senhora? — perguntou a empregada e eu assenti.
— Sim!
Subimos novamente, passei pela frente do quarto dele e a luz estava acesa.
— Benício vai sair? — perguntei e logo me arrependi.
— Não sei dizer!
Entramos no quarto, escovei os dentes e olhei pela janela sem avistar nada além de crianças na rua e os cães latindo para um gato. A porta se abriu...
— Esqueci de te dar isso ontem. — disse Benício ao me entregar um colar de ouro.
— Não precisa... — respondi, colocando-o de volta em sua mão.
— Não quero que saibam que esse casamento não é real. Seria humilhante para nós dois...
— Ninguém saberá por mim!
— Então use isso e não discuta. — Ele me arrodeou e afivelou o colar em meu pescoço.
— Boa noite!
Ele fechou a porta e saiu. Fiquei olhando o pingente daquela peça, deve significar algo como uma aliança de casamento... Já que nada em Culla del Crimine é como o mundo lá fora.
Antes de adormecer, permaneci sentada do lado da janela. Enganando a mim mesma sobre o real motivo de estar ali esperando, ele saiu no jardim e dessa vez estava apenas com os braços cruzados e olhando para fora.
Parecia preso a pensamentos assim como eu estou, gostaria de saber o que ele pensa. Me sinto tola, me deitou novamente na cama e verifico meu pé que parece melhor e quase sem dores.
Acordei e Benício estava ali, parado ao lado da cama, me olhando com um olhar que eu não conseguia entender. Ele parecia... diferente. Seus olhos estavam ainda mais frios.
— Levanta — ele disse, sua voz grave. — Temos algo a resolver.
Sem saber o que fazer, ele me levantou da cama e seguimos até seu escritório. A única luz vinha de uma lâmpada fraca no canto e ele se sentou atrás da mesa, os dedos batendo levemente sobre o tampo de madeira, como se estivesse esperando algo.
— Eu mudei de ideia — ele disse, finalmente quebrando o silêncio. — Sobre você, sobre o casamento. Não dá mais, Paulah.
Senti um nó na garganta, e as palavras pareciam faltar. O que ele estava dizendo? Não conseguia entender. Eu tentei falar, mas ele me interrompeu.
— Não consigo mais viver com essa mentira — ele continuou, a voz mais fria agora. — Não consigo fingir que tudo está bem quando não está. E, sinceramente, me cansei!
Ele se levantou de repente, e eu recuei por instinto. Benício se aproximou de mim com um passo firme, e então eu vi o revólver em sua mão.
— Você vai me deixar com essa opção, Paulah — ele disse, apontando a arma para mim.
Eu fiquei paralisada, sem saber o que fazer. A sensação de estar em perigo era tão real que parecia que o mundo ao meu redor estava desmoronando. O silêncio entre nós era a pior parte.
— Agora, a pergunta é: você vai me deixar fazer isso? — ele perguntou, a arma ainda apontada para mim, enquanto seus olhos buscavam algo, uma resposta.
Até que acordei transpirando em minha cama, havia sido um pesadelo. Mas até quando isso seria apenas um sonho ruim?
Benício Mendelerr Uma sexta-feira para mudar todo o rumo da minha vida, viúvo há seis anos e mergulhado integralmente nos assuntos de Culla del Crimine. Até essa mulher aparecer e encher nossas mentes com dúvidas e receios, eu não podia permitir que ela saísse daqui levando nossos segredos e tudo o que lutamos para esconder do mundo. Seu olhar é um enigma, hora acredito em sua fala e outras vezes sinto que sua beleza e doçura são uma armadilha mesmo para um coração sombrio. Desperto após o primeiro dia de casados, Tony saiu daqui, deixando-me ainda mais irritado com suas insinuações sobre a inexistente vida íntima desse matrimônio. Passo na frente do quarto dele, tenho a chave e posso entrar e sair quando quiser... Ela ainda está acuada, mas se tentar fugir novamente, não terei a mesma misericórdia de antes. Elisa está furiosa. Não preciso que ela diga nada; o jeito como entra no escritório, batendo os saltos no chão e cruzando os braços, já diz tudo. Mas, quando Paulah chegou, eu
Benício MendelerrO dia foi longo, e a tensão não me abandona, mas, ao entrar no corredor, uma sensação estranha me puxa em direção ao quarto de Paulah. Não sei o que estou buscando, mas sei que preciso vê-la, mesmo que seja apenas para quebrar o silêncio.Abro a porta com firmeza e Paulah está lá, com os cabelos soltos e um olhar que parece perdido em algum lugar distante... Como sempre, próxima à janela.— Ainda acordada? — Pergunto, a voz mais casual do que me sinto.Ela me observa por um momento, como se me estudasse, e então vira-se em minha direção.— Tudo o que tenho feito é dormir e ficar presa...— Precisa se recuperar o mais rápido possível — Sinto que minha fala soa falsa para ela.Entro ainda mais no quarto, mas não me aproximo demais. Fico parado perto da porta, sentindo a tensão no ar. — Pensando no quê? — Pergunto e logo me arrependo.Ela dá de ombros, mas não parece querer se abrir. — Na vida... nas mudanças.Dou uma risada curta, tentando aliviar a atmosfera. — Mudan
Paulah Eu não quero fazer isso, e não esperava que me pedisse tal coisa, mas aqui estou, sentada no sofá do escritório de Benício, com ele parado à minha frente, imponente como sempre, segurando o telefone na mão e me encarando com uma expressão que não aceita discussões.— Você vai ligar para o contratante... O tal governador agora, Paulah. — A voz dele é firme, sem espaço para negociação. — Diga que voltou ao Brasil por questões pessoais e que lamenta não ter concluído o trabalho.— E se eu me recusar? — pergunto o desafiando.Ele inclina a cabeça, um sorriso frio brincando nos lábios.— Não vai se recusar!Eu suspiro, me sentindo muito pressionada. Ele não me deu escolha desde o início, e isso não seria diferente.— E o que eu ganho com isso, Benício? — pergunto, tentando ganhar tempo.Ele dá de ombros, como se a resposta fosse óbvia.— Ganha a chance de não complicar ainda mais sua situação.O telefone está na minha mão antes que eu perceba, e ele digita o número, colocando no vi
PaulahA música continua, há muitas mulheres pelo salão e elas usam vestidos vulgares e se insinuam. Estranho, na festa do casamento não havia esse tipo de convidadas...Pego mais uma taça de vinho, essa é a terceira e preciso me manter sóbria a noite inteira e decido beber mais devagar recordando más lembranças. Um homem se aproxima de mim, elegante, porém com uma idade avançada e me olha tão fixamente.— Há muitas mulheres nesse recinto, mas nenhuma com a beleza sofisticação que você exala naturalmente! Como se chama?Sorrio discretamente com o elogio e ofereço minha mão em cumprimento, ele a leva até a boca. Seu bigode desliza em minha pele branca, seu olhar me deixa constrangida... Mas lembro que Benício exigiu que eu fosse cordial com os convidados.— Meu nome é Paulah Cristina! Perco Benício de vista naquele momento.— Sou Elton Mariaga, muito prazer.Era o convidado de honra da festa, nesse momento suspiro de alívio por ter sido rude com ele pelo gesto anterior. Benício nos in
Benício MendelerrO dia seguinte à festa, Lui convida Elton Mariaga para um almoço em minha casa. Após a festa, Paulah e toda aquela situação não saem da minha mente um só momento. Clara e Lui já estão aqui esperando para recepcionar o velho e Mariaga chega à minha casa pontualmente como sempre, mas com aquele ar presunçoso que nunca consigo ignorar. Ele é um sócio valioso, não posso esquecer disso.Paulah está sentada à mesa, mais composta do que eu esperava após a noite anterior. Ela usa um vestido simples, mas o suficiente para atrair olhares com aquele corpo cheio de curvas, especialmente os de Mariaga, que a analisa como se fosse um prato exótico servido exclusivamente para ele.— Fico feliz que tenha aceitado mais esse convite — Lui estava mesmo disposto a adular aquele homem até conseguirmos firmar o negócio das armas.Durante o almoço, falamos sobre negócios. Paulah parecia atenta e claramente condenando absolutamente tudo o que fazemos.— Vamos ao que interessa, Mariaga. — Mi
PaulahEu fiquei sozinha no quarto, abraçada às minhas próprias dúvidas. Grávida! Eu estou grávida e isso não era apenas um problema — era o pior que podia me acontecer. Quando sofri o abuso, tomei a pílula do dia seguinte e pensei estar livre de qualquer problema nesse sentido.Passei as mãos pelos cabelos, tentando acalmar o monte de pensamentos. Por que isso foi acontecer? Eu estou presa na casa de um homem como Benício, com um filho que não é dele. O que poderia ser mais cruel?Ele insinuou assumir, mas a que custo? Nenhum homem faz algo assim sem esperar algo em troca, muito menos um homem como ele. Não era só um filho que eu carrego, era mais uma dívida de vida. Uma dívida que ele poderia cobrar de mim de todas as formas possíveis.No dia seguinte, eu não fui tomar o café da manhã como fazíamos sempre no mesmo horário. Era uma tentativa de fugir do encontro com ele, sei que isso nada vai adiantar.Ouço bater na porta, isso me deixa tranquila... Ele nunca bate!— Entre? — digo e
Mariaga seguia testando minha paciência. Quando soube que Paulah havia recebido aquela caixa como presente, senti minha raiva crescer e eu nem tinha me recuperado da notícia da gravidez. Não era apenas um insulto; era uma afronta direta à minha autoridade. Ordenei que trouxessem o homem que entregou a caixa, estive ocupado resolvendo esse problema enquanto ela se divertia com as compras pela cidade.Ele foi arrastado até mim, tremendo dos pés à cabeça. Um sujeito magro, com olhos arregalados e voz trêmula.— Me perdoe, senhor Benício! — ele implorou, caindo de joelhos. — Eu só fiz isso porque precisava do dinheiro que Mariaga ofereceu. Não sabia que era para ofendê-lo!Observei-o por um momento, avaliando cada palavra que dizia. Sua desculpa era patética, mas não era o suficiente para aliviar minha ira.— Você sabia exatamente o que estava fazendo e as nossas regras — retruquei, minha voz fria como gelo. — E ainda assim escolheu o dinheiro em vez da lealdade.Ele começou a chorar, so
PaulahBenício não quer me levar com ele, nunca confiará em mim... Assim como eu, não consigo confiar nele. Passei um bom tempo pensando nessa viagem, se ele conhecer alguém que o faça desistir de tudo isso.De salvar minha vida! Ouço um pouco de música e adormeço, mesmo com a mente tumultuada.A luz do amanhecer me desperta e o som de conversas no jardim de casa. Do andar de cima, observo o motorista colocando a mala de Benício no carro. Meus olhos estão fixos ali, mas é impossível ignorar Benício logo atrás, ajustando os punhos da camisa e com as chaves do carro na mão.Ele para por um instante, levanta o olhar e me encontra ali, na janela. Meu coração dá um salto, mas não é de medo, nem de conforto. É uma mistura de tudo e ele não diz nada, apenas mantém o olhar em mim por um segundo antes de entrar no carro.Sinto uma pressão no peito, um vazio estranho que me faz instintivamente alisar minha barriga.— Estamos por conta própria agora — sussurro.Assim que o carro de Benício desa