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Capítulo 6 - Procurando calor

Benício Mendelerr

O dia foi longo, e a tensão não me abandona, mas, ao entrar no corredor, uma sensação estranha me puxa em direção ao quarto de Paulah. Não sei o que estou buscando, mas sei que preciso vê-la, mesmo que seja apenas para quebrar o silêncio.

Abro a porta com firmeza e Paulah está lá, com os cabelos soltos e um olhar que parece perdido em algum lugar distante... Como sempre, próxima à janela.

— Ainda acordada? — Pergunto, a voz mais casual do que me sinto.

Ela me observa por um momento, como se me estudasse, e então vira-se em minha direção.

— Tudo o que tenho feito é dormir e ficar presa...

— Precisa se recuperar o mais rápido possível — Sinto que minha fala soa falsa para ela.

Entro ainda mais no quarto, mas não me aproximo demais. Fico parado perto da porta, sentindo a tensão no ar. 

— Pensando no quê? — Pergunto e logo me arrependo.

Ela dá de ombros, mas não parece querer se abrir. — Na vida... nas mudanças.

Dou uma risada curta, tentando aliviar a atmosfera. — Mudanças têm sido constantes por aqui, não é?

Ela olha para mim, os olhos curiosos, mas com uma sombra de cansaço emocional. — Parece que você também não está acostumado com isso.

A resposta me pega de surpresa, mas não deixo transparecer. — Acostumado? Não diria isso. Apenas aprendi a lidar.

É estranho essa troca silenciosa entre nós, como se estivéssemos em um campo minado, evitando explodir, mas sem saber exatamente o que fazer para sair ilesos.

— E você? — Pergunto, quebrando o silêncio, querendo mudar o rumo da conversa. — Como está lidando com... tudo isso?

Ela solta um suspiro baixo e vejo um lampejo de vulnerabilidade em seus olhos enquanto responde: — Não é como se eu tivesse muita escolha, não é?

— Ninguém tem. — Minha resposta saiu mais ríspida do que eu pretendia.

Ela não recua, pelo contrário, parece me desafiar com o olhar. 

— E você? Se arrepende?

A pergunta me pega desprevenido. Fico em silêncio por um momento e mudo de assunto.

— Vai haver uma festa em breve, quero que se comporte bem... 

Ela franze o cenho, visivelmente confusa. 

— Sim uma festa, um fornecedor importante está vindo para firmar novos acordos. Preciso garantir que tudo saia perfeito e não te quero atrapalhando os negócios...

— E isso me diz respeito? — Pergunta, a voz mais baixa, mas com um toque de desafio — Não tenho por que estar no meio dos seus negócios ilícitos, ficarei aqui mesmo!

  — Não te diria respeito se não estivéssemos casados, real ou não... Você leva o meu sobrenome agora! — Respondo, mantendo a distância corporal — Não pretendo que se envolva com nada, permaneça muda ao meu lado a noite inteira.

— Parece fácil, exceto pela parte de ficar como um enfeite! — Paulah responde, voltando para a cama sem apoiar o pé lesionado.

Pensei oferecer ajuda com o trajeto até a cama, mas ela recusaria. Foge do meu toque, assim como foge do meu olhar em sua direção o tempo todo e eu saí do quarto.

Todo o calor que sai dos nossos corpos, mesmo quando nossas emoções se evitam, me deixa em chamas. Eu ia entrar em meu quarto, mas saí pegando as chaves do carro para fazer uma visita ao bordel, beber muito e escolher uma puta qualquer para aliviar.

Estaciono o carro na entrada e o som da música já chega até mim, abafado pela espessura das paredes do cabaré. O cheiro de perfume barato e álcool misturado com o incenso me atinge logo que entro. O ambiente está iluminado por luzes baixas e vermelhas, e as cortinas pesadas estão ali.

Eu vejo os olhares das mulheres se voltando para mim, algumas disfarçadas, outras mais ousadas largando os clientes com quem estavam, mas todas com o mesmo objetivo: me atrair, me conquistar, me fazer ceder.

Mas eu não estou aqui para elas. Eu nunca estou. Elas sabem disso, mas ainda assim, tentam. Como se fosse um jogo, uma dança. E eu sou o prêmio, o alvo, o troféu que todas querem ganhar... O capo.

— Senhor Benício! — Uma das mulheres, com um sorriso largo e olhos sedutores, se aproxima. — Que prazer tê-lo aqui, já faz tanto tempo da última vez.

Eu apenas aceno com a cabeça, sem dizer nada e me sento rente ao bar. Não preciso realmente disso e o que elas querem já está claro. Elas sabem que, se eu quiser, posso escolher qualquer uma delas. Não sou de me entregar tão facilmente a esses jogos... A m*****a mulher que quero, está agora dormindo e sequer sabe disso.

A vadia continua a me seguir, falando sobre como o cabaré está cheio de novidades, de dançarinas novas, de serviços especiais. Eu a escuto de forma distante, já acostumado com o discurso de sempre. Mas, ao fundo, algo me chama a atenção. Uma silhueta, uma figura diferente entre todas as outras. Ela não é como as outras. Não tem o mesmo olhar de interesse, a mesma urgência em me agradar. Ela está ali, quieta, observando, como se soubesse que não preciso de palavras, não preciso de tentativas...

— Senhor Benício, você não vai querer perder a diversão. — Ela diz, com um sorriso forçado, tentando retomar minha atenção.

Mas eu não estou mais ouvindo. Eu me afasto dela, sem dar explicações, e sigo na direção da mulher negra que me chamou a atenção.

Ela não se move, não diz nada. Apenas espera. E, quando chego perto, ela não sorri, não faz gestos exagerados. Apenas olha para mim com uma calma que me desarma.

— Deseja um pouco de diversão? — pergunta ela, enquanto me puxa pela gravata e acabamos no melhor quarto do lugar.

Ela se ajoelha, insinuante e notoriamente tentando fazer sua melhor performance entre quarto paredes. Isso corta o clima de certa forma, ela não é diferente das demais... é igualmente previsível.

A jovem tenta me dar um beijo, viro meu rosto e deixo claro que estou ali sabendo bem como as coisas funcionam. Abro meu zíper, estou excitado!

Mas não com ela ou a situação, Paulah e seu mistério me deixam assim quase sempre que conversamos a sós. Ela se ajoelha, puxa minha peça íntima para baixo e junto seus cabelos com uma só mão, liberando a passagem para sua boca.

— Apenas relaxe, senhor Benício! — Ela abocanha meu pênis inteiro, empurro com força até o fundo de sua garganta e isso me faz arfar.

Invisto com força para dentro de sua boca seguidas vezes, puxando sua cabeça e sequer a deixo tirá-lo de dentro.

— Que boca gostosa Paulah... — Só consigo gemer o nome dela, até derramar meu esperma todo dentro daquela garganta quente.

Uma aliviada temporária, sei que só vou conseguir me sentir totalmente relaxado quando experimentar aquela desconhecida por completo. Ainda com a boca suja, a vadia sorri e me olha como se apenas estivéssemos começando a noite.

— Pegue! — Entrego um maço de dinheiro e ela se levanta sem entender nada.

— Fiz algo errado? Não o agradei?

— Agradou sim... — Subo minhas roupas.

Saio imediatamente sob o olhar de todos, homens e mulheres que estavam ali. Entro no carro, ainda transpiro e sinto o sangue quente normalizando sua temperatura... Eu não tenho outra opção, ou conquisto essa mulher de vez, ou cobro meus direitos de marido!

Chego em casa de volta, ela me olha da janela do quarto e, ao perceber que chego... se esconde. Já são meia-noite e cinquenta e cinco, entro no quarto e tiro as roupas, ansiando por um banho.

Me masturbo pensando nela, se ao invés de tê-la contido naquele dia, enquanto Paulah usava apenas uma toalha, eu a tivesse jogado para dentro do quarto e pressionado seu corpo contra a parede, roçando meu pênis em sua vagina. Até ela me implorar para entrar...

Consigo dormir um tempo mais tarde, sonho com ela e dessa vez não é nada sexual. Ela me pede para ir embora e eu permito, mesmo sabendo que, se eu o fizesse, nunca mais a veria de novo.

Desperto com o celular tocando, penso nas obrigações desse dia e em organizar a chegada de Elton. Tomo um banho rápido e, para minha surpresa, a encontro descendo as escadas sozinha.

— Eu disse que preciso que esteja bem para a festa!

— E eu estou Benício, não sinto mais dores ao apoiar o pé! O médico disse que não foram tantos e os pontos são absorvíveis...

— Mesmo assim, deve ter cuidado — respondi, chegando mais perto, mas ela se afastou. Deixando ainda mais evidente o quanto me rejeita como homem.

— Você é que sabe!

Respondo, deixando-a sozinha para descer aquela escada longa. Passo pela sala de jantar e a mesa já está posta como sempre. Pego uma maçã e saio apressado em direção ao carro.

Chego no escritório mais tarde do que ontem, a mente ainda indo pelas lembranças da noite anterior. A cidade respira de maneira diferente quando você entra em um lugar como aquele cabaré. Não é um ambiente que me atrai, mas às vezes, é necessário. A noite de ontem não foi diferente.

Entro na sala de trabalho e sou recebido pelo burburinho dos meus subordinados. Eu os ouço murmurando enquanto faço meu caminho até minha mesa, e sou alvo de algumas olhares rápidos e sorrisos discretos.

— Me perdoe comentar, mas as meninas ficaram muito felizes com sua visita depois de tanto tempo — Kevin, um dos meus homens de confiança, diz com um sorriso malicioso. — A noite foi mesmo boa?

Eu ignoro a provocação, mas é impossível não perceber o tom de curiosidade na voz dele. Eles sabem onde estive, sabem que o meu nome circula por onde quer que eu vá, e o bordel da cidade, por mais que eu tentasse negar, sempre seria um assunto comentado.

— Como sempre, Kevin. Nada de mais. — Respondo, sem fazer questão de explicar.

Mas os outros, que já estavam observando, não conseguem deixar de comentar. 

— Isso não é assunto para se falar aqui. — Respondo com firmeza, olhando para os dois, e imediatamente eles se calam.

Sei que pensam sobre o casamento, agora eu dei ainda mais motivos para questionarem a decisão de me unir a ela.

E por dentro, algo mexe comigo e eu me pergunto... o que Paulah pensaria se soubesse disso? Ela, que se mantém distante, que observa tudo com um olhar que não se entrega, que não se deixa afetar pelas aparências. Será que ela se importaria? 

Já que ela não me dá o que quero, preciso conseguir de alguma forma. Ouço meus recados, leio os e-mails e nada de novo, a não ser um detalhe: uma notícia chama minha atenção: o desaparecimento de Paulah está sendo comentado.

 Uma matéria relata que ela, uma fotógrafa brasileira de trinta e três anos, nunca chegou ao hotel onde se hospedara na Itália, e seus contratantes começam a levantar suspeitas.

Fecho o laptop com força, sentindo o peso da situação. Não posso permitir que isso atraia atenção indesejada para Culla del Crimine. Decido que Paulah deve fazer uma ligação para tranquilizar essas pessoas, afastando a possibilidade de uma denúncia.

Ela me odiará ainda mais por isso, mas é necessário e urgente! Mandei comprar um aparelho celular para ela, as ligações e contatos de internet na cidade são interceptados e filtrados e ele serviria apenas para entretê-la um pouco. Reconheço que ficar o tempo inteiro dentro daquela casa deve ser maçante.

Olho outra de suas redes sociais e percebo alguns gostos bem particulares em seu perfil, como comida favorita, estilos musicais, cores e filmes. Curtidas seguidas de um homem, acredito ser o ex-namorado que estava presente no dossiê que recebi sobre o passado dela. Um homem de uns quarenta anos, barba rala e fora do peso. Um sorriso espontâneo foge de meus lábios quando me comparo a ele.

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