Na manhã seguinte ao funeral, a luz suave da manhã invadiu o quarto através das cortinas semiabertas, despertando Penélope acordou antes do marido e de Samuel, deitado entre eles, uma mãozinha repousando sobre seu braço.
Na noite anterior, insistira em ficar com eles o tempo todo, incluindo a hora de dormir. Notando que ele precisava do aconchego e segurança deles após o falecimento do amado avô, concordaram sem pestanejar.Observando o sono tranquilo do menino, como se não tivesse a menor preocupação no mundo, seu coração se encheu de um sentimento agridoce.Essa era a primeira vez que Samuel experimentaria a compreensão do luto. Em relação à mãe deles, ele jamais compreendeu, sendo limitado ao sentimento de falta, da busca para preencher os papéis que faltavam em sua vida: uma mãe e um pai. Agora seria diferente. O mUm pequeno sobressalto a atingiu ao ter o braço agarrado por Lucas, cujo rosto estava contorcido de irritação.— Por que continua com aquele sujeito, Penélope? —questionou a voz carregada de descontentamento. — Eles não param de te trata como um objeto, uma incubadora para a fortuna deles. Você merece uma vida melhor do que essa.Penélope franziu o cenho, confusa com a reclamação sem sentido de Lucas. Tentou passar por ele, ignorando-o, mas o persistente aperto em seu braço a impedia.— Podemos voltar a ficar juntos, Penélope — ele ofereceu, parecendo desesperado. — Expulsar os Freitas da mansão e esquecer essa bobagem de dar todo o dinheiro para Diego, como Roberto desejava.— Lucas, me solte! — pediu sem entender a raiva e insinuações. — Me solte e pare com essas ideias sem sentido.Sua atitude irritou Lucas ainda mais, os dedos apertando o braço dela, a frustração transparecendo por cada poro. — Ideias sem sentido? Porra, tudo isso agora é seu! — gritou exasperado. — Chute esses m
O impacto das palavras de Lucas atingiu Penélope como um soco. Choque e incredulidade a invadiu. Roberto ter deixado, além da tutela de Samuel e controle dos bens do menino aos cuidados dela, cinquenta por cento de seu patrimônio era inimaginável.— Não pode ser verdade... Está brincando, certo? — Penélope perguntou confusa, alternando o olhar entre Lucas e Diego.— É óbvio que é mentira — Marcela se intrometeu apertando as mãos no laço do penhoar. — Uma mentira perversa. Roberto jamais daria a minha casa para essa mulherzinha.Captando a atenção de todos para si, Lucas negou se tratar de brincadeira ou mentira.— É a mais pura verdade. O documento que te entreguei, que pedi que lesse, é uma cópia do testamento — indicou fazendo Penélope lembrar-se do documento que largou na bolsa sem ler. — Lá está bem claro que seu casamento com Diego é só para...— Saia imediatamente da mansão!Irritado que a intromissão de Lucas em seu casamento chegou aquele ponto, Diego tentou empurrar o ex-namor
O desabafo caiu de formas diferentes em cada um dos três, aglomerando-se ao turbilhão de sentimentos e sensações que carregavam por causa do luto e do testamento.Imersa em indignação e incredulidade, Marcela se sentiu atacada e desafiada, defendendo com unhas e dentes a reputação de seu filho falecido.— Isso é completamente absurdo! Uma acusação séria e cruel! — exclamou furiosa diante da revelação que abalava suas crenças mais profundas sobre família. — Faça alguma coisa, Diego — exigiu chacoalhando o braço dele. — Ela está difamando a reputação do seu irmão.Permanecendo em silêncio, processando a informação, Diego fitou Penélope perguntando-se se mentia, mas o que encontrou foram olhos carregados de mágoa por ele. Ela desviou o olhar, os braços se cruzando a frente do corpo, se fechando para ele. E mesmo percebendo o quanto estava com raiva dele, e com certeza de Marcela, Diego não duvidou nem um segundo que dizia a verdade.— Fale alguma coisa! — Marcela comandou indignada com a
Apertando os dedos no laço do penhoar, a respiração inquieta e o coração retumbando em seus ouvidos, Marcela mordeu o interior da bochecha, incapaz de mover um centímetro de seu corpo ou falar. Sua cabeça parecia girar.Reviveu a discussão que ouviu atrás da porta. O filho furioso.“— Demitir Paloma não apagará a infidelidade.”.O pedido de Roberto“— Tenha pena de sua mãe. Ela não merece saber essa sujeira.”.Tinha entendido tudo errado? Não! Não podia ser... Escutou bem Luiz indicar que corrigiria o erro do pai, de Roberto.“— Irei atrás dela, corrigirei o seu erro e lavarei a sua idolatrada honra da família de uma vez por todas.”.O erro tinha de ser a traição de Roberto... Mas e se fosse o fato de Roberto ter expulsado Paloma grávida, como Penélope alegava?E as fofocas de que Paloma estava de caso com o chefe... A secretária atendia todos os escritórios da diretoria.Cobriu o rosto com as mãos, querendo sumir, esquecer as acusações contra seu filho. Porém, o rosto de Samuel preen
Diego sentiu que o chão foi retirado de seus pés com a decisão dela. A angústia o invadiu e seu coração gelou dolorosamente, o fazendo sentir-se à beira de um precipício.— Pen, por favor, não faça isso. — Sua voz tremia de desespero. — Não podemos simplesmente jogar tudo o que construímos fora.— A base do nosso casamento foi um acordo, que terminaria em divórcio assim que a tutela do Samuel for minha — ela recordou amargurada. — Nada mudou.— Nada? — Diego ergueu-se da cama, atormentado pela ideia de perdê-la de novo. — E tudo que compartilhamos, os planos que fizemos? A família que decidimos ter? Te amo mais do que qualquer coisa no mundo. Dê-me uma chance de provar isso.— Compartilhamos? Cada momento foi um truque para obter seus bens de volta. Não se preocupe! Conversarei com Tereza e conseguirei um modo de te devolver — informou com secura. Não queria recordar nada, estava determinada a levar adiante o acordo original. — Só a parte do Samuel não abrirei mão, por ser direito del
O quarto de Samuel era seu refúgio, um espaço onde brinquedos e desenhos o conectavam a um mundo onde a tristeza e a complexidade dos adultos parecia distante. Mas nem ali conseguia esquecer a perda do avô e o medo de perder também os pais.Ao entrar no quarto de Samuel, Diego viu o menino sentado na cama, abraçando seu urso de pelúcia favorito, um presente antigo de Roberto.Ao erguer os olhos e notar a presença de Diego, sem largar o brinquedo, Samuel pulou da cama e correu na direção dele, os braços pequenos envolvendo-o com força pela cintura.— Papai, não me deixa — pediu erguendo os olhos marejados.Diego se abaixou, ficando à altura do menino.— Não irei a lugar algum. Estarei sempre aqui, ao seu lado — prometeu acariciando-o os fios escuros do cabelo da criança, observando-o como se fosse à primeira vez.E de fato sentia que era a primeira vez, a primeira em que buscava traços do irmão no menino. Não entendia a decisão de Roberto em ocultar que Luiz teve um filho.Luiz não foi
Penélope permaneceu no escritório de Roberto, lendo o testamento que tinha se tornado o epicentro do fim de suas ilusões. Cada palavra que passava por seus olhos a deixava mais atônita e magoada, revelando o quanto foi enganada pelos Freitas. A indignação crescia dentro dela, como uma fera enjaulada.O som do celular ecoou de dentro da bolsa. O pegou e viu que se tratava de uma mensagem de Jéssica, preocupada com seu estado de espírito.Depois de enviar uma resposta vaga, verificou que Ana também mandou mensagem pelo mesmo motivo.Olhou para o testamento em suas mãos e se perguntou quanto tempo levaria até a verdade sobre Samuel vir à tona. Talvez os três meses que levariam a tal segunda parte do testamento, ou menos se Marcela ou Diego optassem por isso.Sabia que não havia mais como fugir do inevitável. A história que cercava a concepção de Samuel estava prestes a explodir, e ela não queria continuar sendo uma peça manipulada no jogo dos Freitas. A verdade seria revelada em algum mo
Enrique se recostou na poltrona, visivelmente chocado com o relato do que aconteceu na mansão Freitas naquela manhã. A revelação sobre o verdadeiro pai de Samuel foi o que mais o desnorteou.— Luiz... Luiz é o pai de Samuel? — gaguejou, incapaz de esconder seu choque. — Caramba, Diego, cada vez que eu pisco sua vida dá uma reviravolta de 360!Sem clima para brincadeiras, Diego batucava o pé no chão, focado em achar uma solução para a situação difícil em que se encontrava com Penélope.— Não sei como lidar com tudo isso. Amo Penélope, amo Samuel, e quero fazer o que for preciso para consertar as coisas, mas ela está irredutível por achar que casei pelo dinheiro.— Hum, mas foi isso que você fez — Enrique apontou arrancando um resmungo do amigo. — Sei que a ama, mas, diante dos fatos, compreendo a descrença dela.— Tentei fazer meu pai mudar os termos, insisti que deixasse tudo para Penélope, sem imposições futuras, mas ele não quis — retrucou lembrando-se da conversa que teve com Rober