Enrique se recostou na poltrona, visivelmente chocado com o relato do que aconteceu na mansão Freitas naquela manhã. A revelação sobre o verdadeiro pai de Samuel foi o que mais o desnorteou.— Luiz... Luiz é o pai de Samuel? — gaguejou, incapaz de esconder seu choque. — Caramba, Diego, cada vez que eu pisco sua vida dá uma reviravolta de 360!Sem clima para brincadeiras, Diego batucava o pé no chão, focado em achar uma solução para a situação difícil em que se encontrava com Penélope.— Não sei como lidar com tudo isso. Amo Penélope, amo Samuel, e quero fazer o que for preciso para consertar as coisas, mas ela está irredutível por achar que casei pelo dinheiro.— Hum, mas foi isso que você fez — Enrique apontou arrancando um resmungo do amigo. — Sei que a ama, mas, diante dos fatos, compreendo a descrença dela.— Tentei fazer meu pai mudar os termos, insisti que deixasse tudo para Penélope, sem imposições futuras, mas ele não quis — retrucou lembrando-se da conversa que teve com Rober
Avisado pela governanta que o jantar estava pronto, e que Penélope permanecia trancada no escritório de Roberto com as amigas, Diego deixou a empregada encarregada de levar Samuel para se alimentar e decidiu que ele próprio avisaria a esposa. Era uma oportunidade de conversarem, imaginou deixando Enrique ir junto para diminuir as chances de discutirem.A música esganiçada ao se aproximarem foi à dica de que dificilmente Penélope estaria em condições de discutir.— Garçooom[1] nu bar todo mundo é iguallll. Meu caso é banallll... Mas presta tenção pu favor....Bateu na porta e chamou por Penélope. No entanto, quem abriu foi Jéssica, a expressão carregada de culpa se movendo dele para Enrique alguns passos atrás.— Hum, posso ajudar?— Pra matar a tristezaaa é meeesa e baaarrr. Vou toma todas... me embriiaagaarr...Sendo pequena em relação a ele, não foi difícil para Diego observar o que acontecia atrás dela, vendo uma cena inusitada. Penélope e Ana estavam sentadas lado a lado atrás da
Devagar, Diego colocou Penélope gentilmente na cama e, sentado na beirada, ajeitou o cobertor sobre ela. Enquanto terminava de acomodá-la, Penélope se remexeu, piscando lentamente os olhos avelã.— O que aconteceu? — murmurou, esfregando os olhos.— Você adormeceu no escritório e eu te trouxe para o nosso quarto — respondeu com um sorriso suave, acariciando o rosto dela. — Amor, você é incrível em muitas coisas, mas, definitivamente, é péssima com bebidas e cantando — brincou.Ainda sofrendo com os efeitos do álcool, Penélope riu, afagando os escuros fios castanhos do cabelo dele.— E você não presta, Diego Freitas. Mas eu... eu te amo, sabia?— Também te amo, Penélope. Mais do que tudo — garantiu movendo o rosto para beijar a palma da mão dela.Na nuvem leve da embriaguez, Penélope desejou que fosse verdade, que Diego a amasse mais do que tudo como declarava. Queria varrer para longe a dolorosa suspeita, o medo de se machucar da mesma maneira que sua mãe, se envolvendo em um romance
Aproveitando o raro e precioso momento de tranquilidade, Penélope admirava Diego auxiliando Samuel com as peças de lego. Ou melhor, seguindo pacientemente as ordens do menino, que se esbaldava com a gigante taça que recebeu minutos antes, enquanto indicava o que queria que fosse feito a cada colherada. Era impressionante que um mês antes até imaginar aquela cena seria impossível.Podia ter suas dúvidas a respeito do amor de Diego por ela, mas não pensava o mesmo sobre a afeição dele pelo menino. E agora, que ele sabia o real laço que os unia, ficava óbvio que a conexão aumentou.Inspirou fundo, tomando mais um gole do suco de laranja que Diego trouxe em uma jarra. De um modo torto, manipulador e inescrupuloso Roberto cumpriu a palavra dada a Samuel, dando a ele o pai que sempre pediu.Uma leve batida interrompeu a interação. Carla, a governanta da mansão, abriu a porta ao receber permissão e tensa comunicou:— Sinto muito interromper, mas Tereza Mendez Freitas está na biblioteca e sol
A tensão na biblioteca era palpável. Todos estavam apreensivos, esperando para ouvir o que Tereza tinha a dizer sobre o futuro de cada um naquele cômodo, especialmente sobre Samuel. Penélope era a mais tensa e preocupada, tentando não demonstrar fraqueza, mas, sem perceber, agarrando a mão de Diego com força.Tereza finalmente quebrou o silêncio, respirando fundo antes de falar com frieza:— O direito de tutela nunca esteve em perigo. No entanto, como assinalei anteriormente, nos próximos dias será feito uma avaliação completa de sua capacidade como tutora — indicou. — Eu e o advogado que elaborou o testamento ajudaremos em todo o processo para garantir que a avaliação seja positiva.Sufocando um riso de alívio, Penélope moveu a cabeça em concordância. Determinada a fazer de tudo para garantir que a avaliação fosse positiva.— Antes de continuarmos, há algo que preciso confessar. — Tereza deslizou as mãos pela borda de mogno. — Embora tenha tido fama de sem coração, de impiedoso, Robe
A figura de Roberto Freitas preencheu a tela. Parecia imponente, olhando diretamente para a câmera com uma intensidade desconcertante, como se estivesse frente a frente com todos os presentes em pessoa e não em uma gravação.— Vovô! — Samuel gritou saindo do colo de Penélope para correr até o televisor. — Vovô! — Chorou, deslizando as mãos espalmadas no rosto preenchendo a tela.Sendo uma profissional pronta para qualquer situação, Tereza pausou o vídeo antes que a primeira palavra saísse dos lábios de Roberto.Diego e Penélope se precipitaram até o menino ao mesmo tempo, tentando confortá-lo da melhor maneira que podiam. O garoto estava visivelmente perturbado, a saudade do avô refletida em seus olhos marejados fixos na tela, a dor cortante saindo em súplicas para o avô voltar.— Tudo ficará bem, filho — sussurrou Diego, segurando o menino nos braços. — Seu avô sempre estará com você, em seu coração — disse olhando fundo nos olhos do menino e levando a mão pequena dele ao coração ag
Estando com o desgosto dos termos da primeira parte corroendo-a, Penélope tinha os olhos arregalados na tela, sem crer no que ouviu. Alucinava ou Roberto, conhecido por nunca mudar de ideia, desistiu de impor que a porcentagem seria repassada futuramente aos hipotéticos netos?A incredulidade estampada no rosto de Penélope era compartilhada por Diego. Sentado ao lado dela, ele fitava o televisor, sem compreender a declaração, esperando o truque após a fala.— Imagino que esta mudança o surpreenda, Diego — Roberto disse como se pudesse enxergar o filho através da tela. — Certa vez, Luiz me taxou de manipulador, sem consideração pelos sentimentos dos demais, que tratava todos como peças de um cruel e egoísta jogo de xadrez. Nunca joguei xadrez, mas ele estava certo — comentou dando de ombros. — Para ter a minha vontade atendida, o enganei Diego.A confissão de Roberto não surpreendente nenhum dos adultos na biblioteca. Diego, sentindo um nó se formar em seu estômago, apostava que, se en
Os olhos da maioria das pessoas na biblioteca se voltaram para Marcela, com quem Roberto um dia compartilhou mais de trinta e cinco anos de casamento e a perda de um filho. Seu rosto estava pálido, porém desprovido de emoção.— Escondi a verdade por que, se essa história viesse à tona, causaria a desonra da memória do nosso filho. — Roberto continuou com um peso visível em suas palavras: — Eu... Eu fui o responsável pelo acidente fatal dele, não Paloma. — Fechou os olhos por um momento, antes de continuar a colocar para fora o fardo insuportável que carregava. — Luiz queria se divorciar de Tereza e casar com Paloma. Ameacei deserdá-lo se persistisse em me desobedecer, prosseguir com os planos que acabariam com a união entre as famílias, mas ele não se importou e foi atrás dela quando descobriu que a expulsei de Cezário.Marcela sentiu um nó se formar em sua garganta. A dor da perda de seu filho era uma ferida que nunca cicatrizou.— Meses depois descobri sobre Samuel, nosso neto, mas